Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 33
Nosso caminho


Notas iniciais do capítulo

Por mais estranho que possa parecer, pessoas, esse é o último capítulo que escrevi (para quem não sabe ou não lembra, esta é uma história que escrevi há tempos)... Mas eu pretendo escrever mais dois para vocês como desfecho. Espero a compreensão e paciência de todos!



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Deu tempo de fazer umas coisas bem produtivas ontem. Minha mãe pediu pra ajudá-la a arrumar a casa também. Eh, pra eu ser breve... O amanhã chegou! Eu dormi muito mal, mas não é um motivo pra deixar de agradecer, sendo que eu acordei bem e tudo mais. Eu fui ao banheiro, fiz tudo o que tinha que fazer e pronto! A Di já estava arrumada e o Zac tinha saído sem a gente. Ainda era muito cedo.

Fomos andando e vimos Quésia no ponto de ônibus, nos esperando. Ela parecia cansada, muito mais do que o comum.

—O que foi que houve com você?

—Eu não dormi por causa desse trabalho nojento. –ela colocou aquela grande folha enrolada em minhas mãos. –Tira essa porcaria de perto de mim.
—Que pelo menos esteja bonito, porque não dá pra deixar de notar que você se esforçou.

—Eu quis acabar o mais rápido possível...

—Tem certeza que foi só isso que você ficou fazendo durante a noite?

—Eu também andei lendo... E preenchendo aquela revista que você me deu.

—Não precisa se matar só pra saber mais, desse jeito... Porque se você morrer... Não vai dar pra aprender mais nada.

—Descobriu isso sozinho, rapaz?

—Eh... Aquele seu mau-humor de quanto está sonolenta... Quer deitar a cabeça no meu ombro outra vez?

—Eu já estava planejando fazer isso sem você perguntar. –bocejou.

—Hebrom, eu não gosto da sua namorada! –minha irmãzinha falou olhando pra cima.

—Eu também não gostaria... Se ela existisse. –Quésia respondeu.

—Ela é feia e chata que nem a Judi!

—Você provavelmente deve estar falando isso porque não quer perder os seus irmãos... Fica calma, eles nunca te substituiriam por uma garota qualquer.

Olha, não que eu vá substituir minha irmãzinha, mas... A Quésia não é uma garota qualquer, de jeito nenhum. A Di agarrou minha perna, mas, aparentemente, aprendeu a gostar um pouquinho da Qué naquele dia. Ela é mesmo encantadora...

Logo após, nosso ônibus chegou. Eu tentaria fazer amizade com o motorista, já que não o conhecia, mas precisei com urgência me ocupar com outra coisa:

—Qué, precisamos conversar.

—De novo isso, cara? Deve ser a maior besteira, como das outras vezes...

—Eu não quero mais ser seu amigo.

—Mas o quê?!

—Não é que eu não queira, é que eu não posso!

—O quê? O que eu fiz de errado?! Mas e a sua promessa? Está dizendo isso por causa da sua religião?

—Não, você não fez nada. E não tem nada a ver com a minha religião.

Ah... A história de jugo desigual... Eu sei que isso está errado, muito errado... E eu resolvi simplesmente orar e esperar. Até porque eu não conseguiria me apaixonar por alguém que não ama Àquele que eu mais amo na vida...  Eu queria muito que ela conhecesse a felicidade que eu tenho por tê-lO. Se não combinamos e não ficarmos juntos, vai evitar muita tristeza pra Quésia... Nós não vamos brigar... Vai ser melhor pros dois. Mas, voltando à conversa...

—Então o quê?

—Lembra o que eu disse sobre ter um fetiche por você?

—Sim... Era zoeira, não era?

—Não. Acho que não... Bem, era verdade. Isso que eu quis dizer. –segurei o seu queixo e o voltei sua atenção diretamente para mim. –Cortês, eu acho que te amo... Do jeito que te deixa enojada.

—Eu juro que gostaria... –Futuro do Pretérito do Indicativo... Ela não gosta de mim. Bem... Valeu a tentativa... –De saber como reagir agora. –parei de olhar as pintas fofas que ela tem no rosto e olhei seus olhos. Eu não esperava ouvir isso.

