Paixões Gregas - Destinados a Amar(Em Degustação) escrita por moni


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas que amo. Como prometido, ou não, eu nem sei mais qual eu prometi primeiro.Espero que gostem. Vou deixar aqui os casais.
Luka Stefanos - Mathew Daddario
Bia Kamezis - Holland Roden
Alana Stefanos - Alexandra Daddario
Mathew Connor - Henry Cavill



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Pov - Bia

      Quando a balsa se aproxima de Kirus eu puxo o ar com força, gosto do cheiro da minha terra, e da beleza de cada pedacinho da ilha. Posso sorrir só por estar me aproximando. Procuro por minha mãe, ela está sentada num banco no cais. Me acena sorrindo.

   Um sorriso triste é claro, não podia ser diferente tendo as duas filhas longe. Ao menos Laís está feliz. Vivendo em Nova York com o marido Austin. Ele é um ótimo rapaz, cinco anos, três que não a vejo. Mesmo falando com ela quase todos os dias, sinto falta dela.

   Austin é um arquiteto, nas primeiras férias remuneradas veio conhecer a Grécia, se apaixonou e seis meses depois voltou para buscar minha irmã. Nunca achei que daria certo. Para mim Laís só queria mesmo desafiar Henri e provoca-lo, mas não, meu padrasto teve que engolir o fato de que ela deu certo. Eles não têm muito dinheiro, mas são felizes, ela ensina grego para executivos e Austin trabalha em uma grande construtora.

   Assim que salto da balsa Agatha fica de pé. Minha mãe é ainda uma mulher bonita. Simples, e sem muita vaidade, nesse ponto eu puxei a ela, para desespero de Laís. Quando nos abraçamos e sinto o cheiro de minha mãe meu coração parece se aquecer. Ela me beija o rosto com carinho meia dúzia de vezes. Afasta meus cabelos desalinhados por conta do vento na viagem.

   −Estava cheia de saudade. – Ela me beija o rosto mais uma vez. – Amo você filha. Desculpe, desculpe por tudo isso.

   −Bobagem mãe. Estou bem. – Nos sentamos no banco, ela com as mãos prendendo as minhas e os olhos marejados, todas as vezes que venho vê-la é isso. Saudade e culpa se misturam.

   −Olha. Trouxe biscoitos. – Ela me estende um pote que tira da sacola a seu lado. Abro e sinto o perfume de canela e aveia. Pego um e mordisco a ponta.

   −Ainda estão quentinhos. – Fecho o pote para não perderem o calor. Ela balança a cabeça e algumas lágrimas escorrem. – Mãe, eu estou bem.

   −Nem poder te levar para casa? Henri não precisava agir assim. Ele precisa parar de achar que tudo tem que ser como ele quer.

   −É seu marido e você o ama. Então está tudo bem. Falta pouco mãe, mais seis meses. Então vou estar formada.

   −Lutou muito por isso. Sei que passou e passa dias difíceis na faculdade.

   −Não é tão ruim. Estudo tanto, nem percebo o tempo passar. – É mentira, me sinto um tanto sozinha na maior parte das vezes. Mesmo assim enfrentei tudo e vou me formar.

   −Falou com a Laís?

   −Sim. Ela te mandou um beijo, está com saudade e eles estão economizando, talvez ela consiga vir nas férias para te ver.

   −Todo ano prometem isso, nunca conseguem. A vida é muito difícil.

   −E você mãe? Como estão as coisas por aqui?

   −Tudo bem, tudo igual. Henri está vendendo bem. Nessa época do ano enche de turistas, as vendas sempre melhoram. Peguei umas encomendas boas também. Erica vai casar. Encomendou o vestido.

