O conselheiro amoroso. escrita por Mical


Capítulo 7
5° dia - Dane-se as qualidades, apenas seja você mesma.


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui nas notas iniciais!

Esse é o último capítulo de "O conselheiro amoroso" (já posso começar a chorar?). Por isso quero aproveitar a oportunidade para agradecer a todas vocês pelo imenso carinho que demonstraram tanto para a fanfic quanto para mim. Essa foi a minha primeira fanfic na categoria Arrow (e já fazia muito tempo que eu não escrevia fanfics) e eu fui muito bem recebida por todas vocês, então eu só posso agradecer por isso.

Quero fazer um agradecimento também para as seis garotas que recomendaram a fanfic: Karly, Queen With WiFi, Bella Blake, Tynne Queen, Clarice e Liane. Com um agradecimento especial para a Clarice e a Liane que recomendaram a fanfic nessa última semana. Se alguém for recomendar a fanfic depois de concluída, eu agradeço desde já também.

Quero agradecer aos 33 favoritos que a fanfic recebeu até agora e que ainda vai receber se alguém for favoritar. E quero agradecer muitíssimo aos comentários que me animavam e me incentivaram a escrever essa fanfic até o final. Também agradeço aos mais de cem fantasminhas que acompanharam a fic e leram até o final.

Algumas pessoas me perguntaram se eu vou escrever outra fanfic olicity, a resposta é um sonoro sim! Eu queria postar o prólogo da minha próxima fanfic antes de concluir essa, mas tenho um problema criativo e só vou conseguir me concentrar direito para terminar o prólogo da próxima depois de concluir essa. Então fiquem de olho que não vai demorar a sair fanfic nova, o título e "O do contra", e teremos Oliver Queen como arqueiro nessa fanfic!

É isso, baby's. Eu estou me despedindo de vocês e da fanfic aqui. Se alguém ficou curiosa para saber qual seria a última qualidade, esta seria "Útil". Espero que gostem desse último capítulo, eu tinha planejado muitas coisas para ele, como por exemplo a Fel descobrir que a "história do Ray" que o Oliver contou era em parte dele, mas eu não consegui encaixar em nenhuma parte.

Obrigada a todas e todos mais uma vez.

*By Mical*



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Oliver não apareceu às cinco da manhã como sempre. Isso era óbvio. Mas mesmo assim eu acordei automaticamente nesse horário, talvez com um fio de esperança que ele aparecesse. "Para quê?", minha mente questionou, "Você disse que não queria mais os conselhos dele na noite anterior". "Mas acontece que eu quero vê-lo", respondi pra minha mente, "Por que sou uma maldita apaixonada que não consegue pensar em outra coisa a não ser em Oliver Queen".

Isso tudo era uma droga.

Eu não acordei cinco da manhã durante muitos dias para que meu relógio biológico ficasse programado para esse horário. Mas mesmo assim eu fiquei lá, no fim da madrugada, olhando para o teto sem conseguir dormir novamente. Até que resolvi levantar para fazer justamente nada. Quando finalmente deu o horário para que eu fosse para a Palmer Tech, eu insisti em olhar na direção onde o carro de Oliver sempre ficava estacionado, e é lógico que ele não estava lá. Mas parece que meus sentidos não entendiam que eu não voltaria a ver Oliver, pois eles insistiam em relacionar tudo e todos aquele maldito bonitão.

Era sábado e por isso a empresa estava menos movimentada do que o normal. Eu não deveria estar trabalhando, mas a minha mente precisava focar em alguma coisa a não ser em Oliver, então resolvi que aquele sábado seria cheio de atividades. Por enquanto, o trabalho era o único na minha lista, mas eu pensaria em outra coisa. Além disso, eu tinha o trabalho acumulado de sexta então eu tinha mais o que fazer.

Ray não apareceu às 8:30h como sempre. "Porque é sábado", minha mente ironizou. Se eu não dependesse da minha cabeca para viver, eu daria um tiro nela.

