"Eu não tenho culpa de estar te amando. De ficar pensando em você; toda hora Não entendo por que deixei acontecer. E isso tudo me apavora."

Já fazia um tempo que retornaram as aulas em Hogwarts. Algumas partes do castelo ainda estavam sendo restauradas, porém, já se via a majestosidade do lugar novamente.

Poucos alunos voltaram para terminar os estudos. A maioria ainda estavam abalados pela guerra e suas perdas, outros eram as perdas...Achei que eu e os outros Sonserinos seriamos repelidos, mas não. Acho que decidiram virar a página e seguir em frente sem a amargura do passado. Coisa que eu ainda penava pra conseguir. Me libertar do meu passado.

O Salão Principal já não era ornamentado pelas grandes e longas mesas das Casas. Não havia mais necessidade em te-las. Ainda eram quatro, mas agora eram curtas e com poucos alunos.

- Ainda não terminei o trabalho de Runas. Já fez o seu Draco?- questionou Nott ao meu lado num dos corredores da biblioteca.

- Já. Só falta o de História da magia.- comentei procurando um livro, o qual encontrei a minha esquerda. Peguei-o mas estava preso. Puxei com força ouvindo um gritinho espantado. Pelo vão de onde estava o livro, vi dois olhos consternados me fitando. Granger. Se estreitaram e logo se foram.- Eu em...- resmunguei vendo-a passar e sair da biblioteca.

Era certo que nada era como antes, ninguém mais falava sobre a pureza de sangue ou havia insultos aos nascidos trouxas. Até porque, Minerva era uma diretora severa a essas questões. Tudo estava diferente. Exceto a irritação que Hermione Granger desprendia quando eu estava por perto. Do trio de ouro, foi a única a voltar para a escola. Sem o cicatriz e o cenoura, ela tem andado bastante com Longbotton.

- Ela anda estranha ultimamente.- comentou Theodore.- Sabe, mais que o normal.- era compreensível. Foram dias difíceis pra mim que estava do lado de Voldemort, imagine para ela.

- Como assim?- quis saber.

- Não sei. Algo diferente nela. Parece preocupada.- remungou pensativo.

- Para de falar da sabe tudo e vamos fazer esses trabalhos, quero estar livre no fim de semana pra ir ao vilarejo.- disse indo para uma mesa sem deixar de pensar o por que de Granger estar preocupada. A guerra acabou, ela era um dos heróis, não precisava mais tomar conta dos dois amigos idiotas, nada com o que se preocupar.- Toma aqui.- passei meu pergaminho a ele.- Não é pra copiar, só veja como fiz e faça você mesmo.- ralhei começando o trabalho de História da magia.

***

As aulas de poções estavam sendo dadas pelo velho Slughorn. Um pouco abatido, porém, ainda eficiente. Não como o antigo professor Snape, mas quebra o galho.

- Hoje irão preparar uma poção muito eficaz contra ferimentos internos...- explicou o homem.- Aqueles que não tiverem algum ingrediente, podem pegar no armário.- ofereceu começando a explicar a forma de preparar.

Comecei a separar na bancada os meus utensílios e reparei que minha adaga não estava ali.

- Esqueci minha adaga.- comentei com Nott.- Vou ver se no armário tem.- informei terminando de arrumar a bancada. Olhei nas pratrleiras de cima e não encontrei. Abaixei-me para olhar nas de baixo onde umas caixas estavam. Senti alguém ali também mexendo nas prateleiras, mas não dei atenção. Achei uma adaga simples, teria de servir. Ao me erguer bati com a cabeça no queixo da pessoa ao meu lado.

- Ah!- gritou logo tampando a boca. Hermione me encarava com os olhos aguados. Resmungou algo por trás da mão e saiu indo falar com o professor que usou sua varinha nela. Notei uma mancha vermelha em sua boca. Teria cortado com a batida?

Ao passar por sua bancada, ela conversava com Neville maravilha.

"...um cortezinho na língua. Nada de mais..."

- O que houve?- perguntou meu companheiro.

- Nada, um acidente.- soltei começando preparar a poção.

- Achei que tinha xingado ela. Ela pareceu a ponto de chorar...- falou dando os ombros.

- Já disse que foi um acidente.- rosnei impaciente.

- Bem, você está tentando seguir em frente, e não xingar ela, já é um avanço.- pontuou.

