Victoire Weasley era uma garota cheia de certezas. Talvez isso fosse apenas um fruto da típica mania dos adolescentes acharem que sabem demais, talvez fosse um reflexo de sua essência corvinal, ou apenas uma consequência de seu hábito de viver com o nariz enfiado nos livros. Para ser honesta, não importava muito. O relevante era que Victoire Weasley era uma garota de conceitos baseadas em fatos, convicções matemáticas e certezas inabaláveis. Aos 17 anos parecia ter uma opinião formada sobre tudo e respostas precisas para qualquer indagação. Pelo menos era o que pensava. Até que em uma tarde especialmente quente de verão, a garota se viu presa em um grande dilema.

Enquanto sua prima Molly lhe contava como havia percebido, na noite anterior, que estava apaixonada por Ethan Cleawatter, Victoire se pegou pensando em quando havia entendido que amava Teddy Lupin. Os dois estavam juntos há alguns meses e o anúncio do namoro não fora surpresa para ninguém. Na verdade, seus tios George e Ron haviam apostado há alguns anos quanto tempo levaria para que se tornassem um casal. Seu pai não gostara muito da brincadeira, mas a menina não enxergara problema algum, sabia que era óbvio para todos que nutria sentimentos por Teddy – bom, óbvio para todo mundo, menos o para o próprio Teddy. A questão era que não conseguia se lembrar do momento exato em que esses sentimentos nasceram.

Ela conhecia o rapaz desde que se entendia por gente. Literalmente. Haviam crescido juntos, correndo pelo jardim da Toca e se divertindo na praia que cercava sua casa. Ele estava presente em toda reunião de família, aniversário, ou evento que reunisse Weasleys e Potters. Era seu companheiro de aventuras, confidente e melhor amigo. Algo que não mudou nem mesmo quando fora para Hogwarts dois anos antes que a garota. Nem mesmo o fato de serem de casas diferentes era capaz de separá-los. Muito pelo contrário. Lufanos e corvinais foram feitos para formarem duplas incríveis. Ou talvez, fossem simplesmente Victoire e Teddy que nasceram para se completar. Pensando um pouco sobre o assunto, a loira preferia acreditar na segunda opção.

De qualquer forma, os anos passaram e as crianças inocentes se transformaram em adolescentes. Em algum ponto, ela e o Lupin perceberam que o que sentiam um pelo outro era muito mais que amizade, mas não importava o quanto pensasse sobre o assunto, Victoire simplesmente não conseguia se recordar do momento em que tivera essa revelação. Buscava desesperadamente em sua cabeça a lembrança de uma grande epifania, algo que a libertou das trevas e fez com que enxergasse que a luz estivera ao seu lado por todo aquele tempo. Algo minimamente semelhante ao que Molly descrevera. Ainda assim, independente do quanto fizesse seu cérebro trabalhar, não chegava a esse instante sublime. Fato que a incomodava profundamente. Victoire Weasley detestava dilemas e odiava ainda mais não ter a resposta para alguma questão. Era uma irritante sabe tudo, como Teddy costumava dizer, trocando sorrisos marotos com seu tio Ron.

Sendo assim, a menina passou horas naquele martírio, andou em círculos pela casa e até mesmo roeu as unhas pintadas de cor de rosa, algo que desagradaria imensamente a sua mãe. Foi apenas quando o namorado estava ao seu lado, passando os braços ao redor de seus ombros e brincando de lhe roubar beijos, que a garota verdadeiramente entendeu. Jamais seria capaz de se recordar do momento em que se descobrira apaixonada, porque havia amado o Lupin durante a sua vida inteira. Poderia buscar o quanto quisesse, mas seria em vão, porque enquanto Molly sabia o exato instante em que percebera que amava Ethan, Victoire era incapaz de se recordar de um único instante em que não amara Teddy.