POV. GREG (Brooklyn Beach - 1986)

Eu estava sentado, como sempre ficava, na parte mais alta da calçada da escola. Costumava chegar cedo e ficar lendo alguma coisa enquanto Chris e Lizzy não chegavam. Para o meu alívio, a trégua que o Caruzo tinha feito com o Chris parecia estar durando bastante. Ele não implicava mais conosco, mesmo quando a Lizzy não estava perto. Eu agradecia bastante, pois assim eu poderia sentar ali e ler meu livro de Biologia em paz. Ou quase em paz…

“Oi?” Ergui os olhos, meio assustado que alguém falasse comigo, e acabei mais chocado ainda quando vi quem me olhava sorrindo.

Era a garota mais linda que eu já tinha visto. Tinha cabelos loiros encaracolados que iam até sua cintura, olhos azuis e umas poucas sardas que se destacavam em sua pele branca. Devia ser pouco menor que eu. Usava uma calça jeans rasgada, uma camiseta preta do Led Zeppelin e um All Star vermelho.

Eu, com certeza, estava babando e não conseguia responder. Senti minha voz presa na garganta, e meu pânico de falar com garotas já estava fazendo minhas mãos suarem. Mil perguntas rondavam minha cabeça, mas eu não conseguia pensar em uma resposta coerente para nenhuma delas.

Vi ela inclinar levemente a cabeça para o lado e me observar curiosamente.

“Você está bem?”

Respirando fundo para acalmar meu coração acelerado, eu consegui murmurar um “sim”. Ela sorriu em retorno.

“Que bom. Você estava ficando pálido; fiquei um pouco assustada.”

“Desculpe. Não foi essa a intenção.” Ela negou com a cabeça.

“Tudo bem. Você estuda aqui, não é?”, ela perguntou, gesticulando para o prédio da Corleone.

“Sim.” A facilidade de conversar com ela me surpreendeu, e eu me vi relaxando um pouco.

“Eu sei que é meio aleatório, mas você conhece uma garota ruiva chamada Lizzy?” Fiquei boquiaberto com a coincidência.

“Você conhece a Lizzy?” Ela assentiu, sorrindo.

“E aparentemente você também.”

“Sim; estudamos juntos desde a 5ª série.”

“Nossa. Coincidência, né? Conheci ela quando éramos crianças, mas acabamos nos separando porque eu me mudei.”

“Inglaterra?” Ela me olhou, surpresa.

“Como…?” Sorri de leve.

“Seu sotaque e sua blusa de contaram.” Ela olhou para a blusa e deu uma risada.

“Parece que a Inglaterra não saiu de mim.” Acompanhei seu riso, e ela veio sentar o meu lado. Fiquei um pouco tenso, mas me chutei mentalmente para não surtar e tentei continuar a conversa.

“Morou muito tempo lá?”

“Sim, doze anos. Meus pais continuam lá, mas eu eu vim morar com meu irmão. Sentia falta de Nova York. Do barulho, das pessoas, do clima… Londres é muito sombria para o meu gosto, embora seja ótima para os negócios do meu pai”, ela disse, sorrindo minimamente.

Por um momento ela me pareceu realmente triste, mas logo sorriu, e eu fiquei pensando se não tinha imaginado a tristeza.

“Realmente, Nova York é bem agitada. ‘A cidade que nunca dorme’... Escolheram um bom apelido.” Ela riu levemente.

“Parece que sim.”

Nesse momento, escutamos um longo assobio e olhamos na direção do barulho. Chris e Lizzy acenavam para a gente. Acenei de volta e a garota loira se levantou para receber a Lizzy. Eles ainda estavam meio longe quando percebi que não sabia o nome da garota.

“Ah… eu… acho que não sei seu nome.” Ela virou para me olhar, interessada.

“Meggie”, e me estendeu a mão.

“Greg”, disse enquanto apertava sua mão e ela sorriu.

“Gostei de você, Greg. A gente podia marcar de sair qualquer dia.” Senti meu rosto queimar e meus olhos se arregalarem.

Ela está me convidando para sair? Mas… O QUÊ??? Eu preciso de um calmante…

***