A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 29
O retorno do Alquimista de Aço


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu voltei depois de um longo inverno. Para compensar minha ausência de dias, capítulo gigante. Confesso que já estou ficando sem ideias e eu acho melhor eu me aposentar dessa vida de escritora depois dessa história. É muito cansativo. Pelos meus cálculos, a próxima atualização será no dia 04/10 (terça-feira), mas às vezes eu erro nas contas.



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— Sintam-se à vontade – Ling abriu os braços com um grande sorriso no rosto.

Na grande sala de reuniões do palácio real, Ling juntou a general Armstrong, o major Armstrong, o capitão Falman, o Führer Mustang e a capitã Riza Hawkeye ao lado da primeira-ministra do Império, Najenda, acompanhada de seu novo assessor, Run. Atendendo aos pedidos de Najenda, foram acrescentados ao grupo Akame e Wave. Todos estavam sentados em uma espécie de almofadas grandes e coloridas. Mustang e o major brigavam para conseguir manter o equilíbrio em suas almofadas.

— Não posso expressar o quanto sou grato com a ajuda de todos vocês – o anfitrião continuou – tenho certeza que as relações com o reino de Xing, a República de Amestris e o Império ficarão mais fortes depois desses eventos.

— Isso não teremos dúvidas – Najenda concordou – Então, podemos começar a discutir quais serão os termos do acordo entre nós. Isso irá incluir decidirmos a situação dos usuários de Teigu e a proteção das fronteiras contra possíveis grupos armados. Run? – ela se virou para o assessor.

— Já cuidei de toda a documentação, senhora – Run carregava uma pequena pasta e puxou um calhamaço de papeis de dentro dela.

— E nós vamos ter de analisar tudo isso? – Mustang sorriu forçado, pegando o bolo de papeis e estendendo na direção de Riza – Capitã Hawkeye e capitão Falman, cuidem disso, por favor.

— Estou especialmente interessado sobre o assunto que nos envolve – Wave apontou para si mesmo e para Akame – Todos os usuários de Teigu precisarão preencher um cadastro, é?

— Obviamente, para garantir a segurança – a generala Armstrong respondeu – A propósito, vocês dois não estariam interessados em passar uma temporada em Briggs?

— Akame passou quase dois meses lá. Duvido que ela queira voltar para aquela geladeira – Mustang deu uma risadinha – E já disse que tem de entrar na fila, general.

— E eu já disse que não pego filas – ela rosnou.

— Mas o ponto mais delicado ainda é sobre a proteção das fronteiras – Riza começou – Vamos precisar de alguns dias para analisar todos os detalhes.

— Sim, sim, mas, antes disso, gostaria de poder fazer um convite – Ling agitou os braços, animado, atraindo a atenção dos outros – Daqui a três dias, haverá o Festival Anual da Colheita, o maior feriado nacional, e os homenageados desse ano serão vocês. Por favor, sejam nossos convidados de honra.

— Bondade sua, rei Ling. Apesar de que, opa – Mustang quase escorregou para fora de sua almofada – apesar de que ainda devemos ficar em alerta para caso Kalin e seus simpatizantes queiram tentar alguma coisa.

Mustang estava decidido a capturar Kalin antes de voltar para Amestris. Ele não costumava deixar trabalhos pela metade. Com exceção, é claro, da papelada do quartel.

— Não se preocupem. Eu garanto a segurança – Ling concluiu – Eu quero apenas que apreciem alguns dos costumes tradicionais. Teremos desfiles, apresentações artísticas e muita comida e bebida. Além de que, todos os anos, temos uma grande apresentação de um dos esportes mais populares de Xing. Porém, nesse ano, a apresentação será na Arena Central. Vou inaugurar o maior estádio de todo reino. Um evento que vai reunir toda a capital...

— Desculpe por interromper, senhor – um dos empregados do palácio entrou na sala, fazendo uma grande reverência – Mas, recebemos uma ligação da Embaixada Amestrina. Parece que um grupo de amestrinos se envolveu em uma confusão e acabaram sendo presos no 23º distrito. E um dos presos é o Alquimista de Aço.

— O Edward? – Ling franziu a testa – Mas o Edward não tinha ido visitar o doutor Marcoh em seus aposentos?

