Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 52
Michel Gibson




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Esfreguei os olhos e me sentei, o sono e a ressaca me deixaram lenta e confusa. Porém, assim que meus olhos bateram em Demetri, deitado ao meu lado, meu cérebro voltou a funcionar com força total.
Saltei da cama, pegando minhas roupas e as vestindo. O que foi que eu fiz? Droga, droga.
—Demetri. –Chamei, passando a blusa por cima da cabeça. –Demetri, acorda. Demetri!-O russo se sentou num pulo, olhando em volta, atento. Pude perceber quando começou a se lembrar da noite anterior.
—Jen...
—Apenas... Você tem que ir, estou atrasada pro trabalho.
—Jenna...
—Vai. Não posso conversar agora. –Começou a se vestir. Quis bater minha cabeça repetidas vezes na parede. Sabia que não devia ter bebido. Sabia. Me sentei na ponta da cama. O que eu havia feito?
—Jen, sinto muito.
—Por favor... Vai.
—Desculpe. –Saiu do quarto. Pude ouvi-lo ir até o banheiro, pegar a camiseta, então a porta principal batendo.
***
—Jenna, está tudo bem?-Tirei a cabeça dos braços, mas não ergui o olhar. Ressler se sentou na minha frente. O tom de voz mostrava preocupação. Isso fez com que eu me sentisse pior. –Jen?
—Está tudo bem. -Menti.
—Não, não está. O que houve?
—Quer mesmo saber?-Olhei pra ele. A culpa quase fechou minha garganta. Se eu mentisse, seria pior e injusto. Ressler era sincero, merecia que eu também fosse. –Demetri foi jantar no meu apartamento ontem. Nós... Acabamos bebendo demais e... Dormimos juntos.
—O que?
—Desculpa. Sério. Desculpa. Eu... Não deveria, não poderia e... Não quis que acontecesse, não foi planejado, só aconteceu. Me desculpa. Se eu pudesse, mudaria isso, mas não tem como. Não significou nada, por que eu amo você, mas... Entendo se me odiar. Pedi um tempo, e aí... Desculpa, desculpa.
Olhei pra baixo. Ressler se levantou e saiu. Soquei a mesa, furiosa comigo mesma. Como eu... Como eu pude ser tão estúpida?
***
—... Alguém de dentro está colaborando. –Meera dizia, quando me aproximei. Olhou pra mim, mas não disse nada. Ressler manteve a cabeça baixa, a atenção em algumas folhas e em um telefone.
—Sim, alguém está colaborando. –Keen disse. –Mas não é bem assim. Os filhos de todos esses banqueiros foram sequestrados. Não estamos apenas lidando com roubos. Red me deu uma lista dos três possíveis banqueiros que podem ser os próximos alvos. Aram?-O especialista em computação colocou três imagens nas telas. Três homens. –Esses são os banqueiros. Apenas dois deles tem filhos, o que excluí um deles.
—Acabei de verificar. –Ressler avisou. –O filho de Delair Morás desapareceu da creche onde estava. Esse é o alvo.
—Então o banco onde Delair trabalha será assaltado. –Meera concluiu. –Quero que descubram quando, e impeçam. –Então saiu, rumo à sua sala.
Keen e Ressler começaram a conversar e a apontar coisas em algumas pastas. Me apoiei na mesa de Aram, me sentindo exausta.
—Me pediram pra avisar que Nitta foi adotada. –Aram disse. Sorri.
—Sério? Tão rápido?
—É, e parece que são boas pessoas.
—Que bom. Ela merece uma boa família. –Uma onda de tontura me passou. Me sentei na mesa, fechando os olhos.
—Agente Mhoritz?
—Estou bem.
—Não acha melhor passar na enfermaria? Acha que vai desmaiar?-Abri os olhos.
—Estou bem, Aram, obrigada pela preocupação.
Levantei e peguei o caminho da minha sala, Keen barrou meu caminho.
—O que foi?-Perguntei.
—Acho que deveria ir ao hospital.
—E por quê?
—Vi você passar mal ainda pouco. Talvez tenha contraído alguma coisa ou...
—Estou bem. É só... Estresse. Tem muita coisa acontecendo ultimamente. Isso vai passar.
—Tem certeza?
—Meu Deus, parem de surtar! Estou bem!
—Se precisar de alguma coisa...
—Eu aviso. Obrigada pela preocupação, agora com licença. –Passei por ela e me tranquei na minha sala.
***
—Devia ter ficado na base. –Elizabeth disse, olhando de lado pra mim, enquanto sacávamos a arma e entrávamos no prédio abandonado.
