Dia 8 de outubro, sábado, 6h00

Sakura não conseguiu dormir. Passou a noite toda pensando no que diria para Sasuke, em que perguntas o faria, afinal ele lhe devia explicações. Que Sasori era desiquilibrado, ela já sabia. No entanto, ver Sasuke ceder a uma chantagem de seu ex era demais para ela. Se o moreno tivesse lhe contado da proposta do ruivo, eles poderiam juntos ter achado uma solução que não prejudicasse ninguém. Todavia Sasuke não confiou nela. Ele preferiu entregá-la de bandeja para o produtor musical.

Assim que amanheceu, a médica repassou em sua cabeça cada acontecimento dos últimos meses. Ela se xingou mentamente por cair na lábia de Sasori. Sakura sabia o tempo todo que aquela tentativa de suícido tinha sido planejada para chamar sua atenção, mas não podia imaginar que Sasuke se afastar dela poderia ter algo a ver com aquilo, ser parte de um plano louco de Sasori para reatar o relacionamento há meses esquecido. A médica resolveu que ficar remoendo o passado não adiantaria em nada, então tomou um banho, colocou uma roupa limpa e saiu de casa. Bateria na casa de Sasuke e lhe cobraria a verdade.

Quando a campainha tocou, Sasuke estava sozinho no apartamento, pois Itachi estava viajando com a Akatsuki por causa de algum compromisso em outro estado. Ele trajava bermuda, blusa e chinelos. O cabelo estava bagunçado e cara meio amassada, pois devia ter adormecido enquanto assistia tevê. Ao ver Sakura com uma feição nada amigável, Sasuke estranhou.

— Oi? – Falou e ela deu um tapa em seu rosto e invadiu o apartamento em seguida.

— Pode ir falando a verdade, Sasuke! – Exigiu, jogando a bolsa no sofá da sala.

— Que verdade?

— Sobre seu trato com Sasori! – Disparou e Sasuke ficou surpreso.

— Foi a Konan que te contou?

— Não, Sasori disse.

— Aquele ruivo filho da puta! – Rosnou.

— Quero ouvir sua versão da história. – Sentou-se e então Sasuke a acompanhou.

— Sakura, eu fiz o que fiz pensando no meu irmão. Ele ameçou acabar com a banda do Itachi agora que ele começou a ter alguma estabilidade como músico. O mercado é muito difícil. Eu não queria ser o responsável por arruinar a vida do meu único irmão.

— E arruinar o nosso relacionamento você podia? – Rebateu.

— Eu pensei que, quando acabasse o prazo estipulado, a gente poderia voltar. Foi a única saída que eu pensei. Sempre acreditei no seu amor por mim, Sakura.

— Você me magoou.

— Você acha justo o meu irmão perder tudo que conquistou?

— Não, mas também não acho justo que eu tenha sido feita de otária por vocês dois.

— Seu ex armou isso, Sakura!

— E você entrou no jogo dele sem se importar comigo!

— Infelizmente, eu não posso mudar o que fiz. Só me perdoe está bem? Por que se o Sasori te contou isso foi pra me ferrar com você e posar de santo.

— Ele não é santo, Sasuke. Eu conheço o Sasori muito bem, muito melhor do que conheço você, por exemplo. Dele, eu esperava qualquer coisa, mas você foi uma surpresa.

— Você não vai me perdoar mesmo sabendo que eu fiz o que fiz por um bem maior?

— Eu quero estar com alguém que não me engane, Sasuke. Acho que nós dois não podemos mais ficar juntos.

— Você não me ama mais?

— Não é questão de amar ou não. O fato é que você não confiou em mim, me enganou e agora eu não sei se quero esse Sasuke do meu lado.

— Eu não mudei, Sakura.

— Então eu devo ter idealizado outro Sasuke, porque o cara por quem eu me apaixonei jamais mentiria pra mim.

— Sasori me obrigou a fazer isso.

