Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 25
K - Vou ficar aqui com você, tá?


Notas iniciais do capítulo

Pra quem quiser saber, imagino o Kile mais ou menos como o Tyler Posey e a Eadlyn como a lucy Hale ♥
Espero que curtam o cap de hoje!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686351/chapter/25

 

"Desesperado para mudar, ansioso pela verdade
Estou perto do lugar onde eu comecei; estou te perseguindo
Estou me apaixonando cada vez mais por você, deixando para trás tudo ao que eu havia me apegado
Estou aqui parado até que você faça eu me mover
Estou aqui por um momento com você... esquecendo tudo o que necessito
Completamente incompleto
Eu aceitarei seu convite
Você pega tudo de mim"


Hanging by a Moment - Lifehouse


Por Kile Woodork

Acordo com o meu pescoço completamente dolorido, provavelmente pelo o fato de ter pego no sono com ele inclinado para trás, sem o respaldo de algo, como um travesseiro, para me manter confortável. Abro os meus olhos lentamente, minhas pernas também doíam e quando a névoa da sonolência se dissipa completamente, é que sinto um peso sobre o meu corpo, me fazendo focar a atenção na garota no meu colo. Seu rosto está levemente franzido, e mesmo com os olhos fechados, eu posso ver um tom avermelhado ao redor deles, substituindo a sua já rotineira maquiagem. Seus lábios se projetam para frente de repente, enquanto que seu corpo se contorcia e então se acalma. Sua cabeça tomba para o lado, repousando no meu ombro, seus cabelos revoltos e escuros espalhados por todo canto.

Enquanto a observo dormir, penso sobre a conversa da noite anterior e de como sua expressão estava arrasada. Quando entrei no quarto, a vi esparramada no carpete um pouco manchado de tinta, seu corpo parecia quase sem vida; mas a pior parte, foi quando ela chorou na minha frente.

Eu queria poder fazer algo por Eadlyn, no entanto, não sabia como reagir. Será que se eu ficasse ao seu lado seria o suficiente para que a garota se sentisse melhor? Eu duvidava, mas permaneci ali... caso ela precisasse de mim pra alguma coisa; mesmo que fosse pra extravar, me xingar. E quando falou sobre o seu passado, passei a entender muitas coisas ao seu respeito, ainda que, pra mim, Eadlyn continuasse sendo uma incógnita. Definitivamente não deve ter sido fácil, ser comparada com sua própria mãe, ser ridicularizada por um número indefinido de pessoas das quais nem mesmo era íntima, e se sentir sozinha enquanto sofria; deve ter sido barra pesada. Quem sabe, a Schreave agia da forma como agia, simplesmente para se manter à salvo, para evitar que o que acontecera no seu passado, tornasse a atormentar? Na verdade, talvez isso nem sequer tenha dado uma trégua, talvez Eadlyn nunca tenha superado. 

Talvez seu comportamento seja apenas como uma forma de se defender. Apanhou demais e agora queria bater também. Solto um suspiro baixo enquanto poderava sobre aquilo. Eu não sabia exatamente o que fazer, mas o fato é que queria ajudá-la de alguma forma, queria manter ela por perto, pra poder dar o suporto que evidentemente ela necessita.

Talvez eu pudesse fazer um esforço para enxergá-la mais além do que demonstra, e mostrar em qual caminho deveria seguir; não que eu fosse um modelo, mas ao menos poderíamos errar e acertar juntos, como amigos e não inimigos. 

Mais ou menos uma hora depois de ter acordado, Eadlyn se espreguiça, abrindo as pálpebras vagarosamente enquanto também abria a boca em um longo bocejo. Agora, posso ver seus olhos de verdade, e eles estão um pouco avermelhados pelo o choro da noite anterior.

Quando ela me encarou, seu rosto estava completamente sem expressão alguma, até que seu cenhou acabou por franzir-se. Eadlyn não fala nada por um momento, parecia que tentava se situar, e então olhou rapidamente ao seu redor, e depois pareceu perceber onde havia dormido. Suas sobrancelhas ergueram-se. 