—E por quê?-Meu tom ácido foi ignorado.
—Você está doente. Talvez devesse passar na enfermaria ou...
—Cala a boca, droga. Eu estou bem!
—Será que podem falar baixo?-Ressler perguntou, se virando para nós duas. –Querem que o prédio inteiro saiba que estamos aqui?-Revirei os olhos.
—Devíamos nos separar. Vou pelos fundos.
—Jenna...
—Tchau. –Passei por ele e subi a escada de serviço, a arma em mãos.
Eu estava estranhamente irritadiça ultimamente. Devia tirar férias, mas sabia que tinha que compensar o tempo perdido. Se fosse em outro caso, Meera teria me demitido, mas se ela fizesse isso, Red ou me colocaria de volta, ou sumiria para sempre comigo e com a lista.
Os agentes que vieram com Keen, Ressler e eu se dividiram, então subi para o último andar. Tinha acabado de entrar no corredor quando vi um vulto subir a escada para o terraço.
—Ei, parado! FBI!-Gritei, começando a correr. Não sei por que a gente sempre tem que mandar o suspeito parar. Eles nunca param!
Cheguei ao terraço. Um homem alto e de cabelos castanhos segurava um monte de panos nos braços. Olhando com mais atenção, dava pra perceber que era um bebê. Um bebê pequeno. Provavelmente tinha poucos meses.
—Solte a criança. –Mandei. –Não faça nenhum movimento brusco, tenho você na mira.
—Não vai arriscar. –Se aproximou da borda. Dei um passo involuntário para frente. Ele não ia se jogar, ia?
—Não queira me testar. Coloque a criança no chão.
—Ou vai atirar em mim?-Eu realmente estava falando sério em atirar, mas temia que se o homem fizesse algum movimento, ia derrubar o bebê, ou eu poderia acertá-lo.
—Solte a criança!
—Quer que eu o solte?-Sorriu. –Vou soltá-lo...
Dei mais um passo pra frente, prevendo com um pouco de atraso o que ele ia fazer. A pequena trouxinha branca que era o bebê foi lançada para fora do prédio, como se não fosse nada.
—NÃO!-Gritei. Atirei contra o homem, na base das costelas. Ele caiu de joelhos, apertando o ferimento. –Achou que eu não atiraria?-Me aproximei, encostando a arma na cabeça dele.
—Então atire... Acabe com isso... De uma vez.
—Não. Não. Vou acabar com você, sim, mas lentamente. –Mirei a perna dele, e atirei. –Devia te jogar como fez com aquele bebê!
—Jenna!-Ressler me puxou pra trás, me fazendo largar a arma. Comecei a me debater, tentando me soltar. Aquele monstro não ia ficar vivo, eu ia acabar com ele. –Jen, para com isso, para!-Me puxou até estarmos longe dali, então me soltou. –Se acalme, Jen.
—Não! Ele... Ele jogou aquele bebezinho. Aquele... Monstro, eu vou matá-lo!
—Jenna!-Segurou meus braços. Doeu, mas eu estava com raiva demais pra falar. –Por favor, se acalma. Ele vai pagar por isso, eu prometo, mas você não pode fazer isso. –Me soltei, o empurrando.
—Só preciso ficar sozinha. –Saí, deixando-o para trás.
***
—Só um minuto, vou colocá-lo na linha. –Dembe avisou. Comecei a andar de um lado para o outro. –Raymond! É Jenna.
—Mhoritz? O que foi?
—Preciso de ajuda. –Respondi. Ele suspirou.
—Das últimas vezes que usou esse tom, me pediu para matar Yelena Belikov, e Rick Donovan. Quem é agora?
—Michel Gibson.
—Sei quem é. Ele jogou o filho de Delair Morás do prédio, não foi?
—Sim.
—E quer matá-lo, pois isso afetou você.
—Sim.
—Não podia simplesmente fazer como os outros agentes e se consultar com alguma psicóloga?
—Você sabe que não. –Parei de andar. –Vai me ajudar? Michel está no hospital, preciso de ajuda.
—Esteja lá à meia hora, então faça o que tiver que ser feito. Terá cobertura.
—Obrigada.
—Espero que saiba, que um dia isso perseguirá você.
—Eu não ligo.
—Liga, sabe que liga. –Desligou.
***
Passei pela recepção, sem perguntar qual era o quarto de Michel. Eu sabia qual era.
Os dois policiais que deviam estar na porta não estavam ali. Red havia feito sua parte. Entrei no quarto. Michel estava com os dois pulsos algemados, uma garantia que não ia fugir tão fácil. O tronco estava enfaixado, assim como a área onde o acertei na perna.
