Estamos Bem Sem Você escrita por Eponine


Capítulo 6
Capítulo 06




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688688/chapter/6

“Rose estava berrando com todas as suas forças, contorcendo-se no berço, implorando por colo. Hermione olhou o relógio.

3:12.

Continuou fitando o nada, ouvindo sua filha descabelar-se de tanto chorar. Ela não sentia forças para nada, não via sentido em nada. Sua tese jazia incompleta na escrivaninha no fundo do quarto quando ela levantou-se e pegou o pequeno bebê, sentando-se na beirada da cama novamente, a embalando, por mais que não sentisse sequer pena da pequena garotinha. Tudo que ela queria era entrar em uma bolha e não sair de lá nunca mais, e que ninguém pudesse acha-la.

Ela sentia uma sensação sufocamento, ansiedade, insegurança. Angustia.

Olhou Rose, vermelha, aos berros.

Continuou impassível”.

Ginevra estava rindo de algo que algum de sua lista enorme de amigos gays dissera no chat. Ela respondeu rapidamente e jogou o celular na cama, pegando um pouco de pipoca no pote no colo de Hermione, voltando a assistir o filme.

— Eu senti tanta falta de fazermos isso. – comentou ela, ajeitando seus óculos. Mione olhou a amiga, sorrindo levemente.

Adorada seu estilo “Annie Hall” e a forma como ela estava sempre rodeada de amigos e familiares, sabendo agradar e dar atenção a todos.

— Eu também. – murmurou Hermione, não envolvida pelo filme.

— O que foi? – Ginny coçou a cabeça ruiva. – Ainda problemas com Rose? Olha, sua filha é um caso perdido assim como James, é curioso como os dois se detestam e são iguais.

— Ela é tão rude comigo. – disse Hermione, sentindo-se mal por falar da filha daquela forma.

— Ela tem quinze anos, Mione, é normal ser uma cadela.

— Ginny!

— O que, não é verdade? Lily já está começando a mostrar suas asinhas para mim, não vejo a hora de cortá-la. – Hermione gargalhou, espalhando-se na grande cama de Harry e Ginny. – É uma fase, vai passar.

— Ela não me odeia só porque tem quinze anos... Ela me odeia porque eu sou negligente como mãe. E ela está certa. – Ginny olhou a amiga, sentindo-se mal por ela.

— Mione, Rose é muito jovem para te entender, ainda mais com o imbecil do Ron por perto. Quando você foi para Washington ele tinha acabado de se internar e queria que você morresse, foi uma época terrível.

Hermione segurou o choro, mas não conseguiu. Ginny sentou-se de supetão, abraçando a amiga, arrependida de ter aberto a boca.

— Não, não chore, eu não quis dizer isso! – Hermione deitou-se no colo de Ginny. – Filhos são ingratos, Mione, você precisa entender... Eles são todos ingratos.

Hermione soluçou nas pernas de Ginny, desabafando pela primeira vez desde que chegara em Londres. Talvez realmente tenha sido um erro ela ter insistido em tentar recuperar o tempo perdido, pensado que, de alguma forma, as decisões dela fossem compreendidas.

Sea Oleena – Mad World

 

“A mulher continuou chorando no banheiro minúsculo, enquanto Ginny mantinha-se encostada na porta, sentindo-se horrível pela amiga. Hermione não conseguia parar de chorar. Ela trabalhou em sua tese por cinco anos, cinco anos inteiros, e com certeza não seria aprovada e não sabia quem culpar.

Transformismo e extinção: de Scamander a Darwin

Tivera cinco anos, bancados por sua universidade, para realizar aquela tese. Claro que eles não souberam que ela conseguiu ficar grávida duas vezes naquele período. E que seu marido estava sempre viajando para algum país para construir uma nova loja, e ela, sozinha, tinha que estudar para sua tese e cuidar de duas crianças pequenas. Ela se saiu bem em seu mestrado, havia acabado de sair da faculdade, acabado de se casar... Estava tudo bem, tudo sob controle.

A tese é, em suma, uma proposição sobre como funciona um fenômeno de interesse. Ela é a resposta para uma pergunta científica e por isso tem a forma de uma afirmação.

Hermione Granger Weasley estava prestes a explicar para sua banca de avaliadores a relação de Charles Darwin, que descobriu a origem das espécies, com Newt Scamander que não só descobriu como tabelou todas as espécies mágicas do mundo bruxo.