Suspirei enquanto fazia um avião de papel. Ainda não eram nem dez horas quanto todo trabalho que eu tinha acabou e eu infelizmente estava com o resto do sábado livre. Eu poderia ir embora, tentar voar me jogando do topo de um prédio ou me envenenar com esmalte para tirar o tédio, mas eu ainda precisava falar com Ray. Na noite anterior eu saí do leilão sem dar ao meu chefe nenhuma justificativa, e eu ainda precisava inventar uma desculpa antes que ele chegasse.

Joguei o avião para o ar, mas como eu sou formada em T.I e não em engenharia aeronáutica, o avião virou o bico para o chão e se espatifou assim que eu o joguei. Pobre avião, não fez nada que merecesse esse destino. Talvez eu devesse me jogar e espatifar a cara no chão por ser tão estupidamente confusa e não conseguir decidir se procurava Oliver para conversar ou não.

Suspirei mais uma vez. Eu me odeio.

— Você parece triste. — ouvi uma voz masculina grave falar.

Levantei os olhos para Diggle, motorista pessoal do Oliver, que estava parado um pouco depois da porta do elevador.

— Esse elevador é restrito. — murmurei. — Como conseguiu acesso à ele?

— Eu tenho meus contados.

Não pude deixar de perceber que ele usou a mesma frase que Oliver usou dias atrás.

— O que faz aqui, Diggle? — perguntei cansada. Eu estava fazendo um grande esforço mental para não pensar em Oliver, aí o motorista pessoal dele resolve me fazer uma visita!

— Vim conversar com você. — explicou ao se aproximar.

— Se for sobre Oliver não se dê ao trabalho. — resmunguei.

— Você tem certeza? Porque eu tenho a impressão de que é justamente sobre ele que você precisa conversar.

Fiz uma careta ao mesmo tempo em que ele cruzava os braços, me desafiando a discordar. As palavras que troquei com Diggle nesses últimos dias não passavam de meros cumprimentos, mas ali estava ele, querendo conversar comigo sobre o seu chefe como se me conhecesse a anos. Ele até parecia o meu pai. E, mesmo sabendo de tudo isso, eu sentia que podia confiar em Diggle, assim como eu sentia que podia confiar em Oliver.

— Sente-se, por favor. — apontei para a cadeira a minha frente.

Contente, Diggle fez o que eu pedi. Mas ao contrário do que eu pensava, ele apenas ficou sentado me encarando, como se esperasse eu começar a falar. Espera, não era ele que queria falar comigo?

— O que foi?

— O que aconteceu entre você e o Oliver? — perguntou se recostando na cadeira.

Sério, Diggle? Você fez todo esse percurso até a Palmer Tech para me perguntar isso?

— Não era mais fácil perguntar isso à ele? — questionei aborrecida.

— Eu já ouvi a versão dele, agora que quero ouvir a sua.

— Porquê?

— Porque do jeito que ele me falou parece que ele tem razão. — explicou sorrindo. — E como é muito raro o Oliver ter razão, eu quero ouvir a sua versão do que aconteceu.

Franzi o cenho. O Oliver ficava contando as brigas e os problemas que ele tinha para o seu motorista? Parecia aquelas mulheres fofoqueiras que falam tudo para as manicures no salão de beleza.

— Qual é a versão do Oliver? — questionei curiosa.

— Comece a falar, Felicity.

— O que você quer que eu fale? — me aborreci. — Eu contratei um conselheiro amoroso e acabei me apaixonando por ele. Só que esse conselheiro não segue os próprios conselhos e transa por diversão. Além de que ele faz uma mulher fingir ter cinco qualidades, quando na verdade mudar o ponto de vista dos homens seria bem mais fácil. O que mais você quer que eu fale?

Diggle sorriu. Ele sorriu! Como ele pôde sorrir? Eu estava preste a mandar ele e o seu chefinho pro inferno, mas aquele sorriso me impediu. Era um sorriso de quem tinha entendido tudo, como se ele estivesse vendo as coisas de um ponto de vista diferente.