Chorar por causa de uma batidinha? Por que? Nem foi por querer, foi acidental!

Rapidamente e sem pensar muito, rapisquei num pedaço de pergaminho e o levitei até a mesa dela. Sem querer ver sua reação, concentrei me na aula.

"Granger, desculpe-me"

***

Esse ano eram poucas carruagens para o vilarejo. Estava esperando por Nott, único amigo que me sobrara. Ansiava por beber um pouco e comprar uns doces.

Risadas vinham pelo corredor, olhei para trás e quase cai. Theo vinha todo risos com...Granger? E ela parecia feliz? O que diabos estava acontecendo?

- E ai cara.Demorei?- me cumpimentou.

- Sim. Mas guardei uma carruagem pra gente.- disse enfim olhando pra garota.

- Am...eu vou andando.- murmurou saindo.

- Há espaço pra você, Granger.- ofereci tentando não soar arrogante. Talvez tenha conseguido, pois, me olhou espantada.

- Beleza! Vamos nessa.- soltou meu amigo se adiantando pra uma das carruagens.

Hermione foi logo atras de Nott e antes de subir me olhou pensativa. Achei q falaria algo, mas não o fez.

Durante o caminho ficamos em silêncio, uma porque o sem modos do Nott deitou-se no banco nos obrigando a se espremer no outro. Granger estava tensa, eu tenso e Theo fingindo que estava tudo maravilhoso.

- Desculpe.- murmuravamos a cada chacoalhada que aquele treco dava fazendo nos acotovelar.

Foi aliviador quando paramos. Esperei pra dar a ela espaço pra sair. Granger se grudou na janela e soltou um palavrão antes de sair correndo da carruagem. Pela janela a vi se encontrar com o Weasley.

- O que você fez?- me questionou Nott.

- Por que acha que fiz algo?- indiguinei-me.- Ela estava com pressa.- apontei pra janela onde se via o cenoura e a menina discutindo algo.- Parece que estão...discutindo.

- Vamos lá.

- Lá onde?- estranhei, mas Theo já saíra da carruagem e ia para perto de Granger. O que raios estava acontecendo? Eu só podia estar dormindo ainda, e aquilo era um sonho bem do bizarro. Pela janela vi Theodore se juntar aos dois, o que não foi muito bom, já que a cara do Weasley estava vermelha. Granger estava entre os dois e parecia explicar a presença do meu amigo ali. Suspirando e me arrependendo desde já, fui até eles.- Algum problema por aqui?- ouvi um gemido de frustração da garota.

- Por favor, Rony. Não precisamos dar um escandalo pra todos ouvirem.- pediu.

- Ha! Agora anda com Malfoy? Sério isso, Mione? Se esqueceu que ele é um Comensal? A tia dele torturou você!- esbravejava o ruivo. Mantive-me calado. Nada poderia ser dito, era tudo verdade. Eu era Comensal, e minha tia a torturara em minha casa. Ainda era possível se ouvir o eco dos gritos dela pela casa.- Não estou te entendendo.

- Ron...eu-eu não estou pronta pra um passo desses.- gagueijou.- Eu não quero.- falou mais firme.

Okay, eu já estava entendendo merda nenhuma do que estava acontecendo.

- Você não pode ser tão burro a esse ponto, Weasley. Ela vai ter de desenhar? Não quer e pronto. Aceite.- disparou Nott, que pelo jeito sabia do que se tratava tudo aquilo.

O cenoura veio pra cima de Theo, mas empurrei meu amigo levando o soco que era pra ele. Saquei minha varinha e o repeli com um feitiço não verbal. Granger estava parada, chocada com a cena.

- Rony.- foi pra junto dele ajudando-o a se levantar.- Vamos conversar a sós sem gritos e interferências.- a ouvi dizer. Mesmo resmungando, se foram.

- Pode me explicar que porra foi essa?- falei perdido.

- Vamos beber que eu conto.- chamou enquanto me olhava com riso.- Levou um soco por mim. Que emocionante.- zombou. Revirei os olhos e comecei a andar para o três vassouras.

***

As semanas se passaram e nada me tirava da cabeça o fim de semana em Hogsmead. Depois de duas doses de uisque de fogo no Três vassouras, Theo me contou sobre a sua nova 'amiga'. No dia da visita ao vilarejo, ela a encontrou nas masmorras falando com Slughorn.

