Um mês se passou, não tivemos mais noticias de Matt, e relaxamos, pois me garantiram que estavam de olho nos nomes que ele poderia usar para voltar. Dani apareceu mais duas vezes com marcas roxas pelo corpo, um dia peguei ela passando muita base na lateral da testa e no começo da maçã do rosto, e outro dia em sua coxa, ficava me perguntando como ela podia aguentar isso, e sempre que eu perguntava algo a respeito ela mudava de assunto ou dizia para eu não me meter, e então eu parei de perguntar.

 Hoje é sexta feira á noite, Damon estava comigo no meu apartamento, nós jantamos e ficamos assistindo filme, mais tarde Damon foi tomar banho, e eu fiquei no sofá, o celular dele tocou, o numero não estava identificado, ignorei, ele tocou mais duas vezes, na quarta vez eu resolvi atender.

— Alô? – disse, e demorou um pouco para me responderem.

— Por favor o Damon – era uma mulher, e eu não conhecia a voz.

— Ele não está, quem gostaria?

— Só pede para ele me ligar por favor, é urgente.

— Certo, mas a quem ele deve procurar?

— É só ligar nesse numero. - E ela desligou.

  Fiquei um pouco irritada, principalmente por ela não se identificar, Damon voltou a sala, vestindo uma calça de pijama cinza larga, e uma camiseta preta, e passando a toalha nos cabelos molhados, honestamente não me canso de apreciar sua beleza.

— Achou algo para assistirmos? – ele se sentou ao meu lado e passou as mãos na minha calça tentando esquentar as mãos. – Você precisa urgentemente de um aquecedor.

— Damon uma mulher ligou para você. – ele me encarou.

— Que mulher?

— Não sei, ela não quis se identificar, e eu só atendi porque já era a quarta vez que ligava e achei que poderia ser importante, ela pediu para ligar para ela com urgência.

— Deve ser do banco, ou do seguro dos bares, ligo na segunda-feira.

— Ela parecia com pressa.

— Amor já está tarde, e eu não quero falar com ninguém que não seja você – ele me beijou.

 Ficamos no sofá com uma coberta por cima, ele tinha razão, eu precisava urgente de um aquecedor, coloquei minhas pernas em seu colo, e ficamos abraçados, nos esquentando e assistindo filme na televisão.

                                                                                                             *

Damon foi embora a tarde, ele iria para um dos bares, e eu ficaria sozinha em casa hoje, eu até gosto de morar sozinha, mas é muito solitário, por mais que Damon fique comigo as vezes, quando ele não está me sinto um pouco mal. Pedi comida chinesa, e estava assistindo uma série muito boa, ouvi o interfone tocando, meu corpo gelou, Damon com certeza não era, ele estava no bar e além do mais ele tem a chave, corri para atender.

— Srta. Elena, uma moça chamada Daniela está aqui em baixo.

— Daniela? – estranhei – pode deixar ela subir, obrigada.

— De nada.

 Três minutos depois ouvi batidas na porta, corri para abrir, e me deparei com uma garota machucada, e com o rosto cheio de maquiagem borrada.

— Meu Deus – a puxei para dentro e tranquei a porta, levei-a até o sofá. – O que aconteceu com você?

 Ela estava chorando, sua maquiagem preta estava toda borrada pelo rosto, seu vestido estava rasgado, e em seu colo estava vermelho e roxo, seu lábio inferior estava com um corte e inchado, tirei seu sobretudo e seus braços estavam com vários tons de pancada.

— Daniela, o que ele fez com você – minha voz mal saiu.

— Ele me bateu, só porque eu queria ir na casa da minha irmã. – ela chorava, e era desesperador ver ela desse jeito, a puxei para um abraço.

— Ele não vai mais encostar em você Dani, por favor não volta mais lá.

— Eu não quero mais voltar, eu cansei de ser saco de pancada dele, toda vez que ele bebe, ele me bate, por diversão, eu não posso mais viver assim. – ela soluçava.

— Você não precisa, você não precisa de nada dele. - fiquei passando a mão em sua cabeça.

— Eu não tenho onde morar Elena, minha irmã é casada, acabou de ter um bebê  e mal tem espaço para ela na casa.

— Você pode ficar comigo – a apertei contra meu peito.

— Não posso, você quer ficar sozinha.

— Acredite, eu não quero mais tanto assim ficar sozinha – suspirei.

— Eu não quero mais apanhar Elena. – ela apertou minha mão.

— Você não vai Dani, eu prometo – beijei o topo de sua cabeça.