— Mas do tempo que ele foi – Riza comentou – ele pode já ter saído.

— Ou, então, se desviou do caminho – Mustang acrescentou, sarcástico – O tampinha sempre teve uma tendência a se desviar do caminho.

— Vá aos aposentos do doutor Marcoh e veja se Edward ainda está por lá – Ling pediu ao empregado – Pergunte ao doutor, caso não o encontre lá.

O empregado demorou alguns longos minutos para ir e voltar acompanhado de Edward.

— Ling – Edward olhou para todos reunidos na sala – aconteceu alguma coisa?

— Íamos fazer essa pergunta – Ling respondeu – Recebemos uma ligação da Embaixada dizendo que o Alquimista de Aço estava preso.

— Eu?! – Edward deu um sobressalto.

— Pode ter sido um engano – Olivier abanou a mão, desinteressada com a conversa.

— Ou, então, alguém se passando por você – Mustang concluiu.

— Ora essa – Edward estufou o peito com arrogância – Quem poderia se passar por mim? Ninguém consegue me imitar e... – ele parou de falar de repente e olhou para cada uma das caras ali reunidas – Cadê o Alphonse?

Mas ninguém precisou responder a pergunta dele porque, mal ele acabara de dizer, Edward mudou sua expressão de confusão para compreensão.

— O Alphonse – ele cobriu o rosto com a mão como se estivesse tentando controlar a raiva – Alguém sabe para onde foi o Alphonse?

— Eu vi o Havoc arrastando ele para a rua mais cedo – Falman falou, pensativo – E eles saíram juntos com o Breda e o Fuery.

— Tá explicado – Edward saiu, bufando.

Ling mandou chamar um carro e ele juntamente com Edward, Mustang e Riza pediram licença para os demais e saíram para esclarecer esse caso. Esperavam que tudo não passasse de um grande mal entendido, mas não foi bem isso.

Ao chegaram ao departamento de polícia na periferia da cidade, eles perceberam uma aglomeração em frente ao prédio. As pessoas discutiam algo calorosamente e, nem mesmo a presença do carro oficial do rei, fez com que elas se dispersassem. Os guardas precisaram abrir espaço para Ling e seus amigos passarem. Dentro do prédio, mais gente e confusão. Contudo, alguém percebeu as visitas ilustres e, em pouco tempo, todos pararam de discutir para testemunhar a inesperada aparição.

— Sua Majestade – o chefe de polícia fez uma reverência exagerada – A que devo a honra?

— Recebi a notícia de que um grupo de amestrinos estaria preso aqui – Ling disse, diretamente – Quero vê-los agora mesmo.

O chefe de polícia atendeu ao pedido imediatamente e, em questão de poucos minutos, o carcereiro voltou acompanhado de Havoc, Breda, Fuery e Alphonse.

— Eu sabia – Edward gesticulava, exageradamente – Vocês são um poço de problemas.

— Francamente, tenentes – Riza pôs as mãos na cintura – O que vocês estavam aprontando dessa vez? E ainda arrastaram o Alphonse.

— Ei, ei – Havoc agitou as mãos – Antes de começarem a nos acusar, perguntem para o delegado quem nós capturamos.

— Eles foram presos quando estavam perseguindo mais outros dois homens, senhor – o chefe de polícia se dirigiu a Ling e estendeu alguns papeis para ele – um deles se chama Yuan Fei, um dos idealizadores da tentativa fracassada de golpe de três meses atrás.

— Três meses atrás? – Edward repetiu – Foi mais ou menos na época do meu casamento. Por isso, você não pôde ir, não é, Ling?

— Exatamente, Ed – Ling observou a ficha dos dois suspeitos – Tentaram tomar à força o Ministério da Guerra, mas foram detidos pela polícia quando ainda estavam marchando pela cidade. Parece que eles queriam tomar o prédio e usar as pessoas que estavam dentro como reféns para me convencer das suas exigências ou, então, forçar minha renúncia – e enrugou a testa com uma expressão séria – Como se eu fosse ceder a alguma chantagem.

— Estávamos atrás dele há semanas – o delegado continuou – E o outro, nós já conseguimos identificar como Jin Li, secretário do líder de um clã rebelde chamado Kalin Weng.

