Dança da Extinção escrita por yumesangai


Capítulo 11
O carrossel da vida não para de girar


Notas iniciais do capítulo

#depressão



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Quando Baekhyun apontou a arma ele estava cego, seus olhos estavam cheios d’água e suas mãos tremendo, ele puxou o gatilho ao mesmo tempo em que Sehun se jogou no chão.

Ele caminhou mais alguns passos e apertou o gatilho mais uma, duas, três vezes, até esvaziar o pente da arma. Sehun estava caído com os braços protegendo o rosto, nada havia o acertado, ele tirou a mão da frente dos olhos quando apenas o clique mudo da arma era ouvido.

Baekhyun caiu de joelhos na poça de sangue e chorou, chorou de soluçar. Sehun se aproximou cautelosamente, sempre olhando para a pistola que ainda estava ao alcance da mão do garoto, embora não parecesse que ele fosse tentar atirar novamente.

Ele viu o corpo de Chanyeol e ele também quis chorar e imediatamente puxou o braço de Baekhyun o obrigando a se levantar, ele estava coberto de sangue.

— Eu sinto muito. – Disse o abraçando.

— Por que você atirou...? – Perguntou se agarrando ao outro, seus ombros ainda tremiam. – Ele estava bem na minha frente...

— Você iria morrer...

— Mas seria pelas mãos dele! Você não tinha o direito de me tirar essa escolha.

Sehun apertou os olhos, só conseguia ver o corpo de Chanyeol caindo e também o sorriso de Luhan quando ele puxou o gatilho.

— Eu sinto muito.

Minseok voltou para guiá-los, ao longe era possível ver mais errantes se aglomerando e caminhando lentamente na direção deles, e ninguém estava em condição de lidar com tudo novamente.

Baekhyun estava basicamente sendo levado por Sehun e Minseok que caminhavam cada um ao seu lado, quando ele parou de repente e olhou para trás, na direção de Chanyeol.

— Não! Ele não pode ficar! Nós temos que levá-lo.

— Nós não temos tempo. – Minseok olhou para os errantes vindo de todos os lados. – E não temos como carregá-lo.

— Não! Não sem ele, ele não vai ficar! – Baekhyun se bateu até que conseguiu se soltar, mas Sehun foi mais rápido e o puxou novamente.

— Chanyeol está morto e você não pode mudar isso!

— Não! Não! – O menor jogou o corpo de um lado e para o outro, mas Sehun não o soltou. – Ele não vai ficar ali! Ele precisa ser enterrado!

— Baek, não dá. – Minseok colocou a mão em seu ombro.

— Ele não pode ficar ali... Ele não...

Sehun o forçou a se virar e Minseok começou a ajudá-lo a subir, ele fez questão que Baekhyun subisse na mureta primeiro, ele foi logo depois. Kyungsoo, Suho e Jongdae estavam no banco de trás.

O entorno do departamento, outrora bem cuidado, estava cheio de errantes, havia fumaça vindo de um dos prédios, havia dava para ouvir o barulho de disparos e alguns gritos. O “cemitério” tinha bem menos das criaturas presas, havia muitos corpos e poças de sangue no chão.

Zitao, Kris, Chanyeol.

Sehun pára o olhar no último, ele era bom demais, ainda conseguia se lembrar da expressão genuinamente preocupada quando se conheceram, nos destroços de uma casa. Ele era bom demais para esse mundo.

— Sehun! – Minseok o chamou do alto.

— Eu não vejo Kai, o que aconteceu com ele? – Ele começou a procurar com os olhos no meio dos corpos do chão, no meio dos corpos que caminhavam.

— Não sei.

— Ele deve ter ido procurar Taemin, eu...

— Não! – Minseok soltou e foi até o mais novo. – Nós precisamos ir, eu preciso de ajuda, todos estão machucados.

— Mas Kai...

— Sehun, por favor, eu não posso te deixar aqui. – Minseok o segurou pela mão, mas o garoto não se mexeu.

— Kai está vivo, eu não posso... eu não...

Minseok o abraçou pelas costas.

— Hunnie, por favor.

— Por que eu perco todo mundo? – Perguntou num sussurro.

 

—/-

 

Sehun encarava o caminho pelo retrovisor.

Minseok apertou ainda mais as mãos no volante, as coisas não estavam bem, Suho estava evitando tocar as costas no banco, Jongdae tinha a mão enfaixada, mas as ataduras estavam vermelhas. Kyungsoo respirava de foma irregular, e no meio disso tudo havia Baekhyun que encarava o nada, seu corpo apenas sacolejava de um lado para o outro junto com o carro, ele sequer piscava.

