Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 14
Gendry Waters




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Coisas Quebradas

Adriana Swan

GENDRY

O branco cobria tudo até onde se podia ver por dias e dia sem descanso. Quanto mais adentravam no Norte, mais lenta e cansativa se tornava a marcha. Com exceção de Sor Jaime e os dois prisioneiros, nenhum dos homens de nenhuma das comitivas (tanto Lannister quanto Freys) jamais haviam ido tão ao Norte assim, e segundo se dizia, não tinham chegado nem na metade do caminho de Winterfell.

Brienne de Tarth seguia a duras penas ao lado da carroça com o Prisioneiro Sem Nome. Alguns cavalos já davam sinal de não aguentarem muito mais tempo e a coragem dos homens também não aguentaria. Na comitiva dos Freys muitos falavam em desistir, que não adiantaria chegarem ao castelo semi-mortos, que no fundo seus líderes só esperavam uma desculpa para darem meia volta e marcharem para o Sul. O exército Lannister seguia seus líderes com menos questionamentos, mas com os mesmos receios. Até mesmo Daven Lannister começava a crer que se não voltassem, chegariam mortos em Winterfell.

A única pessoa que não vacilava na sua decisão era o Regicida. Sor Jaime seguia para o Norte de cabeça erguida como se não houvesse outro caminho a seguir, o que também os fazia pensar no que o motivava. O prisioneiro nortenho, Lord Umber, parecia confortável em meio ao inverno, enquanto o prisioneiro sem nome era o único a ter o conforto de um local fechado para se ocultar do vento frio. Gendry nunca pensou que fosse sentir inveja de alguém preso. Tirando os dois prisioneiros, todo o restante das duas comitivas facilmente morreria antes de chegarem a metade do caminho.

A cada dia, Jaime Lannister caía em um mundo só seu, um silêncio maior, uma linha de pensamentos que parecia não compartilhar nem com o primo, nem com a Donzela de Tarth, muito menos com os Freys. Agora já faziam mais de duas semanas que saíram das Gêmeas e os prisioneiros a cada dia se entrosavam mais ao grupo.

Havia ainda o caso da cadela de Blackwood. Muitos já estavam convencidos de uma ligação entre a cadelinha e o Prisioneiro Sem Nome. Certa noite, ao redor da fogueira, os soldados Lannisters mencionaram o nome de Robb Stark, o irmão morto de Arya, e Brienne estremeceu como se sentisse medo de fantasmas. Alguns disseram que ele era chamado de Jovem Lobo porque tinha o poder de comandar os lobos, outros que ele podia se transformar em lobo, outros disseram ser idiotice, Umber não dissera nada. Os céticos não viam ligação nenhuma, os crentes diziam que o fantasma de Stark os seguira das Gêmeas para ter vingança contra toda Casa Frey. Não sabia dizer o que os Freys pensavam, mas tinha certeza que os Freys temiam muito mais os uivos do que eles.

Na manhã do décimo sexto dia, quando Gendry saiu da barraca que dividia com Limo, não havia nada para se ver. Parecia que o resto do mundo havia sido tragado por uma imensidão branca. Não precisou de mais do que alguns segundos para constatar que pelo terceiro dia seguido, não iriam a lugar algum. Seguiu andando com dificuldade na neve macia que se acumulara durante a noite até o barracão onde alguns homens preparavam a carne do quarto cavalo a morrer de frio. Havia quatro homens lá dentro, entre eles o fora da lei Limo e o jovem Blackwood, junto a mais dois soldados Lannisters que o rapaz não conhecia. A conversa estava tão animada que nem parecia que o mundo estava sumindo aos poucos lá fora.

— Perguntei a Grande Jon como ele tinha certeza que ainda era outono e não inverno, - um dos homens continuou o assunto sem dar atenção a chegada de Gendry – ele respondeu "porque vocês ainda estão vivos".

— Não acha que ele está tentando nos assustar? – Blackwood perguntou, parecendo inseguro.

— O diabo que ele está tentando nos assustar. Essa merda é séria – o outro soldado respondeu. – Quando eu era criança e o inverno caía em Casterly Rock, era muito ruim, então meu velho pai sempre sentava perto da lareira e contava histórias de que devíamos agradecer aos Sete por estarmos longe e em segurança. Que quando o inverno cai sobre a Muralha, mães matam os próprios filhos para não vê-los morrer no frio. Winterfell fica no coração do Norte senhores. O inverno deve cair sobre o castelo com o mesmo peso que cai sobre a Muralha.