—Olá, Michel. –Saudei, tirando a arma de dentro do casaco. –Vim acertar as coisas.
—Não pode me matar. –Tentou se sentar, em vão. –Vão te pegar e...
—Ninguém vai me pegar, e ninguém nem vai se importar com a sua morte. Você é um assassino. Matou um bebê indefeso. Quem é que vai ligar pra sua morte?
—Você não pode... –Mirei e atirei na cabeça. O silenciador abafou o tiro. Guardei a arma e saí.
Ninguém me parou enquanto eu saía. Ninguém gritou. Ninguém correu para o quarto de Michel. Eu estava livre.
***
—Eu sei o que você fez. –Ergui a cabeça, Keen se sentou na minha frente.
—E o que foi que eu fiz?
—Matou Michel Gibson. Assim como fez com Yelena Belikov e Rick Donovan.
—Eu não sei o que...
—Por favor, poupe tempo. Sei que fez isso. Matou Yelena e Rick porque eles quase mataram Ressler. E Michel... Ele matou aquele bebê.
—Vai contar à Meera?
—Não. Mas você tem que parar, ou pode ser pega.
—Eu não vou. –Cruzou os braços.
—Você pediu ajuda à Red, não pediu?-Não respondi. –Pediu. Não acredito que ele te ajudou nisso.
—Talvez ele concorde que o mundo fica melhor sem eles.
—Talvez. –Segundos de silêncio. –Ressler me contou o que aconteceu.
—O que?
—Demetri.
—Por que ele diria?
—Ele estava estranho, perguntei e ele contou tudo. Não estou julgando você, Jenna. Acho que você já está fazendo isso.
—Fui uma vaca. Pedi um tempo à Ressler, e pouco tempo depois estava... Indo pra cama com Demetri. Isso... Não tem como perdoar.
—Jenna, Meera só permitiu que continuassem juntos na mesma equipe porque achou que não haveria problemas. Sabe que é contra as normas colegas de equipe se envolver.
—Sei. Vou...
—Pedir transferência? Red não vai deixá-la sair dessa força tarefa.
—Posso me demitir.
—Jenna...
—Sem poder me tirar daqui, Meera vai transferir Ressler, e isso... Acabaria com ele. Donald trabalha há anos aqui, não posso fazê-lo ter que ir. Prefiro me demitir a deixá-la mandá-lo para outra base.
—E trabalharia do que?
—Posso trabalhar como segurança do Red. Aparentemente ele paga bem, posso fazer isso até Dembe voltar. Então... Me aposentar.
—Jenna, não...
—Eu sabia dos riscos. Sabia que era errado quando me envolvi com Ressler. Agora... Com nossa vida pessoal afetando o trabalho, alguém terá que sair. Que seja eu, e não ele. É o mínimo que posso fazer depois de magoá-lo desse jeito.
—Você não pode... –Batidas na porta, que Keen esqueceu aberta. Ressler estava ali. Lizzy olhou dele pra mim, então levantou. –Nos vemos mais tarde. –Saiu. Ress ocupou o lugar dela.
—Donald, eu...
—Ouvi o que disse. –Interrompeu, sem olhar pra mim. –Prefere perder seu emprego, a me deixar ser transferido.
—Só estou aqui, hoje, como agente federal, porque Cooper me transferiu e acabou com o Projeto Dangerous. Você está aqui por que quis. Por que escolheu essa carreira. E há anos trabalha com essa equipe. Não posso tirá-lo daqui. Não posso... Atrapalhar ainda mais sua vida. O que eu fiz... Foi... Imperdoável.
—Uma vez... Ouvi dizer que amar alguém, significa perdoar os erros dessa pessoa. Alguns erros não podem ser perdoados, alguns sim. Você não quis fazer o que fez. Não quis errar. Acho que isso conspira a seu favor...
—Ressler, você não precisa...
—Te dei duas chances. Posso dar outra. Apenas... Tente não precisar de mais nenhuma.
—Então está...
—Te perdoando? É. Parece idiota, mas não posso desistir, simplesmente, posso?
—É loucura.
—Assim como quase tudo o que você faz, Jenna Mhoritz. –Sorri. –Tem sua terceira chance. Ou seria quarta?-Rimos.
—Obrigada.
—Ei, vocês dois. –Keen chamou, colocando a cabeça para dentro da sala. –Vamos, ainda temos muito trabalho pela frente.
—Valeu, Elizabeth. Corta clima. –Riu, saindo da nossa linha de visão.


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