Mas que droga!

O que eu tinha na cabeça? Víctor Krum era um completo cavaleiro e só queria um beijo, como todos dão, qual era o meu problema em não conseguir? Como você é boba Hermione, boba!

Agora estou aqui, encolhida sob o pé da árvore, sem coragem de voltar para o baile de inverno depois de sair correndo de lá. Idiotice!

O que mais queria era ficar sozinha agora, mas o mundo parecia estar contra mim àquela noite. Visualizei Rony saindo do castelo e vindo em minha direção. Inferno! Era só o que me faltava.

— O que foi Ronald? – disparei sem pensar e ele pareceu surpreso com minha frieza.

Droga mais uma vez Hermione!

— Vi que saiu apressada do salão e... bem... fiquei preocupado.

— Obrigada, mas está tudo bem. – respondi.

— Ele fez alguma coisa que a magoou? – perguntou Rony quase que de imediato, antes mesmo que eu terminasse de falar.

— O que? – disse um pouco desnorteada, mesmo tendo entendido a pergunta.

— Você pode enganá-lo Hermione, mas a mim não. – disse me olhando tão convicto que me senti incomodada, como uma nua em sua frente – Sei quando está bem, mas também quando está chateada.

— Não sabia que era tão sensível Ronald. – rebati suportando seu olhar – Logo você e logo comigo.

— Tem muitas coisas que você não sabe Hermione. – soltou Rony e suas palavras caíram como bombas em meu estômago.

— O que quer dizer com isso? – insisti, não abaixaria a guarda tão facilmente.

Rony suspirou e sentou-se ao meu lado fazendo meu corpo tremer repentinamente.

— Sei que está escondendo alguma coisa e não preciso ser uma pessoa sensível para saber disso. – respondeu o ruivo – É só olhar no centro da sua testa, bem aqui... – e ele se aproximou tocando meu rosto, como se examinasse algo muito grave, e eu literalmente podia sentir a gravidade daquela aproximação com o peso da respiração – Esta linha aqui, meio reta e curva, meio leve e funda sabe...?!

— Não, não sei palhaço. – devolvi dando risada e mais uma vez ele me desarmou de uma forma ou de outra.

Ele se afastou voltando a me olhar e eu pude ver seus lábios contorcidos na obra de arte que é seu sorriso. Rony ria de mim e eu fiz uma careta unindo nossos risos, até ele voltar a falar.

— Seu vestido...é...é muito bonito. – comentou me olhando encabulado e eu adorava esse olhar.

— Obrigada. – respondi um pouco surpresa – Você também está muito bonito...digo, o traje... quero dizer, conseguiu tirar parte dos babados, ficou bom assim...

Droga! Estava nervosa e para minha infelicidade Rony pareceu perceber, pois riu discretamente do meu embaraço. Era inevitável, Rony tinha esse e muitos outros poderes sobre mim. Desviei o olhar envergonhada e agradeci por ele voltar a falar como se nada tivesse acontecido.

— Desculpe não ter lhe convidado antes. – soltou o ruivo e consegui ficar ainda mais surpresa.

— Não era sua obrigação Rony.

— Mas era o que eu queria. – disparou sem me olhar e eu podia sentir como era difícil para Ronald Weasley se abrir deste modo.

— Bem, no fim, estamos aqui não é?! – comentei e pude ouvir um riso contido escapar de sua boca.

— E então, não vai me falar o que aconteceu? – perguntou ele olhando para algum ponto a frente que eu decidi também olhar antes de responder.

Ponderei por alguns instantes. Não queria ter esse tipo de conversa agora, muito menos com Rony que se enfurece apenas em ouvir o nome de Víctor Krum.

— Não confia em mim Granger? – provocou virando-se para mim novamente, mas não desviei os olhos, mesmo ainda não encontrando o ponto o qual ele almejava antes.

— Confio minha vida a você. – respondi mirando-o rapidamente, apenas para ver seu sorriso formando-se discretamente e então voltei a olhar para o nada a nossa frente – E exatamente por isso não vou dizer, não quero iniciar uma briga com você hoje.

— E por que brigaríamos hoje? – perguntou indignado e eu direcionei o olhar mais acusador que podia fazer, arrancando uma risada dele – Também não quero brigar, mas agora é tarde porque você me deixou ainda mais preocupado com essa.

— Já disse que não precisa se preocupar Weasley, não aconteceu nada.

— Claro que aconteceu Hermione, está mentindo pra mim. – insistiu e minha paciência diminuiu na mesma proporção que sua voz se elevou.

— Porque você não diz logo o que quer saber ao invés de ficar aqui me chamando de mentirosa. – disparei e Rony ficou tão perplexo quanto eu após minhas palavras.

— Você sabe o que quero saber. – devolveu convicto e meu estomago embrulhou.

— Não, não sei. – na verdade eu sabia, era sobre Víctor que Rony queria ouvir, mas eu não contaria o que fiz ou deixei de fazer com Krum, afinal ele era meu par aquela noite e não Rony – Quer saber, eu vou entrar antes que... – disse me levantando bruscamente, mas antes mesmo que pudesse terminar, senti seus dedos envolverem meu braço me puxando de volta.

— Ele a beijou?

— O que? – um soco atingiu meu estômago e me senti momentaneamente tonta.

— Aquele búlgaro Hermione, vocês...vocês se...  – Rony cuspia as palavras com desespero e eu me sentia ainda mais tonta.

— Não! – gritei antes que continuasse – Não, de onde você tirou isso? É claro que não.

— Era tudo que eu precisava saber. – disse num sussurro e sem receios me puxou para junto de seu corpo.

Senti o calor seus lábios contra os meus e toda a força contraria que poderia ter contra aquela ação se desvairou com o gosto de seu beijo. Meu corpo pesava sobre as pernas de Rony como resultado do puxão que levei e uma de suas mãos passeavam em minhas costas enquanto a outra delineava o contorno do meu queixo.

Seus olhos me perfuravam de desejo e pude sentir o rosto esquentando por isso. Rony havia acabado de me beijar e eu não sabia como agir agora.

— Ro... Ron... – tentei com a voz vacilante, mas fui interrompida.

— Fui um idiota Hermione, devia ter te convidado há muito tempo, mas tive medo de estragar tudo e acabei estragando por não fazer. – dizia Rony abertamente.

— Você estragou mesmo. – rebati acariciando seus cabelos ruivos – Mas fica tranquilo que já consertou.

Rony riu e depositou mais um beijo demorado em minha boca. Desta vez não me afastei, fechei os olhos e descansei a cabeça em seu peitoril sentindo seus braços me envolverem por completo em um abraço.

Então senti um peso em minhas pernas e um ronronar ao longe. Abri os olhos novamente, mas ao meu redor havia apenas as cortinas vermelhas da minha cama no dormitório feminino da Grifinória e um gato se aninhando em meus pés.

— Bichento, que susto! – comentei decepcionada por ter sido acordada.

Voltei a olhar o teto da cama e respirei fundo. Era apenas um sonho Hermione.

Poderia ser nós, mas Ronald Weasley não colabora!