A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 40
O RATO – vencendo os obstáculos




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A senhora inglesa adormeceu, por isso tive um pequeno espaço de tempo para pôr minhas ideias em ordem, a primeira providência seria arranjar um lugar para me esconder, em seguir, tentar em contato com Gabriel e informá-lo onde estou.

A viagem até o hotel foi bem mais rápida do que eu esperava, fiquei um pouco mais ali sentada, esperando todos os turistas descerem do ônibus, o que demorou um pouco até pegarem todas as lembrancinhas, que tinham comprado naquele dia, comentavam a viagem e combinavam o jantar. Sai, lentamente, no final do grupo, tentando não ser notada pelo guia ou pelo motorista, mantendo minha cabeça baixa a maior parte do tempo, quando todo mundo havia subido para os quartos, me aproximei do balcão da recepção, um rapaz veio me perguntar se precisa de ajuda.

— Preciso de um quarto – falei, segurando meu pingente.

— Pois não – respondeu, me entregando um cartão, sem vacilar. – Quarto 233.

— Obrigada – agradeci, já indo para o elevador.

Ao entrar no quarto, relaxei, tranquei a porta, procurei pelo telefone e liguei para Gabriel.

— Gabriel, sou eu, Diana – disse assim que ele atendeu a ligação.

— Onde você está? Estamos procurando na cidade toda! Você sumiu! – Ele parecia bem preocupado.

— Tive que fugir, uns homens apareceram na casa de chá onde eu estava.

— Eu sei o dono me deu o seu recado. Mas aonde você está agora?

— Entrei em um ônibus de turista, estou em Goreme agora, em um hotel. – Dei o nome e o endereço do hotel e quarto onde estava a ele.

— Fiquei aí, já estamos indo buscá-la – recomendou, eu concordei de bom grado, tirei a roupa e tomei um banho longo e relaxante, sem opção, coloquei a mesma roupa, era melhor ficar vestida, depois comi tudo que estava no frigobar, amendoins e biscoitinhos sem gosto, e deite para descansar, apaguei as luzes do quarto e esperei.

Estava quase adormecendo, quando ouvi um som de alguém girando a maçaneta do quarto, minha vontade foi perguntar se era Gabriel, mas eu me contive, girei na cama e cai no chão abaixada, fui até a janela e tentei abri-la, rezando para que fosse uma daquelas lacradas, felizmente, não era. Continuava a escutar, tentarem abrir a porta, não ia demorar muito para conseguir, olhei para minha única opção de fuga, a janela. O quarto ficava no 2º andar seria uma queda de pelo menos sete metros, também, poderia ficar e lutar, porém não sabia quantos eram os meus oponentes. Nesse instante, o espectro apareceu, já tinha me esquecido dele, percebi que sua imagem parecia mais nítida, embora ainda borrada.

— Pule! – ordenou para mim.

— Não posso! – Tinha que confessar, que estava com medo.

— Não pense como uma mortal. Só pule! – Ele repetiu e eu pulei, caindo de pé, sem acreditar que estava inteira, corri e me escondi entre umas folhagens e esperei, no exato instante, que a porta do quarto foi aberta e os três homens entraram e começaram a vasculhar o quarto, alguém foi até a janela aberta.

— Ela deve ter saído por aqui! – um dos homens falou, mas eu não ouvi, nem vi que os três também pularam pela janela e começaram a me procurar por entre as folhagens, onde estive escondida, pois já eu já havia chegado a garage do hotel.

Pensei em roubar um carro, isso me fez lembrar do que Gabriel me falou na Itália, sobre o que ele teve que fazer para sobreviver, não tinha ideia do que aqueles homens queriam comigo, mas não tinha a intenção de descobrir. Escolhi minha vítima que parecia o carro mais veloz dali, esperava que tivesse gasolina o suficiente. Mas, agora, como ligá-lo? Magia, pensei. Tinha que dar certo, já tinha visto Gabriel fazer isso antes, então tentei uma, duas vezes e nada, já estava quase desistindo, quando ouvi passos na garagem, de onde estava pode ver a silhueta de um homem, possivelmente, um dos meus perseguidores, por isso tentei de novo e desta vez o carro ligou, ouvi o som do motor, passei a marcha e acelerei em direção da saída, quando estava quase lá, ele pulou na frente do carro, segurando uma espada.

Não pare, não pare, disse a mim mesma e acelerei, ao perceber que eu não iria parar o homem pulou para o lado, apesar que, provavelmente, eu não o matasse, mas poderia machucá-lo, não olhei para trás para ver que ele avisou os outros e ele correram para seu veículo para tentar me alcançar, mas, felizmente tomei uma boa dianteira.

— Como eles descobriram onde eu estava? – perguntei, em voz alta para mim mesma, batendo com raiva no volante, tinha que haver algo errado, existia um traidor entre nós, alguém que queria se livrar de mim.

Comecei a dirigir aleatoriamente, não sabia para aonde estava indo, queria achar algum lugar que eu pudesse telefonar para Gabriel, mas estava assustada, pois os meus perseguidores sempre chegavam antes dele, o traidor avisava onde eu estava escondida, já tinha conseguido escapar por duas vezes, não poderia abusar da sorte de novo. Talvez, se eu falasse com alguém do lado da minha família, poderia ser mais seguro. Já estava andando por muito tempo, havia entrado em uma estrada deserta, escura e sem nenhuma construção até agora, ainda bem, que havia bastante gasolina no tanque do carro. Procurei algo no porta-luvas para me ajudar, talvez, um mapa, mas tive mais sorte ainda havia um GPS, provavelmente era um carro alugado para uma viagem de turismo. Conectei o aparelho, pensei em ir para Istambul, mas, com certeza, estaria caindo na boca do leão, quem sabe, voltar, pois Gabriel já teria chegado ao hotel para me encontrar, entretanto, poderia ser perigoso para nós dois.

