Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 21
Minha intuição


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelos séculos sem postar... Eu pretendo postar alguns capítulos hoje para compensar vocês. Espero que não se incomodem de ter ficado acumulado desse jeito.



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Fatos psíquicos de Hebrom

Meu Jesus, obrigado por ela ter aceitado! Linda... Muito linda, mais linda que o normal! Com um sweater azul e vermelho e um chapéu cloche branco, uma bolsa e sapatilhas pretas e calças brancas... Eu nunca vou me esquecer disso! Mas não estava apenas linda, ela estava maravilhosa também... E perfeita... E incrível... E fofa... Eu já disse que ela estava linda? Só Deus mesmo pra ter feito um ser humano daqueles... Porque, sinceramente! Eu estou me segurando pra não pedi-la em casamento agora... Ainda não tenho certeza de que ela é a pessoa certa.

Quésia segurou minha mão na hora que eu a soltei... Eu fiquei surpreso, mas muito feliz. Ela não tem medo de mim como eu havia pensado! Meu pai parece ter isso com a cara dela. Nós estávamos quase chegando. Tomara que ela se divirta lá tanto quanto eu!

Quando nós chegamos, a primeira pessoa que cumprimentou a Qué (depois das recepcionistas), foi a minha irmã.

—Essa é a sua namorada, Brom? –ela perguntou olhando pra cima. –Não é bonita do jeito que você falou.

Eu arregalei os olhos. Que vergonha... Não acredito que a Dileã disse isso.

Fatos psíquicos de Quésia

A irmã do Salamander tinha as covinhas mais adoráveis que eu já vi e é completamente sem escrúpulos.

—Hahaha! É um prazer. –respondi depois dela me chamar de feia.

—Seja educada... –Hebrom sussurrou.

—Essa pirralha ser educada? Meio difícil, não? –Zacur surgiu e deu um tapa na cabeça dela.

—Para! Eu vou falar pra minha mãe! –Di choramingou.

—Ah, para de ser chata. Nem machucou. Enfim, Hebrom, Quésia, estamos esperando vocês lá na classe. Valeu? Falou.  –ele virou as costas e foi embora.

Eu nunca tinha visto o Zac sem boné o cabelo dele é... Ah, não... Eu não pude deixar de encarar.

—Qué, o que foi? –o Hebrom percebeu que eu estava em transe.

—Nada, nada...

Nada mesmo... É só que eu achei que o seu irmão fosse uma menina quando vi vocês no ponto de ônibus pela primeira vez, apenas isso... Mas eu não vou dizer nada porque não quero que ele sofra bullying por ter um cabelo castanho escuro um pouco mais longo do que os meninos normais... Eu sou muito lerda mesmo.

Salamander agarrou a minha mão e me levou para não sei aonde, dizendo que sua tia estava louca pra me conhecer. Fui colocada na frente de uma mulher negra, com Black Power, uma blusa branca e uma saia florida que ia até os pés. Sem querer puxar o saco, mas... Era a mulher mais bela que eu já tinha visto.

—Que graça! Essa é a tal menina? Aprovadíssima! –ela apertou a minha mão.

Eu não fazia nem ideia do que dizer...

—Bem... Quésia, essa é a Tamaris, minha tia. E tia, essa é a Quésia, minha... amiga.

—É um extremo prazer te conhecer! Se você for só metade da pessoa que o Hebrom disse, eu já quero você fazendo parte da família! –no momento em que ela disse isso, eu vi que o Salamander havia ficado tão enrubescido que até os tomates ficariam com inveja.

—Pois ela já faz parte! É como uma irmã pra mim. –ele falou sorrindo meigamente. Minhas expectativas de relação foram lá pro centro da Terra.

—Você sabe muito bem que não foi isso o que eu quis dizer, sobrinho! –a fala da moça fez o garoto dar um longo suspiro e dizer:

—Eh! Já entendi! Eu não vou ficar envergonhado!

—Já está... –meti a colher.

—Você não tá ajudando, Qué.

—Foi mal...

—Como eu ia dizendo, eu não vou ficar envergonhado. Eu sei que você quer que eu fique vermelho só porque acontece fácil em situações assim! Isso é racismo, tá?! –ele disse em tom de brincadeira, mas logo depois seguiu sério. –Mas eu digo sem acanhamento nenhum que se uma garota como ela fosse minha namorada, eu ficaria muito feliz. Agora a gente precisa ir, porque nós não viemos à igreja pra você ficar profetizando relacionamentos, tia... Vem, Quésia! –ele tentava se manter centrado e foi andando como se nada tivesse ocorrido.