— Oliver me falou que te contou o que motivou ele a se tornar um conselheiro amoroso. — comentou.

— Sim. E daí?

— E daí que ele nunca falado isso para ninguém, nem para mim. — afirmou sincero. — Não me entenda mal, eu conheço Oliver desde que ele tinha quinze anos e então eu obviamente sabia o que motivou ele a levar a vida que tem, mas eu sei porque eu descobri e não porque ele me contou. A única pessoa que ele falou sobre esse assunto foi com você.

— E eu deveria me sentir especial por isso? — levantei uma sobrancelha.

— Não deveria. Deve.

Engoli em seco com a confiança que Diggle demonstrou a falar. Ele estava me dizendo que Oliver realmente se importava comigo? Eu não me deixaria vencer tão fácil.

— Mas eu não me sinto assim... — olhei para o chão.

— Me escute, Felicity. — pediu ao se inclinar para frente. — Depois da morte de Tommy, eu sou a única pessoa que o Oliver pode chamar de amigo, e eu o conheço como a palma da minha mão. Mesmo assim, Oliver raramente me escuta as minhas repreensões, ele é teimoso como você. Mas ele te escutou.

Levantei meus olhos para ele.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que Oliver Queen não é mais um conselheiro amoroso. Ele viu que você tinha razão no que falou.

— Espera aí... — franzi o cenho. — Eu lembro muito bem de você dizer que Oliver tinha razão quando entrou aqui.

— E ele tem. — confirmou.

— Eu não estou entendo...

— Oliver me disse que queria que você tivesse levado em consideração os sentimentos dele antes de afastá-lo. E ele tem razão, você deveria ter feito isso.

Pisquei em sua direção, atordoada pelas suas palavras. Eu abri a boca para responder, mas Diggle não me deu a oportunidade:

— Como eu já disse: eu conheço Oliver como a palma da minha mão. — começou. — Quando seus "amigos" insistiram para que ele terminasse com a Laurel, eu, assim como o Tommy, insistimos para ele não fazer isso. Mas ele é teimoso, como eu também já disse. Oliver amadureceu muito de lá pra cá, você não pode julgá-lo pelo o que ele era. As pessoas mudam, Felicity.

— Não estou julgando ele apenas pelo passado dele, Diggle. — contestei.

— Eu sei disso... Mas agora eu quero que você escute o que eu tenho a dizer: Como alguém que acompanhou tudo de perto, posso dizer que o período que a Laurel morreu foi o mais sombrio para Oliver. Não posso imaginar a dor dele por nunca ter dito que a amava e ele te falou que isso o motivou a ser um conselheiro...

Concordei com a cabeca.

— ... Sabemos que essa não foi a melhor decisão que Oliver tomou na vida. — continuou. — Mas você pode realmente julgá-lo, Felicity? Ele estava sofrendo, ele está sofrendo. Todos nós quando estamos passando por situações ruins temos a tendência de não fazer a melhor escolha.

Engoli em seco mais uma vez. Eu não podia negar que as palavras de Diggle me abalaram.

— Mas e quanto a vida que ele leva? — murmurei. — Há realmente uma justificativa para isso? Nunca dormir duas vezes com a mesma mulher?

— Não tem como o Oliver ter razão nesse caso. — admitiu. — Ele mesmo não sabe porque faz isso, mas eu sei. Oliver tem medo de se apaixonar novamente e sofrer de novo. É até engraçado, porque ele acabou se apaixonando pela última pessoa que esperava se apaixonar.

Soltei o ar preso em meus pulmões.

— Não está falando de mim, está? — perguntei descrente. Diggle não esboçou reação alguma. — Oliver não está apaixonado por mim.

— Oliver contou pra você algo que ele nunca havia contado pra ninguém, Felicity. — contestou. — Não tinha quem fizesse ele para de falar de você. Você deixava ele fascinado. Se isso não for paixão, eu não sei de mais nada.

— Se o que você disse for verdade... — falei lentamente. — E o Oliver realmente tem algum sentimento por mim... Ele deveria falar isso, não concorda?

