A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 38
Vida e Morte


Notas iniciais do capítulo

Hallo, allerseits!
Reparei em uma coisa: amanhã se completará seis meses que eu comecei a postar essa história. E como presente de aniversário antecipado, capítulo novo hoje.
Olha, até poucos dias atrás, metade desse capítulo era outra coisa totalmente diferente, mas eu não gostei e joguei quase tudo fora. Não sei se ficou melhor ou pior, mas não posso corrigir agora. Tenho que estudar uns negócios bem loucos aí para segunda-feira e não tive nenhuma ideia melhor. Desculpem qualquer coisa.



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A casa dos Elric ficava um pouco longe da estação, mas eles estavam acostumados de fazer aquele caminho e não demoraram muito para verem as primeiras casas ao longe. Porém, algo estava errado. Uma grande coluna de fogo se elevava de uma casa, contrastando com a escuridão da noite, enquanto duas figuras se aproximavam rapidamente dos irmãos e Akame.

— Vovó! Winry! – Edward gritou e correu até as duas – O que está acontecendo?

— Eles queimaram tudo – Pinako tremia da cabeça aos pés e estava sendo amparada pela neta – Tudo! E mataram todos.

— Eles quem? – Alphonse perguntou, inquieto – Onde está a nossa mãe e nosso pai?

— Não sabemos, Al – Winry estava se segurando para não chorar – Não os vimos. Apenas apareceram uns homens atacando as casas. Colocaram fogo na casa do velho Joe e atacaram também as casas do senhor Marc e da dona Eliza. Não sabemos quem pode estar vivo ou não.

— Vocês todos procurem por um lugar seguro – Edward disse, confiante – Eu vou procurar a mãe e o pai.

— Nada disso, Ed – Alphonse protestou – Eu também vou.

— Ed, por favor – Winry começou a choramingar – Vocês dois, não façam isso!

—Não vamos ficar calmos sem saber notícias dos nossos pais, Winry – Edward olhou dela para Alphonse – E, Al, você precisa ficar aqui para proteger as garotas.

— Eu não preciso de nenhuma proteção – Akame continuava indiferente a todo o drama.

— Vai ser mais fácil de achá-los se formos nós dois procurando – Alphonse retrucou – Ed, mesmo que você não queira, eu vou de qualquer jeito. São meus pais também! E, enquanto discutimos aqui, estamos perdendo tempo.

— Está bem – Edward cerrou os dentes – Mas fique perto de mim.

Os dois irmãos saíram correndo, sem escutar os pedidos de Winry. Nem bem chegaram perto da casa, eles avistaram o depósito anexo à casa dos Elric ardendo em chamas e brilhando no escuro. Não demoraria muito para o fogo atingir a casa. Sem pensar duas vezes, Edward escancarou a porta da frente com um chute.

— Al – ele apontou para cima – olha o escritório do pai. Eu olho aqui embaixo e nos quartos.

Alphonse apenas concordou com a cabeça e subiu correndo as escadas, em direção à pequena sala onde Hohenheim guardava seus livros e materiais de Alquimia. Alphonse arrombou a porta com os ombros e entrou meio cambaleante no lugar. Não tinha nada fora do comum e ele olhou ao redor, procurando por algum sinal dos seus pais.

— Mãe! Pai! – chamou – Onde vocês estão?

Um barulho estranho fez Alphonse avançar mais dentro do cômodo. Em um canto escondido por uma estante cheia de frascos, ele avistou uma figura incomum parada logo a frente de um amontoado de panos largado no chão, próximo a uma pequena janela.

— Mãe! – berrou ao ver aquela cena assustadora. O corpo desfalecido de Trisha jazia no chão envolto em panos manchados com um tom carmesim enquanto ninguém menos que o Assassino Número 66, Barry, o açougueiro, olhava o recém-chegado por cima do ombro. Quer dizer, não exatamente Barry. As roupas, as armas, as botas e o tronco eram muito semelhantes à armadura de Barry, mas os braços e as pernas pareciam muito mais com os braços e as pernas da antiga forma de armadura de Alphonse. Além disso, Barry estava usando um capuz negro, mas Alphonse tinha certeza que, por baixo daquilo, estaria o capacete de Barry.