— Então, quer dizer que Kalin está se comunicando com opositores do governo mais radicais – Mustang coçou o queixo, pensativo.

— E sabemos tudo isso graças ao nosso trabalho de investigação – Havoc estufou o peito.

— Como é? – Riza olhou para ele, intrigada – Vai dizer que vocês já sabiam disso?

— Breda, conta para eles como conseguimos capturar os suspeitos – Havoc empurrou discretamente o amigo, posicionando-se estrategicamente atrás dele.

— Não. Conta você – Breda puxou Havoc para sua frente – Você conta melhor.

— O Fuery sabe mais detalhes – Havoc apontou para o outro.

— Eu não vi quase nada – Fuery exibiu um sorriso amarelo.

— Algum de vocês quer parar de enrolar e contar logo? – Mustang perdeu a paciência – Hum, e você, Alphonse? Pode contar a história melhor do que esses três palhaços?

— Bom – Alphonse começou lentamente – estávamos em um lugar meio estranho aonde as pessoas vão para dançar e jogar...

— Espera um pouco aí – Edward o interrompeu e se virou para os outros três com uma cara de raiva – Aonde é que vocês levaram meu irmão?

— Tá bom. Deixa que eu conto – Breda falou – Encontramos esses caras com mais outros se comportando de uma forma meio suspeita. Pareciam estarem conspirando e ficaram nos encarando. Depois apareceram uns caras que nos atacaram e, quando o Alphonse revidou usando Alquimia, um deles chamou o Alphonse de Alquimista de Aço. Quando o Alphonse foi perguntar o porquê, esses dois saíram correndo e nós apenas corremos atrás deles.

— Isso quer dizer que não teve investigação nenhuma. Vocês apenas deram sorte – Riza concluiu – Fiquem felizes que, graças à sorte de vocês, não serão punidos.

— E acho que já esclarecemos as coisas aqui – Ling falou com o delegado – Esses quatro rapazes são soldados do Exército Amestrino e estão prestando serviços ao governo de Xing.

— Eu entendo perfeitamente, senhor – o delegado fez uma reverência – Mas, essas pessoas que estão aqui reunidas também estão alegando que sofreram prejuízos com a ação desses cavalheiros. Eles destruíram algumas lojas e prédios, provocaram um pânico na cidade...

— Roubaram meu carro – um dos homens se manifestou e, quase imediatamente, todos os outros começaram a se queixar. Nem dava para ouvir direito os pedidos de desculpas de Breda pelo “empréstimo” do carro.

— Calma – Ling agitava os braços para pedir silêncio – Todos os danos serão reparados. Não se preocupem com isso.

— É muita generosidade sua, rei – Mustang elogiou.

— Nem tanto – Ling abanou a cabeça – Vou mandar a conta para seu gabinete em Amestris.

Uma pequena nuvem negra se formou em cima da cabeça do Führer.

— Mas não é apenas pelos prejuízos, rei – um homem alto, que parecia ser o porta-voz dos queixosos, continuou muito respeitosamente – Disseram que o Alquimista de Aço foi quem promoveu toda essa confusão.

— Não foi ele – Ling disse – Foi o irmão mais novo dele.

— Então, é pior – o homem prosseguiu – Acontece que, todas as vezes que algum alquimista amestrino aparece aqui, sempre acontece algo desse tipo. Estamos cansados de sermos tratados assim. Isso é só porque eles conseguem usar Alquimia e nós não?

Houve muitos acenos de concordância.

— Entendo o que querem dizer – Ling assentiu – Eu e o Führer Mustang aqui debateremos sobre o estabelecimento de leis mais severas para o uso restrito de Alquimia dentro dos limites da cidade. Tenho certeza que chegaremos a um acordo que agradará todos.

— E nós agora como ficamos? – outro homem perguntou.

— Agora nós devemos é receber bem nossos visitantes – Ling sorriu – Mostrar os costumes locais e provar que o povo de Xing sabe recepcionar os estrangeiros. Vou aproveitar aqui e convidar todos vocês para a inauguração da Arena Central. Arranjarei bons lugares para todos vocês. Quem aqui não gosta de ver uma boa partida de Brek?