— Tem razão. — sorriu. — Mas você deu uma oportunidade para que ele falasse?

Encarei o chão. Diggle tinha razão, no final das contas... Na noite passada a única coisa que Oliver e eu fizemos foi discutir, e o único motivo que fez eu ter confessado meus sentimentos por Oliver foi porque ele me deu a oportunidade. Mas eu não. Eu só fiz acusá-lo e mal deixei que ele se justificasse.

Encostei-me na cadeira, totalmente atordoada por minha falta de maturidade. Mas também totalmente esperançosa pela simples possibilidade de Oliver corresponder aos meus sentimentos. Diggle pareceu ler os meus pensamentos, pois deu a conversa por encerrada ao se levantar e caminhar em direção ao elevador.

— Ah, Felicity! — se voltou para me encarar quando as portas do elevador se abriram. — Se for procurar Oliver, ele está na QC no andar da presidência. Vou avisar a recepcionista para deixar você entrar caso decida aparecer.

[...]

— O leilão consegui arrecadar.... Droga, quanto o leilão conseguiu arrecadar? — murmurei pra mim mesma afastando o teclado de mim.

Eu estava à meia hora tentando — em vão — fazer um relatório financeiro do leilão de sexta a noite. Porque alguém me pediu? Não, porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu teria que fazer esse relatório. Mas mesmo com praticamente todas as informações colocadas num papel que parecia estar me encarando, eu não conseguia prosseguir além da primeira linha. E o motivo de tudo isso? Um certo loiro alto com genes de grego e um certo motorista dele que me falou palavras que eu não gostaria de ouvir, mas que foram necessárias.

— Felicity? — ouvi a voz de Ray me chamar.

Levantei os olhos na direção da voz, encontrando Ray me encarando da porta da sua sala. Quando foi que ele chegou?

— Sr. Palmer...

— Ray. — corrigiu. — Pode vir até a minha sala? Preciso falar com você.

Concordei com a cabeça, me levantando prontamente. Era agora que eu ia ser demitida por ter saído do leilão sem avisar nada, ainda por cima com o vestido rasgado e o terno de Oliver Queen?

— Ray, sobre ontem... — comecei ao sentar na cadeira que ficava de frente para a sua mesa.

— Não se preocupe com ontem. — sorriu, se encostando em sua mesa. Essa pose fica muito mais bonita quando é Oliver que faz. — Ouvi falar que seu vestido tinha rasgado. A sua sobrinha fez questão de dizer.

Opa! O que Carolina sabia sobre isso? Ray pareceu ler meus pensamentos.

— Ela aparentemente viu você saindo do leilão. Você deveria ter me avisado para que eu pudesse ter levado você pra casa. — repreendeu.

— É... Eu... — umideci os lábios para dar tempo de inventar alguma coisa. — Eu tropecei e o vestido acabou abrindo uma pequena brecha. Eu sabia que o leilão ainda estava no começo então eu não quis tirar você de lá.

Dei um sorriso amarelo para validar a mentira descarada, mas Ray pareceu ter comprado essa historia, já que seu habitual sorriso de canto surgiu em seus lábios.

— Eu entendo a sua preocupação, mas havia algo que eu queria te falar.

Ai Deus...

— ... Eu sei que você é minha secretária, e que isso a política da Palmer Tech não permite relacionamentos entre funcionários.

— Mas você é chefe, não é? — o interrompi em tom de brincadeira. Meu coração começou a bater forte em nervosismo automaticamente.

O sorriso dele se ampliou ainda mais.

— Sim, eu sou o chefe então posso mudar a politica da empresa. — entrou na brincadeira. — Mas como eu estava dizendo... Eu tenho te observado nesses últimos dias e, Felicity, eu me vi apaixonado por você desde o momento que você entrou na minha sala para a sua entrevista.

— Desastrosa entrevista. — corrigi, me recusando a deixar o meu nervosismo me paralisar de medo.

Ray riu.