   Minha mãe é costureira, assim como minha avó foi até morrer e como Henri queria que eu e minha irmã fossemos. Nenhuma de nós aceitou. Laís queria ganhar o mundo, os dois brigavam dia e noite. Quando minha mãe se casou com ele, Laís já tinha quinze anos e foi difícil. Eu tinha dez, sempre obedeci, vivíamos bem, mas então Laís decidiu ir embora com Austin e ele a proibiu de voltar a sua casa.

   Laís não se intimidou, foi embora de cabeça erguida. Quando veio em férias há três anos ficou na pousada. Não foi diferente comigo, quando consegui a bolsa de estudos na universidade para cursar história ele ficou maluco. Repetiu as ameaças uma a uma. Dessa vez não teve briga nem gritos, em silencio eu organizei tudo e quando chegou o dia fechei minha mala e me mudei para a universidade.

   −Talvez ele te aceite de volta Bia. Se decidir trabalhar comigo, quando terminar o curso, vai ter realizado seu sonho e pode...

   −Não mãe. Meu sonho não é esse. Não fiquei todos esses anos vendo você tão pouco e morando naquele quarto na faculdade para terminar do mesmo jeito que você.

   Ela baixa os olhos. Tão abatida, eu sei que Henri ama minha mãe e que ela o ama, sei que eles vivem bem, mas não posso viver como ela. Não quero.

   −Desculpe mãe.

   −Você sabe que ele é bom para mim. Que me ama. Que cuida de mim. Me trata com respeito. – Não, ele não faz isso quando lhe tira suas filhas, mas não sou eu a mudar aquela cabeça tão antiquada que ficou parada no tempo.

   −Eu sei mãe. Foi a minha escolha. Estou indo bem.

   −Devia aceitar o convite da sua irmã e ir morar com ela em Nova York e tentar a sorte lá. Essas histórias infantis que escreve. Laís diz que pode tentar publica-las.

   −Sabe que quero voltar para Kirus, que fui estudar decidida a voltar e lecionar na escola daqui. Onde eu me eduquei com o melhor que existe. Quero devolver um pouco tudo que tive. Arrumar um lugar para morar e ficar perto de você.

   Olhamos para o edifício onde a escola funciona. Sorrio com as boas lembranças.

   −Os Stefanos fizeram um lindo trabalho na escola. Quando as crianças deles chegaram na idade de estudar todo mundo achou que eles deixariam a ilha para que eles tivessem uma boa educação, mas não, eles trouxeram a boa educação para cá. Reformaram, equiparam, trouxeram os melhores professores.

   −E com isso todos nós ganhamos. Sou boa mãe. Gosto do que faço, ou vou fazer, posso conseguir uma vaga.

   −E se não conseguir minha filha? Henri é difícil, ele ficou muito magoado com vocês, queria ser como um pai. Educa-las.

   −Mas se esqueceu que tivemos um pai que nos educou mãe, morreu, mas enquanto estava aqui foi maravilhoso. Henri queria apagar da nossa memória tudo isso. Não podia.

   Minha mãe toca os cabelos avermelhados que herdei do meu pai. Sorri e sei que tem boas lembranças, éramos felizes até aquele ataque cardíaco, depois ficamos sozinhas, minha mãe, minha avô e duas garotas, ela teve medo, Henri surgiu um ano depois, determinado, prometendo cuidar de tudo, ela se casou com ele e acho que o ama mais do que já amou meu pai, mas nossa família morreu ali.

   −Se não conseguir o trabalho que tanto quer na escola?

   −Não vou ter escolha se não tentar a vida com a Laís, mas deixar a Grécia, deixar Kirus... Vou morrer um pouquinho.

   −Não pense que quero que vá viver você também longe de mim. Eu queria que arrumasse um bom rapaz, casasse e construísse sua família.

   −Sou desengonçada demais mamãe. Você sabe, eu não levo jeito para isso. Laís é toda bonita, cheia de vida. Espontânea. Eu nem consigo conversar direito. Arrume outro sonho para mim.

   −Você é muito mais bonita que sua irmã. Só que não se arruma, um batom, um corte mais moderno nesse cabelo longo.

