Meu despertador gritava ao meu lado, eu queria apenas desliga-lo e voltar a dormir, quando me dei conta de que hoje eu começaria a trabalhar na Boutique Belle, então levantei num pulo, fui até o banheiro e tomei um banho despertador, voltei para o quarto, vesti uma calça jeans preta, e uma blusa qualquer, eu iria usar uniforme, então isso não importava muito, calcei o meu scarpin preto, passei uma maquiagem básica, mas com um delineador marcante, deixei meu cabelo liso, sai em direção á cozinha, Damon estava apagado no sofá, o relógio marcava 7h30m, tomei um chá de morango com algumas torradas, meu corpo estava acelerado, eu estava ansiosa.

— Já acordada? – ouvi uma voz vir da sala, rouca e sonolenta.

— Sim, hoje é o meu primeiro dia no novo emprego – disse alegre e orgulhosa.

— Que horas tem que estar lá?

— Eu entro ás nove.

— Certo, mais dois minutos e eu já levanto – ele disse voltando a fechar os olhos.

— Damon, você não precisa me levar se não quiser, eu posso ir de metrô.

— Não é isso, eu só não dormi muito bem essa noite – ele se sentou no sofá ainda de olhos fechados – e você nunca soube andar de metrô, a única vez que tentou se perdeu – ele me lançou um olhar engraçado.

— Não precisa esculachar também né – fiz beicinho.

  Ele foi para o quarto e se vestiu, voltou cinco minutos depois, seu cabelo ainda estava bagunçado, ele tomou uma xicara de café, terminando de me arrumar, reparei que eram 8h10m, nós resolvemos sair, porque mesmo levando apenas vinte e cinco minutos para chegar, poderia haver transito, e coisas do tipo, e eu honestamente não quero dar sorte ao azar.

— Então, quer falar sobre ontem? – disse Damon assim que estávamos a caminho.

— O que sobre ontem?

— Você ter se lembrado da minha existência na sua vida talvez? – ele disse irônico mas brincando.

— Ah sobre isso – eu ri, a euforia de começar um trabalho novo me fez esquecer dos acontecimentos de ontem – eu espero que eu tenha mais recordações, foi bom lembrar de algo, mesmo que pouco, foi bom poder ter certeza que eu não estou morando com um louco psicótico – caçoei.

— Você pensou que eu era um psicopata? – disse ele se fingindo de ofendido.

— Claro que isso passou pela minha cabeça – dei de ombros em tom de deboche – mas você é bonzinho demais para ser um psicopata, e já teria dado alguns sinais.

— Que bom que eu não sou – ele riu – mas falando sério, eu fiquei muito feliz de você ter se lembrado, mesmo que pouco, já me enche de esperança.

— A mim também, quero me lembrar de quem eu sou, dessa nova Elena.

— Eu mais do que qualquer um – ele me deu um sorriso de canto.

— Damon, e se eu não me lembrar? E se isso foi apenas um único acontecimento, o que vai acontecer com a gente?

— Você vai ter a chance de se apaixonar por mim de novo – ele disse com um sorriso de lado sensual e malicioso, mas com um fundo de carinho.

— Apenas um pouco convencido não?

— Apenas disse a verdade. – eu ri dele fazendo negativo com a cabeça.

  O restante do caminho foi quase silencioso, e trinta minutos depois nós havíamos chegado, olhei no relógio 8h50m.

— Eu já vou entrar, você vem me buscar á noite?

— Sim, ás 18h certo?

— Isso – sorri – até a noite Damon – disse saindo do carro.

— Até Elena – ele me lançou um sorriso sexy e saiu com o carro pela rua.

  Fiquei alguns instantes ali fora, então decidi entrar, Daniela já estava lá arrumando as araras.

— Bom dia.

— Bom dia Elena, pronta para começar? – ela sorria.

— Prontssima – disse animada.

— Lyana só vem mais tarde, mas me pediu para te ensinar como são as coisas aqui, ah vem comigo – ela saiu andando até a porta rosa, atrás do balcão.

 Eu a segui, nós duas entramos em uma sala enorme, a minha direita tinha uma escada em espiral ao lado dela uma televisão, um sofá de couro branco, e dois puffs, ao meu lado esquerdo havia uma mesa de escritório, com um notebook, alguns papéis, telefone e atrás dela uma cadeira de couro branca bem larga.