—Sei que não deveria perguntar, mas... Você sente a mesma coisa?

—Ahm... Gosto de você... –ela não parecia feliz, muito menos satisfeita, ficava olhando para baixo, parecia amedrontada. –Quer dizer... Pra ficar bem esclarecido... Eu acho mesmo que estou apaixonada por você. –Para a minha surpresa, ela se ergueu um pouco e me deu um beijo no rosto.

Nós dois ficamos sem reação... Eu com cara de bobo, todo contente e ela séria. Não queria que aquele clima de só eu me contentando ficasse entre a gente pra sempre, então tentei aliviar:

—Se não tivesse tanta gente nesse ônibus, acho que eu começaria a correr de um lado pro outro de tanta felicidade!
—Seria uma lembrança idiota demais pra minha primeira confissão. –colocou o rosto no meu peito, fazendo com que sua voz ficasse abafada e me abraçou. Ai, Deus, obrigado, obrigado, obrigado, obrigado!

—Iria ser melhor do que as normais! –mexi em seu cabelo.

—Não sei... Assim já serve. Não gosto desse tipo de coisa, mas, sei lá...

—Eca! –Dileã falou e tapou os olhos. Ela estava ali por perto desde o começo, olhando tudo. Foi uma boa representação do que a Quésia diria se não estivesse tão envergonhada.

Fatos psíquicos de Quésia

Chegamos. Esperei o Salamander levar a sua irmã até sua escola que ficava ali perto. Voltou bem rápido. Dentro da nossa escola, não tinha praticamente ninguém, mas já estava na hora deles começarem a chegar. Hebrom me pediu pra aguardar ali só uns segundinhos e virou o corredor. Eu fiquei muito curiosa sobre o que ele iria fazer, já que não me disse nada sobre.

Quando eu fui olhar, dei de cara com ele comemorando aos pulos. E a peça rara ainda apontava pro teto e dizia “Obrigado!”. Deu vontade de rir, mas eu me contorci internamente pra conseguir parecer indiferente.

—V-Você viu isso...? –ele parou com a “festinha” e me perguntou, bem constrangido.

—Vi...

—Ah... Você me achou anormal demais pra sair comigo?

—Sei lá... Pessoas normais não existem, então acho que não.

—Isso significa que... –ele voltou a vibrar de um modo insano e dessa vez ainda me puxou e segurou pra girar junto. –A plateia vai ao delírio! Aeho!

—Você é insano, cara! –dessa vez, rir foi inevitável.

—Eu sei! Mas você gostou de mim do jeito que eu sou! E pelo que acabou de dizer, não vai desistir por causa disso. –ele disse ainda me balançando.

Hebrom me fez dar uma volta e depois me abraçou por trás. Não sou tão “anti-afeto” no fim das contas.

—Brotei. –Yamada apareceu atrás de nós com fones nos ouvidos e seu celular na mão. –Olá, OTP.

—Que susto, Wendy! –Salamander me soltou.

—Eu vim em paz. Quem não deve, não teme, aibou. Ih... Olha só... Vocês tavam grudados. Kawaizudos. Mas... Não dancem forró assim no meio do corredor. Parem que tá feio.

—Não estávamos dançando nada... –falei fazendo uma expressão facial meio que desnorteada.

—Seja lá o que for. Não te disse que meus shipps sempre davam certo, daarin? –ele aproximou o microfone à boca.

—Tá falando com a Akima? –Hebrom perguntou.

—Akuma. Sim, é ela sim! –o geek parecia super feliz. Eu nunca o tinha visto sorrir antes.

Ele começou a falar com o celular e aos poucos ia ignorando a nossa presença. Deve estar apaixonado. Pelo menos assim ele para de provocar um pouco a Ágata... E... Falando nela... Faz um tempo que não conversamos... Só que se ela não me procurou, não deve estar sentindo minha falta, então... Melhor deixar pra lá.