Ling estava claramente tentando manipular a multidão e desviar a atenção. Alguns daqueles homens não viam os amestrinos com bons olhos e achavam que eles deveriam ser penalizados de alguma forma, além de pagar pelos prejuízos materiais.

— Eles não vão receber nenhum tipo de punição? – um rapaz mais atrás perguntou.

— Punição é uma palavra um pouco forte – Ling suavizou – Mas, para provar a benevolência de nossos aliados, o Alquimista de Aço fará uma pequena apresentação em um evento beneficente no dia da inauguração do estádio.

— Que tipo de apresentação? – Edward enrugou a testa, intrigado.

— Isso mesmo, senhores – Ling ignorou a pergunta de Edward – O Alquimista de Aço e seus amigos irão enfrentar o time dos Dragões de Zaofu para levantar fundos para obras de caridade. Digam, isso não é uma bela atitude?

Alguns dos homens concordaram, meio confusos.

— Procurem meu secretário amanhã – Ling prosseguiu, alegremente – Todos vocês terão direito a lugares privilegiados na arena. E espalhem a novidade por aí.

Nem precisou falar duas vezes. Em questão de minutos, a notícia chegou para o grupo reunido do lado de fora do prédio e todos comentavam sobre o duelo entre o time do Alquimista de Aço contra os Dragões de Zaofu.

— Os Dragões de Zaofu é o time de maior sucesso da história da liga – Ling comentou, animado, quando ele, Mustang, Riza, Alphonse e Edward já estavam dentro do carro oficial, voltando para o palácio. Chamaram outro carro para levar Fuery, Havoc e Breda – É o time que mais ganhou e são os grandes favoritos a levar o campeonato desse ano. A apresentação no dia do festival iria ser apenas entre os titulares e os reservas, mas a torcida não estava muito animada. Mas, com eles enfrentando o Alquimista de Aço, tenho certeza que o estádio vai lotar.

— Alguém pode me explicar que diabos é isso que vocês estavam falando? – Edward estava impaciente – E que história é essa de que eu vou ter de enfrentar esses tais aí, Ling?

— Ed, eu vi algumas partidas de Brek quando estava aqui em Xing – Alphonse cochichou para o irmão, com um rosto torcido em uma careta de receio – É um esporte muito popular aqui, mas é somente praticado por alquimistas e é bastante violento.

— Alquimistas, é? – Edward entortou a boca – Você esqueceu que eu não posso mais fazer transmutações, Ling?

— Você entendeu errado, Alphonse – Ling sorriu – A regra não impede que um não-alquimista jogue, mas não nos responsabilizamos por possíveis ossos quebrados.

— Ou automails quebrados – Mustang riu pelo nariz – Acho que isso vai ser interessante de ver.

— Porque não é com você – Edward bufou – Não sabia que havia aprendido a ser demagogo com esse Führer de meia-tigela, Ling. Agora até você está querendo me ver morto?

— Que exagero, Edward. Eu falei brincando. É perfeitamente seguro. Todos os jogadores usam proteções e ninguém morre jogando Brek faz anos – Ling coçou a bochecha e olhou através da janela do carro.

***************************

Ling estava totalmente convencido de que a sua ideia foi uma estratégia de gênio. Realmente, a notícia do jogo do século entre a equipe do “Do Aço” contra o time mais popular de Xing se espalhou como rastilho de pólvora e a animação tomou conta do povo. No dia seguinte, já era até possível comprar lembrancinhas do aguardado jogo no maior mercado da cidade. Obviamente, aquelas lembrancinhas não eram legalizadas.

Edward estava completamente convencido de que os xingueses só estavam animados com a ideia porque queriam ver um dos mais famosos alquimistas de Amestris tomar uma surra humilhante na frente de toda a capital. E ele ainda precisava aprender as regras do jogo em dois dias. Nada muito animador.

Entender as regras era a parte fácil. Basicamente, os jogadores se dividiam em duas equipes com seis jogadores em cada lado e o objetivo principal era marcar pontos, que consistia em levar uma bola oval, com as mãos ou com os pés, até determinada área do campo adversário, atrás da linha do gol, e tocá-la no chão. Ganha a equipe que fizer mais pontos dentro do tempo normal. Bem simples, se não fosse por um detalhe. Era permitido bloquear o jogador que tivesse a posse de bola usando Alquimia.