—Por que eu dormi aqui? - Pergunta, antes de jogar suas pernas para o lado e sentar-se afastada de mim no sofá. Seus olhos estão levemente estreitos, e ela me fita insistantemente enquanto puxava os fios de seus cabelos para cima, e então os enrolava em um coque frouxo. Observo aquilo por um momento, e então respondo:

—Acabamos pegando no sono assim, eu acho - e aí deslizo as duas mãos pelos meus cabelos e estico minhas pernas diante do corpo, sentindo elas estalarem um pouco com o movimento. 

—Ah - foi o que ela respondeu, antes de levantar-se em um rompante e sumir para dentro do banheiro. 

Fico olhando para onde seu corpo estava segundos antes e penso sobre a sua reação ao acordar; foi inevitável me sentir frustrado, mas eu nem sequer devia me sentir assim, afinal, me frustrar era o que Eadlyn sabia fazer de melhor. O que ela me disse ontem não contava para nada? Será que ela não poderia ser pelo o menos um pouco mais agradável?

Não que eu tenha ficado ao seu lado para receber algum tipo de agradecimento ou favor em troca, mas acredito que pelo menos um sorriso eu merecia receber. Não uma carranca, como se nada tivesse acontecido. Alguns vários minutos mais tarde, Eadlyn sai do banheiro com um roupão branco. Seus cabelos estão molhados e sua expressão ainda está exatamente da mesma forma como quando acordou e me viu. Ela me ignora enquanto passa por mim e se dirige até o seu guardaroupa, pegando de lá um secador de cabelo rosa choque, com alguns adesivos de flores. Observo, com o cenho franzido, enquanto Eadlyn o colocava na tomada. 

—Algum problema, cherie? - Quero saber, a fitando agora com uma sobrancelha erguida. 

Não se dá ao trabalho de virar-se para mim ao responder:

—Nenhum problema. Deveria ter algum problema? - Rebate, ainda de costas. 

Pisco algumas vezes, puxando o ar lentamente para dentro dos meus pulmões e o expulsando em seguida, tentando me acalmar e tentar entender porque a garota estava agindo assim. 

—Não sei, me diga você - retruco enquanto me inclinava para a frente, afastando as pernas uma da outra e repousava os cotovelos um pouco acima dos joelhos e entrelaçava meus dedos; minha testa está franzida.

Eadlyn agora vira-se pra mim, seu rosto dissimuladamente desintendido.

—Não tenho nada a dizer - diz duramente.

—Tudo bem, mas pensei que...

—Que o quê?

—... depois da noite passada, poderíamos ser mais amigos.

Ela me encara por longos cinco segundos, seus lábios fechados em uma linha rígida, enquanto que sua mandíbula se retraía minimamente. Sua cabeça inclinou-se um pouco para o lado.

—Por quê? Não aconteceu nada.

—Eadlyn - murmuro, em tom reprovador.

Ela arqueia uma sobrancelha pra mim.

—Ontem já passou, ficou lá atrás - responde, o rosto corado, parecia constrangida, mesmo que seu rosto e seu nariz empinado mostrassem indiferença.

—Sério? Pois eu penso exatamente o contrário - falo, meio contrariado; me levanto, dando um passo cuidadoso em sua direção. 

—Kile, não quero falar sobre isso, certo? Não quero - ela balança a cabeça veementemente de um lado para o outro e desvia o olhar para a parede. - Já estou bem, não preciso da piedade de ninguém.

Estou prestes a murmurar algo, dizer que não estava ali para sentir pena dela, que estava ali para apoiá-la caso achasse necessário, e que podíamos quebrar mais uma das barreiras que nos afastavam, mas Eadlyn ligou o seu secador, e o barulho era alto demais para poder falar qualquer coisa. Ela me ignorou pelo o restante da manhã. 