O sangue empapava as roupas de Trisha, saindo de um corte profundo que descia da base do pescoço até o final do abdômen, e escorria para o piso de madeira. Alphonse deu um passo para trás, horrorizado, enquanto “Barry” virava para ele com o talhador de carne e a faca de entalhar suspensos acima da cabeça.

— Mais um para brincar – ele gargalhou em uma voz metálica antes de descer a faca de entalhar na direção de Alphonse, errando-o por pouco e arrancando um grande pedaço de uma cômoda.

Alphonse se desviou de mais duas investidas violentas de Barry e juntou as mãos para usar a Alquimia contra o assassino. Ele tocou no chão e arregalou os olhos ao sentir que nada aconteceu. De fato, nem todas as transmutações são visíveis ou servem apenas para criar algo. Pode só ocorre a substituição de um material mais resistente para um mais fraco, por exemplo. Porém, dessa vez, não aconteceu nada mesmo. Alphonse ficou tão preocupado com isso que demorou a desviar do ataque seguinte de Barry e ganhou um pequeno corte na bochecha.

— Mas o que está acontecendo?! – Alphonse tentou várias vezes realizar alguma transmutação enquanto fugia da faca de Barry – Eu não consigo usar Alquimia!

— Al! – Edward apareceu de súbito na porta – Achou alguma... – ele se esquivou instintivamente de Barry, mas um pedaço do seu cabelo acabou sendo cortado fora – MAS QUE MERDA É ESSA?!! – Edward segurou sua “antena” de estimação.

— Ed! Cuidado! – Alphonse tentou alertá-lo, mas foi tarde demais porque Barry avançara contra ele e, para se defender, Edward pegou um pedaço de metal, que era um dos restos de uma estante desmontada, e parou a trajetória da faca de Barry até o seu pescoço.

— Mas que droga é você?! – Edward chutou Barry para longe e os dois irmãos começaram uma luta desigual com o Assassino 66.

Poderia ser só impressão de Alphonse, contudo Barry parecia bem mais rápido do que ele lembrava. E mais forte também. Conseguiu jogar Alphonse contra uma das estantes do escritório como se o rapaz não pesasse nada e pulou em cima de Edward, prendendo-o no chão. A única coisa a impedir Barry de cortar o pescoço de Edward era aquele pedaço de metal que ele ainda segurava.

Alphonse sacudiu a cabeça para espantar a tontura e olhou para os frascos de experimentos de Hohenheim estilhaçados ao seu redor.

— Droga! Porcaria – Edward gritava de desespero, medindo forças com Barry – Anda, Al! Me ajuda aqui!

Os gritos despertaram imediatamente Alphonse mas, antes dele pensar em fazer algo, um brilho lhe chamou a atenção. Com a pancada contra uma das estantes, vários objetos caíram no chão, dentre eles uma reluzente arma, muito semelhante a uma das pistolas usadas por Riza Hawkeye, apareceu no chão à frente de Alphonse. O que Hohenheim fazia guardando uma arma de fogo em seu escritório? E por que Alphonse nunca vira essa arma antes?

— Al! – Edward gritava, ainda lutando com a armadura ambulante – Atira! Pega logo e atira!

— Mas, Ed – Alphonse gaguejava, confuso – Ele é uma armadura sem corpo...

— Não interessa! – Edward rebateu – Atira nele!

Percebendo a urgência da situação, Alphonse segurou o revólver com as mãos trêmulas e apontou para o irmão e o assassino lutando agitadamente no chão.

— Não, Al – Edward pediu, assustado – Abre os olhos! Abre os...

Um tiro e um grito mais forte de Edward. Ele e Barry pararam imediatamente de se mexer. Mas, antes de Alphonse ver se tinha acertado ou não, Barry levantou a cabeça e mostrou a luva furada pelo tiro. Ele olhou para Alphonse por alguns segundos e, logo depois, virou o rosto bruscamente para a porta como se algo lá fora tivesse lhe chamado atenção. Ele hesitou um pouco, porém se decidiu por sair do cômodo, deixando os irmãos Elric para trás.

