A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 8
A lua – segredos escondidos, que podem trazer sofrimento.




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Passei a manhã de domingo toda, lutando contra mim mesma, para não ligar para Gabriel, mas, por fim, ele ligou.

— Tem certeza, que não quer almoçar comigo? – ele insistiu, mais uma vez.

— Tenho — respondo, sem tanta certeza.

— Não senti muita convicção na sua voz. Reconsidere, será somente um simples almoço.

— Então, está certo, somente um almoço – concordei, não foi uma batalha muito difícil de ser ganha.

— Ótimo! – Ele exclama, feliz. – Passo aí em quinze minutos.

— Não, preciso de tempo para me arrumar!

— Então, em uma hora. Até mais tarde.

 Tomei um banho, escolhi um vestido, arrumei meus cabelos e coloquei o meu cordão com pingente de turquesa, em menos de uma hora estava pronta e ansiosa, quando Gabriel chegou.

— Vou levá-la a um dos meus lugares prediletos — ele revela, dentro do carro, olho ao redor tentando imaginar para onde estamos indo.

— Você tem muitos lugares prediletos. – E aí espero por mais um restaurante exótico, mas entramos na garage de um bonito prédio residencial.

— Aqui tem um restaurante? – pergunto, incrédula.

— Não, é aqui que eu moro – falou, de modo casual.

— Sua casa? Não posso ir até sua casa – declarei, um tanto aborrecida pelo inesperado.

— Não se preocupe, é nenhuma armadilha. – Gabriel parecia ler meus pensamentos. – Eu falei é apenas um almoço, não faria nada para afastar você de mim.

Ainda fiquei um pouco desconfiada, mas ao mesmo tempo curiosa para saber como ele vivia. Esperava encontrar um apartamento bagunçado, típico de um homem solteiro que acabou de se mudar, mas ao invés disso, entrei em um belo apartamento decorado com poucos e modernos móveis, muitos livros. Porém o que chamou mais minha atenção foram os muitos quadros na parede, o principal tema era a lua e à noite, alguns mostravam o mar, figuras mitológicas e....

— São cartas de Tarô? – perguntei para Gabriel, reconhecendo as figuras, enquanto ele preparava nosso almoço na pequena cozinha acoplada a sala.

— São. Gosto das imagens. Elas passam muita energia e tem muitos mais significados do que podemos ver na primeira olhada.

— Você precisa conversar com a minha amiga Helena. Ela está fazendo um curso de Tarô. Essa carta é a da lua? – Apontei para um dos quadros na parede.

—Você conhece? – perguntou, com grata surpresa. – Pensei que não acreditasse nessas coisas.

— Mas, eu não acredito, não agora, mas houve um tempo que procurava respostas, então eu procurei na religião, astrologia, no Tarô e coisas parecidas – revelei, algo que nunca havia dito a ninguém.

— E acho essas respostas?

— Não. Na verdade, por isso me tornei cética.

— E qual era a pergunta para qual você não achou a resposta? – perguntou, em um tom que não consegui decifrar, mas não quis responder, já que nem eu mesmo sabia o que tanto procurava, então, mudei de assunto.

— O que ela significa? – Olhando os detalhes da carta onde a imagem da lua parecia triste, os cães que uivavam para ela tinham um olhar feroz e no fundo da água um escorpião escondido

— Não há só um significado, depende do contexto, mas pode significar engano, medo, desilusão, coisas escondidas, mas também é o instinto e sensibilidade. Diana é uma caçadora, por isso os cães. – Sua voz era séria, mas mudou o tom ao anunciar. — O almoço está pronto.

A mesa já estava posta e a comida estava ótima.

— Como você sabia que eu iria aceitar seu convite? – quis saber entre uma garfada do fettuccine e um gole de vinho.

— Não sabia, desejava muito isso.

— Você cozinha bem. Aprendeu com sua mãe?

