Levei mais alguns minutos para assimilar tudo o que havia acontecido ali, Damon não ia ter um filho, ele não me traiu, meu Deus do céu. E como uma onda arrebatadora a culpa e o arrependimento me jogaram contra a parede.

— O que ela disse? – Dani se sentou á minha frente.

— Você ouviu o que ela disse – revirei os olhos, era óbvio que ela tinha ouvido toda a conversa.

— Ouvi – ela riu – mas então, por que você está assim? Não tinha que estar feliz?

— Eu estou aliviada, mas feliz? Como posso estar feliz? Ele está no hospital, desacordado, e ainda para ajudar, eu o deixei, basicamente por nada.

— Elena não se sinta culpada, qualquer mulher no seu lugar faria o mesmo.

— Faria? Você tem certeza? – ela desviou o olhar para as mãos.

— Agora não adianta mais você ficar se martirizando, já foi Elena, não tem como voltar atrás, o que você tem que fazer agora é ficar ao lado dele, passar toda a energia positiva e o amor para ele, é estar lá quando ele acordar, e você poder lhe dizer o quanto o ama, deixa o passado para trás, tudo tem um motivo para acontecer.

 E mais uma vez Daniela tinha razão, era o que eu tinha que fazer, e é o que faria, não vou ficar pensando no passado, eu preciso estar lá para o Damon, e quando ele acordar e estiver bem, nós podemos conversar sobre tudo o que aconteceu.

 Vesti uma roupa confortável e voltei para o hospital, quando cheguei vi Lilly na sala de espera, ela estava com um olhar distante, e não percebeu que eu estava ali.

— Lilly? – passei a mão no braço dela com delicadeza.

— Oi Elena – ela sorriu – não vi que você chegou.

— Está tudo bem?

— Sim, eles estão fazendo alguns exames e avaliando se ele está progredindo ou não.

— Tudo bem – suspirei e me sentei ao lado dela.

 Ficamos ali, em silêncio, na sala de espera vazia e fria, nós não conversamos, uma respeitando o silêncio da outra, até que Lilly virou o rosto e me olhou torcendo os lábios.

— Meu filho te ama mais do que você possa imaginar Elena – ela disse com um olhar distante – preciso confessar que quando ele me disse que você havia deixado ele, eu tive vontade de te ligar, de brigar com você, eu fiquei com muita raiva, porque eu sei o quanto ele estava sofrendo, ele não me disse nada, mas eu conheço meu filho como a palma da minha mão, e eu sempre soube que você era a mulher da vida dele, você mudou ele, de uma forma positiva, e eu sempre quis te agradecer por isso – ela deixou no ar, fiquei sem reação, Lilly nunca falou sobre os sentimentos dele comigo – Meu filho sofreu mais do que você possa imaginar nos três meses em que você ficou em coma, as vezes eu olhava para ele, parecia um corpo sem alma, e em partes acho que estava. – ela deu uma pausa, me dando chance de falar algo, mas falar o que? -  Quando ele me disse que uma garota, que não era você, estava gravida dele, fiquei dias me perguntando como ele conseguiu fazer isso, e bom, até hoje não tenho uma resposta.

— Ele não fez – disse em voz baixa e seus olhos se voltaram para mim – a garota, a Rachel, foi lá em casa hoje, ela me disse que o filho não era dele, e que eles não fizeram nada, ele não conseguiu – não consegui conter as lagrimas, e deixei elas caírem livres, provocando um soluço – ele não fez, mesmo estando brigados, mesmo sem eu me lembrar dele, mesmo ele estando muito bêbado, ele não fez, ele não me traiu – levei as mãos ao rosto, ela passou o braço por meu ombro e me abraçou.

— O amor de vocês vai superar tudo isso. – ela disse me apertando em seus braços, e eu chorei ainda mais.

                                                                           *

Algumas hora depois a Dra. Reid veio nos dizer que ele estava progredindo, e que já haviam cessado o remédio que o estava mantendo desacordado após a anestesia, e que após três horas ele poderia acordar a qualquer momento, e o meu coração se encheu de uma esperança que eu nem sabia que existia.

 Lilly foi para o meu apartamento, eu ficaria ali com Damon, e a expectativa de que ele acordasse era enorme. Passava das duas da manhã, eu acordei de um sonho com ele, e ver ele ali ainda desacordado me bateu uma dor no peito. Me sentei na cadeira ao seu lado, e segurei a sua mão, fechei os olhos e suspirei.