— Ed! – Alphonse correu para o lugar onde o irmão estava caído – Você está...?

Edward estava encolhido e segurava o braço direito enquanto uma mancha vermelha crescia de forma assustadora na manga de sua camisa branca. E não demorou nada para Alphonse perceber o motivo. O braço direito de Edward, até um pouco mais acima do seu cotovelo, não estava mais lá. Ao invés disso, uma grande ferida jorrava muito sangue e Edward apertava o ferimento, tentando inutilmente estancá-lo. Alphonse correu os olhos pelo chão e identificou o resto do braço do irmão há poucos centímetros de distância dele. Estava acostumado a ver ferimentos muito piores, no entanto a visão de Edward sem um braço lhe embrulhou o estômago de uma forma que ele não sabia explicar e, ao mesmo tempo, lhe pareceu tão estranhamente... familiar.

— Ed – justo ele que quis estudar medicina para ajudar as pessoas, não sabia o que fazer vendo o irmão nessa situação – Desculpa. A culpa foi minha. Eu devia ter feito alguma coisa logo...

— Al – Edward fazia força para não gritar de dor – Não se importe comigo. Preocupe-se em achar nossos pais...

— A nossa mãe está aqui. Mas, Ed... – Alphonse acabara de se lembrar e virou-se para onde vira a mãe envolvida em sangue – Ué, onde ela está?! Ela estava bem aqui!! – mas não havia nem sinal do sangue.

— Al! – Edward gritou com mais urgência, agarrando o irmão pela manga da camisa e o sujando com seu sangue – Ache a nossa mãe. Não deixe nada de ruim acontecer com ela. Por favor. Não deixe nada de ruim acontecer... Por favor...

— Está bem, Ed. Por favor, se acalma – Alphonse olhou o estado deplorável do irmão – Mas e você? O seu braço...

— Não liga para mim. Preocupe-se em achar nossa mãe – Edward cerrou os dentes e puxou a camisa do irmão com mais força – Vai logo – grunhiu, mas Alphonse não se mexeu – Anda! Vai logo! – e empurrou Alphonse com o pouco de força que ainda tinha.

Alphonse estava agachado ao lado dele e quase caiu com a atitude inesperada de Edward. Ele olhou para Edward com os olhos arregalados e demorou um pouco para se levantar e fazer exatamente o que o irmão mais velho lhe pedira.

Alphonse tinha a impressão de que o corredor do primeiro andar havia aumentado em tamanho e bifurcações. Correu por toda a sua extensão e deu várias voltas, contudo parecia não ter saído do lugar. Poderia estar andando há horas, mas isso era ridículo! A casa nem era tão grande assim. Com a respiração ofegante, parou no final do corredor e apoiou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego.

Não estava sozinho naquele corredor parcialmente escuro. Alphonse girou lentamente a cabeça e avistou uma frágil figura humana parada no final do corredor. Por um momento, ele não reconheceu o garoto que sorria gentilmente para ele, mas logo o sorriso inocente foi substituído por uma risada arrogante e dois gigantescos tentáculos irromperam das costas de Selim Bradley, ou melhor, o homúnculo Orgulho, e voaram na direção de Alphonse.

Sem poder usar Alquimia, Alphonse era uma presa fácil para Orgulho. Mesmo assim ele tentou evitar ser atingido por aquela forma irregular e sombria cheia de olhos e dentes serrilhados. O pouco espaço no corredor não estava ajudando muito e Orgulho conseguiu envolver seus braços negros ao redor de Alphonse. O alquimista lutou como pôde e até partiu alguns dos braços feitos de sombras com as mãos, mas eram muitos e rapidamente se enroscaram em seu corpo, braços, pernas e até mesmo cabeça, encobrindo, por fim, sua visão. Alphonse se sentiu mergulhando na mais profunda escuridão como se estivesse afundando em um lago escuro e gelado. Nem conseguia sentir sua própria respiração.

