Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 19
Gendry Waters




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691590/chapter/19

— Matem todos.

A ordem de Robb Stark foi obedecida de imediato e os soldados Lannister atacaram os Freys causando um caos imediato que Gendry não estava esperando. Brienne, Podrick e os soldados a seu lado puxaram seu aço e partiram para a luta há poucos metros dali. Gendry puxou a espada que carregava desde que se juntara ao Regicida, mas não se moveu do lugar, sem saber exatamente o que fazer.

Alguns dos Freys não tiveram nem tempo de entender o que estava acontecendo, sendo apunhalados ou degolados ainda sentados onde estavam para descansar. Outros, desajeitados, correram para suas armas e foram mortos antes mesmo de empunha-las. Somente metade dos Freys conseguiram se erguer em luta e ficaram completamente em desvantagem contra os soldados Lannisters, sendo mortos um após o outro sem nenhuma chance de rendição. Quando o último deles caiu morto, somente Ryman Frey permanecia vivo e em luta.

No centro de tudo, em frente a árvore coração Ryman havia puxado sua espada e atacava desesperadamente Robb Stark, que mesmo desarmado o enfrentava. O nortenho andava na neve com a mesma facilidade de um chão de pedras, enquanto Ryman tinha mais dificuldade para se manter de pé do que para manejar a espada. Stark se esquivava com suavidade, quase uma dança, contra a luta desesperada e grotesca do seu captor, até que este se atrapalhou nos próprios pés e caiu de joelhos na frente do prisioneiro.

Sor Ryman Frey se sentou na neve, suas mãos trêmulas e a boca aberta enquanto olhava ao redor e via a carnificina sem acreditar. Os outros dezenove Freys estavam mortos, seus corpos jazendo sem vida e seu sangue tingindo de vermelho a neve profundamente branca. Os soldados Lannisters, assim como Brienne, Limo e ele mesmo, se aproximaram do centro onde ele estava ajoelhado diante de Stark, todos os olhos nos dois.

— Não... – Ryman balbuciou olhando de Stark para o Regicida – não é possível...

Grande Jon Umber passou pelo meio dos homens Lannister como se nem os visse e caminhou com passos largos e firmes até onde estavam. Ryman ainda ergueu sua espada trêmula, mas Umber a arrancou de suas mãos vacilantes com uma mão enquanto a outra enfiava um soco no meio de sua cara aterrorizada. Lord Umber era um homem enorme e pareceu maior ainda de pé sobre o Frey caído enquanto deferia uma série de socos brutais contra o homem a seus pés.

— Repete – vociferou – repete o que você disse antes. Chamou meu filho de covarde. REPETE.

Gemidos abafados saiam do homem enquanto sua cara era reduzida a um monte de sangue.

— Grande Jon – Stark o chamou.

A voz do rapaz pareceu fazer ele voltar a razão. Lord Umber parecia querer descarregar todo ódio que sentia dos Freys naquele a sua frente, mas diante do chamado do rapaz ele parou. Gendry engoliu em seco. Lord Umber com certeza era um homem forte e perigoso, muito mais do que podia imaginar ao vê-lo ser mantido prisioneiro nesses vinte dias desde que saíram das Gêmeas.

E ainda assim o Prisioneiro Sem Nome mandava nele.

Stark”, uma voz corrigiu em seu cérebro assustado. “O Prisioneiro Sem Nome é Robb Stark, o irmão de Arya”.

— Sor Jaime – Ryman gemeu tentando se manter sentado, o sangue de seu rosto respingando na neve branca ao seu redor, seus dentes quebrados dos socos – me ajude. Me ajude...

O Regicida não se moveu. A ordem para matar os Freys partira do prisioneiro e não de Jaime. Era óbvio que os Lannisters agora estavam do lado de Stark. Essa informação foi entrando no cérebro lento do homem caído com mais força do que os socos que levara, e a cara deformada e sangrenta se contorcia de horror ao entender que estava perdido. “O medo corta mais profundamente do que espadas”, Arya lhe dissera certa vez há muito tempo. O medo fatiava aquele homem em pedaços.

