Coisas Quebradas

Adriana Swan

JON

Jon Snow acordou sentindo o corpo estremecer. Estava com muito frio, mas podia sentir a pele queimar. Parecia estar deitado em um colchão que não parecia muito confortável. As peles que o cobriam eram pesadas e podia sentir alguma luz fraca incomodar suas pálpebras.

Fez um esforço para abrir os olhos. Se encontrava em um pequeno quarto fechado de teto bem baixo e de textura estranha. Uma única vela acesa sobre um criado mudo trazia luz, calor e fumaça ao pequeno ambiente. Cochilando sentado em uma cadeira desconfortável estava Cetin, seu intendente.

Concluiu que o lugar devia ser Vila Topeira, mas não sabia como fora parar ali. Tentou se mover, mas uma dor agonizante cruzou seu corpo e ele ficou quieto, arfando. A dor viera de pontos específicos de seu corpo e a memória começou a voltar.

Punhais.

Tentou lembrar o que acontecera, embora de alguma forma soubesse que havia sido algo bem ruim. Lembrou-se de uma porta fechada, de correr sobre a neve, do desespero que sentira quando achou que estava morto. Não, não, essas eram memórias de Fantasma. Agora se via jazendo sobre a neve quase morto depois de levar quatro facadas de seus irmãos da Patrulha da Noite.

A porta se abriu com um estalo acordando Cetin. Tormund Terror dos Gigantes entrou no pequeno quarto com postura digna de ser o líder do povo livre. Em sua cintura Garra Longa estava a mostra, tão majestosa como sempre.

— Lord Snow ainda não acordou? – indagou a Cetin parecendo preocupado.

— Não, porque a surpresa? – Cetin retrucou se sentando melhor e passando a mão no cabelo desalinhado.

— O lobo está agitado feito doido lá fora – respondeu parecendo desapontado. – Achei que deveria significar alguma coisa.

— Lady Melisandre apareceu? – Cetin perguntou um tanto ansioso.

— A bruxa? Hoje não. Espero que não volte nunca – Tormund esbravejou irritado.

— E os homens da Rainha? Vão permanecer com ela agora?

— Depois que a Rainha morreu seguem a bruxa vermelha como idiotas, embora alguns corvos tenham dito que antes já era assim.

Jon sentiu um embrulho no estômago. Como assim Selyse estava morta? O que estava acontecendo afinal? Fez um esforço para manter-se acordado.

— Cetin – chamou com a voz fraca.

No silêncio do quarto, Cetin não teve nenhum problema em ouvi-lo e correu para seu lado, prestativo.

— Lord Snow? – falou, seu rosto transparecendo alívio.

— Har! Eu disse que o lobo significava alguma coisa – Tormund riu se aproximando da cama também.

— O que aconteceu com a Rainha? – foi a primeira pergunta que passou por sua cabeça. Poderia perguntar como fora parar em Vila Topeira, mas isso poderia esperar.

Cetin e Tormund trocaram um olhar, mas foi seu intendente que respondeu.

— As coisas ficaram confusas no dia que você foi atacado – ele começou devagar – o homem tentando estuprar Val, o gigante enfurecido, você… você sendo esfaqueado.

— Ninguém tentou me ajudar? – indagou se sentindo subitamente traído.

— Acha que sou traíra como um corvo? – Tormund respondeu com uma risada. – Este rapaz se colocou entre você e os outros corvos, e agora estaria morto a seu lado se eu e meus homens não tivéssemos interferido em seu favor.

— Tudo aconteceu ao mesmo tempo – Cetin prosseguiu parecendo amargurado. – Havia homens gritando, outros lutando e outros morrendo. Clydas soltou Fantasma e ele causou ainda mais confusão, parecia estar louco. Ninguém viu quando começou o incêndio.

— Ou como – Tormund resmungou sombrio.

— Incêndio? – indagou. Tudo parecia irreal demais para ser verdade. O rapaz confirmou com a cabeça.

— Na Torre. Quando vimos o fogo já havia se alastrado demais, não podíamos fazer nada.

— Selyse morreu – Jon falou e era mais uma afirmação que uma pergunta.

— Sim, senhor – Cetin confirmou.

— Que os deuses olhem por nós – Jon orou automaticamente.

— Os deuses nada tiveram com isso, Lord Snow, - Tormund se intrometeu fechando mais ainda a cara. – A Rainha morreu queimada. Conhece alguém que goste de queimar pessoas vivas que queira o cargo de Rainha?

A ideia pareceu repulsiva a Jon, mas bastante provável.

— E a Princesa Shireen? - indagou pensando na pobre menina que já havia sofrido o suficiente.

— Estava com Devan, os dois estão bem – Cetin respondeu.

O ex Comandante da Patrulha da Noite deu um longo suspiro. Menos mal que a princesa estivesse bem, embora segundo a carta do bastardo de Bolton, seu pai, o Rei Stannis, devia estar morto e sua guerra perdida.

— Quanto tempo eu dormi? – perguntou notando que eles haviam se referido a tudo no passado.

— Faz quatro dias desde que fora esfaqueado – Tormund respondeu. – Tem andado delirando. Pergunte a seu admirador.

Jon quase perguntara a quem Tormund se referia, mas a julgar pelo rubor nas faces de Cetin preferiu não comentar. Sabia que Cetin crescera trabalhando numa casa de prazeres entretendo homens que gostavam de deitar com outros homens, mas nunca comentara nada a respeito para não deixar seu intendente constrangido. Sabia que Cetin se envergonhava disso.

Pensar que Cetin pudesse nutrir algum sentimento por ele lhe era muito estranho.

— Noticias de Stannis? – Jon continuou sem querer pensar em Cetin.

— Nenhuma – seu intendente respondeu assumindo uma postura mais séria, embora ainda parecesse constrangido. – Mas Lady Melisandre diz que os fogos não mostraram a morte dele.

— E os fogos mostraram a morte de Selyse? – Jon perguntou. Era verdade que ela havia acertado sobre a carta e sobre os punhais no escuro, mas errara sobre muitas coisas e errara sobre Arya e Alys.

— Não sei, mas aposto que irão mostrar a bruxa casando com o Rei se ele estiver vivo – Tormund respondeu irritado.

— Não pretendo estar aqui para ver – Jon falou se sentindo bem mais consciente agora.

— Então… não desistiu? – Terror dos Gigantes riu.

— Prepare nosso exército – Lord Snow falou – assim que me recuperar marcharei para Winterfell.