   −Olha quem fala! – Ela ri, pego mais um biscoito. Suspiramos olhando o mar tranquilo.

   −Quando volta? – Mamãe pergunta e dou de ombros.

    −Logo. Com o dinheiro da balsa eu como quase a semana toda. Então... Duas semanas. Daí venho te ver.

   Ela me abraça, me encosto nela e ficamos ali um momento em silencio, aproveitando a presença uma da outra.

   −Fiz moussaka, o bastante para levar e comer uns dois dias. – Balanço a cabeça concordando. – Tem um bolo também. Chocolate.

   −Obrigada mãe.

   −Henri sabe. Ele não se importa. Pelo menos nunca diz nada demais. Tem umas frutas. Com isso economiza metade do dinheiro da comida da semana. E Erica adiantou o dinheiro do material para o vestido, separei um pouco para você. – Me afasto dos seus braços.

   −Não quero mãe. Eu tenho o bastante para viver. A bolsa cobre minhas despesas.

   −Um quartinho e alimentação. Precisa de roupas, sapatos, produtos de higiene. – Minha mãe pega minha mão e coloca as notas. No fim eu não tenho mesmo escolha se não aceitar sua ajuda. Guardo na mochila. Volto para seus braços.

   −Obrigada mãe. Um dia devolvo tudo.

   −Quando tiver filhos vai pensar diferente. – Provavelmente, se um dia tiver filhos jamais vou deixa-los. Não quero culpa-la, fico sempre lutando contra isso, porque enxergo sua fraqueza, mas é difícil, ela deixou ele domina-la, deixou que expulsasse suas filhas de casa, meu coração se aperta. Me deito no banco com a cabeça em seu colo, encaro o céu azul sem nuvens.

   −Está com pressa mãe?

   −Claro que não. Fiquei duas semanas sem ver você.

   O barulho do helicóptero dos Stefanos ecoa pelo céu e logo o vejo surgir dos fundos da mansão e voar para longe de Kirus. Acompanho o voo até ele desaparecer no céu.

    −Deve ser Luka, voltando à faculdade, a irmã deve estar com ele. Se fossem amigos podia pegar uma carona.

   −Eles nem sabem que existo mãe. Alana talvez, mesmo assim nos vimos duas ou três vezes pela ilha. Sorrimos e acenamos uma para a outro. Não éramos amigos no colégio e na universidade nunca nos encontramos. Quer dizer. Eu os vejo sempre, mas só passando.

   −Você é muito tímida. – Ela acaricia meus cabelos, sorri. – Quando nasceu Lissa Stefanos foi lá em casa te levar um presentinho, levou os meninos, a babá deles estava junto, levou uma boneca para sua irmã e um carrinho de bebê para você. Luka roubou sua chupeta e você abriu o berreiro, ele pegou da sua boca e enfio na dele. – Rimos as duas. Talvez tenha sido a única vez que ficamos próximos. − Ela adorava sua vó Justine.

   −Eu sei. Vovó fez seu vestido de casamento.

   −E muitos outros depois. Todo mundo queria um vestido feito pela mesma costureira do vestido de noiva dos Stefanos. Os gêmeos eram lindos. Aqueles olhos azuis lindos da mãe.

   Ainda são. Tem olhos azuis como a mãe, mas se parecem com o pai, Luka é a cara dele, alto, bronzeado e elegante, sempre cercado de amigos, garotas. O rei do campus, são tantas as histórias sobre ele que só posso mesmo assistir seu sucesso de longe. Bem longe.

   Desvio meus olhos do céu azul e encaro a balsa que começa a se preparar para partir. Suspiro sem nenhuma vontade de deixar minha mãe, seis meses, depois quem sabe eu posso retornar e trabalhar na escola.

   −Tenho que ir mãe. Preciso aproveitar essa balsa, você tem trabalho e a próxima só daqui três horas. Não tem o que ficar fazendo aqui.