— Stark! – exclamou desesperado, se virando para seu ex-prisioneiro. – Stark! Piedade! Piedade...

Stark o olhava sem muita emoção, sem ódio ou cede de vingança como fazia Lord Umber. O ex-prisioneiro assistira calado a surra do homem e não parecia se abalar com o pedido.

— Eu lhe dei a chance de ter piedade, Ryman – respondeu com a voz fria – perguntei como você me mataria. Deveria ter escolhido uma morte limpa.

— Não... – Ryman gemeu cuspindo um dente sangrento na neve – não... você não faria isso. É um bom garoto...

Pela primeira vez o rapaz demonstrou algum sentimento diante do apelo de seu inimigo. Piedade? Não.

Stark sorriu.

— Ryman – ele falou, o rosto desenhando um belo sorriso maldoso no canto dos lábios – deveria ter me matado.

— Mas... Stark...

— Nunca te disseram? Enquanto houver um lobo vivo, as ovelhas nunca estarão seguras.

O ex prisioneiro se virou para o Regicida e estendeu uma mão. Jaime hesitou por um segundo, quase uma recusa de armar seu prisioneiro com uma lâmina, mas então puxou do cinto um punhal e o entregou na mão de Stark.

Robb se abaixou ao lado do homem apoiando um dos joelhos na neve, enquanto Ryman se contorcia aos gritos para longe dele e era firmemente segurado por Lord Umber. O sorriso havia sumido e o rosto do jovem rei não demonstrava emoção nenhuma quando enfiou o punhal devagar na barriga de Ryman.

— Você... – Ryman chorou, estava no chão, sendo segurado por Grande Jon com mãos de ferro e olhos injetados de ódio. O punhal de Stark havia entrado fundo em sua barriga no mesmo local que ele dissera que enfiaria um em Robb. – Você disse... estava cansado... cansado de sangue... por favor...

Os gritos de Ryman se tornaram quase animalescos quando Stark começou a mover o punhal bem devagar, abrindo seu corpo pelos mesmos lugares em que Ryman havia deslizado o dedo no corpo de Robb instantes atrás. Gendry sentiu vontade de virar o rosto, mas não conseguia. Os gritos de agonia o faziam estremecer. Os gritos foram sufocados quando o Frey se engasgou no próprio sangue.

— Não, não. Não morra agora – Robb falou soltando o cabo do punhal ainda enfiado no homem e se aproximando mais dele, se abaixando para que o ouvisse melhor. – Quero que me escute.

Sor Ryman vomitou sangue tão forte que respingou as vestes dos dois homens a seu lado, os olhos injetados de dor e desespero.

— Tem uma coisa que eu queria que soubesse antes de morrer. Sobre minha promessa de casamento – Robb falou, a voz fria e nem um pouco abalado pelo sofrimento de sua vítima – eu fiz coisas terríveis nessa guerra. Coisas que eu não queria fazer. Envergonho-me de algumas delas.

O Frey escutava com atenção, mas não conseguia falar, engasgado no próprio sangue.

— Mas se tem uma coisa nisso tudo da qual eu não me arrependo foi de ter quebrado minha promessa a Casa Frey. Nem era uma promessa minha, na verdade, foi minha mãe que fez esse acordo com vocês. Eu não teria feito. A Casa Stark tem oito mil anos e em oito mil anos nós nunca misturamos o sangue Stark com gente da sua laia - Robb suspirou, frio como o demônio – eu não seria o primeiro. O casamento vermelho não fez eu me arrepender de ter quebrado minha palavra, só me deu certeza de que os Freys eram tão sujos e covardes como todo mundo acha que são. Ate piores. Casar minha irmã Arya com um de vocês? Nunca. E agora estamos aqui, nós dois. Está chorando feito uma puta. E agora você vai morrer. Como um cão.

Sem mais delongas, Stark segurou o cabo do punhal e o movimentou num gesto rápido rasgando o corpo de Ryman até que suas tripas caíssem na neve fria e num último grunhido ele finalmente morreu, seus gritos calados dando lugar a um silêncio pesado.