Quando a versão mais primitiva do Brek chegou à Xing, há quase duzentos anos atrás, o esporte não era praticado por alquimistas e os bloqueios eram feitos com o corpo. É permitido agarrar um jogador adversário para bloqueá-lo mas, desde que os alquimistas começaram a ser mais presentes nas equipes, ficou cada vez mais difícil chegar perto o suficiente para segurar alguém. Com os alquimistas, o ritmo de jogo ficou mais rápido e agressivo.

Apesar de ser um esporte com fama de violento, Ling tinha razão sobre não acontecer acidentes graves há muito tempo. Em grande parte porque havia mais de mil trezentos e vinte e um tipos de faltas registradas e proibidas; como por exemplo, “tocar fogo no adversário”, “atacar o adversário com qualquer tipo de arma, transmutada ou não”, “atingir o adversário intencionalmente na cabeça”, “enterrar o adversário em um buraco no chão”. Mesmo assim, saber desses detalhes não deixou Edward mais tranquilo.

Uma das partes mais difíceis foi a escolha dos jogadores. O major Armstrong se ofereceu prontamente, seguido por May e Lan Fan. Aliás, as duas eram grandes jogadoras de Brek e May se ofereceu para treiná-los em uma das academias do exército de Xing. Um sargento amestrino chamado Manfred Horn pediu ao tenente Breda que avisasse sobre seu interesse em participar da equipe.

— Mas você não é um alquimista, não é? – Edward perguntou a ele.

— Sou mas, por motivos pessoais, não pude fazer o teste de admissão dos Alquimistas Federais deste ano – o sargento respondeu, muito formalmente – Mas pretendo fazer no ano que vem.

— E você tem alguma especialidade? – o major Armstrong se virou na direção do rapaz.

— Eu sou especialista em manipular gases – Horn falou, orgulhoso – Em especial, o oxigênio. Eu acelero o movimento das partículas e posso provocar tanto explosões como criar a ilusão de que estou dando “forma” ao ar.

— Bem-vindo ao clube – Edward acenou para ele, nem um pouco animado.

Porém, o primeiro a se juntar ao time foi o Alphonse. Sem ninguém precisar pedir.

— Claro, Al. Eu deveria agradecer o fato de você se oferecer para apanhar comigo em uma arena cheia de pessoas que estão se divertindo com o meu sofrimento – Edward disse, cheio de ironia. Os dois conversavam durante um pequeno intervalo após May e Lan Fan terem saído para buscar mais instrumentos de tortura, segundo Edward. O major Armstrong e o tenente Horn conversavam em um canto – depois de você ter me colocado nessa situação porque estava se passando por mim. ERA O MÍNIMO QUE VOCÊ DEVERIA FAZER!!

— Eu já disse que não tive culpa com aquela confusão – Alphonse precisou jogar a cabeça para trás para não ser atingido pelos respingos de saliva de Edward – E o Ling já falou que é só um jogo de apresentação. Eles não vão bater na gente de verdade e nem jogar para valer, Ed. É só para distrair as pessoas.

— Eu só sei que já estou apanhando até nos treinos – Edward resmungou. Estava sendo difícil para o ex-alquimista desviar das transmutações no treinamento porque May era uma carrasca como treinadora e nem esperava ele se posicionar para atacar. Alegava que, durante o jogo, o time adversário não iria esperá-lo se levantar.

— É aqui que vocês estão escondidos – Edward se virou para a porta do ginásio ao ouvir a voz alegre de Winry. Porém, seu sorriso se desfez ao perceber que Winry não estava sozinha.

— Winry! Akame! – Alphonse abriu um largo sorriso e correu até as duas – E aí, Wave! Quem é esse com você?

— Meu amigo Run – Wave apontou para o outro – Run, o Alphonse Elric é um dos caras mais legais que existem – ele pôs a mão na frente do rosto e cochichou no ouvido de Run – Agora, o irmão dele é meio pirado.

— Prazer em conhecer, Alphonse Elric – Run estendeu uma mão – Ouvi falar muito bem de você.