— Sasori está errado também. Vocês dois não podiam ter feito isso comigo. Nenhum dos dois pode decidir por mim, Sasuke!

— O que vai fazer agora?

— Ficar sozinha. Minha carência quase me fez cair nos braços do Sasori, mas agora eu vejo claramente que não amo mais o meu ex. Além disso, também vejo que o Sasuke que está na minha frente não é mais o mesmo que amei.

— Eu posso provar que sou o mesmo homem, igualmente apaixonado.

— Você abriu mão de nós, Sasuke. – Sakura começou a chorar.

— Eu...

— Eu sei que seu irmão é importante pra você. Nunca pediria que você escolhesse entre nós, mas eu queria que você tivesse confiado em mim e contado o plano do Sasori. Daríamos um jeito.

— Perdoe-me. – Pediu.

— Não tenho que te perdoar. Seu ato de amor pelo seu irmão foi nobre, mas ao fazer isso você fez uma escolha Sasuke. Escolheu me perder.

— Eu apostei que nosso amor era mais forte que essa separação forçada.

— Foi uma jogada arriscada.

— Nosso amor não é tão forte, então?

— O amor sozinho não basta. Um relacionamento envolve outras coisas, coisas que você traiu ao aceitar o acordo de cavalheiros do Sasori.

— Eu sinto muito, doutora.

— Nem adianta me chamar assim, que eu não vou ceder. Acabou, Sasuke. – Sakura se levantou e Sasuke a acompanhou.

— Não tem nada que eu possa fazer para que você mude de ideia?

— Não. Sabe, até a raiva já passou. Eu só me decepcionei com você.

— E com Sasori?

— Engraçado que eu não me surpreendo com ele fazendo essas coisas. Acho que me acostumei a vê-lo desesperado. Mas, confesso que me senti usada por ele, afinal meu ex soube exatamente como me manipular.

— Ele nos manipulou muito bem.

— Nessa história você nem ele são vítimas, Sasuke.

— Você me culpa? Preferia que eu deixasse meu irmão a mercê das maluquices dele?

— Se você tivesse me contado da proposta do Sasori, a gente podia ter contra-atacado a jogada dele. Entretanto, você não quis confiar em mim e compartilhar isso.

— Ah, Sakura! Eu só queria ter dado um jeito de salvar nós dois! Pensei que aceitando a proposta do Sasori e cumprindo o prazo de seis meses que estipulei fosse a maneira mais segura de ninguém sair machucado.

— A única machucada dessa história fui eu.

— Doeu em mim tanto quanto em você.

— Mas você sabia a verdade, Sasuke. Eu estava jogada no escuro, me condenando por ter te pressionado a ter um compromisso sério comigo sendo que eu sempre falei que não queria nada tão sério. Você me acusou de ter te sufocado, atropelado as fases de um relacionamento. Eu me senti tão mal! – Confessou Sakura.

— Eu precisei dizer essas coisas para ser convincente! Se eu agisse normalmente, você desconfiaria.

— Chega! Acabou e isso é tudo. Espero que seja feliz, Sasuke! – Sakura então abriu a porta e deixou Sasuke lá ainda paralisado com a visita da antiga namorada. Suas explicações não foram suficientes para que Sakura o perdoasse.

[...]

Dias depois...

Enquanto Sakura se afundava com seu trabalho no hospital, Sasuke se esforçava para seguir adiante. Ele estava fazendo o curso de gastronomia e aplicando as lições que aprendera em seu trabalho como assistente de Konan. O dinheiro que conseguia dava para se manter e o que sobrava ele estava guardando para investir futuramente no seu próprio negócio. Trabalho era a única coisa que passava pela cabeça do ex-casal. Sasuke e Sakura não estavam interessados em mais nada.

