Cavaleiros do Zodíaco: A Saga dos Herdeiros escrita por Dré


Capítulo 12
Primeira Fase - Episódio Doze. O Plano Mitológico




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Guerreiros sagrados irão voltar-se contra o que amam, respeitam, defendem e acreditam. A rainha da guerra justa irá saborear a amarga fruta da morte e será tragada pela escuridão eterna. A queda do Santuário será marcada pelo retorno do Herdeiro do Inferno. Dedos de trevas tocarão o mundo em anéis de pedra, e os mortos irão caminhar sobre a Terra. O céu se cobrirá de anjos inquisidores. Enganados e traídos, eles julgarão os servos da deusa que julga. No filho da traição residirá a esperança, que se extinguirá quando este abraçar a sua herança maldita.

Os passos do cavaleiro de ouro de Escorpião ecoavam no silêncio daquele local vazio e ermo. A intensidade do vento, que fazia a sua capa dançar, indicava a vinda de uma tempestade. Ali, em um local rochoso, afastado fora do Santuário, Jabu parou e fitou o nada por alguns instantes. Por fim, se ajoelhou em reverência. Nas primeiras vezes em que se ajoelhou para o nada, sentia-se um louco, mas com o tempo, começou a perceber que seus mestres pareciam infinitos. Surgiam de onde menos se esperava, e ele sabia – aquela era a hora e o local.

Como era de se esperar, eles vieram. Surgiram do nada, como se o mundo lhes pertencesse. Como se o tempo e o espaço se dobrassem ao seu comando. As três sombras não tomaram forma. Uma energia negra ululante as protegia, e ela impedia que Jubu pudesse se quer dar um relance de visão em direção a eles, ainda que o seu corpo pudesse sentir as suas presenças; a mão esquerda tremia, as dores eram revividas, a mente falhava. Era como se seu espírito pertencesse a eles.

— Há uma dívida – Disseram as três sombras em um uníssono terrível que parecia transcender léguas.

— Eu sei – respondeu Jabu. – Quais são as ordens?

— Não há ordens – disse uma das sombras.

— Há apenas o plano mitológico – afirmou a outra.

— E o plano já está em prática – concluiu a última.

Subitamente, as três desaparecem. Jabu sentiu-se perdido e solitário. Depois de todos esses anos, depois de tudo o que passou, era isso o que eles tinham para ele? Sem respostas, sem ordens; apenas um plano. Então, surpreendendo-o, uma voz surgiu em suas costas.

— Quem eram eles?

— Seiya! – Exclamou o cavaleiro de Escorpião. – Não é possível! Você me seguiu de novo? Seu maldito insistente, eu falei para me deixar em paz!

Mas então Jabu se lembrou das palavras das três sombras. Será que é isso? Esse é o plano?Bom, se querem assim, pensou.

— O que significa isso, Jabu?! – Tentou Seiya. – Quem eram eles?!

— Você quer muito saber, não é mesmo? – Falou Jabu, enquanto retirava a máscara da armadura de ouro de Escorpião com sua longa cauda. – Muito bem, então eu vou lhe contar, Seiya.

O cavaleiro de Sagitário, mesmo não enxergando nenhuma atitude hostil de Jabu, optou por manter distância.

— Eu nunca fui amado por Atena! – Gritou Jabu de maneira súbita.

— Então é isso... Você só pode estar louco, Jabu!

— Não! Não estou! Eu queria ser capaz de protegê-la como você a protegia, mas nunca senti o mesmo que você sentiu. Eu nunca tive o cosmo de Atena me ajudando, pulsando em meu coração, fazendo com que me reerguesse. Em todas as vezes que estive entre a vida e a morte durante o meu treino, eu nunca a senti presente. Eu aceitei a punição, o domínio do inimigo, eu aceitei as mordidas de fogo do seu chicote, as torturas de suas palavras, eu absorvi o calor de seu treinamento mortal esperando sentir a presença de Atena em meu coração, mas a deusa nunca teve olhos para mim. Desde a época em que nós éramos órfãos na Graad, até os tempos atuais. Eu nunca desisti do amor de Atena. Mas ela me negou!

Jabu começou a chorar. Seiya se aproximou um pouco, ele não podia compreender totalmente aquelas palavras, mas era capaz de sentir a mais pura compaixão por Jabu.

— Eu aceitei o fruto da morte, e a partir de então, cada soco que dava era o mesmo que um milhão de socos. Meu treino se intensificou como nunca. Assim foi por dez anos. Vi meu poder crescer como jamais teria crescido ao lado de Atena. Meus mestres me permitiram compartilhar a o poder com Geki e Ban. Nachi tentou fugir do que deveria se tornar, escondeu-se em um vilarejo, mas meus mestres o trouxeram de volta ao curso do seu destino. Mas ainda amo Atena, Seiya. Não há um dia, – disse Jabu, disparando um olhar assassino para Seiya; o olhar de um mártir destruído pela dor, envolto em lágrimas de tristeza, mas rubro de ódio – não há um dia em que não tenha vontade de tirar minha própria vida.