— É um prazer, Run – Alphonse apertou a mão dele e virou-se para as meninas com um sorriso brincalhão – Vieram me ver?

Apesar de estar usando a frase no plural, Winry e Wave perceberam que a pergunta de Alphonse era direcionada à Akame.

— Está tão evidente assim? – mesmo com poucas expressões, o tom de voz de Akame era levemente divertido.

— Nem precisa – Alphonse faz uma pose de falsa vaidade – Eu sei que sou uma pessoa que sempre faz os outros sentirem muito a minha falta.

Quando Akame cobriu o rosto de Alphonse com uma mão, após a fala dele, e Alphonse não fez nenhum esforço real para impedir isso, Winry achou melhor deixar os dois sozinhos.

— Wave – Winry chamou e apontou para um canto do ginásio – Vamos apresentar o Run ao major Armstrong.

— É mesmo – Wave se empolgou – O major Armstrong é muito divertido. Você precisa ver. Ah, e esse é o irmão do Alphonse, o Edward.

Edward havia acabado de se aproximar do grupo e beijou discretamente a bochecha de Winry. Run lançou um olhar para Wave como se estivesse perguntando “é esse o doido?” e Wave concordou brevemente com a cabeça.

— Você deve ser o Run – Edward, estranhamente calmo, apertou a mão do novato – Seja bem-vindo.

— Obrigado – Run fez uma reverência – Boa sorte com o jogo. Estaremos torcendo por vocês.

— Nem me lembre disso – Edward bufou e virou-se para Akame e Alphonse. Ambos riam baixinho por causa de alguma coisa que Alphonse cochichou para Akame – Al, vamos logo voltar para os treinos. Ainda temos muito o que fazer.

— May e Lan Fan não voltaram ainda – Alphonse segurava os pulsos de Akame. Parecia que os dois estavam em brincadeira que consistia basicamente em Akame tentando tocar no rosto de Alphonse – Vamos esperar por elas.

— Não. Vamos logo – Edward puxou Alphonse por um braço, forçando-o a se separar de Akame – Você está me devendo por ter me colocado nessa encrenca.

— Ed, deixa o Al em paz – Winry ralhou com ele.

— Eu vou deixar – Edward respondeu – Quando ele aprender a se cuidar sozinho.

— Achei que não voltaríamos a essa conversa – Alphonse encarou o irmão, demonstrando os primeiros sinais de irritação – Você é a pessoa que mais me conhece, Ed. Esperava contar com seu apoio.

— Eu prometi a nossa mãe quando você ainda era um bebê que eu cuidaria de você – Edward apontou para ele – Não dificulte as coisas.

— Você que está dificultando – Alphonse rebateu – Olha, você pode até não gostar da Akame, mas não pode agir dessa forma. Se você realmente gosta de mim, eu quero que você a respeite.

— Isso não tem nada a ver com ela – Edward cruzou os braços, fazendo bico – Mas ajudaria muito se ela parasse de omitir informações.

— Do que está falando? – Alphonse perguntou, irritado, mas Akame o segurou pelo braço.

— Entendo os motivos de Edward-san – Akame falou com a serenidade de um monge tibetano.

— Entende, é?! – Edward rebateu com ironia – Eu que gostaria de entender algumas coisas – ele apontou um dedo acusador para Akame – Eu gostaria de entender quem ou o quê é você. Porque uma pessoa que é esfaqueada mortalmente pelas costas e depois aparece com nenhum ferimento não pode ser chamada de normal – Edward se aproximou mais de Akame com o dedo quase encostando no nariz da garota – Afinal, quem é você?!

Akame nem se deu ao trabalho de responder. Usando apenas os dedos indicador e médio, ela acertou a garganta de Edward com um golpe rápido. Mesmo ela não usando muita força, Edward levou imediatamente as mãos ao pescoço e caiu pesadamente para trás.

— Ed!! – Winry se debruçou sobre o marido caído no chão.

— Achei que ele estava exaltado demais – Akame explicou com a mesma calma de sempre – Ele vai dormir por alguns minutos.

— Não precisava fazer isso – Alphonse ajoelhou-se ao lado do irmão e checou seus sinais vitais.

Akame deu de ombros.