— Os Freys querem voltar para as Gêmeas – o primeiro homem continuou.

— É claro que querem – o outro continuou impaciente enquanto cortava uma das patas do cavalo em grandes pedaços. – Estão com medo. Foram eles que fizeram aquela merda do Casamento Vermelho e sabem que vão ter que pagar por isso.

— E quem deveriam temer? – Limo falou, bebericando vinho morno no corno. – Não há mais exércitos ou homens com espada desse lado de Westeros. Eles mataram todos no casamento.

— Sempre há homens de armas, cantor, - o soldado disse, irredutível – e os deuses desse lado de Westeros são estranhos e assustadores.

— Não sabia que era um homem de fé – Limo riu.

— Não sou, mas a cada passo que dou para o Norte, mais me sinto aberto a acreditar em algo. Tem alguma coisa no silêncio lá de fora olhando para nós.

Depois das palavras dele fez-se silêncio na tenda, enquanto cada um pensava por si mesmo o quanto acreditava naquilo. Gendry sempre acreditara nos Sete como seus deuses, embora não fosse nenhum grande devoto. Quando se juntara aos fora da lei e vira o poder de R'ollor, a coisa que sentira fora medo. Talvez, para homens como o sacerdote aquilo pudesse parecer fé, mas para um simples bastardo da Baixada das Pulgas aquilo tinha cara de feitiçaria.

Terminado o trabalho em silêncio, juntaram os pedaços fatiados do cavalo em grandes bacias e os levaram para fora onde seriam distribuídos para serem assados e comidos. Estavam na última bacia de carne quando Sor Jaime chegou até eles. O Regicida havia ficado mais pálido e com olheiras profundas desde que saíram das Gêmeas, como se a neve estivesse roubando todas as suas horas de sono. Muitos dos homens já comentavam que ele nunca parecera tão abatido e que isso devia se dever ao tal julgamento da Rainha Cersei. Apesar de muitos acharem uma calúnia, a maior parte dos homens se mostrava na dúvida quanto as acusações de que ele se esquentaria na cama da própria irmã.

— Ontem a noite pedi para que vocês cinco se reunissem hoje cedo. Fico feliz que tenham me atendido de prontidão, - e então ele se virou para os dois soldados – preciso de uma escolta. Preciso de alguns homens de confiança para que me acompanhem. Estão com suas espadas?

— Claro, Sor Jaime. Vamos precisar delas?

— Espero que não, só quero manter os Freys afastados – o Regicida fez uma careta como se pensar nos Freys o fizesse sentir náusea. Só então olhou para Gendry, Limo e Blackwood, ali do lado. – Vocês devem participar do resto da escolta.

— Ah, bem, na verdade não sou tão bom assim com uma espada, Sor – Blackwood respondeu parecendo muito envergonhado. Gendry sentia vontade de dizer o mesmo, mas não teve coragem. Era melhor fazendo espadas do que as manuseando.

— Não importa, não preciso de espadas afiadas, preciso de homens em que possa confiar. Esses dois estão a meus serviços há anos e estou certo de que são leais a mim. E vocês, posso confiar em vocês também? – falou, olhando diretamente para Limo como se o desafiasse.

— O que acha? - Limo respondeu no mesmo tom, sustentando o olhar.

"Somos os únicos aqui que sabemos", pensou Gendry. "Nós sabemos de suas promessas a Lady Coração de Pedra, sabemos que ele deve ter outros interesses no Norte que não sejam ajudar os Freys".

— Ótimo – ele respondeu fazendo um gesto para o seguirmos.

O caminho não foi tão longo até o lado mais afastado do acampamento onde ficava a tenda do Regicida. Desde que saíram das terras fluviais, a tenda de Jaime e Devan Lannister ficavam bem no centro do acampamento, para impedir possíveis ataques a eles, mas depois que partiram das gêmeas isso mudara um pouco. A tenda ficava um pouco mais afastada, como se quisesse colocar todo o exército Lannister entre eles e o acampamento Frey. Isso possivelmente era uma forma de proteger os tais prisioneiros, pois nos últimos dias quando a neve caia mais forte, era comum que Lord Umber e o Prisioneiro Sem Nome fossem levados para dormir dentro da tenda do Regicida.