   Me sento, ela alisa meus cabelos mais uma vez, segura meu rosto nas mãos e me puxa para um beijo barulhento. Me afaga, é tão contraditória, pode me amar e tratar como um bebê, mas também pôde me ver deixar minha casa com a mala na mão para nunca mais voltar e não fez nada.

   Sinto vontade de chorar com a lembrança, o medo que sentia nos primeiros dias sozinha no campus, em meio a desconhecidos, ouvindo as festas barulhentas, o riso, os bêbados pelos corredores do dormitório, cheia de medo, vergonha, não que tenha mudado muito, mas ao menos agora eu já consigo dormir.

   −Amo você. Amo Bia, telefono está bem. Pelo menos uma vez na semana. Diz a Laís que sinto falta dela.

   −Vou marcar para ela ligar da próxima vez que estivermos juntas. – Balanço o telefone celular que Austin mandou no meu aniversário ano passado. Beijo minha mãe, coloco a mochila nas costas e pego a sacola com as coisas que me deu. Ela sorri secando lagrimas. Me abraça mais uma vez e depois eu caminho para a balsa.

   A viagem de volta é curta. Pego um ônibus até o campus, desço uns metros depois do prédio de moradia. Caminho até o bloco B onde moro desde o primeiro dia. São quatro prédios de cinco andares e dezenas de quartos. Aperto o botão do elevador. Uma garota surge na escada, balança a cabeça em negação.

   −Quebrado de novo. – Meu desanimo fica evidente. Não sei mais quantas vezes ele quebrou esse ano, o que sei é que moro no quarto andar e resignada começo a caminhar.

   −Obrigada. – Digo quando a garota empurrava a porta da frente deixando o prédio. Encaro a escada e começo a subir. No quarto andar quando pego o corredor para meu quarto minha respiração está agitada. Caço as chaves no bolso do jeans, abro a porta e lá está meu quarto. Uma cama, escrivaninha e cadeira, armário, banheiro, nada além disso, deixo as coisas sobre a cama e abro a janela. A vista é boa tenho que admitir, vejo o gramado diante do prédio onde os estudantes gastam o tempo livre jogando futebol e sentados no gramado tomando sol, namorando, sendo jovens só para variar.

   Tiro as coisas da sacola, saboreando mais um biscoito eu organizo tudo e depois abro meu livro e começo a ler. Quando me canso das horas aqui vou ao prédio da biblioteca.

   Quando o edifício está em festa também. Claro que eu tinha que morar no lugar mais movimentado de todo campus. O edifício B é conhecido pelas festas, bagunça e pequenas confusões, tudo acontece aqui.

   Pedi transferência no segundo ano, não consegui é claro, quem quer morar aqui? As pessoas querem vir as festas, que são longas e acontecem nos corredores, nos quartos duplos e vão tomando andares e é só bebedeira e barulho, pela manhã você encontra de tudo. Copos, latas, cigarros e de vez em quando pessoas dormindo nos corredores.

   Não saio mais do quarto o resto do dia. Pela manhã eu me apresso para as aulas, almoço no refeitório, a comida é razoável, nada que se compare a boa comida caseira, mas é bem barato e tudo que posso pagar.

   As aulas da tarde são mais puxadas e quando termino meu dia ainda tenho muito que estudar. Subo de novo os quatro andares de escada. Agora ao menos tem um aviso na porta do elevador. Coloco as lentes apressada e deixo os óculos sobre a escrivaninha.

   Ainda posso aproveitar uma ou duas horas na biblioteca para terminar meus trabalhos e depois dormir.

   Junto meia dúzia de livros dois cadernos e pego os óculos antes de descer correndo. Caminho para a biblioteca no fim da tarde. Me sento num canto, tem poucas pessoas por lá. Nunca tem muita gente.