— Eu e o Run vamos trazer alguma coisa para reanimá-lo – Wave sorriu amarelo após assistir toda a discussão, com os olhos arregalados – Não é, Run? – e puxou o amigo antes que ele respondesse – Eu não disse que ele era pirado? – perguntou quando os dois já estavam do lado de fora – Você já tinha visto alguém desafiar Akame dessa forma?

— Não mesmo – Run caminhava ao lado dele – Mas eu reparei em outra coisa. É a primeira vez que eu me lembre de ter visto Akame sorrindo.

— Eu também – Wave abanou a cabeça e suspirou alto.

— Você reparou, Wave? Ela tem o mesmo sorriso da Kurome – Run falou, olhando para o alto – Quer dizer, estou me baseando nas poucas vezes que vi Kurome sorrindo de verdade.

Wave também ficou observando o céu, em silêncio.

***************************

Sob a luz da lua, duas figuras andavam furtivamente pelas sombras formadas pelos prédios. Aquele lado da cidade estava deserto naquela hora da noite e as ruas sujas passavam uma atmosfera ainda mais sinistra. Um dos vultos parou na frente da porta de um galpão aparentemente abandonado e deu três batidas ritmadas.

— Espero que tenham as entradas – uma voz saiu de uma pequena abertura no alto da porta.

Aquele que havia batido na porta puxou um papel colorido de dentro do bolso do casaco e o estendeu na frente da abertura. No minuto seguinte, o barulho de trancas sendo removidas ecoou no silêncio e a porta se afastou para o lado, revelando uma passagem. Os dois vultos entraram rapidamente e seguiram por um longo corredor até chegarem a uma grande sala de teto alto e cheia de gente. As pessoas estavam organizadas perto de um pequeno palco improvisado como se esperassem por alguma apresentação especial.

— Meus irmãos – um homem subiu no palco, fazendo grandes gestos – estamos reunidos aqui porque queremos compartilhar com vocês um grande segredo. Um segredo que o governo de Xing quer esconder a qualquer custo.

Com essas palavras, todos pararam de conversar ente si e concentraram-se apenas no homem que passeava pelo palco.

— Meu nome é Jun – o homem continuou – e eu sou como qualquer um de vocês. Eu também trabalho e luto todos os dias, não só por mim, mas também pelo meu país. Todos nós lutamos todos os dias – Jun fazia longas pausas enquanto observava as reações da plateia – cada um de nós lutamos pelo que merecemos. E todos nós merecemos a nação de Xing unida! E forte! – ouviram-se alguns murmúrios de concordância – Mas, infelizmente, nossa nação está infestada de traidores. Sim, traidores! Traidores que permitem a opressão contra nosso povo. Traidores que fogem covardemente quando o país mais precisa deles. Traidores que se aliam aos odiosos amestrinos – vaias acompanharam suas últimas palavras – Quando eles deveriam dedicar lealdade apenas ao seu país – Jun faz uma pausa mais longa e recomeça com a voz um pouco mais contida – Mas, temos aqueles que ainda se sacrificam pela nação. Temos aqui, uma pessoa que encarna o conceito de fidelidade e, por ele, nós desejaremos ser fieis. Ele irá falar agora. Com vocês, o líder que irá levar Xing de volta a uma era de prosperidades, Kalin Weng!

Outro homem coberto por um grande capuz apareceu no palco, acompanhado por aplausos e assobios da plateia.

— Meus irmãos – Kalin falou após os aplausos cessarem – finalmente, eu tenho a oportunidade de dar-lhes as boas vindas. Cada um de vocês é apenas uma pequena parte da nossa grande nação. Mas é uma parte muito importante porque cada um de nós faz o reino de Xing ser tão grandioso – Kalin fazia pausas em momentos oportunos para perceber como a plateia absorvia sua mensagem – Infelizmente, preciso dizer que Xing não está seguindo por um bom caminho no momento. Há algumas semanas atrás, eu vi o horror, senhores. Eu vi os supostos aliados do nosso patético governo esmagando nosso povo impiedosamente. Nossos estadistas fecharam seus olhos para isso e insistem em se misturar com a escória. Apesar de todas as nossas tentativas em garantir a paz, os amestrinos nos declararam guerra e invadiram nosso território sem nem mesmo esperar uma posição do governo de Xing. E o que o “nosso” rei fez? Aceitou! Ele simplesmente aceitou essa demonstração descarada de desrespeito – a plateia se agitou com as palavras de Kalin e ele esperou um tempo para voltar a falar – Nós poderíamos ter chegado a um entendimento, mas eles trouxeram a guerra. Assim como fizeram em Riviere ou em Cameron. Ou ainda em Aerugo. E que exemplo melhor do que Ishval? Seria a nossa vez de sermos exterminados por seus Alquimistas Federais?

