Rose

— Você se importa de me mostrar uma foto da sua avó?

Eu parecia Vovó Molly falando. Ela sempre sabia o que fazer nessas horas...

Talvez porque ela mesma precisasse muitas vezes. Ela costumava pegar uma foto do Tio Fred e falar sobre ele, para tentar amenizar a dor... eu acho.

Scorpius pegou na mesa o que parecia um grande livro de capa dura preta.

— Vovó Cissy fez esse álbum para mim no Natal passado. Ela tinha acabado de descobrir que estava doente. - Ele disse, com voz de pesar.

Peguei o álbum das mãos dele e abri. A primeira página tinha uma dedicatória carinhosa escrita a próprio punho em uma caligrafia perfeita. Na foto ao lado, uma bela e elegante senhora de cabelos completamente brancos platinados com pele e olhos muito claros. Ao lado, um Scorpius com mais ou menos uns 11 anos. O cenário ao fundo me parecia familiar.

— Essa foi tirada no Beco Diagonal, logo antes de eu vir para Hogwarts. Foi ela quem me trouxe para comprar o material escolar.

À medida que eu folheava o álbum, ele me explicava sobre as fotos. Passaram-se muitas fotos da avó Narcisa, dos pais e da infância dele.

Várias das fotografias tinham a tal da Suzie, que eu descobri ser abreviatura de Suzanne. Era uma garota da nossa idade, pele moreno-clara, olhos azul-escuros, cabelo escuro.

Scorpius falava dela como uma irmã, mas as fotos abraçados os faziam parecer um casal.

Ela era filha da tia materna, Daphne, com Andrew Sloan um ex-jogador e atual técnico da Seleção Americana de Quadribol.Além de Draco Malfoy, Andrew Sloan era a única pessoa que não era completamente estranha pra mim naquele álbum.

Já tinha ouvido meu pai conversando sobre ele com Tio Harry e Tia Ginny. Diziam que ele foi um ótimo jogador e que era um bom técnico também. Eu nunca entendi muito de Quadribol como o resto da família, então acreditava que fosse verdade.

Além de linda, a bendita Suzie aparentemente jogava quadribol muito bem na posição de apanhadora e tinha um corpo estonteante. Não era muito alta, fazia o tipo mignon, mas tinha proporcionais pernas grossas, barriga enxuta e seios fartos.

Eu estava sentindo uma pontada de ciúme? Era isso mesmo?

— Suzie é bem bonita... - Eu e minha boca traiçoeira.

— Sim, ela é minha prima. Você viu aqui alguém feio? Todo mundo na minha família é bonito! - Ele disse com a maior naturalidade do mundo, fechando o álbum de família e colocando de volta na mesa.

Eu estava certa. Ele parecia mais calmo depois de ter falado um pouco sobre a avó e o resto da família.

Voltei a pegar o porta-retrato com a foto trouxa em que ele estava abraçado com a tal da Suzie.

— Rose... é impressão minha ou você está implicando com a minha prima?

Ai que raiva. Eu fiquei vermelha como um pimentão.

— Talvez. - Com a minha cor no momento, nem adiantava mentir.

— Rose... Isso é ciúme?

— Por que eu teria ciúme de você? - Talvez porque ele fosse um gato e tivesse acabado de provar pra mim que era um cara super legal?

— Você que me responde.

— Deixa de ser idiota, Malfoy! - Eu falei, na defensiva, emburrando um pouco.

— Okay... Se você diz... - Ele falou, ironicamente. Se levantou do sofá e começou a colocar as fotos no lugar.

— Nossa, passamos a tarde inteira aqui? - Disse eu, olhando evasivamente para a janela do quarto dele e vendo o céu escurecer lá fora.

— É mesmo. Bom, pelo menos creio que tenha valido a pena. Você me acha menos monstruoso agora?

— Nunca te achei monstruoso!

— Rose, você mente muito mal.

Tanta coisa herdada de Hermione Granger, mas eu mentia tão mal como meu pai. Sempre fui assim. Ridícula.

— Tá, okay, talvez já tenha te achado monstruoso. Mas agora não mais. - Isso era verdade. Vê-lo falando com tanta adoração da avó e contando com saudades sobre a vida "normal" que ele e a família levavam em Nova York me fizeram enxergar um novo Scorpius. - Satisfeito?

