[SIRIUS BLACK]

      O andar era lerdo, quase como quem não queria chegar logo, principalmente depois de passar pelo arco de entrada do cemitério. Era tudo tão gélido aquela altura de noite. A neblina que cobria a escuridão do local, não poderia atrapalhar a caminhada de Sirius. Se tinha alguém que sabia muito bem o caminho do túmulo de James e Lily Potter, esse alguém era Black. A passada era lenta, e cautelosa, não poderia ser visto, ainda era um fugitivo e caçado, e isso se seguia há dose anos, e agora que esse tinha fugido de Askaban, seu perfil estava estampado a cada coluna jornal e beco do mundo bruxo. Era tão conhecido e mesmo assim tão desconhecido. As pessoas pintavam um Sirius mal, que tinha traído os melhores amigos em busca de poder, mas na verdade ele só tinha os amigos, a morte deles o deixou solitário, completamente. Não se importava com Askaban, afinal o mundo sem James e Lily para ele, pouco importava. Provavelmente se jogaria dos precipícios da prisão, e por quantas vezes já não tinha pensado naquilo, mas um único pensamento ainda o mantinha vivo: a vingança.

Os joelhos de Sirius cederam quando se encontrava de frente a sepultura dos Potter. Engoliu em seco, limpando as roupas esfarrapadas e sujas que vestia. ── Pontas, hoje eu trouxe boas novas. ── Os dedos com as unhas petras limpavam a lápide como quem tentava melhorar um móvel da sala. ── Encontrei Harry hoje.  ── E um sorriso mostrando os dentes muito sujos a carcaça mal acabada que Sirius carregava. Os anos em Askaban, a depressão da perda, os dias como fugitivo, tudo aquilo tornou Almofadinhas alguém digno de pena. Com uma grande olheira, a roupa de dias e a falta de vida no andar. Tudo que fazia era se esconder e cuidar de longe, dos poucos que ainda tinha.

── Ele já tem 13 anos, é mais ou menos alto... ── Poderia descreve-lo em detalhes, pois era a única lembrança boa que Sirius tinha guardado dos últimos dias. ── Ele tem o mesmo sorriso que o seu, o corpo magrelo. Os olhos de Lily... ── Por hora a emoção não se controlava e o tom mais alto era eminente a pronuncia. Mas Sirius tentava se conter, abaixando o tom em sussurros agora. ── Ele também tem o mesmos óculos horríveis que os seus, herdou até seu mal gosto. ── Quem olhasse de fora, poderia julgar que ele falava com alguém, e que ouvia as respostas. Mas na realidade a perda do amigo, fez o bruxo perder alguma noções de realidade. Sirius estava louco de saudade, de raiva, de tristeza. A dor tinha sido maior do que ele mesmo, e a carcaça que andava por ai, era o que resto daquele rapaz galinha de Howarts. ── Ah, ele também tem tidos muitos feitos em Hogwarts. Dumbledore o adora. ── O homem riu reparando a própria loucura e engolindo em seco. Tirava forças para ficar melhor quando lembrava do sobrinho, talvez fosse ele a sua salvação. ── Ele é lindo, Pontas.  ── E Black pairou a mão sobre o túmulo como quem pairava sobre o ombro de James.

──── Obrigado, meu amigo. Por ter me dado - mais uma vez - um motivo para continuar. ──── Apoiou-se no chão frio, e seguiu seu caminho.

[JAMES POTTER]

  As mãos estavam cruzadas, postas sobre a perna, sentado no escuro vazio, um sorriso maroto brotava no canto de seus lábios e seus olhos, embora ninguém pudesse ver, sorriam também. Faziam-se treze anos que não o via. Exatamente treze anos que deixou de habitar seu corpo, treze anos que deixara para trás os amigos, seu filho... Mas, sempre estava presente, de alguma forma os que o amavam nunca o deixaram de verdade. Ouvir Sirius falar sobre Harry fazia com que se sentisse vivo, como se estivesse sentado em frente a lareira do comunal falando sobre as férias. Fazia com que James voltasse a ter dezessete anos, quando deixou Hogwarts de barco, da mesma forma que a conheceu. Quando pediu Lily em casamento, mesmo com a guerra, como se sentira naquele momento... quado convidou Sirius para ser padrinho de Harry. Sentia falta dos amigos, todos eles.

Mas vendo agora, Sirius em frente a sua lápide, podia ver os anos que se passaram para ele, como ganhou pés de galinha, como estava magro, apagado... E se pudesse falar algo para ele, diria que, ainda era o maroto mais bonito.

Queria poder dizer o quanto sentiu a falta dele, que havia perdoado o homem que acreditara ser seu amigo e que acabara por dar fim a sua vida e a de Lily, para que ele não o procurasse por vingança... que fosse livre.

Queria poder dizer para se apoiar em Harry, que sempre seria uma parte daquilo que foram quando adolescentes e daquilo que seriam. Que vivesse. Que pudesse sorrir e que reencontrasse os amigos, Remus... Que reencontrasse Remus. E que, cuidasse de Harry. Pois, mesmo quando ficaram brigados por duas horas, um sempre cuidou do outro de alguma forma. E aquele laço e a amizade entre eles, mesmo depois da morte era algo inquebrável.

── Tenho certeza que você será o melhor padrinho. ── sussurrou, mesmo que o outro não pudesse o ouvir. Estava sentado em sua própria lápide, cara a cara com o melhor amigo, e mesmo que quisesse poder abraça-lo se contentava em apenas poder reve-lo.

── Sinto a sua falta também, Almofadinhas. ── riu fraco. Se os seus anos voltassem para si, se envelhecesse também, ou se pudesse ser visto, não veriam um James destruído pela morte que arruinou os Potter, e sim um James que sorria e abraçava de bom grado tudo que vivera. Uma brisa gelada percorreu o local, Sirius estava levantando-se para partir. ── Nós nos reencontraremos.