Sehun parecia que iria se jogar pela janela. Minseok não poderia ser a única pessoa sana no meio disso tudo, ou em condições de lutar. O caminho felizmente era deserto, eles saíram da cidade havia pelo menos vinte minutos. Havia um mapa em alguma mochila, mas ninguém disposto a ler e interpretar aquelas linhas confusas.

Para onde eles iriam? Ainda para a praia? Minseok olhava para a paisagem, mas onde deveria haver placas, não tinha nada, ele não sabia para onde ir, a única certeza é que não deveriam voltar para a cidade, não agora. Eles precisavam parar, ele precisava parar.

— Suho e Kyungsoo precisam de pontos. – Minseok disse olhando pelo retrovisor. – Talvez Jongdae também, nós precisamos parar.

— Estamos no meio do nada. – Jongdae disse olhando  em volta.

— Exato, não sabemos quando vamos achar um lugar ou se vai ser seguro.

— Pare num acostamento, você também deve estar cansado. – Suho respondeu de olhos fechados.

Mais cinco minutos até que Minseok achou um lugar onde eles não bloqueariam a estrada, embora não houvesse nenhum sinal de outro carro próximo.

Minseok foi esticar as pernas. Kyungsoo e Suho saíram do carro, Jongdae os ajudou com a roupa que estava no caminho. Baekhyun deitou no banco e Sehun empurrou o banco para trás.

— Eu quero encontrar o Kai.

— Espero que ele tenha enterrado Chanyeol, eu nunca vou me perdoar se o corpo dele tiver simplesmente ficado lá.

Sehun se ajeitou no banco, mas nenhuma posição era confortável.

—  O que nós vamos fazer?

Baekhyun deitou de costas para Sehun.

— Eu quero ir para a praia, eu quero fazer o que Chanyeol disse que faria. - Sehun suspirou. – Como você dormiu depois que o seu amigo morreu?

Sehun sentiu um calafrio percorrer sua espinha, ele fechou os olhos e viu a cena como um espectador, ele agachado no chão, chorando de ficar sem ar, e depois ter simplesmente ficado lá, caído no chão.

— Eu não dormi.

— Eu pensei em atirar. – Os ombros de Baekhyun tremiam. – Em mim, antes de tirar em você. Já que ele não está mais nesse mundo então... por que eu iria continuar, sabe? – Ele continuou falando mesmo sua voz falhando a medida que ele segurava as lágrimas.

Sehun apertou os olhos, contendo as próprias.

— É, eu sei.

— Ele era melhor do que eu.

Sehun escondeu o rosto entre as pernas.

 

—/-

 

Minseok, Jongdae, Suho e Kyungsoo estavam sentados num banco de um ponto de ônibus próximo. Duas mochilas estavam com eles, a de medicamentos e uma de armas. Jongdae estava com ataduras novas.

— Nós precisamos dormir em algum lugar. – Suho disse respirando fundo enquanto tentava se livrar da parte de cima da roupa para que algo pudesse ser feito em seu ombro.

— Deve ter alguma casa por aqui. Quantos quilômetros deve ter essa estrada? – Kyungsoo falava com os dentes rangendo.

Minseok encharcou um pedaço de pano em algum produto e estava afundando em sua ferida. Kyungsoo estava mordendo a manga do casaco para não gritar.

— Eles estão em choque. – Jongdae disse olhando na direção do carro.

— Baekhyun tentou atirar no Sehun. – Minseok continuou concentrado no ombro de Kyungsoo. – Quer dizer, ele errou os tiros, não sei se foi de propósito ou se ele só estava nervoso demais para se concentrar. – Sehun está preocupado com Kai, se que ele quer voltar.

— Ele nos ajudou e nós o abandonamos. – Suho balançou a cabeça negativamente.

— Não dava pra continuar lá. – Jongdae disse sério, concentrado no namorado e vendo o péssimo estado de seu ombro, estava roxo, amarelo, havia sangue e talvez pus.

Eles precisavam de mais do que algumas pomadas, ele precisavam de remédios em horários constantes e água. Eles precisavam que o mundo desse um descanso para eles.

— Nós teriamos continuado se fosse por qualquer um de nós. – Minseok constatou.

— O que está feito, está feito. – Kyungsoo apertou as mãos com força. – Eu conheço Kai, ele é espero, Taemin também, se alguém consegue sair de lá, são aqueles dois.