— Minha mãe seria a última pessoa no mundo para ensinar alguém cozinhar, ainda mais esse tipo de comida, ela é muito ligada as tradições – respondeu, achando divertida minha pergunta.

— Você sempre pergunta sobre a minha vida, mas é sempre evasivo quando fala de você. Agora me fale sobre você – exigi, com dissimulada autoridade.

 — O que você quer saber?

— Quem é você? De onde vem? O que gosta de fazer?

— É uma história muito longa.

— Você fala como se fosse um velho. Quantos anos você tem? Mil? – Brinquei e ele sorriu, não sei se era o vinho, mas pensei como eu gostava daquele lindo sorriso, como podia ter vivido até agora sem ele.

— Digamos uns dez mil – respondeu no mesmo tom. – Bem, como já contei, eu nasci no Iraque, eram outros tempos, conturbados, porém um pouco menos que agora. Depois, morei em vários lugares da Ásia e Europa, viajei por todo o mundo sempre procurando uma novidade.

— Isso foi bem resumido mesmo. E seu pais?

— Meu pai está...morto. Minha mãe mora ainda por lá.

— Aonde?

— Ela já morou em vários lugares, atualmente mora na Turquia. Mais vinho?  — perguntou, mostrando-me a garrafa, quando ele ergueu a garrafa, reparei na face anterior do seu antebraço, uma tatuagem que me deixou intrigada.

— Não, obrigada. Mas, o que isso? – Apontando para a tatuagem. — Parece uma escrita suméria, eu nunca vi nada igual. – Estava intrigada, só a reconheci pois já havia estudado aquele tipo de escrita antes.

— Isso? É o meu nome, para eu não me esquecer de onde vim. Mas, tem certeza que não quer mais vinho?

— Não, obrigada. Eu preciso ir agora, lembra que tenho o jantar com Hélio, hoje.

— Não me esqueci – gemeu, desanimado. – Eu a levarei para casa.

Quando estávamos parados, na frente do meu prédio, antes de nos despedirmos, ele me encarou com uma expressão preocupada.

— Por favor, Diana, lembre-se que toda história tem duas versões, não julgue antes de ouvir os dois lados.

— Por que você não me conta a sua versão primeiro? – indaguei, pensando que ocorreu entre os dois deveria ter sido muito sério. Ele deu um longo suspiro.

— Foi uma história de amor e mal-entendidos, no final, ambos perdemos uma pessoa que amávamos muito.

— E quem era essa pessoa? – perguntei, ansiosa.

— A irmã gêmea de Hélio.

— E o que aconteceu com ela? – Estava preocupada com a resposta.

— Ela morreu. – Suas palavras saíram pesadas e cheia de dor, senti um aperto no peito com meu coração fosse quebrar, nunca havia sentido algo assim antes, não me despedi, apenas abri a porta e sai, sem olhar para trás.

Pontualmente, às sete horas, Hélio chegou, não havia me arrumado para um encontro, coloquei uma roupa básica, calça e camisa.

— Obrigado por aceitar meu convite. – Hélio me agradeceu, assim que entrei no carro, estranhamente, me sentia confortável junto dele e ele também parecia descontraído. – Há algum lugar em especial que queira ir?

— Não, realmente, não estou com muita fome, almocei tarde – comentei, pois havia comido muito bem na casa de Gabriel, mas esse detalhe não vinha ao caso.

Ele me levou a um pequeno restaurante francês, não muito longe da minha casa.

— Bonito o seu pingente. — Ele se referiu ao cordão que eu usava quase constantemente, mas que na maioria das vezes, ficava escondido sobre a minha roupa.

— Obrigada, é uma herança de família. É uma pedra turquesa – esclareci, segurando a pedra institivamente.

— Dizem que a turquesa acalma, combate a ansiedade e ajuda sermos mais criativo e comunicativo.

— Ah, é! Não sabia. – Não queria falar que também não acreditava nisso. – Você não parece o tipo de pessoa que se liga em esoterismo.