Assustado, Seiya recuou novamente, dando alguns passos para trás. O cavaleiro de Sagitário sabia que aquilo era mais do que uma lavagem cerebral. Mais do que qualquer tipo de controle. O que acontecia com Jabu era uma luta. Uma luta violenta dele contra ele mesmo.

De volta ao Santuário, o Salão do Mestre passava por um momento de tensão. Shun, Shiryu, o Patriarca e Atena estavam absortos, fitando Hyoga ofegando com espanto após disparar a afirmação de que sabia do paradeiro de Ikki. Shun se aproximou lentamente de Hyoga.

— O que você está dizendo Hyoga? – Disse Shun. – Como você pode saber onde está meu irmão? Ichi está há anos a procura dele e você fez apenas uma viajem.

— Acalme-se Shun. Deixe que Hyoga explique pacientemente os seus passos. – Interpôs Shiryu.

Hyoga respirou fundo e tentou se concentrar na sequência de informações.

— Tudo começou quando Kiki me informou que a armadura de Pégaso poderia estar dando uma espécie de alerta. Para testar Kiki, pedi que Seiya questionasse ele sobre a flecha da armadura de Sagitário. Tentei então solicitar ajuda do Mestre, mas a sua leitura, mesmo parecendo clara, não foi tão clara como costuma ser. Então comecei a perceber que a situação era mais séria do que aparentava. – Hyoga respirou fundo. – Se havia algo se ocultando da visão das estrelas, só poderia ser algo além delas. Algo em outra dimensão.

— Outra dimensão – repetiu Atena. – Então esse era o motivo do seu interesse em outras dimensões.

— Sim – continuou Hyoga. – A pergunta que levei a Kiki acabou se tornando mais bem colocada do que eu mesmo poderia imaginar. Cheguei à conclusão de que alguém fora capaz de criar um mundo paralelo para se ocultar de nós, e foi a partir daí que comecei a desconfiar de Lemúria. Mas até então, tratava-se apenas de uma suposição vaga misturada entre várias outras.

— Ocultar um plano de existência inteiro sem que ninguém percebesse seria um feito impossível. – disse o Mestre que, assim como Shiryu, já sabia de toda a história.

— Sim. Seria preciso desviar os olhos de todos os seres do cosmo. A única coisa capaz disso seria uma Guerra Santa. Lemúria foi um Plano Paralelo que desapareceu por inteiro no meio de uma Guerra Santa. Nós seriamos capazes de encontrar vestígios dele se Poseidon tivesse apenas afundado o Continente Perdido. Mas não foi o que aconteceu. Lemuria desapareceu por completo.

— Há um vestígio – disse Shun.

— Sim. E seu irmão o conhecia muito bem – lembrou Hyoga. – A Ilha da Rainha da Morte. Há muitas evidências de que ela seria um vestígio da devastada Lemúria. Eu fui até lá para investigar.

Hyoga então fitou Atena, que permanecia atenta. Ela sabia do exército de cavaleiros negros, e Hyoga podia ver em seu olhar que, se ele sabia, foi porque ela não quis esconder dele, assim como ela não escondeu de Ichi.

— Não encontrei nada de significativo, – mentiu Hyoga – mas as palavras de Ichi de Peixes me intrigaram. Ele disse que tinha olhos treinados o suficiente para ver a Ilha da Rainha da Morte como uma obra-prima. Disse que ela havia sido feita pelas mãos de um artista. Por mais despretensiosa que tenha sido a frase, ela me foi muito reveladora.

Shun lembrou-se do engodo criado por Atena. A grande movimentação de dinheiro na Zyon. Alguém criara a Ilha da Rainha da Morte como um disfarce para que se pensasse que Lemúria fora destruída.

— Isso tudo aconteceu há milênios – percebeu Shun.

— Sim, creio que nosso inimigo pode estar todo esse tempo se preparando. – continuou Hyoga. – Acredito que ele vem observando as Guerras Santas. Vem aprendendo enquanto vê Atena lutar. Provavelmente ele a observa desde os tempos mitológicos. Trata-se de algum ser imortal, talvez até mesmo um deus.

— Mas como esse ser poderia ser capaz de criar esse Plano Paralelo? – Perguntou Atena. – Me parece impossível sem o auxilio de um deus poderoso como Hades ou Poseidon.

— Não podemos afirmar que ele não teve esse auxílio – colocou Hyoga, fazendo os presentes se entreolharem. – Após estudar os Planos Paralelos e os Rasgos dimensionais com a senhorita e com Ban, cheguei a uma conclusão lógica. Esse ser mitológico pode ter ajudado Poseidon a planejar o fim de Lemúria. Ele criaria outra dimensão e jogaria Lemúria lá. Porém, ao fechar de um lado, o ser o abriria em outro, enganando Poseidon ao fazê-lo pensar que Lemúria foi destruída.

— Kanon, irmão de Saga, já enganara Poseidon – lembrou Shiryu.

— Outro também poderia fazê-lo – disse o Mestre.

— Um ser capaz de matar toda a população de um continente para arquitetar sua vingança – disse Shun preocupado. – Isso é terrível.