Um puxão na gola de sua camisa e Alphonse emergiu daquele lago nebuloso, cuspindo água. Levantou o rosto e se deparou com os olhos de Akame. Alphonse estava sentado dentro de uma banheira cheia de água suja. Parecia ser água misturada com... sangue. Akame lançou-lhe um olhar preocupado enquanto o ajudava a sair da banheira, espalhando água pelo chão por causa das roupas encharcadas do rapaz.

— Fique calmo – Akame pegou uma toalha de um dos armários do banheiro e jogou sobre os ombros de Alphonse que tremia violentamente, sentado sobre a tampa do vaso sanitário, sem saber se era por causa do frio ou do medo – Nada disso é real.

— O que são essas coisas? – Alphonse sussurrou com o queixo trêmulo e se encolhendo sobre a toalha – O Barry e o Selim... Eu achei que eles estavam mortos. E minha mãe... – ele parou de súbito e se virou para Akame – São eles mesmos?

— Sim e não – Akame se abaixou para falar com Alphonse ao nível dos olhos dele – É algo um pouco mais abstrato. Todas as pessoas dessa realidade agem a partir das informações que você tem gravadas na sua cabeça sobre elas. Eles não têm consciência que são apenas... – ela olhou em volta como se pudesse achar a palavra mais adequada em um dos ladrilhos do banheiro – sombras. Sombras do modelo real. Mas é tudo muito parecido, não é? A voz, o jeito de andar, até mesmo a maneira de pensar...

— Isso é uma total loucura – Alphonse abanou a cabeça e escondeu o rosto nas mãos – Eu a abracei. Ela parecia tão real...

— Precisamos achar a chave de saída daqui – Akame se levantou e olhou em volta.

— Chave de saída? – Alphonse voltou à atenção para Akame – Como é isso?

— Não sei. Pode ser qualquer coisa – Akame vasculhava atentamente as prateleiras – Eles mudam de lugar e pode substituir qualquer coisa aqui. Mas, eu acredito que seja algo que o senhor tenha uma ligação emocional.

— Eu não posso usar Alquimia – Alphonse disse, repentinamente.

— Não. Aquilo não passou de uma ilusão tosca – Akame deu um muxoxo, levemente chateada – Se você acreditar que não pode, não vai conseguir fazer mesmo.

— Isso tudo só pode ser um pesadelo – Alphonse cobriu as orelhas com as mãos, apertou os olhos e se balançou para frente e para trás, repetindo mecanicamente – Um pesadelo. Um pesadelo...

— Alphonse-san? – Akame tinha um tom de preocupação na voz, mas não se atreveu a chegar perto de Alphonse.

Um berro medonho ecoou pela casa e Alphonse se assustou, parando de repetir seu mantra na mesma hora.

— É o Ed! – ele se levantou e fez menção de correr para a porta.

— Espere – Akame não conseguiu impedir que Alphonse saísse correndo pelo corredor.

Seguindo os gritos de Edward, Alphonse foi para o lado de fora da casa e entrou na floresta que circundava a área. As árvores ocultavam o céu e transmitiam uma sensação claustrofóbica, opressiva. Não era menos agonizante quanto estar preso em um labirinto. Depois de andar sem rumo pelo que pareceram horas, Alphonse chegou a uma clareira no meio das árvores. Um pedaço do céu apareceu e a Lua redonda e brilhante no alto iluminou uma forma indefinida no meio daquele espaço aberto. Alphonse se aproximou apertando os olhos para conseguir identificar o corpo estranho.

Era melhor não ter sido tão curioso. A criatura de aparência viscosa se esticou e Alphonse pôde ver melhor sua consistência gelatinosa, apesar de parecer com uma forma humana. Não, ele não poderia ser humano. Parecia, sim, com um humano, embora tivesse um rosto impreciso, sem olhos, boca ou nariz, e apenas um braço e uma perna, mas jamais poderia ser um. Arrastava-se pelo chão sobre o próprio corpo como um réptil.

Alphonse deu dois passos para trás ao perceber também que a estranha criatura estava no meio de um grande círculo de transmutação humana. Ele teria se afastado mais se não tivesse esbarrado em algo sólido. Ele se virou e deu de cara com o rosto sério de Hohenheim.