— Um bebê tinha vomitado na sua camisa. — lembrou.

— E eu tive que jogar aquela camisa fora, não tinha sabão que tirasse aquele cheiro. — revirei os olhos. Apesar da minha postura tranquila eu estava no ponto de desmaiar. — Mas você estava dizendo...

Ray engoliu em seco, desmanchando o sorriso antes de continuar a falar:

— Eu me apaixonei por você desde o dia daquela entrevista, mesmo desastrosa. — afirmou olhando em meus olhos, sincero. — Foi por isso que, apesar de você não ter qualificação nenhuma para secretariado, eu te contratei.

Desviei os olhos do dele, eu tinha uma teoria muito diferente do porquê ele me contratou. Parece que eu estava errada.

— E você era fascinante pra mim Felicity. Voce é fascinante. E eu quero que saiba dos sentimentos que tenho por você.

— E porquê você está me dizendo isso só agora? — não resisiti em perguntar. — Eu sou sua secretária à anos, porque não me disse antes?

— No começo eu achava que você não era o tipo de mulher que eu queria pra mim. — explicou num sorriso. — Mas nesses últimos dias eu vi que você é exatamente a mulher pra mim. Você é perfeita pra mim, Felicity. E é por isso... — ele se afastou da mesa, parando bem na minha frente para me olhar nos olhos. — ...que eu queria saber se você gostaria de sair para jantar comigo. Um encontro oficial.

Arfei incrédula. Eu mal escutei o que ele falou depois que ele disse que era apaixonado por mim, mas que só nos últimos dias decidiu avançar um passo. Ou seja, eu e Ray éramos como Oliver e Laurel. Ray já tinha sentimentos por mim, mas ele achava que, por causa da minha personalidade, eu não era o tipo de pessoa para ele. Ray tinha o mesmo conceito de 'mulher perfeita' que Oliver tinha. Por isso que só depois de eu demonstrar as cinco qualidades é que Ray decidiu falar dos seus sentimentos.

Isso parecia errado para mim. É como se as pessoas não tivessem defeitos. Todos temos defeitos e em um relacionamento nós temos de aprender a lidar com os defeitos do parceiro. Oliver viu por experiência própria que esperar perfeição da pessoa que ama só resulta em sofrimento no final.

Encarei Ray. Por muito tempo eu sonhei acordada com um dia em que Ray retribuisse os meus sentimentos. Agora eu tinha mais certeza ainda que eu não o amava, os meus sentimentos por ele não passaram de uma paixão temporária. Assim como os sentimentos dele por mim, já que se ele soubesse que eu estava fingindo ter as qualidades que demonstrei nos últimos dias ele também desistiria desse "encontro oficial".

— Eu me demito. — falei com um imenso sorriso no rosto. Estava na hora de eu fazer um pouco as coisas por mim.

Ray soltou uma risadinha. Espera... Ele riu?

— Não será preciso você se demitir, Felicity. — falou divertido. — Acho que ninguém vai reclamar se eu quebrar a regra de namorar uma funcionária, já que eu não sou um funcionário.

— Não, não, você entendeu tudo errado. — me prontifiquei em falar enquanto me levantava. — Eu me demito. Eu não quero trabalhar aqui como sua secretaria. Eu realmente detesto esse emprego. — comecei a andar lentamente de costas. Eu nunca tinha me demitido com tanta alegria antes, e com certeza era essa alegria que fazia Ray me olhar perplexo. — O único motivo de eu ter suportado esses dois anos aqui era porquê eu era apaixonada por você, mas agora não sou mais. Eu finalmente não sou mais apaixonada por Ray Palmer!

Levantei os braços como se tivesse ganhado um jogo. Ray abriu a boca para falar, mas eu o cortei:

— Eu sou formada em T.I. — esclareci. — E eu realmente amo o que eu faço. Eu não nasci para servir cafés, desculpa Ray. E quer saber? Você é um idiota por esperar uma garota ser o que não é pra poder ficar com ela, tente não cometer esse erro com a próxima.