— É mais do que terrível, Shun – continuou Hyoga. – Se esse ser realmente está planejando atacar Atena. Se uma pessoa com toda essa capacidade vem pensando nisso há milênios, sinto que nossas chances estão quase reduzidas à zero. Precisamos passar à frente desse plano, ou seremos destruídos.

— A primeira parte da profecia – Lembrou o Grande Mestre. – Guerreiros sagrados irão voltar-se contra o que amam, respeitam, defendem e acreditam. Não sinto que ela tenha se realizado.

— Não pode ser. Seiya estava certo – disse Shiryu pasmo. – Se eu tivesse escutado, se eu tivesse sido leal nós estaríamos à frente dos planos do inimigo.

— Do que está falando, Shiryu? – Perguntou Atena.

— Seiya havia me falado do quão estranho Jabu parecia, mas não lhe dei o devido crédito. Sem dúvidas era um sinal e eu deixei passar.

— A culpa também foi minha – disse Hyoga. – Se tivesse confiado em você e lhe falado da profecia, isso teria aumentado sua confiança em Seiya. Nossa... nossa falta de confiança, de lealdade, pode ter estragado tudo.

— O que aconteceu conosco, Hyoga? – Disse Shiryu, de punhos cerrados e cabisbaixo, tremendo enquanto se punia mentalmente.

Atena se aproximou e tocou-lhe o braço.

— Não se preocupe, eu confio em você tanto quanto confio nos outros – disse a deusa, acalmando Shiryu. – Agora faça o que tem que fazer.

A rainha da guerra justa irá saborear a amarga fruta da morte, e será tragada pela escuridão eterna— Lembrou Hyoga para Shiryu. – É a segunda parte da profecia.

— Obrigado Atena – disse o cavaleiro de Libra. – Hyoga, a partir de agora, pelo poder que me foi concedido, eu o declaro General Máximo. Comandará todas as forças do Santuário de Atena e ficará aqui, ao lado de nossa deusa. As atribuições de Juiz de Atena, Carmalengo, General e Patriarca estarão a sua disposição. O Mestre também ficará aqui como conselheiro. Eu e os outros cavaleiros de ouro assumiremos nossas posições nas casas do zodíaco. Proteger Atena é a prioridade.

Shun então se põe diante de Hyoga.

— Antes de partir me diga, por favor, Hyoga, onde está o meu irmão?

Hyoga respirou fundo.

— Quando eu cheguei a essas conclusões todas a respeito de Lemúria, precisava de alguma evidência para corroborar, então, comecei a pesquisar nos registros antigos das Doze Casas. Eu já tinha lido os registros deixados por Shaka de Virgem, mas não tinha reparado em nada estranho.

— Meu predecessor – lembrou Shun.

— Sim. Ele lutou contra Ikki na Batalha das Doze Casas. Shaka deixou registrado que, no fim da luta, Ikki e ele, devido ao encontro de seus poderes, acabaram parando em uma dimensão desconhecida. Shaka podia retornar sozinho, mas para trazer Ikki consigo, ele solicitou a ajuda de Mu de Áries, o antigo mestre de Kiki. Um Lemuriano.

Shun observava Hyoga atentamente.

— Você não vê, Shun? – Disse Hyoga. – Ikki, durante aquela luta, foi teletransportado para Lemúria. Ele foi o primeiro a ir até o plano do nosso atual inimigo, ainda que sem querer. Por isso Shaka precisou de um Lemuriano para trazer Ikki de volta.

Shun ficou boquiaberto.

— É a primeira vez na história que um cavaleiro é capaz de usar a armadura de Fênix, – continuou Hyoga. – Ikki provavelmente tornou-se um fator inesperado nos planos do inimigo, pois além de poderoso, era o único homem vivo que conhecia o Continente Perdido e poderia alcançá-lo quando quisesse com suas Asas de Fênix. – Uma ave pode chegar onde quiser, se souber bater as suas asas, lembrou-se Hyoga. –Com elas, ele fora capaz até mesmo de escapar da Outra Dimensão de Saga de Gêmeos. Infelizmente, não sei dizer se ele foi feito prisioneiro, ou se está lutando contra o inimigo em sua própria dimensão.

— Ou morto – disse Shun, cabisbaixo.

— Não – Respondeu Hyoga, Shun então o fitou com esperança. – É muito improvável que esteja morto. Ele é Ikki, cavaleiro de ouro de Leão, portador das asas da Fênix.

Shun sorriu esperançoso, mas o momento de alegria durou muito pouco. Todos dentro do Santuário, conselheiros de guerra, cavaleiros de prata, cavaleiros de bronze, soldados e moradores, se voltaram para o norte. Em um local afastado, próximo do Santuário, dois cosmos explodiram com força máxima.

— Jabu! Seiya! – Percebeu Hyoga.

— Então começou – disse Shiryu.

Nesse momento, Kiki se conectou mentalmente com as pessoas no Salão do Mestre.

— O que está acontecendo? – Perguntou Kiki, ainda em sua casa.

— Fique atento, Kiki – ordenou Shiryu. – Estamos em guerra.

 

Fim da Primeira Fase


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