Konan e Itachi estavam preocupados com os dois. Não adiantava falar nada, pois Sasuke e Sakura sempre os ignoravam. Sakura tinha metido na cabeça que morreria solteira e Sasuke afirmava que não merecia o amor da rosada. Enquanto isso, Sasori deu espaço para Sakura. Depois de ter feito tudo o que acreditava ser o certo para reconquistar a amada, ele sabia que tinha errado de novo. Por isso, também decidiu focar em seu trabalho. Viajava sempre que podia com a Akatuski e já estava auxiliando uma nova promessa da música a gravar um EP.

Dia 15 de outubro, sábado, 23h30

Cansado de ver o irmão tristonho pelos cantos, Itachi deu um ingresso VIP na balada mais top de linha da cidade que havia ganhado recentemente. Sasuke aceitou e disse que iria só para espairecer um pouco. Não era muito chegado a esse tipo de festa, mas talvez lá conseguisse esquecer um pouco de Sakura. No entanto, antes de chegar ao seu destino, o moreno encontrou com Sasori na entrada do local.

— Não sei que pecado eu cometi pra merecer a desgraça do seu caminho cruzar com o meu novamente! – Esbravejou Sasuke.

— Você devia estar feliz, Uchiha! Acabei com nosso trato! – Respondeu Sasori indiferente.

— Você fez novamente tudo isso de caso pensado! Contar pra Sakura antes do prazo acabar para que ela não fosse capaz de me perdoar?

— Já que ela não vai ficar comigo, bom saber que não vai ficar com você também! – Deu um sorriso de canto.

Nesse momento, Sasuke viu tudo em vermelho e deu um belo soco no ruivo. Não ia mais engolir ele falando qualquer asneira sobre ele e Sakura. Sasori revidou. Não ia apanhar calado. Os dois estavam trocando socos e chutes pela primeira vez. Sasuke se perguntou por que não tinha arrebentado o ruivo antes, afinal vontade nunca faltara. A verdade é que Sasuke pensava que podia resover as coisas de outra forma. Agora, sem Sakura e sem uma possbilidade real de conquistá-la, sua vontade era de deixar o ruivo sem um dente na boca.

No entanto, a briga foi apartada pelos seguranças da boate que não gostaram do auê e da aglomeração de pessoas que estavam assistindo e até incentivando. Embora distantes, Sasuke e Sasori ainda se alfinetaram.

— Se você se meter entre a Sakura e eu de novo, eu te mato Sasori! – Rosnou Sasuke revoltado.

— To morrendo de medo! Só que não! – Ironizou.

— Infeliz!

— Você tá amargurado desse jeito porque ela não te quer mais!

— Satisfeito com tudo que causou? Você fez a Sakura infeliz mais uma vez! – Bradou Sasuke e aquilo atingiu Sasori.

— Olha aqui, Sasuke! Eu não gosto de você, mas a felicidade da Sakura é algo importante pra mim!

— Então por que você estragou isso? Ela tava feliz antes de você intervir com sua maldita ameaça!

— Porque eu amo a Sakura!

— Seu amor é doentio e patético! Se a amasse de verdade a deixaria em paz!

— Não se preocupe quanto a isso! Eu já deixei a Sakura em paz!

Sasori não deixou Sasuke dizer mais nada, apenas saiu andando e deixou o Uchiha sozinho na rua, ainda o xingando de otário, imbecil, manipulador, idiota, entre outras ofensas. Mas nada fez o ruivo voltar atrás. Sasori tinha tomado uma decisão. Deixaria Sakura em paz. Pelo menos, para alguma coisa tinha servido a briga com o Uchiha. Ali tinha percebido que não devia intervir nas decisões de Sakura se a amava de verdade.

Dia 27 de outubro, quinta-feira, 7h30

No hospital...

— Você vai comigo na primeira prova do vestido de noiva? – Perguntou Ino assim que Sakura chegou a sua sala.

— Tenho outra alternativa?

— Claro que não!

— Então, eu vou né Ino?

— Você podia ficar um poquinho mais feliz por mim né amiga?

— Desculpe, eu não ando muito bem.

— Ainda por causa do Uchiha ou é pelo Sasori?