— Volta logo para mim amor, a gente tem tanto o que conversar.

 Fiquei por horas ali o admirando, e ele não moveu nem um dedo. Dormi com a cabeça ao lado de sua mão, sentada na cadeira e toda torta.

— Elena – Dra. Reid me lançou um sorriso, e eu levantei assustada.

— Oi. Dra. Reid – sorri. – está tudo bem?

— Está sim, eu só estava fazendo uma checagem geral, ele pode acordar a qualquer momento.

— Mal posso esperar – sorri.

— Mas eu acho que você pode ir para casa, descansar um pouco, dormir nessa cadeira não deve ser das coisas mais agradáveis não é?

— Nem um pouco – sorri – mas quero estar aqui quando ele acordar.

— Tudo bem então – ela sorriu e deixou o quarto.

 Eu não queria sair dali, mas me lembrei de Lord, eu precisava ir ficar um pouco com ele, cuidar dele, Damon me mataria se soubesse que não cuidei dele enquanto ele estava aqui. Lilly chegou por volta das dez horas, e eu resolvi deixa-la a sós com ele, e fui para a casa de Damon.

 Ver Lord com as minhas memórias de volta fez com que me sentisse mais culpada ainda, como pude esquece-lo? Era praticamente meu filho, eu o amava como tal, não apenas um cachorro.

— Grandão – eu o abracei com força, e ele deixou suas patas dianteiras em meus ombros, a sensação de estar ali com ele era reconfortante. – como você está em?

 Ele latia, pulava, corria pela casa, quase me derrubou quando eu estava limpando sua sujeira, ele parecia mais feliz do que nunca ao me ver, fazia tempo que não o via tão agitado, e então me lembrei o motivo.

— Você está com saudade dele não está? – passei a mão em sua cabeça no meu colo – ele vai acordar, e vai voltar para nós – o abracei novamente, e era incrível como parecia que ele estava entendo perfeitamente o que eu dizia.

Deixar Lord foi difícil, fui até a minha casa e tomei um banho relaxante, tirando o cheiro de hospital que parecia impregnado na minha pele. Não consegui comer nada, e a vontade de voltar correndo para o hospital foi um dos grandes motivos. Dani brigou comigo, dando sermão que eu só ouvira da minha mãe.

— Você precisa comer Elena, droga – disse ao desistir de me fazer comer o prato de lasanha.

— Eu vou voltar para o hospital, como algo por lá – dei um beijo em seu rosto.

— Não falo mais nada – disse ela emburrada se jogando no sofá, eu ri.

 Peguei minha bolsa e um casaco e sai de casa, agradeci por Lyana só abrir a loja após o réveillon, eu não precisaria me preocupar em ficar o dia todo longe do Damon. Voltei para o hospital e quando cheguei lá vi o delegado que acompanhou meu caso quando Matt me sequestrou.

— Srta. Gilbert – ele forçou um sorriso e me estendeu a mão, a apertei – eu estava á sua espera.

— Aconteceu algo? – minha garganta secou.

— Na verdade sim – ele respirou fundo – nós analisamos as imagens do acidente do Sr. Salvatore, e bom – ele coçou a cabeça nervoso – O causador do acidente foi o Sr. Donovan, foi o carro dele que acertou o do Salvatore.

— O que? – não pude acreditar, foi tudo culpa daquele desgraçado, filho de uma mãe – vocês não estavam monitorando ele? – disse irritada.

— Ele usou outro passaporte para voltar, mas agora ele está em Nova York, e meus homens já estão atrás dele.

— Ele já deveria estar atrás das grades – rosnei.

— Eu gostaria que a senhorita me acompanhasse até a delegacia, para ver as imagens, nós vamos precisar de um novo depoimento sobre o caso do sequestro.

— Tudo bem – suspirei – posso só ver o Damon antes de irmos?

— Claro. – ele assentiu.

 Deixei Lilly com o delegado e entrei no quarto, Damon estava do mesmo jeito de quando eu sai, coloquei a luva e peguei sua mão.

— Meu amor – senti uma pontada no peito – nós vamos pegar quem fez isso com você, e enquanto isso, preciso que você acorde, porque está muito difícil ficar sem você, agora mais do que nunca – deixei a lagrima escorrer – eu te amo Damon, acorda logo e volta para mim – dei um beijo demorado em sua bochecha.