— Sim e não. Bom que você tenha mudado de ideia. Pena que tenha demorado tanto. - Ele não conseguiu esconder a mágoa na voz.

Cheguei bem perto dele, talvez mais do que deveria. Meus olhos azuis fitaram os dele e eu disse:

— Me perdoe, Scorpius. Por ter te julgado e tratado mal durante tanto tempo. Você é um cara legal... Muito legal.

— Perdoada, Rose.

Ele desviou os olhos e se afastou.

— Deveríamos jantar... - Eu desconversei, tentando afastar a estranheza do momento.

— Você tem razão. Sala de Reuniões, em 1 hora? Preciso tomar um banho...

— A gente deveria ir ao Salão Nobre.

— Não. Não deveríamos. Sei que não sou a melhor companhia do mundo, mas você definitivamente não quer os olhares de curiosidade dos outros alunos agora.

— Okay. Você tem razão. - Ele estava tendo muita razão ultimamente. - Também vou tomar um banho. Te encontro em 1 hora então. - Eu disse, rumando para a porta.

Parei no meio do caminho e me virei para ele.

— E, Scorpius, obrigada. Por tudo.

— Por nada, Rose. Obrigado por me ouvir.

— Até mais! - Eu disse, continuando meu caminho para a porta.

— Até! - Pude ouvir a resposta dele sem me virar, já saindo do quarto dele e fechando a porta.

Encostada na pesada porta já fechada e encarando o corredor, respirei fundo. 'Não foi nada de mais, Rose. Nada de mais.'

E continuei o caminho até o meu quarto. Na hora sequer perbi que estava saltitando.

Chegando a meu dormitório, não pude deixar de pensar em como agora eu conseguia realmente entender a atração da população feminina ( e até aquela parte masculina ) por Scorpius Malfoy.

Não que eu nunca tivesse enxergado o quanto ele é bonito, até porque isso é meio impossível. Que era inteligente também, as notas dele falavam por si só. Além, claro, das vezes em que ele levantava a mão junto comigo para responder a alguma pergunta feita durante a aulas.

Mas eu nunca tinha visto o ser humano por trás daquele loiro convencido. Eu mesma teria dito que esse treco de ser humano era um clichê tosco se não tivesse visto como ele era um fofo com a avó. Com a avó!

Sacudi a cabeça. Eu tinha que manter minha sanidade e me deixar cair de amores por Scorpius só ia atrapalhar esse plano.

Era para manter minha mente sã que eu tinha decidido passar o feriado sozinha em Hogwarts fugindo da loucura da minha família.

Já no meu quarto, me apressei em tomar um banho. Por mais que não fosse um encontro, eu sabia que aquele jantar pedia uma coisa mais... sofisticada. Como tudo que parecia rodear Scorpius.

Escolhi um perfume de essência floral amadeirada, que eu usava somente em ocasiões bem especiais. Usei um feitiço para disciplinar meus cabelos antes de amarrá-los em uma trança lateral.

Ainda de roupão, passei pelo quarto e fui até meu armário. Especialmente enfeitiçado por minha mãe para abrigar muito mais roupas do que aparentava. Precisava encontrar uma roupa antes de começar a me maquiar.

Olhei para o relógio e já tinha se passado meia hora desde que eu saí do quarto dele. Só tinha meia hora até o jantar. Eu me gabava de ser uma mulher que nunca se atrasava, e não ia fazer diferente dessa vez.

Abri logo a porta das roupas de noite para procurar um vestido. Escolhi um novo, comprado nas últimas férias, quando eu e Dominique fomos à Itália: um azul marinho, de gola alta, levemente rodado e mais curtinho. Por cima vesti um casaco longo de lã preta e escolhi uma bota de couro preto, na altura dos joelhos e de salto alto.

Corri para o espelho e finalizei uma maquiagem rápida, emendando com pequenos brincos e um anel de brilhante.

Desci correndo as escadas ao final do corredor de quartos femininos enquanto o relógio da Sala Comum mostrava as 8 horas da noite.

Pontualmente abri a porta da Sala de Reuniões.

Não podia deixar de agradecer a Merlin por ter me lembrado, antes de eu começar a me arrumar, de que tudo que cercava Scorpius pedia um glamour a mais. Ou eu estaria extremamente mal vestida para aquilo ali.