Quando saí do estabelecimento, estava sendo escoltada por um moreno alto de olhos extremamente azuis, mesmo ele sendo realmente lindo, não cederia tão fácil. Ele me seguia para onde eu ia, sorrindo como se aquilo fosse realmente divertido para ele, mas para mim não era. Fui direto para a praia, furiosa. Ele parou de sorrir arqueando uma sobrancelha, apenas o olhava de soslaio.

Virei-me, fazendo-o quase me atropelar, principalmente porque ele era o dobro do meu tamanho e eu odiava isso. Ele piscou, esperando pronunciar-me.

— Por que está me seguindo?

— Você não queria saber sobre minha raça? – Ele piscou. – Tínhamos feito um trato...

— Você é esquisito.

— Diz alguém que me chamou de E.T

— Pare com isso!

— Isso o quê? – Ele se divertia com a minha situação, mas apenas suspirei reprimindo o impulso de dar-lhe um soco.

— Esta brava comigo por que não tinha dinheiro? – perguntou preocupado parando de sorrir. 

Suspirei, era obvio que não!

Esse tritão era realmente estranho.

— Não é nada disso, apenas... – Não consegui falar.

Seus olhos azuis ainda me fitavam esperando continuar minha frase, todavia apenas me virei enquanto o vento balançava meus cabelos. O mesmo parou ao meu lado olhando para a água, ele gostava de morar no mar?

— Se quer me bater, pode me bater. Baixinha. – Provocou ele para me tirar do silencio.

Rugi batendo em seu peito enquanto ele sorria.

O mesmo deixa-me bate-lo como se não sentisse dor, ele sentiria dor?

— Ou podemos parar de brigar. – Propôs ele.

Parei de batê-lo, não por que ele propôs isso e sim por que me sentia extremante estranha ao seu lado, não era ruim, todavia era confuso. 

Nunca tive um melhor amigo, o que pensei queseria me deixou também. Como todos. 

Mas aquele tritão não fugia, não queria fugir...

Pervertido esquisito.

Desviei o olhar.

— Sim, eu sou um tritão, tenho uma cauda quando estou no mar. – Dizia ele, aproximando sua face da minha. Dei um passo para trás automaticamente. – Eu posso sair da água e possuo forma humana.

— Você é estranho. – Resmunguei.

Ele apenas deu de ombros, sorrindo.

— Quem disse que humanos também não são estranhos?

Desviei o olhar novamente para o mar, ele tinha razão.

Via o sol se pôr enquanto tinha um lindo tritão pervertido ao meu lado para acompanhar essa beleza natural.

— Sou Hairu, um tritão estranho.

— Um ótimo título para um filme. – disse, rindo.

Ele riu junto enquanto não tirava os olhos em mim. Mesmo não gostando dele, gostava da presença. Era agradável e divertida. Hairu sorriu para mim e depois voltou a olhar para o mar como tinha feito da última vez que nos vimos.

— Por que sempre olha para o mar?

— Cuidando. – disse sua única palavra.

Mas cuidando o quê?

Olhei para o mar, seguindo seu olhar e não vi nada além daquelas águas escuras. Suspirei, ainda olhando aquele ponto, até ver algo se mexendo. Semicerrei os olhos tentando enxergar melhor, nada.

— Você precisa ir? – Perguntei tristonha, mas não sabia por que estava... Triste!

Ele assentiu.

— Desculpe-me.

Não sabia por que ele estava se desculpando. Ele pertencia ao mar não ao meu mundo. Suspirei, voltando a fita-lo.

— Nos encontramos amanhã? – Propôs ele sorrindo.

Como não aceitar? Mesmo querendo dar uma de difícil, realmente era difícil não aceitar uma oferta de um tritão que fazia carinha de cão pidão. Ri disso, balançando a cabeça.

Realmente acho que seria divertido tê-lo ao meu lado.

— Espero poder vê-la novamente. – disse com um tom tristonho.

Por que não poderia? Por que o chamava de ET?

Ele parecia um ET mesmo!

Pisquei não entendendo.

— Por quê? Por que disse...

— Preciso ir baixinha. – O mesmo tocou na minha cabeça. – Quem sabe um dia você não atravesse meu caminho totalmente.

Arquei a sobrancelha, Hairu sorriu animado.

Sabia de algo enquanto o via voltar para o mar, não o conhecia muito bem, mas sentia como se o conhece há muito tempo, uma sensação boa me invadia enquanto estava com ele, todavia já estivesse apaixonada e não tinha sido assim.

O que era ao certo?

O que ele tinha vindo fazer no mundo humano? Estou ficando louca em querer um tritão rindo ao meu lado?

Arqueei a sobrancelha vendo-o ir para a parte mais rochosa e assim pular de roupa na água. Como ele tiraria a roupa depois? Isso não atrapalharia?

Dando de ombros, suspirei.

Ok! Preciso ligar para o psiquiatra urgente!

Estava acreditando que tritões existiam!

Já chega o Milk de estranho.

Suspirei e me virei, melhor ia para casa e tomar um banho gelado!

Caminhei sentindo a areia em meus pés, havia bastante pessoas em bares e restaurantes, todavia nenhuma na beira da praia naquelas redondezas, elas ficavam mais centradas nos bares que ficavam na beira da praia ou no centro da pequena cidade.

Caminhei rumo minha casa, que ficava perto dali, ao chegar iria direto para um longo banho.

Deitei-me na banheira enquanto escutava uma boa música, não podia reclamar da casa que tinha, mesmo não vivendo na mansão de meus pais, lutei e agora tinha uma cobertura com vista para o mar.

Um gato estranho. E armários cheios.

Tinha 24 anos, talvez muitos pensem que eu seja nova demais para ter conquistado tudo isso, todavia o que não sabiam era que lutava por isso desde os meus quatorze anos. Não podia mais depender dos meus pais, não tinha mais ninguém para me ajudar, a família tudo se odiavam, apenas meu avô que faleceu quanto tinha treze anos era gentil comigo e com todos.

Milk pulou na borda da banheira, miando enquanto tentava pegar seu patinho dentro da banheira.

Milk era meu gatinho que tinha encontrado na rua dentro de uma caixinha de papelão, desde esse dia nunca mais estive sozinha, todavia esse animal era doido. Não podia reclamar tanto dele. Milk era o que estava sempre ao meu lado.

Meu gatinho branco de olhos verdes.

Joguei seu patinho amarelo para o outro lado da banheira fazendo-o ir até lá e tentar tira-lo. Milk tinha muitos brinquedos e era muito diferente dos outros gatos, adorava entrar na banheira ou se enfiar debaixo da banheira. Tinha uma verdadeira casa onde podia se empoleirar e arranha-la o quanto quisesse.

Amava peixes e comer maça. Meu ladrão de maças!

Sorri vendo-o cair na banheira, ele era um gato muito esperto, quando queria.

Levanto-me pegando uma toalha para nós. Esse gatinho louco sempre aprontando. O soltei fazendo-o correr rapidamente para sala.

— Hoje não é dia de filmes Milk. – Mais um fanático por filmes.

Suspire, secando-me e colocando meu pijama.

Precisava de uma boa noite de sono. Teria alguém que eu realmente poderia confiar? Aquele cara realmente era um tritão tão especial?

Como deveria ser sua vida? Fácil? Difícil?

Acho que a vida de ninguém era fácil.

Milk subiu na cama se aconchegando ao meu lado, seria melhor dormir agora.