— Não consigo seguir em frente. Acho que vou começar a fazer terapia. To começando a achar que o Sasori me deixou tão louca quanto ele.

— Não se compare com ele. Aliás, ele sumiu desde que te contou a verdade?

— Ele disse que me daria um tempo para avaliar a situação e meus sentimentos. A última notícia que tive dele foi pela Konan, que disse que ele estava viajando com a Akatusuki.

— O que você vai falar para o Sasori quando ele te procurar?

— O mesmo que disse ao Sasuke, que não o quero por perto.

— Ei, você se lembra que o Sasuke é padrinho do meu casamento né?

— Sai convidou ele mesmo?

— Aham. Viraram bastante amigos. Vou fazer o que? Então, ele vai fazer par com você no altar.

— Vai ser Konan e Naruto de um lado com eu e Sasuke do outro?

— Aham. Mandei bem em chamar o chefe pra padrinho né?

— O Naruto vai ser um bom padrinho de casamento.

— Eu sei.

— Qual presente o Sasuke vai dar para vocês?

— O show da Akatuski será de graça por causa dele.

— Você só aceitou ele como padrinho por causa disso né?

— Claro! Menos um gasto amiga! Casar tá muito caro! Aí a Konan vai dar o buffet completo, o Naruto prometeu a viagem de lua de mel. Agora falta saber qual será o seu presente pra mim.

— Andei com a cabeça tão longe que nem pensei nisso ainda. Você casa em janeiro né?

— Sim, espero que seu presente seja incrível, viu?

— Será, Ino! Eu juro!

Dia 27 de outubro, quinta-feira, 18h55

No apartamento de Sakura...

— Que bom que me deixou entrar. – Disse Sasori.

— A última vez que nos falamos eu estava muito exatalda. Agora podemos conversar melhor.

— Sakura, você e o Sasuke voltaram?

— Não. Acabou.

— E nós dois temos ainda alguma chance ou eu provei que sou um otário pra você?

— Sem chance, Sasori. Nós dois também não temos futuro.

— Eu já esperava que essa fosse sua resposta. Sabe, nos primeiros dias, após ter contado a verdade, eu ainda pensava que a qualquer momento você ia invadir minha casa e dizer que tava tudo bem, que eu tinha errado, mas que nosso amor era maior que tudo aquilo. Aí os dias foram passando e você não dava um sinal, então a esperança foi indo embora e eu não me senti no direito de pedir por uma nova chance.

— Agradeço pelo seu bom senso.

— Acho que a terapia tá fazendo efeito. – Riu sem graça.

— Torço pela sua felicidade, Sasori. Só que eu não sou a mulher certa pra você. A gente estragou nosso relacionamento há muito tempo.

— Desculpe por ter estragado seu relacionamento com o Sasuke também.

— Não era pra ser. Enfim, agora o que vai fazer?

— Vou continuar como empresário e produtor da Akatsuki. Além disso, no tempo vago, to produzindo uma cantora nova chamada Samui.

— Que bom, Sasori!

— Bem, eu já vou então. Espero que no futuro possamos ser amigos!

— Quando você esquecer o que sente por mim, quem sabe?

— Eu vou me esforçar pra merecer, pelo menos, a sua amizade.  – Sorriu.

— Tchau, Sasori.

— Até mais, Sakura!

Quando Sasori foi embora, Sakura cogitou a hipótese de tentar ser amiga de Sasuke da mesma forma que tentaria ser amiga do ruivo. No entanto, ela ainda amava o Uchiha. Mesmo magoada, aquele sentimento não havia se dissipado. Sempre ouvia de Konan sobre o que Sasuke estava fazendo e repetia mentalmente pra si mesma que tinha tomado a decisão certa. Um namoro sem confiança não tinha como dar certo. Sasuke pareceu entender o que ela o disse no último encontro deles, afinal ele mesmo não a procurou depois que ela foi tirar satisfação com ele. O moreno acatou a decisão da médica. Pelo menos, ele a respeitava.