Fomos à classe. Eu já havia decorado o horário de aula... Seriam dois tempos de Matemática seguidos. Perfeito... A matéria dada foi até fácil. Mas não dava pra eu gostar, era Matemática. Pedi para ir ao banheiro. Eu não estava apertada, nem nada... Só queria dar uma volta pelo colégio e desligar um pouco a cabeça dos problemas... Principalmente os problemas matemáticos, porque ninguém merece. Depois do tour na escola, eu fui até o banheiro.

—Tô com pavor, gente! Esse banheiro tá com um cheiro horrível! Panda, você cagou seu caráter? –era a voz da Bianca. Que, como naturalmente, estava acompanhada de Ariadne e de “Pandora”. Presenciei tudo de longe.

—Haha! Engraçadona você! Não é por nada que usa essa maquiagem de palhaço. –Kyara retrucou o elogio.

—Maquiagem de palhaço? Eu? Ah, tá. Não sou que nem Ari. Sete horas da manhã e ela tá aqui, arrumadinha como se fosse participante de um circo moderno.

—Se toca! Ariadne é linda, feio é o seu recalque. Se fosse o contrário, ela não ganharia aqueles concursos de modelo e você não namoraria aquele gordo do Oglart.

—Vocês duas são podres. –Galvão falou enquanto sorria e passava brilho nos lábios.

—Podre é o que a Pandora fez nesse banheiro! Misericredo!

—Ai, Bia,esse é teu bafo ou você peidou? –Kyara continuou.

—Vai me começar a baixaria comigo? Bem, pelo menos você não saiu espalhando fofoquinha de mim que nem faz com geral. Sinto pena do seu futuro genro.

Eu não estava esperando encontrar aquelas três ali... Muito menos falando daquele modo. Nunca vou entender as patricinhas... De qualquer maneira, entrei no banheiro. Só queria me olhar no espelho, porque já pretendia voltar pra sala.

—Vou reclamar com a Cibele, esse banheiro anda cheio de baratas... –Ariadne falou quando eu entrei no ambiente.

Não vou perder meu tempo discutindo...

—Concordo, acabei de entrar no banheiro e já dei de cara com três... –tá certo, eu não me contive. Precisei insultar de volta. Mas ela que começou... –Falando nisso, vocês não são da mesma sala? O que estão fazendo aqui juntas?

—Primeiro: não é da sua conta. Segundo: Eu não disse aquilo pra implicar. Tenho nada contra a sua pessoa e tal... Mas, me desculpa, há coisas em você que eu não consigo tolerar! Por exemplo: Sua existência.

—Como modelo, você é uma ótima comediante. –respondi e ela pareceu não gostar. Bem... Ninguém gostaria.

—Opa! Barraco! Adoro! –Bianca se mostrou surpresa por eu ainda responder.

—Cala a boca, Bianca. Escuta, Quésia... É Quésia, né? Deve ser. Nome ridículo... Condiz com a sua aparência... Ambos me lembram lixo. Quem escolheu isso pra você te odeia, não odeia? Mas que fique claro que não te odeia tanto quanto eu. Não tenta me provocar, tá bem? Porque eu não sou do tipo que espera animal sair do meio do caminho. Passo por cima!

—Só acho que lixo mesmo são as pessoas que opinam sem pedido. Não sou caixinha de sugestões. Gosto do meu nome, não trocaria pra agradar ninguém. Nem tampouco você. E... Do jeito que você é gorda... Me deu uma baita pena dos animais. –respondi lavando as mãos, literalmente... Às vezes eu não sou muito diferente daquelas garotas de morro que não levam desaforo pra casa... Mas eu só sou assim com quem merece.

Ariadne não era nem um pouco gorda, mas quase toda menina odeia ouvir isso. E pareceu que surtiu efeito. Ao que dava para notar, ela é uma daquelas neuróticas em relação à visual.

—Gordas podem emagrecer... E as sem beleza? Cirurgia plástica é a única resposta cabível pra garotas como você. O irmão do Zacur deve estar super na seca pra te procurar.