Quando descemos para o primeiro andar, Eadlyn parecia tensa ao meu lado, apesar de seu rosto mostrar uma fajuta tranquilidade. Definitivamente, a garota queria fingir, mais para si mesma do que para qualquer outro, que nada realmente tinha acontecido. O que ela não entendia, é que fugir nunca leva a lugar algum, a não ser para o mesmo ponto de sempre, até que o problema seja enfrentado e a questão resolvida. Mas quem sou eu pra sequer cogitar a possibilidade dela aceitar meu auxilio? O nerd impopular?

E por que eu me importava de fato com isso? Tempos atrás só de cogitar a possibilidade de uma aproximação real entre mim e Eadlyn já me causava um embrulho no estômago, e agora eu simplesmente sentia a necessidade de fazê-lo. Solto um suspiro, e sinto seu olhar sobre o meu rosto, mas decido ignorá-la também, de repente ficando irritado pela a forma que estava me tratando.

E pela a forma como eu estava me importando com aquilo.

Durante aquele dia inteiro e metade do dia posterior, não nos dirigimos muitas palavras. A casa dos Schreave estava quieta, nem mesmo Maxon e America estavam conversando muito, nem conosco, e nem entre si. Em dado momento, quando estava procurando pela a biblioteca que Lucy me recomendara, no corredor leste, America me interceptou no meio do caminho, seus olhos azuis pareciam pesados e entristecidos; seus cabelos cor de fogo também pareciam mais opacos naquela tarde. 

—Kile, como ela está? - Me pergunta assim que chegou perto o suficiente. 

Sacudo a cabeça e dou um sorriso duro, enquanto a mulher me conduzia até um sofá simples, de frente para uma das enormes janelas dali; nos sentamos.

—Está fingindo que nada aconteceu - respondo com um suspiro. 

America assente, seus lábios curvando-se para baixo, até que levou suas duas mãos até o rosto, tapando-o por um instante antes de responder:

—Estou me sentindo tão culpada. Como não fui incapaz de perceber o quanto minha filha estava sendo magoada com tudo isso? - Lamentou-se, parecendo irritada consigo mesma. - Como, Kile? Como me deixei enganar com a postura topetuda dela, que parecia não se abalar com nada? Deveria ter desconfiado, uma criança normal claramente ficaria traumatizada, uma adolescente normal também ficaria machucada... mas deixei passar, eu permiti o sofrimento da minha própria filha! Deveria ter imaginado isso antes, se eu, que tinha meus 21 anos quando cheguei aqui, já sofri com todo esse mundo, como pensei que uma garotinha iria passar impune à  isso? - E então seus olhos começaram a piscar rapidamente, tentando espanar as lágrimas que pareciam querer transbordar, mas não o fizeram.

Não sabia muito bem como lidar com aquela situação, então apenas coloquei minha mão sobre o seu ombro, tentando lher algum tipo de conforto, mas não parecia ser o suficiente. 

—Fomos todos vítimas das circuntâncias, America; o melhor que você pode fazer agora é tentar conversar com Eadlyn - aconselho, ansioso por dissipar pelo menos um pouco daquele clima pesado.

America bufa ao inclinar-se para trás e jogar seus braços para cima.

—E você acha que eu já não tentei? Minha filha se fechou novamente, me manteve longe, disse que não precisamos mais reviver o passado e que tudo já está resolvido, que eu não precisava conversar com Maxon sobre isso, porque o deixaria triste e esse não é o momento.

—Então ela vai continuar aqui? - Pergunto, surpreso.

O que essa menina tem? Tendências masoquistas?

A ruiva escora a cabeça na parede, fechando seus olhos por alguns segundos. 

—Vai e disse que não queria mais conversar e que está tudo bem, mas eu sei que não está. 

—Por que ela é tão difícil? - Resmungo baixo, mais para mim mesmo do que para America, mas mesmo assim ela me encarou e disse:

—Talvez seja de família - e aí dá um sorrisinho triste. - Espero que você continue por perto.

—Vou continuar por perto - afirmo, sendo sincero.

Estamos eu e Eadlyn em seu quarto, ela terminava de ajustar um vestido bege, puxando-o para baixo. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo elaborado, e a maquiagem estava um pouco mais acentuado dessa vez, do que da última em que fomos dar entrevistas. Hoje seria um pronunciamento importante para Maxon, e nós iriamos acompanhá-lo. 