Ray franziu o cenho, totalmente confuso, ao mesmo tempo que eu girava os calcanhares para ir embora, esbarrando em uma moça que entrava na sala com alguns papeis.

— Está tudo bem. — ela me dispensou com um sorriso quando fiz menção de ajudá-la a pegar os documentos que tinham se espalhado pelo chão. — Como está a Olivia?

Abri a boca para perguntar de quem ela estava falando, mas então eu lembrei de onde a conhecia.

— Quinta-feira. Banheiro feminino. — falei os fatos só pra ter certeza que eu a conhecia mesmo. A mulher balançou a cabeça em aprovação. — Oliver está bem. Na verdade, eu estou indo ver ele agora.

— Nunca mais vi ele por aqui.

— Eu digo que perguntou por ele. — falei ao voltar a andar.

— Está falando de Oliver Queen? — ouvi Ray perguntou e desacelerei o passo para poder olhar pra ele. — Você está namorando o Oliver?

A mulher se abriu em uma gargalhada ao escutar as palavras de Ray. Talvez contagiada pela alegria do momento, eu ri também.

— Oliver e gay, Sr. Palmer. — ela revirou os olhos como se fosse óbvio. — E ela é lésbica.

Minha gargalhada se intensificou. Aquele sem dúvida iria entrar na lista dos melhores dias da minha vida.

— Você ouviu sua resposta, Sr. Palmer. Eu sou lésbica! — gritei antes de me afastar a passos apressados em direção ao elevador.

Eu deveria estar com vergonha por estar mentindo ou no mínimo tentar desmentir o fato de eu ser lésbica. Mas era mais divertido ver a cara perplexa de Ray achando que era verdade, porque já era óbvio pra ele que Oliver não era gay. 

Entrei no elevador quicando de alegria, eu estava feliz. Sim, esse últimos dias que eu pensava terem sido decepcionantes, agora ficava claro que eles foram os mais felizes da minha vida. E o motivo do meu sorriso tinha nome e sobrenome: Oliver Queen. Foram cinco dias que eu tinha tirado uma das lições de moral mais importantes da minha vida, e eu tinha que agradecer a Oliver por isso.

Com esse pensamento que saí do elevador planejando ir para as consolidações Queen. E foi isso o que eu fiz.

O prédio da QC era um arranha céu maior do que o da Palmer Tech, e mais bonito também. É claro, a empresa da família Queen se estendia até a China e era a multibilionária mais rica de Starling City. Logo na recepção, a mulher mal olhou na minha cara e me conduziu até um elevador afastado, provavelmente um elevador restrito que também levava até a sala da presidência. Será que Diggle deu algum tipo de foto ou coisa parecida para a recepcionista me identificar? Se esse for o caso, Oliver já devia estar esperando a minha visita. Mas Diggle tinha tanta certeza assim que eu viria procurar Oliver?

Eu obtive as respostas quando entrei hesitante na sala da presidência. "Vamos Felicity, seja uma mulher corajosa ao menos uma vez na vida", falei para mim mesma.

Se eu achava que havia muito vidro na sala da presidência da Palmer Tech, era porquê eu nunca tinha visto a da QC. Todas as paredes eram de vidro, até a que levava à provável sala de reuniões e era possível ter uma vista incrível da cidade dali. Eu mesma me aproximaria da janela que tomava a parede inteira para admirar a paisagem se eu eu não tivesse avistado de imediato o loiro. Oliver estava com o semblante sério e lia algum documento com atenção, totalmente alheio à minha presença.

Meu coração falhou.

Andei lentamente até a porta de sua sala, decorando cada pedaço daquela imagem perfeita. Ele estava impecável em seu terno e gravata, como sempre, só então eu percebi que nunca o tinha visto sem essa vestimenta.

— Eu realmente gostaria de te ver um dia sem essa roupa. — murmurei, chamando a atenção dele.

Os olhos de Oliver se abriram em supresa ao me ver ao mesmo tempo que as minhas bochechas esquentavam de vergonha pela duplicidade de sentido da minha frase.