Já estava amanhecendo e eu continuava a dirigir, estava exausta, devo ter dormido, pois acordei com um grito.

— Acorde, Dama da Lua! – Abri os olhos, assustada, a tempo de virar o volante para que o carro não saísse completamente da estrada, com o coração aos pulos, olhei para o lado e pude ver que o espectro estava sentado no banco do carona, fiquei surpresa pois já podia reconhecer o seu rosto, ainda um pouco enevoado, mas já dava para distinguir seu cabelo louro avermelhado, assim como sua barba e seu bigode, os olhos dele pareciam cor de mel, todas aquelas cores sugeriam alguma semelhança com minha família,

— Então, já se lembra quem você é?

— Não, mas há algo nesse lugar que me parece familiar – respondeu pensativo, como se conseguisse lembrar de alguma coisa.

— Você já percebeu como está mudando?

Ele olhou para as suas mãos, admirando-as.

— Sim, parece que estou voltando a ser quem eu era. Lembro-me de alguns pequenos pedaços, fragmentos, tenho visões de uma cidade de mármore branco com fontes e estátuas, uma biblioteca com vários papiros e pergaminhos. Ainda existem pergaminhos e papiros?

— Não, os livros são em papel ou virtuais – respondi, achando graça na pergunta.

— O que é virtual? – Havia muito para ele aprender dois mil anos de história e evolução.

— Você vai precisar aprender muita coisa, mas, primeiro precisamos saber quem você é.

— Por que você precisa de máquinas para viajar? – Não entendia, pois conseguia se deslocar com a força da sua vontade.

— É uma longa história, talvez, não seja o momento de você conhecê-la.

Neste minuto, o carro começou a ratear, só tive tempo para parar ao lado da estrada.

— Droga! Droga! – gritei para o carro, batendo forte no volante, como se ele pudesse sentir.

Observei ao meu redor, por todo lado só havia um terreno árido com algumas elevações de pedra de formas bizarras, teria que esperar e torcer para que outro veículo passasse e rápido, pois o sol era escaldante e o calor aumentava ao avançar do dia. Porém, em vez de um carro, o que apareceu foi um homem, vestindo túnica e calças largas azul e branca, barba e bigodes escuros e um turbante na cabeça, segurava um cajado como de um pastor, e se aproximou andando calmamente, como se conhecesse o região, sai do carro para recebê-lo, pois, seria  mais fácil me defender em terreno aberto, o espectro havia sumido.

— Vocês estão com problemas? – o recém-chegado perguntou, eu estranhei por ele por ter dito vocês.

— Sim, o carro parou.

— Isso é mal! – admitiu, circundando o veículo – Precisam de ajuda?

— Claro!

— Aqui não passa muitos carros, ainda mais a essa hora. Vamos para minha casa, pensaremos em algo. – Mas ao ver minha indecisão, ele completou – Não há nada a temer, grega, não farei nenhum mal a você. Meu nome é Utu.

— Muito prazer, meu nome é Diana.

— E seu amigo transparente? – Fiquei surpresa com a pergunta e com a maneira natural que foi feita, não tinha dúvida que ele era um imortal.

— Não sei, nem ele sabe.

— Um perdido, não tenho visto muito nessa época, haviam muitos, logo depois que a guerra acabou. Então, vamos? – Utu indicou a direção.

Caminhamos por algum tempo, até ele apontar.

— É logo ali. – Ele mostrou um grupo de colinas de pedra, não via nenhuma cidade ou casa por ali, fiquei preocupada com medo de estar caindo em alguma armadilha. Só quando cheguei bem perto pude ver a porta de entrada como uma caverna, mas olhando para cima vi outras aberturas, como janelas, era aquela a casa de Utu.

— Por favor, entre! – Ele me convidou, eu o fiz com cautela.

O lugar estava escuro, mas se iluminou, imediatamente, na presença dele, aí pude ver toda a sala com suas paredes e chão de pedra, mas com poltronas confortáveis, muitas almofadas e tapetes coloridos cobrindo o chão e mesas de madeiras trabalhadas, além de várias peças de decoração.

— Minha humilde casa! – falou, mostrando me com a mão – Chá, Dama da Lua?

— Ei! Espera aí! Como você sabe quem eu sou?

— Ora! Não precisa pensar muito, uma ruiva grega perdida no meio da Pérsia. Quem poderia ser? Ainda mais acompanhada por um outro grego transparente. Mas, por favor, sente-se. Você aceita chá? – Ele continuou parecendo que se divertia com meu assombro.

— Sim, obrigada – respondi com um fio de voz, sentando em uma banqueta próxima a mim.

 — O mestre sabe que você está aqui? – indagou, enquanto servia um copo de chá de menta, que não vi como apareceu ali.

— Quem?

— O mestre, O Senhor dos Ar e dos Ventos, Enlil, como ele se chama agora? – Ele parou, pensativo. – Ah! Gabriel. Ele já está usando este nome há alguns milênios.

— Você conhece Gabriel? – Estava cada vez mais surpresa.

— Não, só conheço como fui seu secretário, nos primeiros tempos. Depois da guerra, nosso mundo ruiu, nós nos separamos. Então, como cortesia ao meu mestre, levarei você e seu amigo grego transparente até ele. – Utu se ofereceu, gentilmente.

— Você faria isso?

— Claro será uma honra, Dama da Lua.


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