A dor no peito era sufocante, acordei várias vezes durante a noite achando que era um pesadelo, e então toda a conversa voltava e me trazia de volta para realidade, e mais meu peito se apertava.

 Durante o trabalho o dia se arrastou, Damon me enviara várias mensagens durante o dia todo, e eu ignorei todas, não estava pronta para conversar com ele ainda. Meus sentimentos eram uma mistura de dor, tristeza, decepção, orgulho ferido, raiva, ódio, e em alguns momentos de desespero eu pensava em fingir que nada aconteceu e correr para seus braços, mas eu não sou dessas que fingem que está tudo bem só para não ter que tomar uma atitude.

 Só consegui falar com Damon na quinta-feira, e foi apenas uma mensagem dizendo ''Hoje a noite me encontre no Coffe D’Lawer ás 19h''. Hoje eu estava um pouco mais calma, ainda doía muito, mas já não sufocava como antes, e eu sabia o que era o certo a se fazer, tinha certeza que estava indo pelo lado certo, e que um dia poderia me arrepender, mas não posso evitar isso.

 Cheguei do trabalho, desanimada tomei um banho rápido, vesti uma calça jeans, uma bota de cano curto e salto grosso marrom, com uma blusa de moletom bem fina creme, que havia spikes dos ombros até o meu do braço, ela era larga e comprida. Andei em direção á cafeteria, quando cheguei Damon já estava lá, seus olhos inchados brilharam ao me ver, me sentei no banco acolchoado, o encarei por um segundo, seus olhos estavam muito inchados e vermelhos, e em baixo deles olheiras profundas e escuras, me deu um aperto ainda maior no coração.

— Você não imagina como fiquei feliz com sua mensagem – começou ele, não consegui dizer o que eu havia ensaiado o dia todo.

— Como você está? – perguntei.

— Não é óbvio? – ele riu com uma mistura de sarcasmo e tristeza. – e você?

 Dei de ombros, não tinha o que dizer, a garçonete anotou nossos pedidos e saiu andando, nós ficamos  trocando olhares.

— Acho que não posso ficar prolongando isso. - disse

— O que?

— Damon, eu amo você – comecei – mas não consigo deixar isso para lá, eu tentei, mas não consigo esquecer que você será pai, de um filho de outra mulher.

— Eu não... - eu não podia deixar ele falar, eu precisava ter coragem e dizer tudo o que eu precisava.

— Por favor, isso é insuportavelmente difícil para mim, não piore.

— Elena eu não quero ficar sem você – ele choramingou e pegou minha mão que estava sobre a mesa.

— Acho que deveria ter pensado isso antes de engravidar aquela garota.

— Eu estava completamente bêbado, eu nem me lembro do rosto dela.

— Damon eu não posso fingir que nada aconteceu e seguir com nosso relacionamento.

— Mas... – seus olhos agora estavam cheios de lagrimas, e meu coração apertou novamente.

— Eu preciso ir na verdade, estou um pouco resfriada.

— Nada que eu fizer pode te fazer mudar de idéia? – ele acariciou minha mão.

— Infelizmente não – a puxei de volta com delicadeza.

— Não me deixe – ele estava praticamente me implorando, e aquilo era insuportável.

— Não posso Damon, eu simplesmente não posso – sai chorando pela cafeteria andando até a saída.

 Deixar ele daquele jeito foi doloroso, ele esta sofrendo tanto quanto eu, mas o que ele fez não da para desculpar, e além do mais, essa criança precisa de um pai presente, não alguém que mal se lembra de sua existência, e no fundo do meu coração, eu sei que é o certo a se fazer.

 Estava deitada em minha cama, é sempre nesse momento que todas as lagrimas e a dor contida o dia todo surgem, e eu choro até ser vencida pelo cansaço e acabo dormindo.

 Fiz a minha rotina matinal, olhei no espelho e vi uma garota triste, com olheiras profundas, passei uma base, corretivo, pó e tudo que era possível para diminuir os buracos escuros abaixo de meus olhos.

— Bom dia flor do dia, como você está? – Dani estava animada, ela estava fazendo panquecas, me sentei na cadeira, e apoiei meu braço na mesa, tudo o que eu não estava era bem, e ela notou. – Animo Gilbert, hoje é sexta-feira.