Gendry tremia e não tinha nada a ver com o frio.

Stark se levantou, o punhal na mão pingando sangue que logo congelaria. Estava calmo, em nenhum momento se exaltara. Lord Umber soltou o corpo e se ergueu também. Deu um olhar de lado em Robb e outro no morto, logo em seguida abriu as calças, pôs o pau pra fora e mijou no corpo de Sor Ryman.

Sério?!— Robb indagou colocando em palavras o que todo mundo pensou.

— Ele teria feito o mesmo com você – Lord Umber respondeu terminando a mijada.

Por um instante, ficaram olhando o corpo de Ryman Frey no chão, suas entranhas caídas e sangue tingindo a neve enquanto começava a congelar. O sangue Frey banhando a neve do Norte. Era brutal, mas era justiça também.

— Stark – o Regicida o chamou se aproximando.

O rapaz se virou para o cavaleiro. Gendry não tinha certeza a idade do Jovem Lobo, Arya nunca dissera, mas achara que fosse mais velho. “Stark era um dos Lords protetores, como parece ser mais jovem do que eu?

— Cumpriu sua promessa – Stark falou – sou grato por isso.

— Espero mesmo que seja porque preciso de sua eterna gratidão. Agora é um homem livre conforme lhe prometi ontem – Jaime se voltou para os soldados Lannisters. – Senhores, não somos mais os captores de Robb Stark: somos sua escolta. Vamos levar Stark de volta a Winterfell e ele se comprometeu a recompensar bem todos aqueles que aqui estão presentes se conseguirmos tal feito.

Os homens ao redor franziram o cenho. Jaime não vacilou diante da dúvida deles.

— Todos aqui presentes já me serviram com honra. Ontem á noite fui a cada um de vocês e pedi um voto de confiança. Expliquei que hoje quando nossos caminhos se separassem dos homens que iam para o sul, os senhores deveriam passar a obedecer aquele que conheciam como Prisioneiro Sem Nome e esperar sua ordem – Jaime suspirou, resignado. Gendry e Limo não haviam sido chamados para a escolta na noite anterior, então supunha que ele falava diretamente aos soldados Lannisters – e que quando chegássemos diante de uma árvore coração, a ordem que ele lhes daria seria para matar. Os senhores se comprometeram mesmo sem saber quem ele era; e o obedeceram mesmo depois de saber quem é. Ontem á noite não fui justo com vocês. Deveria ter contado que o Prisioneiro Sem Nome era Robb Stark. Peço perdão por minha omissão e vos agradeço por confiarem em mim e obedecerem sua ordem mesmo assim. Nesse momento coisas sombrias acontecem em cada canto de Westeros e o inverno está chegando. O pior ainda está por vir. Vou precisar que confiem em minha palavra uma última vez.

O Regicida trocou um olhar com Lady Brienne, quase como se tivessem uma conversa silenciosa. A mulher tinha a cabeça erguida, os olhos grandes bem abertos e atentos a cada palavra de Jaime, a espada ainda na mão. O cavaleiro voltou a olhar seus homens e continuou seu discurso.

— Não vai ser fácil. Winterfell está nas mãos dos inimigos dele, a Casa Bolton, aqueles que fizeram o Casamento Vermelho. Eu sei que dizem que eu seria um dos que está por trás do Casamento Vermelho, mas eu não fiz isso— completou rápido, se virando para Limo e Gendry – eu não havia chegado em Porto Real, eu não tinha como saber. – Jaime quase cuspia as palavras, se defendendo de uma acusação que ninguém tinha pronunciado. Virou-se para Stark – Eu não fiz isso, esse sangue eu não tenho nas mãos. Tenho um último gesto de boa fé, Stark. Aqui. É sua, pegue.

Usando a mão que lhe restava Jaime ofereceu ao jovem sua espada, a espada com punho de ouro e pedras preciosas que Gendry já havia admirado várias vezes na cintura de Lady Brienne e que os soldados disseram ser da Casa Lannister.