— Pai? – Alphonse chamou, confuso – Por que está... ?

— Nosso sacrifício acabou de chegar – ele sorriu de uma forma incomum. Aquela não era a voz de Hohenheim.

O círculo de transmutação começou a brilhar sob os pés de Alphonse e inúmeras mãozinhas negras ergueram-se no ar, envolvendo o círculo. O corpo de Alphonse começou a se desintegrar lentamente e ele tentou se esticar para fora do círculo, mas foi em vão.

— Mãe! – o contorno luminoso de Trisha Elric apareceu na frente de Alphonse, estendendo a mão para ele, contudo, antes que seus dedos pudessem se encontrar, tudo se desmanchou em um clarão de luz branca.

***************************

Alphonse começou a recuperar a sensibilidade do corpo aos poucos. Ele ainda não tinha aberto os olhos, mas sentiu que estava em movimento. Na verdade, parecia que ele estava pendurado nos ombros de alguém. Abriu os olhos aos poucos e sentiu a claridade incomodá-los. Piscou um pouco enquanto reconhecia o cheiro da pessoa que o carregava.

— Akame – ele levantou a cabeça, surpreso. Alphonse estava com o corpo em volta do pescoço de Akame e ela o segurava por uma perna, com uma das mãos, e com a outra o agarrava pelo punho – Como você consegue me carregar nas costas?! Eu sou quase duas vezes seu tamanho!!

— Eu como muita proteína – Akame se desequilibrou um pouco por causa do movimento brusco de Alphonse.

— Me ponha no chão! Isso é constrangedor!

Akame se agachou para que Alphonse pudesse descer de suas costas.

Naquela hora do dia, o sol estava alto no céu e eles estavam rodeados por árvores e mais árvores. Decididamente, eles estavam no meio de alguma floresta ou um bosque, mas Alphonse não conseguia reconhecer o lugar.

— Onde estamos? – ele perguntou e, antes que ela pudesse responder, Alphonse reparou no sangue seco em suas roupas – Onde está a minha mãe? E o Ed?

— Bom – Akame coçou o queixo – como eu disse para o senhor, estamos presos em uma realidade que reaproveitou suas memórias...

— Em que lado eles estão? – Alphonse não estava escutando e vasculhava os arbustos ao redor – Ed! Ed! Onde você está?!

— Não grite – Akame o advertiu – E, como eu disse, eles não são sua família verdadeira. São sombras da sua cabeça...

— Eu não vou abandonar a minha mãe e o Ed em uma hora dessas – e deu meia-volta.

— Aonde vai?

— Onde mais? – ele devolveu a pergunta – Não vou embora e deixá-los para trás.

— Alphonse-san – Akame segurou o braço dele com força – Eu prometi que o levaria de volta com segurança. Não posso permitir que volte lá.

— Você não pode me impedir... – Alphonse puxou o braço de volta, sem conseguir fazer com que ela o soltasse.

Mas Akame o segurou pelo outro braço e os dois ficaram frente a frente, medindo forças.

— Para, Akame – Alphonse lutava para libertar os dois braços – Eu não quero te machucar.

— Eu já falei para o senhor se acalmar – dizendo isso, Akame pegou a gola da camisa de Alphonse com uma mão.

Girando rapidamente o corpo, Akame puxa Alphonse sobre seu quadril, fazendo-o cair de costas no chão. Durante o golpe, ela havia posto uma perna entre as pernas dele e quando ela a levantou conseguiu facilmente projetá-lo por cima dela, mesmo ele sendo mais alto e mais pesado. Mas, Alphonse puxou Akame no meio da queda e os dois caíram embolados no chão.

Era nítido que nenhum dos dois queria machucar o outro e a pequena briga que eles tiveram se resumia a Alphonse se esforçando para se desvencilhar de Akame e ela tentando imobilizá-lo.

— Rá-rá – Alphonse deu um sorrisinho vitorioso quando, depois de alguns minutos de luta confusa, ele finalmente conseguiu prender Akame. Ele havia envolvido uma perna na perna dela e, com o corpo por cima da garota, abraçou o pescoço e um dos braços de Akame, unindo as mãos nas costas dela – E aí? Vai desistir? – sussurrou perto do ouvido da oponente.