Foi atrás dessa tenda que eles os encontraram. Os dois prisioneiros nortenhos, um deles usando o capuz preto como fazia o tempo todo, junto a Brienne de Tarth e seu escudeiro Podrick. A mulher como sempre tinha a cabeça erguida numa postura rígida inimaginável em meio aquela neve toda.

— Tem certeza? – Jaime perguntou assim que chegaram onde os outros.

— Uns trezentos metros para dentro da mata. Talvez menos – Umber respondeu.

— Não acredito que querem mesmo correr esse risco para se ajoelharam para uma árvore.

— Você fica com seus deuses, Regicida, e nós ficamos com os nossos.

Sor Jaime franziu o cenho e deu um soquinho leve no braço do prisioneiro com capuz.

— Achei que rezasse aos Sete agora.

— Os Sete nunca fizeram muito por mim, se quer saber – respondeu com um tom amargo. Mais uma vez Gendry se perguntou quem seria o homem por trás do capaz. Não sabia que haviam nortenhos que rezavam aos Sete.

— Bem, que seja, então vamos nos apressar, trezentos metros na neve ainda fofa vai nos fazer levar horas para ir e voltar – Lannister falou, os apressando em direção a floresta. – Vamos ver as suas queridas árvores.

A primeira metade da caminhada foi feita em silêncio. Quanto mais entravam nas matas, mais escuro ficava, embora ainda fossem as primeiras horas do dia, logo porque fazia dias que o sol não lançava um único raio sobre eles, somente aquela claridade fria. Lord Umber vinha a frente do grupo, sua postura altiva de Lord sendo mantida enquanto ele andava na neve com facilidade, sendo seguido a duras penas por os dois soldados Lannister que pareciam ter imensa simpatia por ele. Lady Brienne vinha logo atrás, ela e Podrick com as mãos segurando firmemente os braços do Prisioneiro Sem Nome para guia-lo pela neve, uma vez que o capuz não o deixava enxergar o caminho. Se não fosse por isso, provavelmente seria ele a guiar os outros dois, já que mesmo de olhos cobertos seus passos eram mais firmes na neve que o da mulher e o escudeiro. Limo e Gendry vinham atrás, percebendo com certo alívio que ali havia menos vento embora a meia escuridão causada pelas copas fechadas das árvores desse um tom fantasmagórico a viagem. O silêncio que se fazia desde que deixaram o acampamento para trás também não ajudava em nada.

Provavelmente os dois soldados sentiram o mesmo medo do silêncio, pois começaram a puxar assunto com Lord Umber.

— Aposto que vocês devem conhecer vários truques para viver na neve – o segundo soldado falou – não podem sobreviver ao inverno desse jeito.

— Ainda é outono, mas sim, nós temos. Inclusive para andar melhor sobre a neve – ele respondeu, satisfeito. – Mas não vou contar a sulistas.

— Se morrermos congelados, - o primeiro retrucou – vocês vão morrer com a gente.

— Minha esperança é que vocês morram primeiro.

Os dois soldados riram com o Lord, como se morrer congelado fosse uma piada deveras engraçada que Gendry não havia entendido.

— Sabe, faz uns dias que quero lhe perguntar, - o segundo soldado, já muito mais íntimo do nortenho, falou quando os risos cessaram. – Você não tem dois dedos em uma das mãos. Como perdeu?

Grande Jon olhou para o soldado por um momento, como se lembrando do dia em que aquilo acontecera. Olhou para trás por cima do ombro, provavelmente avaliando sua plateia. No silêncio da mata, todos do grupo o ouviam.

— Alguma batalha que vala a pena ouvir? – o Regicida perguntou. Vinha tão calado na caminhada que Gendry até havia esquecido que ele e Blackwood vinham atrás do grupo, fechando o pequeno comboio.

— Não foi em batalha – Umber respondeu e voltou a ficar em silêncio por alguns segundos.

— Nenhuma grande história, então? – o soldado pressionou, curioso.

O Lord suspirou.

— Certa vez, ergui uma faca contra Robb Stark - ele respondeu.

Os soltados soltaram exclamações de surpresa, já que Umber era conhecido como o braço direito do Rei, enquanto o Regicida soltava um riso divertido.