Várias pessoas na multidão começaram a falar ao mesmo tempo e o pânico se espalhou.

— Isso é o que sabemos, senhores – Quon Zhao apareceu ao lado de Kalin e agitou os braços para chamar a atenção – O futuro rei Kalin vai expulsar esses invasores. Juntem-se a nós para impedir que nosso país caia na mãos dos bárbaros.

— Isso é loucura – alguém gritou na plateia e todos viraram o rosto para encarar um homem alto de cabelos grisalhos – Vocês não percebem que, pensando dessa forma, vocês só irão trazer mais guerras e sofrimento?

— Precisamos lutar agora para evitar mais sofrimento – Quon estendeu a mão na direção do homem – Você deveria estar do lado dos seus irmãos, e não defendendo esses demônios louros.

— Como vocês pretendem enfrentar os amestrinos? – o homem insistiu – O governo do rei Ling propôs um aliança com o governo de Amestris. É o melhor a se fazer para evitar mais derramamento de sangue – algumas pessoas vaiaram quando ele citou o rei.

— É triste ver alguém se voltar contra seus próprios irmãos – Kalin recomeçou – E mais triste ainda ver que a traição foi motivada por pura covardia – ele apontou na direção do homem – Segurem esse traidor e tragam-no aqui! Não o deixem escapar!

Uma nova confusão começou e o homem se debateu, tentando fugir dos milhares de braços ao seu redor, mas foi em vão. O homem grisalho foi facilmente dominado e arrastado até o palco, onde foi forçado a ficar de joelhos enquanto seguravam seus braços.

— Lembro de você ter perguntado como pretendo enfrentar os amestrinos – Kalin falou, sibilante – Pois mostrarei para vocês. Para todos vocês – e virou-se para a plateia de forma teatral – Atacaremos os amestrinos usando a mesma arma deles, a Alquimia!

— Prestem muita atenção sobre tudo que irá acontecer aqui nessa noite – Quon anunciou como um mestre de cerimônias – Os sábios antigos de Amestris conheciam um segredo que eles não pretendiam revelar ao mundo. E por que isso? Porque esse poder é capaz de igualar um homem comum a um deus.

— E eu, orgulhosamente, proclamo que esse poder está aqui entre nós – com um gesto exagerado, Kalin afastou as longas mangas de seu casaco e exibiu um conjunto de tatuagens ritualísticas cobrindo toda a extensão dos seus dois braços – O poder absoluto para governar o mundo! Agora – ele deu meia-volta e andou até onde estava o homem que havia sido acusado de ser um traidor – esse poder pode me dar a capacidade de voar até o infinito ou de me elevar para uma dimensão superior, a capacidade de erguer pesos titânicos, de curar qualquer ferimento, mas também posso ferir... – Kalin parou na frente do homem ajoelhado e encostou um dedo em sua testa – Dê adeus a sua existência nesse mundo.

Um grito medonho ecoou pela noite, mas lá fora tudo continuava calmo demais.


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Notas finais do capítulo

P.S.1: Antes que alguém fale alguma coisa, Zaofu é mesmo o nome de uma cidade do Universo Avatar (o desenho, não o filme).
P.S.2: Crianças, não tentem repetir o gesto de Akame em casa. Existe mesmo uma parte mais sensível em nossos pescoços que, quando pressionada, pode fazer uma pessoa desmaiar ou, até mesmo, matá-la. Obviamente, Akame é uma profissional e sabe a quantidade de pressão necessária para fazer uma pessoa apenas desmaiar porém, mesmo assim, é um golpe muy peligroso. Repito, não tentem fazer isso em casa.



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