 Aos poucos Dani foi se acalmando, ela tomou um banho, dei um pijama para ela, ela se sentou no sofá ao meu lado, seu rosto estava muito inchado e vermelho, e com marcas de roxo leve, como alguém consegue machucar um ser humano desse jeito?

— Você pode dormir na minha cama comigo, até arrumarmos o outro quarto para você.

— Como vou pegar as minhas coisas?

— Nós vamos lá amanhã, com o Damon, e eu te ajudo a pegar suas coisas.

— Eu não posso Elena, ele vai me bater ainda mais por eu ter contado para você.

— Eu não vou deixar aquele babaca encostar em você Dani.

 Depois de muita insistência ela comeu algo, e foi dormir, resolvi mandar uma mensagem para o Damon, para que ele não tentasse se deitar na minha cama essa madrugada.

                           Damon, a Dani está com uns problemas e vai passar um tempo aqui comigo, ela está na minha cama, amanhã eu vou com ela buscar as coisas na casa dela, e queria que você fosse comigo.

Sem problemas eu vou sim, só queria poder ir para sua casa ):  

Também queria você aqui )

  E antes de ver sua mensagem acabei pegando no sono.

 Quando acordei Dani ainda dormia, me levantei com cuidado para não acorda-la, me vesti e fui até a cafeteria comprar algo para nós duas, voltei vinte minutos depois, ela estava sentada no sofá, seu rosto agora estava mais roxo.

— Trouxe seu café – sorri para ela.

— Obrigada – ela me lançou um sorriso fraco.

 Ela me contou de todas as vezes que ele havia agredido ela, e não foram poucas, mas o filho da mãe no começo era mais esperto, e não deixava marcas, e ela aguentou tudo isso porque não tinha para onde ir e tinha medo que se fugisse ele fosse atrás dela, e acabasse sendo pior. Damon chegou na hora do almoço.

— Senti sua falta – ele me beijou.

— Também senti sua falta – o abracei forte, agradecendo mentalmente por ele não ser um louco.

— Oi Dani – ele disse lançando-lhe um sorriso.

— Oi Damon, desculpa te atrapalhar na noite passada.

— Sem problemas. – ele riu.

  Depois do almoço decidimos ir ate a casa dela, e pegar suas coisas, o que provavelmente seria difícil. Ela indicou o caminho e Damon dirigiu, o caminho todo foi em silêncio, assim que paramos na porta pude ver ela enrijecer o corpo.

— Eu estou com você – segurei a mão dela.

 Ela abriu a porta e estava tudo escuro, e em silêncio, aparentemente não tinha ninguém, aproveitando fomos ao quarto arrumar as roupas dela, ela jogava tudo direto na mala, e o que não coube mais ela colocou em sacos de lixo preto, e pegou mais algumas coisas pela casa que eram dela, ou que ela havia comprado. Uma televisão média, um DVD, alguns enfeites, e se despediu com tristeza do gato.

— Nós já podemos ir – ela disse segurando a televisão em baixo do braço, Damon e eu segurávamos o que restava de suas coisas

 Damon havia colocado a ultima mala no carro, e estávamos indo embora, quando apareceu um homem, ele estava cambaleando, seus olhos vermelhos e inchados, sua roupa suja e o cablo desgrenhado, ele sorriu ao ver Dani.

— Dani meu amor, você voltou, eu te procurei a noite toda – ele foi abraça-la e ela se afastou.

— Não encosta em mim. Eu estou indo embora, não quero ver sua cara nunca mais.

— Como assim? - disse ele parecendo atordoado - Não, você não pode me deixar.

— Eu posso e vou, não vou mais ser seu saco de pancadas.

— Você só apanhou porque mereceu. - ele quase gritou num tom irritado.

— Eu mereci isso? – ela apontava para os braços marcados.

— Por favor me desculpa. - sua voz saiu choramingando.

— Não tem o que desculpar, eu vou embora, e se eu te ver outra vez eu vou prestar queixa.

— Por favor não – ele foi abraça-la de novo, então Damon ficou entre os dois.

— Ela já disse que não, tenha dignidade. - e deu seu sorriso sarcástico de canto.

— E quem é você?

— Não interessa, vamos logo. - ele disse saindo em direção ao carro.

— Ela não vai embora – rosnou Stevie.

— Ela vai sim – puxei-a para perto de mim, e ele me fuzilou.

— Quem você pensa que é garota? – ele veio para cima de mim com os punhos cerrados.

— Se você encostar um dedo em uma das duas, eu vou quebrar todos os dentes da sua boca e os ossos do seu rosto – Damon ameaçou e até eu fiquei com medo.

 Ele ficou em silêncio e recuou, entrando em casa, nós entramos no carro e fomos embora.