   A bibliotecária passa por mim e me acena sorrindo, eu vivo ali, ela deve achar que não tenho vida. Está certa. Abro os livros, passa das sete quando fecho meus livros. Coloco meus óculos e caminho para casa.

   Talvez a escuridão que começa a chegar ou o peso dos livros, mas tudo parece meio diferente. Diminuo os olhos tentando focar a visão. Que diabos tem de errado comigo hoje?

   Escuto os gritos dos rapazes jogando futebol, me afasto do gramado para não atrapalhar o jogo, os livros querendo escorregar dos meus braços. Não sei por que não coloquei tudo na mochila.

   Sinto um baque no rosto, meus livros se espalham pelo chão, uma bola rola para longe.

   −Desculpe! Desculpe. Eu te ajudo. Esses caras são uns perna de paus mesmo. Machucou? – Ergo meus olhos do chão e Luka Stefanos está de joelhos ao meu lado me ajudando a recolher meus livros. Fico muda e confusa. – Machucou? – Ele insiste quando nos erguemos dividindo livros. Balanço a cabeça negando.

   −Estou bem. – Aviso meio sem fala. A visão embaçada.

   −E os óculos. Não quebrou não?

   −Óculos? – Levo a mão ao rosto. É claro que está tudo atrapalhado. Retiro os óculos querendo chorar de vergonha. – É isso. Estou de lente. Não sei por que estou com esses óculos. – Luka ri, não um sorriso discreto, ele simplesmente se dá ao luxo de rir com gosto da minha estupidez, fico corada, mas isso não parece afeta-lo.

   −É um bom jeito de levar as coisas. Quando se cansa coloca óculos sobre as lentes e que se dane, não vê mais nada, nem a bola vindo em sua direção.

   −Sou distraída. – Digo em minha defesa, guardando os óculos no bolso.

   −É mesmo, tropeçou uns metros atrás. Eu vi, até errei o passe, então acho que estamos quites. Te ajudo a carregar isso. Não parece que vai chegar inteira com todos esses livros e meio cega. Onde vai?

   −Aqui no edifício B.

   −Ah! – Ele olha o prédio logo a frente. – Vamos. – Dá uns passos.

   −Não precisa, o elevador está quebrado.

   −Mais um motivo para te ajudar. – Ele me ignora e segue caminhando em direção ao prédio. – Que andar?

   −Quarto. – Aviso empurrando a porta para ele passar já que está levando quase tudo.

   −Esse elevador vive quebrado né? – Comenta enquanto começamos a subir.

   −Sim. E ninguém parece se importar.

   −Acho que o reitor é que manda danificar o elevador. – Ele comenta quando chegamos ao segundo andar. Luka Stefanos é realmente bonito, sem camisa e com uns fios de cabelo grudados na testa pelo esforço no jogo fica parecendo um dos Deuses gregos que tanto estudo. É de tirar o folego e me deixa completamente tímida. Nem acredito que estamos nos falando. – Minha teoria é que ele acha que assim diminui a bagunça por aqui.

   −Infelizmente não. Só cria mais motivo para festa. Aposto que vai rolar a festa do elevador quebrado.

   −Me convidaram. Sábado. – Reviro os olhos. Uma droga de noite sem dormir por conta do barulho. – Não venho. Tenho que estar em casa.

   Viramos o terceiro andar. Ele me sorri e parece me faltar ar de tão bonito que fica sorrindo. Desvio meus olhos.

   −Dormi aqui uma vez. Bem no terceiro andar. Até hoje não sei se estava subindo ou descendo. Acordei de manhã. Se meu pai descobre que durmo na sarjeta às vezes.

   Não consigo não rir. Ele é engraçado e eu não tinha a menor ideia disso. Chegamos ao quarto andar. Ele parece bem normal, não está esbaforido e esgotado, e estava jogando futebol.

   Com dedos trêmulos eu destranco a porta. Sinto vergonha de estar tão afetada com a presença dele, a chave cai e ele se abaixa para pegar.