— Na verdade, eu acho toda essa história muito interessante. Você já pensou que algumas crenças têm milhares de anos. Que os seres humanos estão sempre procurando explicações ou respostas por caminhos desconhecidos para acalmar seus medos. Mas, talvez, haja um fundo de verdade em tudo isso.

Não queria começar uma discussão filosófica sobre crenças e fé com ele, não era esse o motivo do nosso jantar, por isso, logo após pedirmos os nossos pratos, ele começou a falar.

— Sei que foi lamentável a cena que você presenciou, ontem, no museu, Diana. Gostaria de me desculpar mais uma vez.

— Desculpas aceita!

— Não via Gabriel há muito tempo, tivemos desavenças muito sérias no passado.

— Foi por causa da sua irmã? – Agora, eu queria ir fundo nessa história, os olhos de Hélio brilharam percebi que agora estavam com um tom dourado, devia ser por causa da luz.

— Ele lhe contou?

— Sim, mas não deu detalhes.

— Um canalha como ele jamais contaria o que fez. – Sua voz estava cheia de rancor, mas paramos de falar quando o garçom se trouxe nossos pratos, quando ele se afastou Hélio parecia mais calmo e continuou:

— Ela era minha irmã gêmea, era parecida com você, a mesma cor de cabelos e de olhos, no entanto, inexperiente em matéria de amor. Ela foi uma presa fácil para ele, que a destruiu, e acabou morrendo. – Fiquei chocada, apesar de achar aquela história um pouco exagerada, do tipo romance do século XIX, onde a mocinha enganada pelo vil vilão, cai em desgraça e morre.

— Por que Gabriel faria algo assim?

— Vingança, por causa de negócios de família. Nossas famílias eram rivais nos negócios, por isso Gabriel se aproximou de minha irmã para se vingar e destruir nossa família. – Por mais que ele falasse e parecesse sincero, não conseguia acreditar naquela história. Havia algo errado, cheirava a mentira, não sabia porquê.

— Eu lamento muito por sua irmã — Estava sendo sincera.

— Agora, você sabe porque eu o odeio. – Aquilo parecia bem forte, achei melhor mudar de assunto para suavizar a noite.

— Você é muito jovem para ter um cargo tão importante assim, em um museu tão importante, deve ser muito competente.

— Não, sou tão jovem quando pareço – Negou, mas na verdade ele parecia ter a minha idade.

— Está gostando da cidade?

— Sim, já estive aqui antes.

— Mas, se você gosta daqui, por que não queria trazer a exposição para o nosso museu? – Isso tinha me incomodado deste do início, ele me olhou atônito, porque não esperava nada tão direto.

— Por nada, somente questão de logística. Muitos problemas de segurança.

— Você acha que alguém roubaria uma estátua daquele tamanho? Como?

— A questão não seria roubo, mas de danos irreparáveis.

— No entanto, com todo aquele aparato, acho difícil acontecer algo a ela.

— Não permitiremos que nada de errado aconteça. – Ele deu um sorriso sardônico.

Depois a noite se tornou mais leve, Hélio me contou sobre sua infância com sua irmã e como eles eram unidos, apesar de serem tão diferentes, apesar de não esperar por isso, o restante do jantar foi bem agradável. No final, ele me deixou em casa.

— Obrigada, foi divertido. – Agradeci, com sinceridade, parecia um velho amigo.

— Eu que agradeço, há muito tempo, eu não me divertia tanto. Até amanhã, Diana.

— Até amanhã, Hélio.

Ele esperou até eu entrar no meu prédio antes de ir embora, estava abrindo a porta do apartamento, quando ouvi uma voz nas minhas costas.

— Como foi o jantar? – Virei, assustada, na direção da voz.

— Você! O que está fazendo aqui, Gabriel? Como entrou no prédio? – questionei, espantada.


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