— Escolhi mal as palavras. — abaixei a cabeça, tentando controlar a cor das bochechas. — Eu até me corrigiria, mas um certo homem me disse uma vez que não é nada sensual corrigir frases de duplo sentido.

Voltei a encarar Oliver com um sorriso no rosto, que ele retribuiu. Mas seus olhos pareciam tristes.

— O que veio fazer aqui, Felicity? — sua voz saiu calma.

— Vim te ver. — falei simplesmente, me aproximando de sua mesa. — Da última vez que conversamos não foi bem uma conversa, então...

Oliver soltou a respiração de modo pesado, concordando com a cabeca antes de se levantar para vir em minha direção. Eu não sabia exatamente o que ele pretendia fazer antes de seus braços me envolverem em um abraço acolhedor.

Foi a minha vez de ficar surpresa. Encostei a cabeça no ombro dele, sentindo seu perfume e imaginando como aquele gesto simples significava tudo para mim. Os braços dele me davam uma sensação de segurança a medida que me apertavam ainda mais contra o seu corpo, me levantando o suficiente para que eu precisasse ficar na ponta dos pés. Oliver beijou o topo da minha cabeça, e eu sabia, mesmo sem nenhuma palavra dita, que aquele gesto era uma reconciliação.

Deus, eu não consegui ficar nenhum dia inteiro com raiva daquele homem! Eu tinha a sensação que não conseguiria nem ficar longe dele.

— Me desculpe. — sussurrei no seu ouvido.

— Não peça desculpas. Eu que devo pedir desculpas. — sussurrou de volta. — E também te agradecer.

Me afastei o suficiente para olhar em seus olhos.

— O que quer dizer?

— Você me ajudou a ver que o errado sou eu. — explicou.

— Você não é errado, Oliver...

— Me escute, Felicity. — ele pegou meu rosto entre as mãos. — Por muito tempo eu achei que estava fazendo uma coisa boa por ensinar as mulheres como conquistar a pessoa que ama, mas não percebi que eu só estava sendo egoísta... Ainda tem algo sobre a minha história que eu não te contei.

— O quê?

— Tommy. — suspirou. — Ele amava Laurel, amava de verdade. Ele não se importava com defeitos dela e até não se importava que ela ficasse comigo. Ele só queria que ela fosse feliz. E só agora eu percebo que eu não me sentia assim com relação a Laurel, eu não a amava de verdade.

— Então todo esse esforço para superar a morte dela foi em vão? — perguntei o óbvio. Uma das coisas que fez Oliver se tornar um conselheiro foi o fato dele nunca ter dito a Laurel que a amava.

— De forma alguma. — olhou fundo em meus olhos, aproximando seu rosto do meu. — Foi todo esse esforço que fez com que eu te conhecesse. E como o inferno, Felicity! Eu amo até mesmo os seus defeitos e não me importo se você vai ficar comigo ou não. Eu só quero que você seja feliz.

Ele estava dizendo que me amava. Não com todas as palavras, mas a declaração estava lá, subtendida no meio do seu pequeno discurso. É possível amar alguém em cinco dias? Eu amei em quatro, e é por isso que não esperei mais nenhum segundo para juntar meus lábios com os dele.

Era um beijo calmo, de reconciliação, carinhoso. Seus lábios se moldavam gentilmente aos meus, como se tivesse medo que eu fosse muito frágil, um beijo totalmente diferente do que foi dado na sacada do prédio em que foi feito o leilão na última noite. Passei meus dedos pelo cabelo dele, puxando seu rosto contra mim para poder conseguir apronfundar ainda mais o beijo. Não demorou muito para que nossas línguas dançassem e o beijo deixasse de ser cálido para algo mais intenso.