"Você sabe como sou atencioso com as garotas.- gracejou me contando.- Me ofereci para acompanhá-la até as carruagens. Estava apreensiva. Puxei assunto e logo me pareceu conhecê-la a anos...

- Mas se conhecem a anos, Theo. Desde o primeiro ano.- pontuei sorvendo mais de meu copo.

- Mas não sabia que era uma pessoa legal. E que estava lidando com Weasley...ele a pediu em namoro.- confidenciou baixo.

- Mas pelo visto, ela não está a fim.- falei.

- Quem estaria? É do Weasley que estamos falando, Draco.- sarcastiou.- Hermione é inteligente demais pra ver que eles não combinam...

- Bom, não me importa o que farão. Não é assunto nosso.- afirmei. Não queria me meter em assuntos tolos como aquele. Mas querer não é poder. Granger logo entrou no estabelecimento e se juntou a nós, graças ao meu amigo que lhe chamara.

- Desculpem-me pelo Ronald.- murmurou depois de um longo silêncio. Foi espantoso vê-la abatida. Nada daquela menina irritantemente audaz de outros tempos.

- Não é culpa sua ele ser um idiota.- soltei indiferente terminando minha bebida. Percebi que ambos me olhavam. Senti certo desconforto com isso.- O que foi?- perguntei enfim.

- Não sei bem. Mas me soou como um elogio a mim...- disse calma.

- Talvez.- dei os ombros começando a sentir calor. A bebida já devia estar fazendo efeito, soltando minha língua.

- Bebida?- sugeriu Nott.

- Ãm, sim. Cerveja amanteigada.- disse sem graça.

- Granger, você precisa de mais pra relaxar.- disse indo até o balcão.

Fiquei calado. Não me sentia estavel. Não era fácil estar interagindo daquela maneira intimista com ela. Foram anos mantendo minha postura, repudiando-a por ser da Grifinória e acima de tudo, sangue ruim...e agora começar a ter esse tipo de amizade(?) Não era bem o que pensei pra mais um ano em Hogwarts. Certo que me permiti ser menos preconceituoso, aceitar mais as pessoas, no entanto, estar sentado numa mesa de bar com a pessoa que mais insultei só podia ser o destino me testando.

- Malfoy?- chamou-me.- Você está bem?

- Sim, por quê?

- Nada.- falou agitando a cabeça como se descartasse o que iria falar.

- Diz.- me inclinei na mesa realmente interessado em ouvir.

- Você não me parece o mesmo...- murmurou tão baixo que quase não entendo.

- E não sou. Assim como você também não é a mesma. Brigando com Weasley.- tentei não soar arrogante.

- Oh, aquilo. Ron anda muito...exigente.

- Isso é novidade, pra alguém que sempre se contentou com pouco...Desculpe, velhos habitos.- pedi ao ver que soei sim arrogante.- E qual foi o motivo da briga? Se é que pode me contar.

- Bem...ele não entende que certas coisas já não são como antes, nem eu sou, mas eu continuo querendo estudar. E tenho outras prioridades do que um...- Theodore nos interrompeu chegando com as bebidas.

O que se passou depois ainda me parece estranho e confuso. Bebemos, conversamos sobre outras coisas, rimos. Como se fossemos melhores amigos a vida inteira. O que não era verdade. Nunca nos demos bem. Nunca quis ser amigo dela ou de seus companheiros idiotas. Mas não há como negar que me fez bem passar aquelas horas em companhia dela e Nott. E devo admitir, Theo tinha razão, ela era legal.

Eu tinha acordado muito cedo. Não sei por que. Se foi pesadelo, não me recordava dele.

Os corredores estavam vazios, apesar de já estar sendi servido o café da manhã.

No salão principal, poucos alunos já terminavam sua refeição. Na mesa da Sonserina só tinha alguns primeiro anistas. Na mesa da "Griffinória" somente uma remexia em seu prato. Granger não me parecia bem. Olhei pra mesa Sonserina, e entre uns pirralhos e a sabe tudo, preferi me reunir a sabe tudo.

- Posso me juntar a você?- perguntei assustando-a.- Não estou com animo pra aguentar aquilo.- apontei para os garotos fazendo guerrinha de comida.

- Fique à vontade.- concedeu retomando a concentração no mingau.

- Hum, está tudo bem?- questionei estranhando seu jeito apático.