—Por quê você vai ir? - Questiono, realmente curioso. 

Ela para o que está fazendo para me fitar com a testa franzida, parecendo confusa, até que parece compreender a que assunto me referia. 

—É importante pro meu pai, então é importante pra mim também. 

—Isso é loucura! - Digo, indignado. - Isso faz mal pra você.

—Não quero magoar ninguém hoje.

—Primeiro você tem que deixar de se magoar. Não percebe?

Ela fita o chão.

—Logo volto pra Espanha - responde, como se isso fosse resolver alguma coisa. 

—Tapar o sol com a peneira?

Eadlyn me encara agora, mas não diz nada, apenas dá de ombros. 

O pronunciamente era à tarde. Maxon parecia nervoso, e Eadlyn conversava animadamente com ele, fingindo estar bem. Observo de longe, enquanto ele abraçava a filha e a sacudia de leve, dando um beliscão de brincadeira em sua cintura. Ela fez uma cara feia, mas logo começou a rir.

—Não vivem sem um ao outro - murmura alguém ao meu lado, e era Amberly. 

Abro um sorriso vago para ela.

—Eu percebi - respondo, e então a senhora dá uma risada elegante.

—Vou falar com Clarkson, ver se já está tudo pronto. Vai ficar aqui? - Pergunta, e eu afirmo com a cabeça. - Certo, até logo mais, rapaz - se despede, dando-me um apertão supericial na bochecha direita. 

Dou uma olhada ao redor, estava lotado. Nunca tinha visto tanta gente de terno e gravata quanto naquele dia. O lugar era dentro de um teatro, e era enorme. Câmeras estavam sendo ligadas, repórteres já se posicionavam em frente ao grande palanque, prontos para filmar e repassar a cena para a Inglaterra inteira. Vários candidatos estavam ali, acompanhados por parte de seus respectivos partidos, e olhando de longe, Maxon parecia tranquilo. Meus olhos focam agora em Eadlyn, ela sorria, mas de repente seu sorriso esmaeceu um pouco; ela fitava algum ponto diante de si, e eu segui o seu olhar, parando em uma mulher gordinha, alta e com os cabelos negros e até a altura dos ombros. Seus óculos eram grandes, e o sorriso para a Schreave era de divertimento, e assim que volto os olhos para Eadlyn novamente, percebo que seus ombros se encolheram um pouco e sua expressão tornou-se apreensiva. 

Quando os discursos começaram, a família Schreave se acomodou ao meu lado em uma fileira horizontal, e Eadlyn sentou-se ao meu lado. Um homem começou a falar algo, mas eu não prestava atenção; me inclino para o lado, deixando meu rosto e o dela próximos o suficiente para que eu pudesse conversar sem correr o risco de ser ouvido.

—Você está bem? - Quero saber, um pouco preocupado.

—Não.

—Está nervosa?

—Estou irritada - responde. - E coloque a mão na lateral da boca enquanto estivermos conversando, tem câmeras espalhadas por todo o canto e eu posso garantir á você que a mídia consegue muito bem fazer leitura labial e, quando não consegue, sabe inventar algo muito convincente a respeito - ela mesma diz isso com uma mão discretamente tapando os lábios rosados.

Faço o mesmo.

—Está irritada com o quê?

Ela suspira.

—Com tudo.

—E isso quer dizer que... ?

—Quero mandar todo mundo se foder.

Eu sorri.

—E por que não faz? - Retruco, sério.

Eadlyn me fita pensativa, parecendo que estava realmente considerando minhas palavras. 

—Não sei.

A partir daí, não trocamos muitas palavras, ela estava bloqueado minhas tentativas de puxar assunto e, pra variar, aquilo me deixou irritado e frustrado. Assim que chegou a vez do partido de Maxon se pronunciar, o Clarkson levantou-se animado, caminhando e acenando para as pessoas nas arquibancadas e levando consigo uma folha de papel; posicionou-se diante ao microfone, e então começou a falar qualquer coisa, que eu não prestei atenção e que eu não queria saber. Minutos depois, fora a vez de America, que disse algo sobre estar contente com as eleições e que o povo saberida escolher o próximo presidente com sabedoria e coêrencia. 