Sentiu-se um fracasso da natureza. Ela sentia uma frustração que seria capaz de tirar a própria vida. Como iria ser chamada para palestras se precisava medicar Rose todas as noites, às sete? Como iria realizar o sonho de dar aula na melhor universidade dos Estados Unidos com duas crianças para cuidar?

— Mione, abra a porta, por favor... – ela não conseguia parar de chorar. Ela ia morrer se não chorasse até esgotar”.

Ela abriu mão de tantas coisas por Ron que chegou a um ponto de que, se ela não parasse, acabaria se matando. Não se sentia mais a mesma. Não tinha gosto de ler um livro, assistir uma palestra importante, estudar um assunto complicado. Tudo girava ao redor de fraldas, trabalho monótono e fraldas.

Continuou fitando o filme, soluçando.

O que seria dela se Draco nunca tivesse a apresentado para o Embaixador da ONBU?

...

— Obrigada. – George tragou seu cigarro acendido por Ron e os dois balançaram seus pés no telhado do Gemialidades Weasley, no fim de tarde. A imagem do Beco Diagonal com o sol se pondo era digna de um quadro pintado por Vincent Van Gogh.

Às vezes, quando ele estava com George, ele se perguntava o quanto o irmão gêmeo sentia falta de Fred. Todos os dias. Por todos aqueles anos, a cada segundo. Porque se ele sentia seu peito sufocar pelo menos uma vez na semana, não queria saber como era para ele.

— Heera perguntou de você. – disse George, deitando-se no telha e apoiando-se pelos cotovelos. Ron tragou o cigarro mais uma vez antes de jogá-lo do telhado. – Eu disse que você adoraria uma surpresa.

Ron virou-se para irmão, irritado.

— Qual o seu problema?

— O quê?

— Você a mandou passar em casa?

— Ué, sim.

— Com Hermione lá? – surtou Ronald. George riu.

— Qual o problema? Vocês casaram de novo e eu não fiquei sabendo?

Ron quase arrancou os cabelos, querendo enforcá-lo.

— A questão aqui é que eu não quero nada com Heera! Que inferno, George! – ele socou o telhado, irritado. Seu medibruxo já lhe dissera mil vezes que precisava tomar alguma medicação ou algum tratamento para raiva, mas Ronald nunca ouvia.

O irmão mais velho sentou-se, visivelmente arrependido.

— Ron, você não quer nada com Heera ou não quer nada com ninguém? – o irmão mais novo continuou de costas para ele. – Você realmente vai querer ficar sozinho para sempre? Será que não está na hora de você seguir em frente?

Ele continuou fitando o horizonte, sentindo seu coração desacelerar aos poucos. Fechou os olhos, acalmando-se. Ele não podia seguir em frente porque ele já apostou todas as fichas que tinha em algo que não deu certo. Não estava sozinho, tinha seus filhos. Mas ele sabia que estava ficando velho e não faltava muito para que seus filhos chegassem a idade em que não precisasse dele para nada.

— Já faz cinco anos, Ron. – George apertou seu ombro. – Está na hora.

Após o divórcio, Ronald conseguia contar nos dedos quantas pessoas solteiras ele conhecia, com sua idade. A solidão foi natural para ele. Ele conseguiu ocupar sua mente com outras coisas: Conseguiu executar feitiços de limpeza, parou de dar porcarias para seus filhos comerem e aprendeu a cozinhar, fizera até mesmo um curso para isso. Dedicou sua vida apenas e unicamente para Rose e Hugo, ignorando completamente a vida em que Hermione um dia fora presente.

 Ron pensou em Heera.

Foi babá de Rose e Hugo durante anos. Quase vinte anos mais nova que ele, era um absurdo. Apesar de que ele sempre achara bonito suas características indianas. Esteve lá antes, durante e após o divórcio, um amigo silencioso e transparente para Ron nos momentos difíceis, como sua internação.

Gostaria de sentir por ela pelo menos um terço do que sentiu por Hermione, pelo menos uma amostra. Mas não sentia.

Nem mesmo no lugar mais fundo de seu coração.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É um vício meu imaginar a Ginny mais velha como uma Annie Hall da vida.

Pra quem não sabe, ela é a deusa de um dos filmes do Woody Allen, que tem um estilo quase incopiável de tão maravilhoso: http://m.cdn.blog.hu/sm/smokingbarrels/image/annie_hall.jpg

Espero que tenham gostado...

;)