- Sim. São só os Niems.- falou dando um pequeno sorriso. Claro que não me convenceu, mas não iria insistir.- Se tudo ao seu redor indica que tens de tomar um lado, mas você mesmo não deseja esse lado, o que fazer?- disparou rápido, como fazia nas aulas.

- Faça o que quer. O que deseja. Sem se importar com o redor.- afirmei.- Sempre fiz o que quis. Mesmo que me arrependesse depois. Mas...quando me forçaram a ser Comensal, senti falta dessa liberdade. De fazer o que queria. É preferível viver livre de amarras do que viver uma vida de farças e máscaras...- terminei encarando-a. Sua expressão era de insegurança e vergonha. Fosse o que fosse, a atormentava. Após isso, ela começou a comer com vontade. Não nos falamos muito. Eventualmente comentavamos sobre os trabalhos ou sobre futuras profissões.

- Hey! Ninguém me convidou pra essa confraternização!- saudou Nott ao se juntar a nós.

- Sem escandalos.- pedi disfarçando uma risada. Granger também me parecia mais normal.

E foi assim durante a semana, o mês, o bimestre. Conversavamos quando tinhamos aula juntos, e quando nos reuniamos na biblioteca pra fazer trabalhos. Mesmo com os olhares espantados, ninguém se importou em ver Granger conversando comigo amigavelmente. Era bom. Bom demais pro meu gosto...

Caminho pelos corredores rumo ao exterior do castelo, e me vejo perto do banheiro feminino. Fazia tanto tempo que ia ali me refugiar. Que minha única companheira era um fantasma chorão. A porta estava trancada. Fiquei um tanto desapontado. Não que eu sentisse falta da Murta. Só queria ver se ainda estava por ali.

Retomando meu caminho, deixei minha mente esvaziar. Pensar em nada. Apenas deixar minhas pernas me levarem até onde ficava o campo de quadribol. Esse não fora prioridade na restauração, mas diretora Minerva deixou que usassemos o espaço pra jogar "amigavelmente".

Theodore já voava rápido pelo céu em sua vassoura junto com uns alunos. Acho que da Corvinal, ou Lufa Lufa...nunca sei de onde são quando estam sem uniformes. Parei de me importar de onde vinham. No fim, todos morreriamos e virariamos pó.

Pra me animar, corri colocando a vassoura entre as pernas e dando assim o impulso que eu queria voando até o grupo.

- Agora sim, meu time está completo.- saudou-me acenando.- Vamos começar a jogar de verdade.- disparou Theo a um dos jovens.

A partida durou mais do que pretendiamos. O pomo fugia sempre que o avistavamos. Nós, apanhadores já pensavamos em deixar pra lá e voltar para o castelo antes que escurecesse mais e chovesse. No entanto, o vimos e tentamos mais uma vez. Eu já sentia algumas gotas cairem em meu rosto, no entanto, eu estava me divertindo. Apenas isso me fazia bem. Me fazia esquecer o que pairava em minha mente. As dores passadas e as dúvidas do presente.

Mesmo não ganhando, os outros jogadores não foram hostis comigo. Parecia que esqueceram quem eu era. Ou já não se importavam mais. E eu tambem não.

A garoa fininha já emparara meu cabelo quando cheguei perto do caselo. Cheguei chacoalhando meu cabelo espirrando água pra todo lado.

-Argh.- resmungaram a minha frente. Granger, respingada me encarava com raiva e divertimento.- Virou cachorro, Malfoy?- zombou secando-se com a varinha. Ela estava diferente, mais...leve?- Por que me olha assim?

- Nada.- falei. Nem precebi que a olhava diferente. Imitei seu gesto me secando.

- Quem venceu a partida?- indagou.- Não deu pra ver daqui...

- Quem você acha?- gabei-me.

- Continua pesunçoso?- rebateu erguendo a sobrancelha.

- Não sou presunçoso!

- É sim.- riu.- Menos que antes, mas ainda presunçoso...

- Foda-se. Não ligo.- dei os ombros e a garota gargalhou.- Andas bebendo escondida, Granger?

- Não. Você que já não é mais o mesmo.- parou de rir.- Isso, é bom. Amadurecer.- sorriu gentilmente. E foi ai que me toquei. Eu gostava desse sorriso. Eu gostava de ter uma conversa instrutiva ou banal. Gostava do silêncio. Eu gostava da Granger.