—E aí... - me viro pra Eadlyn. - Já sabe o que vai dizer quando chegar a sua vez de defender o seu pai?

—Um dos conselheiros do meu avô me passou instruções - e então ela ergue um pouco opapel que até então não havia reparado que estava no seu colo. 

—Vai se sair bem - digo, e me viro para a frente, esperando pelo o gelo que ela gostava de me dar. 

—Obrigada, Kile - agradece. 

Eu fico surpreso.

—Não há de quê.

Neste exato momento, Clarkson chamou Eadlyn para o palco e o som de aplausos suaves ecoou pelo o ambiente. Ela caminhava de forma segura, desfilando até os degraus que a levariam ao microfone. Seu avô e ela trocaram um breve abraço, antes dela assumir sua posição em frente ao palance de madeira e deixar sua folha com o que deveria dizer ali. Eadlyn sorri para todos, e pra quem estivesse observando de fora, poderia dizer que estava tudo bem com a garota, mas eu sabia que não estava. 

Inclino minha coluna para a frente, colando as palmas das minhas mãos diante do rosto, de repente apreensivo, até que sinto um toque nas minhas costas e viro o rosto em direção à America.

—Ela vai se sair bem, ela sempre se sai - me diz em tom de consolo.

—Eu sei - respondo com um sorriso vago, antes de me concentrar em Eadlyn novamente. 

Ela olhou para baixo, lendo alguma coisa, antes de voltar seu olhar para nem um ponto específico.

—Boa noite, Inglaterra! - Diz em tom entusiasmado. - Hoje é um dia especial para o meu pai, e pra toda a família - começa, e então dá mais uma olhadinha no papel diante de si. - Pretendo ser breve, não quero tomar muito do tempo de vocês - sorri graciosamente, mas então seu rosto não era mais tão simpático assim, era mais contido, talvez nervoso. Observamos enquanto ela erguia suas instruções e sacudia diante do próprio rosto. - Sabe, eu tinha tudo aqui, planejado, escrito pra ser diplomático e tudo isso que todos vocês já estão acostumados. Mas querem saber? Sério, de verdade... eu não preciso disso - fala antes de amassar o papel e deixá-lo de lado no palanque. Suas palavras causaram um burburinho ao redor, mas eu não conseguia prestar atenção de verdade em mais nada, a não ser nela. - Vocês devem se lembrar de mim, ao menos Londres deve se lembrar. Eadlyn Singer Calix Schreave, filha do ex governador e agora candidato à presidente Maxon Calix Schreave, vindo uma família tradicional e com uma vida pública desde muitos anos antes de eu nascer. Claro, vocês devem saber disso. Mas, ele não é só isso... não que seja pouco, mas desde que me entendo por gente, meu pai nunca foi só isso; foi celebridade, seus passos foram seguidos, junto com a minha mãe, se tornaram famosos, estamparam revistas de fofocas absurdas, e eu já vim para este mundo com essa sina. Cresci diante dos olhares curiosos de pessoas que nunca quiseram me conhecer de verdade, e fui fadada a conviver com as mentiras que eu via escrita aqui e ali, não somente sobre mim, mas sobre os meus pais - agora Eadlyn sai de trás do palanque, pegando o microfone e indo mais para a frente do palco, sua voz era firme e ressonava alto pelo o teatro. - E volta e meia eu me pegava pensando o motivo de papai continuar com aquela vida, se já erámos ricos o suficiente. Eu pensava, pensava, pensava e nunca chegava à conclusão alguma... ah, e tinha as críticas, as pessoas realmente queriam vê-lo por trás, e aquilo era irritante. Pai, por que você não desiste? Eu pensava comigo mesma, não entendia o porquê ele e mamãe se empanhavam tanto pra receber isso em troca. Mas, como eu disse antes, eu cresci e não sou mais como a garotinha de antes, e agora eu entendo que meu pai se sacrífica pra ver o bem de um povo, e não importa o que digam sobre ele, desde que ele próprio tenha a consicência de suas intenções. Inglaterra, nós não somos celebridades, nós não precisamos da atenção de vocês, não queremos. Voltem suas câmeras, o seus trabalhos pra quem precisa, pro que é real e necessita ser visto por todos. Crianças, escolas mal feitas, pessoas em situação de risco, isso sim merece ser visto. Denunciem com verdade, se meu pai fizer algo de errado com relação à seu mandato. Denunciem se meu pai fizer algo de bom com relação ao seu mandato; mas deixem de se importar com o que acontece fora disso. Meu pai é a melhor pessoa que eu conheço, e é a melhor pessoa pra governar isso aqui; mas não, não nos coloquem em pedestais, somos pessoas normais. O que importa, é o que meu pai vai fazer por toda uma nação, e não o que ele comeu no jantar na última sexta-feira. E, só pra complementar, procurem verificar se as informações que chegam até vocês é verídica, não aceitem o que lhe é imposto por mídia alguma sem questionar, não se atenham ao que pessoas dizem à respeito de qualquer coisa, corram atrás e tirem as próprias conclusões; indepentente das informações que tiverem sobre o meu pai serem boas ou ruins, eu desafio a todos a pesquisar a fundo sua vida na política, assim como todos os candidatos aqui presentes, vamos nos conscientizar, e focar no que realmente é importante. 