Akame sentiu que Alphonse não estava jogando todo o peso de seu corpo para cima dela porque tinha medo de machucá-la. Ele tinha a vantagem de ser maior e mais pesado, mas seus golpes estavam frouxos. Era só usar isso contra ele. Talvez, precisasse usar um pouco mais de força.

Alphonse não saberia dizer como, porém ela conseguiu escapar e ainda rolar por cima dele. Em determinado momento, ela puxou um braço de Alphonse para trás das costas do rapaz. Como ele estava deitado de bruços no chão, ela encaixou um joelho no meio das costas de Alphonse e imobilizou seu braço.

— Espera aí, Akame – ele pediu com o rosto colado no chão – Você vai quebrar meu braço. É SÉRIO! VOCÊ VAI QUEBRAR MEU BRAÇO!

Akame afrouxou o aperto, mas não o soltou.

— Quando eu largar o senhor – ela recomeçou, calmamente – nós vamos conversar. Está bem?

Alphonse deu um grunhido de concordância e Akame soltou-o, lentamente. Ele sentou no chão, ofegando, com a testa molhada de suor e todo sujo de terra. Akame levantou-se e deu as costas para Alphonse para pegar a Murasame caída ao lado de um arbusto. Ela jogara a espada longe quando a briga foi para o chão para evitar que Alphonse se ferisse com a espada, apesar da Murasame estar com a capa de proteção.

Akame ouviu Alphonse fazer um barulho estranho e se virou para olhar o alquimista melhor. Ele ainda estava sentado e com o rosto escondido nos joelhos. Depois de alguns minutos, ele soltou o que parecia ser uma risada pelo nariz e levantou os olhos.

— Por que você não me deixou lá para que eu morresse também? – perguntou, encarando-a.

— Não parece ser a coisa certa a se fazer – Akame sentou em uma pedra, cruzando as pernas.

— Eu não quero mais viver mesmo – Alphonse falou para si mesmo.

— Não diga isso – Akame o corrigiu – Morrer é muito fácil. Nós temos é que lutar para sobreviver – e finalizou com um aceno de cabeça – O vencedor sobrevive.

— Eu me lembro de tudo – ele recomeçou, com os olhos marejados – Lembro que minha mãe morreu quando eu era criança e eu e o Ed... – e engoliu em seco – Se não tivéssemos feito aquilo, aquela tragédia não teria acontecido e o Ed não estaria se culpando até hoje pelo que aconteceu. Sendo que também foi minha culpa.

Segui-se um silêncio de alguns minutos, quebrado apenas pelo barulho dos pássaros fazendo uma algazarra em cima dos galhos mais altos das árvores.

— Pelo menos você tem uma família para se lembrar – Akame se levantou da pedra.

Alphonse esqueceu momentamente da própria dor e arregalou os olhos para ela.

— Akame-chan...

— Você não deveria dizer uma coisa dessas – Akame continuou, séria – Você consegue até fazer uma pessoa como eu acreditar em um futuro melhor. É um desperdício alguém com um coração tão puro e ingênuo quanto o seu dizer algo tão pessimista.

— Akame... eu... – Alphonse suspirou e abaixou a cabeça, sem conseguir mais segurar as lágrimas – Me desculpe – falou com a voz embargada.

— Tudo bem – ela abanou a mão – O que importa é que vamos voltar para casa, certo? – e estendeu a mão na direção dele, com um meio sorriso.

Alphonse devolveu o sorriso porém, quando estendeu a mão para segurar a mão de Akame, um estrondo entre as árvores levantou poeira e destroços poucos metros de distância deles.

— Ora, ora – a silhueta musculosa de um homem se delineou em meio à poeira – Hoje, teremos carne fresca – e exibiu um sorrisinho psicótico para Akame e Alphonse.


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Notas finais do capítulo

Eu acho que é esse o arquivo certo. É porque tem um nome estranho aqui... Ah, depois eu vejo.
Até mais.



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