—Ele não fica encantador quando constrangido? –Tamaris abaixou um pouco e disse ao meu ouvido, rindo.

—Isso não o deixa zangado?

—Zangado? Não. Porque tá mais do que incontestável que ele ama a senhorita. Acho melhor você ir com ele. Tchau, tchau, flor!

Engoli a seco quando ouvi... Tipo, no máximo eu tenho uma queda por ele... Mas não acho que vá dar certo, já que ele é crente e eu nem sei o que sou. Quando é assim, na maioria das vezes, dá uma treta maligna.

Segui o garoto, ele entrou numa sala que tinham vários adolescentes e um adulto. O adulto era quase tão branco quanto o Salamander. O mesmo disse o que eu já esperava:

—O professor da classe também é meu tio.

—Todo mundo por aqui tem parentesco com você?

—Hahahahaha! Não, não! De parente por aqui, só falta te apresentar a minha mãe.

—Oi, seja bem-vinda! Me chamo Leonidas... Mas pode chamar só de Leone, e você é a...? –o homem veio até mim sorrindo.

—Quésia.

—É um prazer! Fique a vontade, tá? Aqui todo mundo é amigo. –deu uma piscadinha e foi pra frente da sala. –Bom dia, povo! Fiquem em silêncio por favor, a Naomi vai fazer os apontamentos.

Todos ficaram calados. A Carter acenou pra mim quando me viu e começou a fazer perguntas como “Quantos estudaram a lição diariamente?”, “Quantos visitaram alguém?” e outras perguntas que me deixaram ainda mais confusa sobre o que eles realmente faziam naquela tal classe. Depois ela saiu recolhendo dinheiro de quem quisesse dar... Não gostei muito dessa história. Eu reconheci algumas pessoas dali. Além da Naomi, eu reconheci o Jamal e o Wendel ali. Fiquei um pouco surpresa, porque tipo... O WENDEL numa IGREJA. Não acho que combine, mas eu não tenho que me meter.

Ao acabar, um menino com a cabeça raspada apresentou a “carta missionária”. Era a história de um guri de um país aí que eu esqueci o nome. Ele era o único aluno decente da sala de aula, porque todos os outros eram arruaceiros... E isso fez a professora se aproximar dele e isso foi uma oportunidade para ele falar de Deus pra ela... Foi uma história atrativa até...

Depois, o Leone perguntar sobre o que se tratava a lição dessa semana. Responderam que era sobre as influência de anjos sobre o mundo, anjos bons e maus. Nisso, ele pediu três voluntários, mas nenhum se mobilizou.

—Vamos lá, gente! Vocês sabem que eu não zoo ninguém! –ele disse, todos se entreolharam e começaram a rir. Boiei. –Certo, já que ninguém se oferece, eu vou escolher. –no momento em que ele disse isso, o Hebrom deu um suspiro e se levantou. –Isso que é macho! Zac, chega aqui pra dar apoio ao teu irmão.

—Tá brincando, né, Leo? –Zacur olhou torto pro seu tio.

—Não. Aproveita e traz o Wendel com você. –o geek, que mexia no celular naquele mesmo instante, arregalou aqueles olhos puxados o máximo que pode pro professor da classe. –Anda, gente! Fazer isso vai ser moleza pra vocês.

—Que seja... –os outros dois disseram simultaneamente.

—É simples: Eu quero que um de vocês finja ser um anjo mau, outro finja ser um anjo bom e o outro vai ser o ser humano. Os anjos vão ter que convencer o humano a fazer o bem ou o mal, dependendo de qual anjo seja... Deu pra entender? –os três balançaram a cabeça, concordando. –Tem certeza que entendeu, Hebrom?

—Sim, tio...

—Ótimo. Podem começar!

—É... Vamos à igreja? –o de olhos verdes falou com o Yamada, que não parecia nem um pouco animado com a ideia.

—A gente já está na igreja... –ele respondeu.

—Que igreja o quê! Vamos sair daqui, conheço lugares muito mais legais! –Zacur colocou a mão no ombro do japa enquanto fazia uma voz que tentava parecer ameaçadora. Boa parte da classe riu.