— Mas se o garoto estiver morto... – Jongdae não precisava continuar.

Kyungsoo mordeu a bochecha, pela dor que estava sentindo e em pensar que Kai talvez não aguentasse, talvez ele não tentasse esvaziar o pente no culpado, porque não haveria ninguém para culpar.

Não era como se esse mundo tivesse sido generoso com nenhum deles, Chanyeol estava morto, Kai estava surtado, Baekhyun instável e Sehun carregava a morte de dois amigos nas costas.

Eles poderiam continuar tentando sobreviver ao apocalipse, mas o quanto eles continuaram tentando sobreviver a eles mesmos?

Dizem que pensamentos ruins são capazes de adoecer a alma de uma pessoa, era como se eles estivessem infectados e só esperando que isso se espalhasse.

Quando eles voltaram para o carro o caminho inteiro foi silencioso, Sehun parecia ter dormido, mas Minseok o conhecia e sabia que ele estava apenas fingindo, Baekhyun estava de costas no canto e encarava a janela.

Era desconfortável e todos estavam doloridos e cansados demais.

— Ei, aquilo é uma igreja? – Jongdae perguntou se inclinando no banco de trás.

— E parece inteira. – Minseok diminuiu e o carrou saiu da estrada para o mato não capinado.

Não era uma construção grande, era uma estrutura de madeira, com uma escada pequena na entrada, sem grades ou portões, o que não a tornava um ambiente seguro, mas eles poderiam descansar e talvez contar com um pequeno milagre.

Talvez achar a igreja no meio do nada fosse alguma espécie de intervenção divina.

— Hunnie. – Minseok tocou no ombro do amigo. – Nós achamos um lugar.

Sehun puxou o capuz do casaco para baixo e saiu do carro sem dizer nada, o mais velho foi logo atrás dele.

— Ei, ei. – Suho saiu primeiro do banco de trás. – Armas, verifiquem o lugar primeiro.

— Volte para dentro do carro. – Jongdae disse esticando a mão e segurando Suho.

Baekhyun abriu a porta do carro, mas Kyungsoo o segurou com o único braço que conseguia mexer.

— Você está bem para isso? – Seu tom era gentil e confortável.

Baekhyun se lembrou que ele também conhecia Kai, mas ele não conseguia se importar com a dor dos outros.

— Matar os mortos? Talvez eu precisse disso.

— Cuidado, ok?

Ele riu sem vontade e saiu do carro. Suho continuou do lado de fora.

Minseok estava com a balestra que tinha uma base de encaxe para a lanterna, Sehun tinha uma arma e Baekhyun seguia mais afastado deles.

Eles entraram pela porta velha dos fundos, as salas estavam escuras e desertas, mas quando chegaram no salão os vitrais permitiam o brilho da lua entrar e ali eles decidiram descansar por um dia.

Kyungsoo e Suho ficaram com os colchões de uma das salas. Jongdae com um sofá que fora arrastado de uma das salas, Minseok dormia no carpete do altar com Baekhyun e Sehun estava acordado para ficar de guarda.

Ele estava sentado em um dos bancos de madeira olhando para os anjos dos vitrais, ele se levantou e pegou a bíblia de uma das mesas e sentou no confessionário.

— Perda, eu pequei. – Disse encostando-se na parede. – Eu matei meu melhor amigo, e depois um outro amigo, e o meu... e o Kai, eu não fui atrás dele, eu o abandonei no meio dos mortos. O que esse mundo quer de mim? É mais do que eu consigo aguentar.

Ele abaixou o rosto, mas se levantou assustado quando sentiu uma mão em seu ombro.

— Esse mundo quer que você viva. – Baekhyun respondeu com seus olhos cansados e com olheiras. – Seu melhor amigo te protegeu, Chanyeol te deu aquelas barrinhas, Kai te ajudou, você me salvou também, mesmo que eu não quisesse.

— Por que você não atirou em mim?

— Eu tentei.

— Você errou todos os tiros. Você não pode ser tão ruim assim, eu estava na sua frente.

— Você ainda está na minha frente. – Baekhyun sinalizou que ele saísse da cadeira do confessionário e ocupou seu lugar. – Perdão pai, eu pequei. Eu desejei meu melhor amigo, nós ficamos juntos e talvez seja uma forma de me castigar por isso, tê-lo levado de mim.

— Amém.

— Amém. – Baekhyun repetiu.