— Um dia como todos os outros.

— Não, hoje você vai sair comigo – ela sorriu.

— Eu vou é? – perguntei e forcei um sorriso.

— Sim, nós duas precisamos espairecer, vamos sair para beber, dançar, ver gente – ela colocou um prato cheio de panquecas no centro da mesa.

— Não estou com vontade de ver ninguém.

— Você está sim. – com ela não tinha discussão, então preferi não discutir, levantei as mãos em rendição e ela sorriu vitoriosa.

 O trabalho foi agitado hoje, o movimento o mais alto das ultimas semanas, o que me renderia uma boa comissão, a idéia me fez sorrir.

 Ao chegarmos em casa eu só queria fazer como nos outros dias, tomar banho, tentar comer algo deitar e chorar até dormir, mas Daniela não deixaria de jeito nenhum, ela estava quase saltitante pelo apartamento.

— Vai tomar banho, você precisa se arrumar, e ficar muito maravilhosa, e atrair toda a atenção dos rapazes, e quem sabe...

— Não, eu não quero e não vou ficar com ninguém Dani, acabei de terminar um namoro, eu o amo muito, não percebeu isso? O seu relacionamento era uma droga, o meu não – desabafei, e senti que tinha feito merda, porque ela me encarou com tristeza- Me desculpe, eu não quis dizer isso, eu só estou...

— Não se preocupe, você está certa – ela sorriu – O relacionamento de vocês era maravilhoso, até ele engravidar outra. – touché.

 Ela pagou na mesma moeda, o que doeu um pouco, mas eu decidi ignorar, não ia adiantar nada ficarmos brigando por bobeiras. Tomei um banho relaxante, voltei ao meu quarto apenas de toalha, sequei o cabelo, fui até o closet e comecei a passar os vestidos de festa um a um, escolhi um vestido preto bem simples, o vesti e voltei ao quarto para me maquiar, quando ouço Dani fazer um barulho em negação com a língua.

— Esse vestido não, não com os vestidos maravilhosos que eu vi você guardar – ela piscou e foi até o closet, voltou cinco minutos depois com um vestido preto de mangas compridas todo de paetê, suas costas eram abertas até a metade, e ele não tinha decote, não era algo que meu estado de espirito escolheria, mas ela ia me vencer pelo cansaço de qualquer jeito, resolvi vestir esse mesmo.  Daniela voltou ao meu closet enquanto eu terminada minha maquiagem e saiu de lá com dois pares de sapatos, um deles era um Louboutin plataforma  na frente e salto fino de 16cm atrás, ela me entregou e eu me senti um pouco mais animada, ele era um dos meus favoritos, desde sempre. Joguei  o cabelo todo por sobre o ombro e fiz babyliss, eu estava pronta e Dani também, e linda por sinal, ela estava com um vestido tomara que caia vermelho e que deixava seus seios bem empinados, e um salto fino da mesma cor, seu cabelo loiro e comprido estava todo solto e liso. Nós jantamos rápido e então decidimos sair em busca de algum lugar digno de nossos looks.

— Acho melhor irmos de taxi, não gosto de dirigir depois de beber.

 A palavra taxi fez meu couro cabeludo pinicar, mas era mais arriscado voltar com ela bêbada, do que de taxi, e então resolvi aceitar.

 Nós ligamos para a central de taxi e pedimos um que conhecesse boates legais, e vinte minutos depois recebemos uma mensagem de que ele já estava nos aguardando.

 Descemos o elevador e eu disse um oi rápido para o porteiro que nos encarou com um sorriso animado. Fomos até o taxi e pedimos para ele nos levar em uma boa boate, e assim ele fez. Após quase trinta minutos ele finalmente parou em um lugar, disse que era um dos melhores lugares, e que se precisássemos era só mandar uma mensagem para ele e nos entregou seu cartão.

 Dani o pagou e nós descemos, ficamos esperando cerca de vinte minutos na fila para entrar, e a entrada era um pouco cara, mas iriamos fazer valer a pena, eu havia decidido deixar a Elena deprimida e cheia de problemas em casa, e trazer apenas a Elena animada, agitada e baladeira esta noite.