Eadlyn respirou o ar profundamente e então abriu um sorriso sem graça.

—Acredito que tenha me estendido mais do que o necessário, me perdoem, mas precisava dizer isso. Com licença - e caminha rapidamente para a escada, descendo os degraus de dois em dois. Houve uma salva de palmas, e assim que ela passou pela a fileira que eu me encontrava, ela me chamou com o dedo, pedindo que eu a seguisse. Antes de sair, ouvi a voz de Maxon, já no palanque, murmurar "minha filha é o maior tesouro que eu tenho na vida".

E eu, defintivamente, estava orgulhoso de Eadlyn; não conseguia parar de sorrir, não conseguia.

Ela só parou de caminhar quando saímos para o ar um pouco abafado da rua. O som de trânsito dava uma sensação engraçada, parecia que havia um mundo à parte dentro do teatro. A garota me fita, sorrindo, e então puxa minha mão em direção ao carro de Eduardo; quando entramos, ela pediu pra ele nos levar de volta pra casa.

—O que foi aquilo? - Questiono, estupefado.

—Decidi deixar de me magoar.

—Você tem razão, estou mui...

—Shhh - suspira ela, colando o dedo indicador entre os meus lábios ao me interromper; sua expressão estava aliviada. - Quero viajar hoje.

—Pra Espanha? - Pergunto, franzindo o cenho em confusão.

Ela descorda firmemente com a cabeça.

—Não, qualquer outro lugar.

Abro um sorriso gradativamente.

—Pra onde? - Questiono, curioso.

Ela dá de ombros.

—Não sei, qualquer lugar serve - e então vira o rosto momentaneamente pra janela, pensando, e quando volta a me olhar, um sorriso divertido surgiu no seu rosto. - Vamos pra França, que tal, cheri?

Retribuo o sorrio.

Vamos? Quer que eu vá junto com você? - Estreito os olhos, em desconfiança. - Por quê?

Mais um dar de ombros vindo dela.

—Não sei exatamente, mas você é um destestável legal. E eu não estou apaixonada por você.

E nem eu por ela... não é?

Ficamos em silêncio por um momento longo demais, até que seu sorriso diminuiu drasticamente.

—Não vai ir? - Quer saber, parecendo desapontada.

—E perder a chance de te importunar na França? Jamais perderia uma oportunidade dessas. 

Ela riu.

—Você é tão idiota...


 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários do capítulo anterios, suas queridonas, fofurinhas ♥ ahsahsauhsau