—Deus não vai gostar nada disso... –Hebrom comentou.

—E Deus existe, por acaso? Tem como provar? –fez o geek, procurando ficar neutro.

—Não, não tem! Olha pro estado do mundo! Só se ele estiver dormindo ou até mesmo morto! –Zac falou encenando a maior convicção do mundo.

—Sim, tenho como provar: Você não é um acidente! E claro que não está! –seu irmão interveio.

—Qual a diferença de estar e não estar? Ele não liga pra você! Você veio de uma explosão! BOOM! –o “anjo mau” simulou com as mãos. –Agora vamos sair e usar drogas.

—Nada a ver! Você veio do pó e... –o “anjo bom” ia defender sua tese, mas foi interrompido.

—Exatamente! Você veio do pó! DO PÓ! –Zac fez como se estivesse inalando crack.

—O mundo não vai te fazer feliz!

—Como você vai saber se não experimentar, Wendel?

—Leia a Bíblia e você vai ver que Deus se importa com você e que Ele é o melhor caminho pra se seguir.

—Eu já li esse livro de ficção! Quer spoiler? Todo mundo morre no final, não tem graça nenhuma! E pra que ler a Bíblia quando você pode jogar vídeo game?

—Opa, opa, opa, tocou na ferida. –Yamada foi virando o rosto pra Zacur.

—Leone, isso é justo? –levantei a mão e perguntei.

—Bem, Quésia, não é uma questão de justiça, mas mostrando que ele usa os artifícios que possui. Ele é o anjo mau, não é?

—Vídeo game não vai te dar vida eterna, Wendy... –Hebrom persistiu.

—Quem precisa de vida eterna quando nós podemos nos divertir ao máximo por aqui? O Céu nem deve ser divertido mesmo! Vamos pegar umas minas! Mas se você quiser ir pra lá, faz o que você quer agora, depois pede desculpas quando ficar velho.

—O salário do pecado é a morte, se arrependa enquanto dá tempo! Nada vai poder preencher o vazio que vai ficar no coração de Deus se você não for morar ao lado dele!

—Já que o salário do pecado é a morte e você é um pecador... Deus não vai te perdoar! Vá em frente e peque! Se divirta! Não vai fazer diferença pro cara lá de cima.

—Ele entregou Seu Filho por você, você acha mesmo que Ele não perdoaria? Acha mesmo que Ele faria uma coisa dessas por nada? –o geek ficava olhando o debate dos dois irmãos como se assistisse a um jogo de tênis.

—Olha quantas pessoas há no mundo! Você acha mesmo que Ele vai lembrar de você?! Me poupe! Você é um lixo muito arrogante, sabia? Gosto disso em você!

—Valeu, cara. –Wendel apertou a mão do Zac.

—Deus ama você do jeito que você é! Pobre, miserável e pecador, do jeito que você está.

—PECADOR! Você ouviu? Deus ama todo mundo mesmo, então vamos pra balada. Eu conheço uma galera do mal que você vai amar as piadinhas blasfemas. Relaxa, vai todo mundo pro Céu mesmo, não é? Afinal, Deus é bom! Deus é Pai!

—Eu acho que já está bom, gente. Obrigado. –Leonidas os fez tornar aos respectivos lugares. –Vocês viram, pessoal? Influenciar para o mal parece ser bem mais fácil, não? O diabo faz parecer que as coisas ruins que acontecem são culpa de Deus, os anjos maus nos induzem a fazer coisas horríveis. E como muitas pessoas os escutam, o mundo está esse caos. Deus nos deu liberdade pra fazermos o que quisermos, mesmo que o nosso desejo seja não segui-lo e fazer o mal, porque Ele não tem gosto por obediência escrava.

Na rebelião do Céu, Ele não exterminou o mal logo de cara porque senão os anjos pensariam que a cada um que fosse contra Deus, Ele mataria. Serviriam mais a Deus por medo do que amor. Por isso, Ele está permitindo que o pecado e Lúcifer mostrem seu verdadeiro caráter. Nós podemos acreditar no que quisermos, mas a verdade é só uma... Nós podemos fazer o que quisermos, mas no fim, todos nós vamos colher o que plantamos. Vocês podem ver também que boa parte das religiões procura teorias que tenham justiça no final... E nós sabemos que realmente vai ter. –concluiu.