—Ari, não fala assim que a Panda chora. –Bianca começou a rir.

—Cala a boca! –Kyara ficou irritada.

—Cuidado pra não quebrar todos os espelhos do banheiro, no total seriam vinte e oito anos de azar, “Quésia”.

—Desde quando você sabe contar? –Bia era a rainha dos comentários zoeiros dali.

Logo depois, as três saíram do banheiro e eu fiquei ali, sozinha. Lavei meu rosto. Eu queria ignorar. Aquelas três são tão bonitas, apesar do temperamento horrível... Especialmente Ariadne. Eu sou feia mesmo e dane-se... Não posso fazer nada.

—Cortês! –era Bianca que havia voltado.

—Que foi?

—Sabe o professor de Geografia? Quando ele dormir na aula, você pode passear o quanto quiser... Por isso que a gente tava aqui.

—Entendi... Por que tá me explicando?

—Eu não sou azucrinante que nem minha irmã...

—Ariadne é sua irmã?!

—Você não sabia? Não te culpo. Eu sou muito mais fina mesmo. Bem, indo direto ao ponto, não leva as coisas que ela disse a sério. Ela e Pandora são duas carrapatas, aí, como a Panda quer ficar com o irmão do Zac e ele é caidinho por você, Ari não vai com a tua cara. E como ela dá muito valor à moda e você falou mal da aparência dela... Fufu! Tendeu? Mas é só por isso...

—Ah... Saquei. Valeu.

—Não fica achando que eu sou maçadora que nem aquelas duas não, hein?! Por favor! A gente não é farinha do mesmo saco. Só ando com elas pra não ficar mal falada. Cê já deve ter notado que a Panda é a maior mexeriqueira da escola. Agora eu tenho que ir... Menti pras duas dizendo que esqueci o rímel perto da pia, elas vão estranhar a demora... Tchau!

—Tchau...

Como deu pra notar, Bianca é um pouco diferente... Menos mal. Vi meu reflexo e comecei a tocar as manchinhas pretas que tenho na cara... Sou muito idiota pras palavras da Ariadne terem afetado meu pensamento, não vou contrapor. O que posso fazer? Palavras têm o poder de afundar pessoas...

O lugar para onde cada frase daquela garota me levou era o grande povoado chamado Inferioridade. Por mais que eu tentasse não dar atenção, todos aqueles insultos penetraram na minha cabeça como balas de uma arma que acabou de ser carregada. Eu simplesmente me odeio. E odeio ainda mais esses meus momentos de crônicas infelizes.

Quando saí, Hebrom estava à porta do banheiro feminino. Suponho que me esperando... Então eu brinquei, tentando disfarçar a melancolia toda:

—Você me persegue?!

—Dessa vez eu só vim beber água. Mas geralmente... Eu te persigo, sim! –ele deu um sorriso meigo. É areia demais pro meu caminhãozinho mesmo. –Eh... Te acho linda, sabia? Apesar disso não ser o mais importante. Você é bem mais que linda. Deus não comete erros, de fato.

—Você ouviu o que elas disseram, acertei?

Sim... Quésia, é evidente que você dá importância ao que as pessoas falam, só não demonstra. Não quero você se ferindo internamente por causa de comentários não pensados. Por acaso, você usa essas ofensas como justificativa pra não ser feliz apesar de tudo, não usa?

—Eu...

—Não tem desculpa, viu só?

—Talvez você esteja certo nesse ponto...

—Precisa distinguir as palavras que te fazem bem pra poder crescer mentalmente... Você será infeliz se ouvir as opiniões conselhos de todo mundo, mas será igualmente infeliz se não ouvir as opiniões e conselhos de ninguém. Acredite em mim... Eu gostaria de poder ter entrado naquele banheiro só pra te dizer essas coisas... –eu não conseguia soltar sequer uma resposta. Então fiquei quieta por um tempo. Depois, ele prosseguiu. –Esses dias que eu passei tentando ser seu amigo, me fizeram notar o quanto você é tão bonita pra eu te merecer...