— Ali é a mesa da Lyana, mas nós temos que ficar de ouvido no telefone quando ela não está, e aqui é onde nós descansamos, horários de almoço ou revezamentos quando o movimento está baixo, essas escadas dão no estoque, toda a mercadoria que chega nós levamos pra lá, então quando alguém perguntar se temos outra cor de alguma peça ou outro tamanho, nós conferimos na planilha do estoque, depois vou te mostrar no computador, e procuramos lá.

 Fui anotando mentalmente o que ela dizia, ela me explicava as coisas básicas, e eu á ouvia com atenção, ela pegou uma peça cinza clara que estava no sofá de couro e me entregou.

— Esse é um dos uniformes – ela me explicava – são todos do mesmo modelo, mas ás cores variam, temos o cinza – ela me entregou – o preto, o azul meia noite, o sapato é você quem escolhe, pode ser de salto, sapatilha, tênis, tanto faz – ela deu de ombros – nós podemos usar cintos, coletes, jaquetas, mas não podemos cortar ou amarrar os vestidos – ela me explicava tudo com detalhes – a Lyana é uma ótima chefe, muito liberal, mas com os uniformes ela pega no pé. Agora vá se vestir, porque já vamos abrir a loja.

 Eu fui até o banheiro que estava mais atrás naquela grande sala, vesti o vestido cinza claro, ele era de algodão, em regata, todo liso, nas costas ele tinha duas alsas em forma de X, um palmo acima do joelho, ele era bem bonito, fiquei feliz por não ser um uniforme ridículo como vejo por ai. Acabei de me arrumar, fiquei agradecida por ser agosto, auge do verão, sai do banheiro e não havia mais ninguém na enorme sala, sai pela porta rosa, Daniela estava atrás do balcão.

— Ficou bem em você – ela sorriu – a Lyana irá trazer os outros mais tarde, agora vem aqui.

 Ela me mostrou as planilhas, planilha de estoque, planilha de vendas, planilha de pedidos, tudo, e depois me mostrou o estoque, tudo organizado de acordo com a planilha, seria bem fácil de achar qualquer coisa. Voltei lá para baixo e a garota ruiva que eu vira ontem passou apressada para detrás da porta rosa.

— Ela é a Louise – disse Daniela sobre a ruiva – ela não é uma pessoa muito simpática, mas é boa vendedora , ela é bem na dela.

 Dani me explicava sobre tudo, eu havia feito três vendas ao longo da manhã , próximo ao meio dia Lyana chegou.

— Elena querida – ela sorriu ao me ver – o que está achando?

— Estou adorando Lyana, obrigada pela confiança.

— Magina querida – ela sorriu – bom já está no horário do almoço, pode ir com a Dani, eu fico aqui com a Louise.

— Certo – sorri.

 Dani e eu saímos juntas para almoçar, comemos em um restaurante próximo, ela me dizia sobre as coisas que aconteciam na loja, e sobre os problemas que davam com mais frequência, me explicava mais sobre Lyana como chefe, e sobre a Louise, que por sinal não me falou nenhuma palavra a manhã toda.

 O restante do dia passou normalmente, eu havia feito mais algumas vendas, e estava orgulhosa de mim mesma, eu tenho a impressão que irei gostar desse emprego. Eu estava no estoque arrumando algumas coisas, quando ouvi a voz de Damon lá na frente.

— Já estamos fechados – disse Louise em tom áspero.

— Eu só vim buscar a Elena – disse ele.

 Abri a porta, e pude ver que ela o encarava, com um olhar diferente, ela parecia aprecia-lo, revirei os olhos.

— Já estou indo Damon – sorri, e ela levou um susto, nem imaginava que eu estivesse atrás dela.

— Tudo bem – ele se sentou em uma das poltronas da loja.

 Terminei de arrumar ás coisas do estoque, troquei de roupa voltando á vestir a minha, e guardei o meu uniforme pendurado em meu armário, peguei minha bolça e voltei para a frente.

— Tchau Lyana – disse ao passar por sua mesa.

— Tchau querida – ela disse sorrindo – Ah, Elena espere – ela se levantou as pressas, e pegou uma sacola preta que estava no sofá.

— O restante do uniforme – ela me entregou a sacola.

— Obrigada, até amanhã – disse indo até Damon.

— Pronta para ir? – ele disse com aquele sorriso no canto dos lábios.

— Pronta – sorri. – Tchau Dani, tchau – disse olhando agora para Louise.

— Tchau – disseram as duas juntas.

  Nós dois saímos pela porta e fomos andando até o carro.