Oliver me puxou pela cintura e colocou meu corpo com o dele, provocando em mim una sensação excitante. Era maravilhoso sentir seus ombros largos e fortes me segurando com firmeza contra o seu corpo, e suas mãos ágeis passeando pela minha costa e lentamente descendo até a minha coxa. Ele me carregou como se eu não pesasse nada e eu entrelacei minhas pernas em sua cintura sem quebrar o beijo. A essa altura a minha saia estava levantada até a altura do quadril e Oliver acariciava minha coxa por debaixo dos panos, me provocando.

Eu estava totalmente entregue a ele. Não somente na questão física, mas também na emocional. Eu era dele, meus sentimentos eram dele e meu corpo eram dele. A única coisa que eu conseguia pensar era que ele me fizesse sua. E como se lesse os meus pensamentos, Oliver andou comigo no colo até que eu senti as costas baterem contra uma parede de vidro, e seus lábios desceram automaticamente para o meu pescoço. Virei a cabeça para o lado com o objetivo de aproveitar ainda mais a carícia e sem querer vi que estávamos encostados na parede que mostrava a vista de Starling City. Uma parede de vidro era tudo o que me separava de uma queda do topo de um dos arranha céus mais altos da cidade.

Não contive o sorriso. Como eu já havia dito: perigo, adrenalina e Oliver Queen eram uma mistura perfeita.

— Você é perfeita. — Oliver sussurrou na pele do meu pescoço enquanto fazia a trilha de volta aos meus lábios.

— Eu não tenho nenhuma das cinco qualidades que você ama em uma mulher. — comentei em seus lábios.

Oliver quebrou o beijo para olhar em meus olhos. Seu rosto estava tão perto nossos narizes se encostavam e eu podia sentir seu hálito doce.

— Eu amo sua persistência. Eu amo seu grande coração. Eu amo sua inteligência. Eu amo sua humildade. Eu amo sua sinceridade. — listou com a voz fraca. — E eu também amo sua teimosia. Eu amo curiosidade. Eu amo seu ciúmes. Eu amo sua língua sem travas. Você tem exatamente tudo o que eu amo, Felicity Smoak. — encostou seus lábios nos meus. — Você é perfeita.

Nenhuma palavra a mais foi dita. Seus lábios tomaram os meus com urgência e o único som que foi proferido das nossas bocas a partir de então foram gemidos contidos por beijos intensos.

Eu mal podia imaginar que um ano depois eu estaria casada e feliz com o homem que eu demorei quatro dias para me apaixonar. Oliver assumiu seu cargo como CEO da QC um pouco antes de seu pai se aposentar oficialmente e eu consegui um emprego nessa mesma empresa no departamento de T.I. Thea e Roy também se casaram alguns meses depois, eles namoraram cerca de um ano e meio. Não é possível esquecer os vários episódios trágicos que aconteceram quando a Carolina passou as noites na mansão Queen nos mesmos dias que eu ia dormir com o Oliver, quando estávamos namorando. Duas vezes eu amanheci com o cabelo verde (não sei como ela conseguiu isso) e uma vez eu tive que ir para a casa com as roupas de Oliver porquê ela tacou fogo nas minhas roupas que eu tinha levado para passar o final de semana. Mesmo a pestinha derramando leite no estofado caríssimo da sala da mansão Queen, riscado boa parte de uma parede com giz de cera e ter jogado as cinzas do avô de Oliver do peru no natal, Moira Queen ainda amava a Carolina. Não me pergunte como.

Nos últimos meses, Oliver e eu estávamos tentando ter um bebê. Não preciso dizer que ele quase caiu pra trás quando descobriu que eu estava gravida de trigêmeos. Mesmo com toda essa loucura, foi nos braços do meu eterno conselheiro amoroso que eu encontrei o significado de amor.

Moral da história? Dane-se as qualidades, apenas seja você mesma. Se quiser mudar algo na sua personalidade, mude porquê você quer e não porque quer impressionar alguém. Sendo você mesma pode até ser que você não consiga conquistar aquele homem maravilhoso e lindo que você tanto sonha. Mas quando encontrar alguém, esse alguém vai te amar pelo o que você é, ou seja, vai te amar de verdade.

❤ END


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