   −Tem certeza que não está com uma lente sobre a outra?

   −Não. – Abro a porta e ele entra logo depois de mim. Coloca a pilha de livros sobre a escrivaninha. – Obrigada Luka.

   Ele se espanta, me olha de cenho franzido. Pisca procurando se lembrar de mim.

   −Nos conhecemos? Não é a ruiva que perdi uma vez. É?

   −Não. – Nem quero saber bem que história é essa, ele parece aliviado. – Sou de Kirus.

   −Ah! E a gente não se conhece?

   −Na verdade você roubou minha chupeta uma vez.

   −Não chupo chupeta. Não chupava quero dizer. – Ele conserta.

   −Devia. Se tivessem te dado uma não teria roubado a minha.

   −E parece que não superou isso. – Ele diz andando pelo quarto. Não parece interessado em ir embora e sua presença enche cada espaço e torna o quarto minúsculo.  – É legal aqui. Compacto. – Ele faz um movimento juntando as mãos. – Qual seu nome?

   −Bia. Bia Kamezis.

   −Uma titânide, responsável pela violência nos mortas. Representa a força.

   −Nada a ver comigo. – Ele dá de ombros, é interessante saber que ele gosta de mitologia. Nem todo grego se interessa. − Minha avó fez o vestido de noiva da sua mãe.

   −Me lembro dela. Fiquei triste quando ela morreu. Fazia uns biscoitinhos de aveia e canela. Uma delicia.

   Pego o pote de biscoitos e destampo. Estendo a ele. Luka abre a boca surpreso.

   −Minha mãe faz também, eu e minha irmã aprendemos. Pega. – Ele pega logo dois. Coloca um na boca e fecha os olhos. Mastiga como se aquilo fosse um manjar dos deuses.

   −Gosto de infância. – Ele me conta andando pelo pequeno quarto. – Estuda o que? – Me pergunta seguindo até a janela.

   −História.

   −Passa para o Pedro! Ele está livre seu manco! – Grita da janela para os rapazes jogando lá em baixo. Escuta meia dúzia de impropérios. Quando se volta está rindo. – Pedro é brasileiro. Adoro jogar no time dele. Todo mundo acha que porque ele é brasileiro joga bem. O que está longe da verdade, mas assusta o adversário.

   Ele enfia o outro biscoito inteiro na boca. Mastiga olhando em torno. Passa a mão pelo cabelo grudado na testa. Os olhos azuis saltam brilhantes e vivos. Eu fico ali perdida em sua beleza, me sentindo um tanto ridícula e sem assunto.

   −Acho que tenho que ir. – Ele diz depois de engolir o biscoito, segue até mim, sem que espere toca meu rosto e seus dedos subitamente delicados queimam minha pele. – Não ficou marcado. Que bom. Desculpe de novo.

   −Tudo bem. – Consigo dizer tentando não fixar seu olhar. Os dedos saem do meu rosto e tocam meus cabelos.

   – Ruiva. – Ele diz sem que a palavra faça sentido, talvez esteja pensando na tal ruiva perdida. Depois sorri e meu coração quase para. Meu rosto queima. – Sardas por debaixo da vergonha. – Ele brinca se afastando. – Tchau Bia.

   −Tchau Luka.

   Ele abre a porta e deixa o quarto. Demoro para me mover. Ainda sentindo seu toque no meu rosto, com o sorriso vivo pregado em minha retina. Luka Stefanos esteve aqui. Caminho para janela e vejo quando ele sai do prédio e corre de volta para o campo improvisado. Com medo de ser flagrada observando eu deixo a janela e me sento na cama.


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Notas finais do capítulo

Todos devidamente apresentados, agora nos concentramos um pouquinho mais em Alana e Matthew, mas não vamos esquecer de Luka e Bia, eles aparecem sempre.
BEIJOSSSSSSSSSSSSSSSS