Naquela noite, ninguém conseguiu dormir de fato, mas todos fingiram que sim. De olhos semi cerrados, porque se fechados eles só conseguiam ver sangue e tudo que havia sobrado naquele mundo.

 

—/-

 

O café da manhã foi silencioso, mas eles tinham o que comer, o depósito da igreja tinha apenas algumas coisas vencidas, mas havia umas duas latas de cereja que estavam em bom estado.

Suho estava com os olhos fundos e uma cor amarelada, a ferida em seu ombro estava infectada, ter o ombro afundado no pedaço de ferro velho que acumulava sangue deveria ter sido o primeiro sinal.

Kyungsoo estava com uma tipoia improvisada.

— Pra quem você está rezando? – Sehun perguntou para Minseok, o único que ainda restava no salão.

— Para os céus. – Respondeu de olhos fechados, ainda ajoelhado.

— Ninguém está nos ouvindo. – Sehun disse encarando a imagem da cruz a sua frente. – É silencioso como sempre.

— Luhan está me ouvindo.

Sehun abriu a boca para dizer algo, mas apenas direcionou o olhar para Minseok.

— O que você diz a ele?

— Sobre você normalmente, ele iria gostar de saber. – Minseok se levantou e saiu sem olhar para trás.

 

—/-

 

— Praia? Vamos manter o plano, certo? – Jongdae perguntou se esticando no banco de trás, já que ele estava no meio, tinha que ficar na ponta para acomodar melhor os outros três.

— Sim, eu preciso de direções. – Minseok disse  puxando colocando óculos escuros, o reflexo do sol era insuportável de dirigir.

— Vamos seguir as placas. – Sehun disse se ajeitando com o pé no painel do carro, mas Minseok bateu em sua perna o fazendo se ajeitar.

A estrada em questão era estreita, o mato não cortado dificultava ler as placas, mas Minseok não estava diminuindo por conta disso, havia alguns errantes pelo caminho, mas eram números aleatórios.

Não poderiam ser os mesmos de Exodus.

As curvas eram fechadas e não dava para ver adiante, Minseok estava de olhos que só havia mais um ponto de gasolina.

Baekhyun estreitou os olhos quando achou ter visto alguém todo de preto no meio do mato, antes que ele pudesse falar algo com Sehun que estava em sua frente, o carro bateu em algo.

Fez um barulho e um estalo no motor, e em seguida o acidente foi rápido, não em câmera lenta como gostam de mostrar na tv. O carro estava em alta velocidade e bateu num cabo de aço que estava preso de uma ponta a outra, o carro capotou e desceu pela colina, rolando.

No primeiro impacto do carro, Sehun e Jongdae foram arremessados pois estavam sem cinto. Baekhyun escutou gritos e muito barulho, sua mente ficou pesada, ele tentou se acostumar com a visão turva, a única que sentia era algo escorrer de seu rosto e então uma bota preta vinda devagar pelo chão do lado de fora.

Era como se ele tivesse visto aquilo antes, a a pessoa estava todo de preto, como um deus da morte. Talvez ele estivesse morto, pois todo seu corpo doia.

— Você está vivo? – Uma voz não familiar perguntou.

Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu. A pessoa cortou seu cinto e o ajudou a sair pela janela quebrada, a pessoa estranha era um gosto de pele pálida e cabelos compridos e pretos.

— Onde estão os outros...? – Perguntou ainda no chão.

O garoto era uma mancha preta em sua visão.

— Outros? Só tem você. – Ele esticou o pescoço procurando sinal de mais alguma pessoa. – Você está sangrando, deixe-me ajudá-lo. Como se chama?

— Baek...

— Taekwoon. – Se apresentou o ajudando a ficar de pé. – Eu moro numa cabana aqui perto, depois procuramos seus amigos.

— Não, eu... eles... – Ele tentou dar alguns passos, mas logo caiu inconsciente.

Taekwoon sorriu enquanto arrastava o garoto.

— Hyuk, copia. – Disse puxando um walk-talk. – Tem outros, vá procurar.

— Eu vi o carro, Hyung. – A voz do outro lado da linha era bem animada. – Vamos caçar!

Taekwoon começou a assobiar uma canção.


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Notas finais do capítulo

#vixx

Acabei a saga de Exodus e com algumas baixas eu preciso de mais personagens para interagir na história, chamei essa parte de "saga vixx", pois alguns personagens vão aparecer, essa saga foi inspirada em um episódio da primeira temporada de Supernatural.



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