Stark olhou desconfiado para a espada, um leão de ouro com olhos de rubi talhado no cabo. Quando Robb puxou a espada a desembainhando Gendry prendeu o fôlego. Nunca tinha visto uma lâmina daquelas em sua vida. Muitos anos trabalhando como aprendiz de ferreiro eram mais do que o suficiente para dar a ele a certeza que aquilo não era uma espada comum: era aço valiriano. Uma espada de uma grande Casa, praticamente não tinha preço.

— Isso é...

— Gelo. A espada da Casa Stark.

Robb levantou o cabo da espada, observando o entalhe com mais atenção. Sem dúvida nenhuma o animal delicadamente entalhado com riqueza de detalhes no cabo era um leão. A cor dourada, os rubis vermelhos nos olhos. Gendry poderia não entender quase nada das grandes e pequenas casas e seus estandartes, mas os leões e os lobos até um garoto da Baixada das Pulgas conhecia muito bem. O entalhe na espada era o leão dos Lannisters.

— Era uma espada de duas mãos. Meu pai mandou cortar a lâmina de aço valiriano ao meio e forjar duas espadas novas a partir de Gelo – Jaime continuou – uma seria a espada do rei e a outra a espada da Casa Lannister, por isso ambas foram talhadas com ouro e pedras preciosas.

— Uma delas foi dada a Joffrey e a outra a você – Robb Stark completou, sua atenção ainda na espada. – Soube que a de Joffrey se chamava O Lamento da Viúva. Adorável.

— Sim... espere – o Regicida franziu o senhor. – Sim, esse é o nome da espada de Joffrey. Como sabe? As espadas foram entregues depois do Casamento Vermelho. Achei que estivesse sendo mantido num calabouço.

— Eu estava – respondeu, não dando nenhuma outra explicação. – Essa é a sua?

— Sim, mas na verdade ela é sua. Essa é a espada da Casa Stark. Uma Lâmina que já esta na mesma família há milhares de anos... nada mais justo do que voltar para as mãos do herdeiro da casa dos lobos. Ela é sua, Lord Stark.

O Jovem Lobo ergueu o olhar para Jaime, com certeza reparando que pela primeira vez o cavaleiro se referia a ele como “Lord”. Gendry engoliu em seco. Desde que Ryman Frey arrancara seu capuz e o expusera para todos, Gendry estava realmente impressionado com Robb. Já havia visto muitos lords e cavaleiros que não sabia os nomes em torneios de porto real ou comprando armaduras em seu feitor, e pouquíssimos possuíam essa áurea de pessoas de alto nascimento como Robb possuía. Na mente de Gendry imaginava o Jovem Lobo uma versão masculina e mais velha de Arya. Cabelos escuros e olhos claros, lembrava que o pai dela também era assim e em sua mente todos que fossem do Norte deveriam ter as características de Arya. Nunca imaginara um jovem com cabelo vermelho-vivo, olhos profundamente azuis e uma beleza ao nível Cavaleiro das Flores. Até a postura de Robb Stark era diferente da de Arya e chama-lo de “Lord Stark” só o tornava ainda mais poderoso na mente de Gendry.

— Ela tem um novo nome também?

— Sim – Jaime deu uma pausa observando a reação do rapaz – Cumpridora de Promessas.

Um brilho de surpresa iluminou os olhos sempre frios do Jovem Lobo. Desviou o olhar para a espada e depois voltou a encarar o cavaleiro, como se momentaneamente não soubesse o que dizer.

— Eu fiz uma promessa a sua mãe que protegeria os filhos dela – Jaime finalizou – e vou cumprir. – Voltou-se para os homens observando ao redor – Senhores, peguem os cavalos. Vamos seguir viagem. Não vamos descansar em meio aos corpos.

Com certa relutância, o círculo de curiosos foi se dissipando quando cada um dos soldados ia cumprir seus afazeres e pegar as armas e pertences valiosos dos Freys mortos. Gendry e Brienne foram os últimos a irem cuidar de seus afazeres. Ficaram olhando Robb Stark que continuava no mesmo lugar, quieto, com Cumpridora de Promessas em suas mãos e o pensamento muito longe dali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coisas Quebradas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.