Houve alguns debates e perguntas na classe. Parecia que cada um deles estava muito feliz com aquilo. Eu acabei me contagiando pela animação, mesmo não acreditando na mesma coisa. O que eles diziam, apesar de incomum, era coerente... Pelo menos a parte que eu consegui entender.

Salamander me levou para dentro da igreja, dizendo que o culto já iria começar. Entramos e eu percebi que todas as mulheres estavam com saia ou vestido e nenhuma usava chapéu... Mas eu não vi ninguém me julgando de longe... As pessoas foram bem simpáticas comigo. Quando sentamos, apareceram dois homens recolhendo dinheiro novamente. Nós sentamos bem na frente e eu me arrisquei a perguntar:

—Por que recolher dinheiro? E, além disso, por que duas vezes?

—É que a oferta lá de fora vai pras missões fora do país. O dízimo é daqui de dentro tem várias partes, uma delas é pra pagar as contas da igreja e tudo mais. O que temos pertence a Deus. E Ele também pede pra fazermos esse voto de confiança, pro dinheiro não ficar acima dEle. Até porque, Ele obviamente não precisa do nosso dinheiro. Aliás, também é intensamente gratificante saber que você está ajudando alguém, mesmo que essa pessoa nem sabe quem é você. –sorriu.

Bem... Pra ele saber que está ajudando, tem que ter alguma prova. Se ele tem contato com o resultado, talvez não seja roubo do jeito que eu pensei... Eu estava exausta, já que eu costumo dormir até tarde aos Sábados e o Hebrom acabou se notificando disso.

—Tá cansada? Apoie a cabeça aqui... –ele apontou para o próprio ombro.

Agarrei o braço dele e segui o seu conselho. Agora que eu poderia até tirar um cochilo, o sono foi embora... Típico. Então eu fiquei olhando para quem fazia anúncios lá na frente. Depois de alguns minutos Salamander se levantou.

—Vai lá fora?

—Não. –falou rindo.

E com isso, eu concluo que ele foi sentar em outro lugar e me deixou ali sozinha. Anunciaram uma música especial lá na frente e o coisado do Hebrom pegou o microfone. Bem que ele podia ter me avisado que ia cantar...

A voz dele era linda. Nem dava pra notar que era gringo. As melismas que fazia eram perfeitas. Conseguia elevar o tom sem vulgaridade. Eu realmente me surpreendi ao descobrir que o Wendel Yamada tocava teclado na igreja. Foi um belo de um choque... Mas que ele tem uma agilidade com os dedos, isso é fato... Só não pressupus que ele fosse fazer bom uso disso. Eu preciso muito parar com esses preconceitos.  Enfim... O coro cantou uma parte da música também. Ficou incrível. Mas a letra da música falava de um homem inocente que morreu de forma injusta e a culpa era dos membros da igreja... Coisa esquisita. Algumas pessoas choravam enquanto ele cantava, outras sorriam, outras cantavam junto... O homem era Jesus. Esse nome me era familiar, mas eu não sei da história. O máximo que eu aprendi foi que ele nasceu no Natal. Quando eu chegar em casa, procuro se conseguir rememorar. Obviamente, tem alguma coisa a ver com Deus.

Logo depois da música ele voltou e eu comentei:

—Você podia ter me contado.

—Não seria tão divertido! O que você achou?

—Lindo. Por que você não participa do coral?

—A dicção...

—Estava ótima. Mas por que você não participa do coral?

Ele respondeu gargalhando:

—Eu quero! Só que não sei se eles iriam me aceitar...

Fiquei com medo de questionar... Ele sentou bem perto de mim outra vez.

—Ainda está cansada? –ele perguntou.

—Não! Depois que você cantou, eu estou com medo de perder qualquer coisa. –Salamander achou graça do que eu disse.

Um homem foi à frente e contou a história de Jesus e o propósito da morte dele... Por um momento, eu senti a alegria de imaginar alguém dando a vida por mim e ressuscitando, prometendo voltar pra me buscar... Só que a ficha caiu. Parecia tudo mágico e bom de mais pra ser verdade. Porém, dava pra entender bem a razão da aparente felicidade daquelas pessoas. Queria que o Hebrom parasse um pouco, dissesse seu ponto de vista e desse a oportunidade de expor o meu...


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Notas finais do capítulo

Desculpem mais uma vez!



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