—Também não precisa mentir pra fazer com que minha autoestima suba.

—Mas eu digo a verdade! Eu tenho muita sorte. Acho você

—Menos melação, por favor.

—“Qual lírio entre os espinhos, tal é a minha querida entre as donzelas.” Cântico 2:2.

—Você ouviu o que eu disse, cara?

—Certo. Desculpe... Mas continua sendo verdade.

—De acordo, de acordo... Opinião não se discute.

Talvez achar que ele é muita coisa pra eu conseguir dar conta seja patético mesmo. Uma vez na vida eu preciso me dar o valor, seja lá em qual aspecto...

—Pois bem... Segure e a minha mão e nós vamos voltar pra sala saltitando que nem um jovem casal de gazelas, pode ser?

—Hã? To fora...

—Ah, vamos lá, eu vi isso num programa de vida animal, foi bonitinho. Você gosta um pouco de “melação”. Não negue.

—Como dito: um pouco. Você é extremista pra tudo! E o que você tá me pedindo pra fazer não é “melação”. O nome disso pode ser “demência” ou talvez até “soltar a franga”, mas “melação”, não.

—Certo, então... Vamos pra sala que nem um par comum e sem graça. –o garoto suspirou e fez um bico.

—Não faz essa cara, não é tão ruim assim.

—É... Você disse que gosta de mim! Não tem como ser ruim. –Hebrom ajeitou meu cabelo pra uma mecha ficar atrás da orelha e sorriu de lado.

—Seja menos clichê.

Seje menas ranzinza! –apertou minha bochecha.

Nós começamos a andar, retornando à classe... Até que ele colocou as mãos nos bolsos e começou a falar:

—Hey, sabia que “Quésia” pode significar perfume?

—Não...

—Posso te dar um cheiro?

—Uau, que cantada horrível, Hebrom! Toma aqui seu prêmio de retardado!

—De jeito maneira... Quero te dar um cheiro. É muito saimento?

—Você imitando nordestino não fica bom não, hein. –ri.

—Só que nordeste é bom, haha! Mas agora... Sério... Quando você acha que vamos nos beijar? Tipo... De verdade? Não, não de verdade... Quer dizer... Na boca? Quando você acha que vamos nos beijar na boca? –fez um semblante pensativo.

—Você pergunta isso na cara dura?! –me espantei e meu rosto queimou.

—Ah... Falei que contaria tudo pra você e que confio em você... –ele enrubesceu. –Não vou mentir... Quero te beijar. Muito.

—SALAMANDER, A GENTE ACABOU DE SE CONHECER! CONTROLE SEUS HORMÔNIOS! OU VOCÊ SUPÕE QUE EU SEJA QUE NEM A MAIORIA DAS GAROTAS QUE SAI PEGANDO HERPES E MONONUCLEOSE INFECCIOSA POR AÍ SEM MAIS NEM MENOS?

—Não! Nunca! Te entendo, mas... O que eu sinto faz mais tempo do que você pensa. É complicado conversar isso com a minha melhor amiga... Bem mais complicado quando ela também é a garota que eu gosto. E eu não quero que pense que vou te agarrar! Não faria uma coisa dessas... Ainda. Também não quero que ache que vou te beijar e depois te abandonar.

Ele evidentemente não faria isso. Ao menos é o que me parece... Porque... Hebrom tem praticamente a mesma altura que eu. Pouquíssimos centímetros a mais. Era só dar dois passos que já estaria me beijando contra a minha vontade... Pelo que parece, ele me respeita.

—EU NÃO QUERO FALAR DISSO! –interessante como ele me faz recobrar a timidez sem dizer ou fazer muita coisa pra que isso ocorra...

—Desculpe se te constrangi... Eu pensei que você não se impressionasse mais com isso.

—TÁ QUERENDO DIZER O QUÊ?! QUE EU NÃO TENHO MATURIDADE?! QUE EU SOU NOVA DE MAIS PRA CONVERSAR SOBRE ISSO?! QUE EU JÁ TENHO EXPERIÊNCIA?! OU QUE A MINHA IDADE É UM PROBLEMA?!