— Não posso culpa-lo, Lord Umber, - ele falou divertido. – O Rei no Norte sabia ser bem irritante.

Gendry gostou da conversa, era bom ouvir histórias sobre a família de Arya e era melhor ainda ouvir histórias vindas de quem realmente o conheceu, o tornava mais humano. Aparentemente o Prisioneiro Sem Nome não compartilhava do bom humor dos outros para falar do jovem Rei.

— Se quer saber – o Prisioneiro Sem Nome discordou, - erguer uma faca contra um suserano pode ser considerado como traição.

— Não o via como meu suserano na época. Lord Eddard havia acabado de ser preso em Porto Real e a guerra ainda não havia começado. – Umber continuou, num tom mais divertido. – Era só a porra de um moleque verde tentando juntar um exército. Era um moleque de verão tão verde que poderia mijar chá.

— Não se deve falar mal dos mortos – Blackwood reclamou. Segundo Limo lhe dissera, a Casa Blackwood era juramentada aos Tully e haviam ficado do lado dos lobos no começo da guerra.

— Não se preocupe, jovem Blackwood, paguei o preço por minha insolência – Grande Jon parou a caminhada e se virou para os que vinham atrás chegarem mais perto, enquanto ele tirava a luva e mostrava a mão onde dois dedos indicador havia sido arrancados.

A mão de Brienne se fechou mais forte no braço do prisioneiro encapuzado como se a visão da mão a incomodasse.

— E ele arrancou seus dedos por isso? – ela falou, incomodada.

— Ele mereceu – afirmou o outro prisioneiro.

— Não, Lady Brienne, o Jovem Lobo não encostou em mim – Lord Umber explicou, gesticulando com a mão nua e só os deuses sabem como ele aguentava ficar sem a luva por tanto tempo. Até Sor Jaime se aproximou para ouvi-lo – Foi no primeiro dia que ele reuniu suas tropas para dizer que íamos á guerra. Estávamos no grande salão de Winterfell quando puxei a faca. Stark estava sentado na outra ponta de uma grande mesa e deviam ter vinte homens entre o Jovem Lobo e eu. Jovem Lobo— Grande Jon riu ao repetir o nome – eu só via um filhotinho de lobo vestindo as peles do pai e tentando mandar em vinte mil homens mais velhos e mais preparados que ele. Foi então que puxei a faca. Juro por todos os deuses antigos que havia pelo menos 20 homens entre Stark e eu, mas de alguma forma, o lobo sabia que eu erguia a faca contra Robb. O lobo gigante, Vento Cinzento, estava ao lado dele e saltou sobre a mesa tão rápido que mal o vi. Quando dei por mim o animal havia saltado sobre mim, arrancado a faca de minha mão e arrancado meus dedos junto. Vinte homens fizeram um silêncio sepulcral ao meu redor, milady, mas quando olhei para Robb Stark na outra ponta da mesa, o Jovem Lobo sorria. Foi então que eu percebi.

— Percebeu o quê? – a mulher indagou.

— Percebi que Robb Stark não era um garoto de verão – Grande Jon voltou a por a luva com um sorriso brincando em seus lábios. – Continuemos a caminhada, estamos quase lá.

O grupo recomeçou a caminhada e os pensamentos de Gendry foram para longe, para um dia quente de verão quando ele andava no mato com uma menina magrinha que mais parecia um menino. "Eu sou Arya da Casa Stark", ela dissera aquele dia, "então eu deveria lhe chamar de Lady". Naquele dia de verão, o Norte parecia tão longe como se só existisse nas histórias antigas sobre a grande Muralha de Gelo, a casa que ainda guardava tradições antigas e a bela donzela pela qual o Príncipe Dragão fizera uma guerra. O Norte mais parecia uma lenda.

Após algum tempo perdido em pensamentos o rapaz percebeu que a marcha parou. Levou alguns segundos para perceber que haviam chegado a uma pequena clareira sob a copa de uma imensa árvore branca.

Grande Jon voltou alguns passo e colocou a mão sobre o braço do Prisioneiro Sem Nome para guia-lo até próximo a árvore, enquanto os outros mantinham um silêncio respeitoso.