Dizer isso aos berros por esse exato motivo é um pouquinho contraditório. Só um pouquinho... Mas... Não me interessava se era verdade ou deixava de ser. Soou ofensivo.

—Não disse isso, Qué... Você está brigando comigo? –me olhou tristemente.

—NÃO ESTOU BRIGANDO COM VOCÊ!

—Mas você tá gritando...

—NÃO QUER DIZER QUE ISSO SEJA UMA BRIGA! VOCÊ APENAS ME DEIXOU NERVOSA!

—Pode parar de gritar, por favor?... –parecia até que ele iria chorar.

—Tá... –coloquei a palma da mão na testa. –Não vai me pedir pra...

—Não faça nada por pressão. Eu quero que você sinta a vontade que eu tenho. Aquela que você não aguenta ficar sequer um passo de distância e quer sentir nossas respirações misturando...

—Aham, aham, tá bem, chega! Não precisa de detalhes.

—Quésia... Desculpe... Só uma última pergunta... Seria muito desrespeito se fosse francês?

—Francês? Hã? Você não é canadense?

—Não falei de mim... Perguntei se seria desrespeitoso caso o beijo fosse de lí... Espera... Você não entendeu?! E-Esqueça isso! –ele cobriu o rosto avermelhado com uma das mãos. –Meu Deus, me desculpe! Quase tirei a inocência dela... Eu sou um monstro... –sussurrou de maneira quase imperceptível... Pois bem... Eu disse “quase”. Meu ouvido é bom pra coisas que não são da minha conta.

—Esqueço sim, com todo prazer! Você poderia ser um pouquinho menos direto, cara...

—Não consigo. Quando eu amo uma pessoa, não tenho vergonha de dizer. É justamente o oposto. Amanhã pode ser tarde de mais pra contar...

—Ah, sei... Você é um garoto estranho... Tenta ser menos curto e grosso, fazendo o favor...

—Vou tentar. Não toco mais no assunto...

—E... Desculpa por eu ser tão chata e fresca por causa disso... –mirei o chão. –Não tenho nem um pouco de pressa com essa história...

—Você não é chata! Nem fresca! Fico feliz por não ser tão extrovertida assim, porque tudo vai poder ir ao tempo devido. Eu te amo... Bem do jeito que você é.

—Valeu...

Sinceramente, eu não faço nem ideia de como nos gostamos sendo tão diferentes. Aquela história de os opostos se atraírem, pra mim, é a maior abobrinha já plantada. A vida é tão complicada que só de ver tudo muito perfeitinho, já se dá pra desconfiar.

—Quésia... Você já teve namorados?

—Quem me dera! –me voltei pra ele, que se sobressaltou. –N-Não foi bem isso que eu quis dizer... Ahm... Deixa... E você? Teve namoradas?

—Não...

—Jura? Parece até que você manja...

—Não sei aonde... Não sou atraente pras meninas daqui.

—Eu não devo ser daqui...

—Há! Não fala assim, eu vou me achar incrível!

—Mas aí... Vamos ser adultos pelo menos uma vez na vida... Sobre aquela outra pergunta... Você escova os dentes, né?

—Hahahaha! Pra falar a verdade, o tratamento odontológico do Canadá é meio caro... –olhei pra ele igualmente sobressaltada.

—Isso é pra valer...?

—Sim.

—Eu devo gostar mesmo de você pra não me importar.

—Ou talvez você não tenha se importado porque lembrou que estamos no Brasil e que eu uso aparelho.

—Pois é... Talvez isso tenha influenciado um pouco também. –ele fez uma careta e segurou minha cintura enquanto fomos apertando o passo pra chegar até a sala.

Nós acabamos demorando. Quando entramos na classe, já era aula de História. A professora só perguntou onde nós estávamos, então dissemos a verdade e explicamos que o outro professor tinha deixado. Não foi nada surpreendente e ela não quis perder mais tempo tocando na trama. Sorte.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam da história?
Espero que gostem do final que está por vir.



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