Gendry encarou o rosto cortado na madeira do represeiro e sentiu um calafrio como se não fosse bem vindo ali. Como se nenhum deles fosse. O rapaz olhava para os escuros olhos da árvore e sentia como se ela o olhasse de volta, como se ela soubesse que era um sulista e que seu lugar não era ali. Piscou os olhos tentando se livrar da sensação estranha de ver a seiva que escorria dos olhos e boca entalhados na árvore. Gendry sabia que era só seiva de árvore, mas não parecia. Sua mente dizia que era seiva, mas seus olhos diziam que eram sangue escorrendo da face de um deus que parecia muito mais duro e cruel que os seus Sete.

Umber andou até estar a bem próximo do represeiro, quando soltou o braço do outro nortenho e se ajoelhou diante da árvore e abaixou a cabeça.

— Que os deuses antigos abençoem nossa volta para casa.

O silêncio era tão incômodo que chegava a ser ensurdecedor. Sor Jaime cruzou os braços parecendo claramente incomodado em estar ali, como se não conseguisse encarar a face do represeiro. O Prisioneiro Sem Nome ficou quieto por uns instantes de pé diante da árvore, ainda com o capuz cobrindo a cabeça.

Sor Jaime e Lady Brienne tiveram um sobressalto quando o nortenho tirou o capuz diante de todos, mas ele estava de costas para os sulistas. Gendry podia ver o cabelo não tão curto e podia dizer que era um homem branco, jovem e de barba. O rapaz não se virou para eles. Continuou encarando os olhos sangrentos da árvore, alheio a apreensão em volta dele.

— Que os deuses antigos me perdoem por ter ido onde eles não podiam me ver – com essas palavras o prisioneiro se ajoelhou e baixou a cabeça junto a Grande Jon.

O primeiro som foi um leve farfalhar de asas, quando o corvo pousou com suavidade sobre os galhos do represeiro. Era só um corvo comum, negro e inquieto usando a árvore como ninho.

Stark! – o corvo falou para os nortenhos.

E um calafrio subiu pela espinha de todos ali.

Corvos podiam ser treinados para falar, era comum, mesmo que não fossem aves assim tão inteligentes. Em geral, era possível repetirem sons que ouvissem, pequenas palavras e coisas assim. Mas ali não era uma quente e movimentada cidade do sul; ali era o Norte e tudo que acontecia no Norte dava medo a Gendry.

Stark, stark, stark! – o corvo repetia abrindo as longas asas negras sem levantar voou.

— Ele deve ter ouvido quando Grande Jon falou o nome de Stark lá atrás, não é? – Gendry falou, incerto, desejando que alguém confirmasse que não tinha nada de sobrenatural ali.

Se alguém concordava, o fez em silêncio. Os soldados Lannister, Limo e Blackwood pareciam surpresos demais para emitir uma opinião, enquanto Lady Brienne e Podrick pareciam ter visto o fantasma do próprio Robb Stark. Jaime Lannister não estava tão distante disso. Ele que era um dos maiores cavaleiros dos Sete Reinos olhava para o pássaro como se sentisse... medo.

Grande Jon de levantou, parecendo ainda mais imponente do que antes, como se a oração a seus deuses tivesse o fortalecido. Deu meia volta e se dirigiu ao Regicida.

— Se caminharmos mais meio quilômetro além desse ponto encontraremos um rio pequeno, um córrego, que deverá estar congelado agora. Podemos atravessar ele a cavalo durante o verão. Alguns homens poderiam usar para fazer uma travessia, um exército não. Eu conseguiria. É possível seguir direto nessa trilha, atravessar o córrego congelado antes do fim de uma tarde. É um bom caminho para Winterfell.

Jaime o estudou com atenção, olhando de Umber para a trilha que parecia invisível atrás do represeiro. O que exatamente estava pensando, era uma incógnita.

— Por quê está me dizendo isso?

— Achei que precisasse de novas opções – o Lord respondeu.

Os dois homens se encararam por um tempo, antes que Umber resolvesse retomar a cabeceira do grupo para voltarem ao acampamento. Com um aceno, Jaime dispensou Brienne de Tarth para que ela fosse a frente com os outros e o próprio Lannister segurou o braço do Prisioneiro Sem Nome, de novo com capuz, enquanto voltavam para o acampamento em silêncio.

Gendry podia sentir os olhos sangrentos da árvore branca sobre eles mesmo muitos depois de se afastarem daquele lugar.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por todos os reviews! São eles que estão me deixando animada para escrever mais. Obrigada mesmo.



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