Pacto Sangrento escrita por Yabi


Capítulo 3
Capítulo 3 - Chuva.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, garotas.
Obrigado a todas que estão acompanhando. Beiijos da Biasama, um pouco de relax nesse para depois prosseguirmos com a ação.



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“_Ah, Sasuke... Tão ingênuo e bobinho...” – Pensava, já distante da escola. Andando vagarosamente pelo caminho de casa, onde terminaria de pensar meus planos iniciais. O céu estava coberto de nuvens, e num tom cinzento, deixando tudo escuro, sinal de que haveria chuva.

Corri um pouco a fim de me livrar dos pingos que caiam, de longe já avistava minha pequena casa, dois andares e poucos cômodos. Pouco espaço, muita imponência. O vento gelado tocava minha face, fria, pálida, era como se estivesse morta, porem ainda sentia o bater cardíaco em meu peito, desviando esses tipos de pensamento de minha mente.

Já em frente a casa, percebi o quanto era miserável o cubículo em que morava, enquanto todos na minha escola tinham mansões, carros, e até um celular, coisa que já havia perdido as esperanças em ganhar, eu morava numa casa no subúrbio da cidade, vizinha de ladrões e mendigos, sem ter acesso a nada, nada que uma adolescente precisaria para não enlouquecer. Tudo que Phill conseguia, o que era muito pouco, era gasto em bebidas e pão. Apenas isso, e nada mais. A escola em que estava estudando se devia a uma bolsa de estudos, que pelas descrições, me mandaria a um colégio mais apto e dedicado a tornar as pessoas melhores. É, dá vontade de rir.

Caminhei passos leves, até a porta, esticando o braço, alcançando a maçaneta, e a girando, me fazendo perceber o que ainda não me dera conta, a porta estava trancada. E eu não tinha a chave.

Olhei para cima, talvez procurando um sinal do céu. Nada, apenas chuva. Chuva refrescante, que caia ingênua, e me deixava molhada, não havia frio, e se houvesse, eu não o sentia. Apenas chuva, e nada mais.

_Phill! – Chamei-o. Logo o homem gordo e careca apareceu na porta.

_Garota, não devia estar na escola? – Ele tragava um cigarro, como odiava aquele cheiro.

_E você não devia estar no alcoólicos anônimos? – Rebati, ele me olhou apático.

_Olha bem como fala comigo, patinha... – Disse adentrando na casa, que em sua aparência exterior, era bem pior que a interior. Um amontoado de tralhas, cobertores e objetos ocupavam a maior parte da sala, e na outra, havia um sofá que fedia a vomito, e um televisor. Phill Passava a maior parte do tempo com a bunda gorda no sofá, bebendo e falando besteiras. Era robusto e rude, as vezes me lembrava um ogro, outras apenas um bêbado retardado. Enfim, ele era uma pedra no meu sapato, e só servia para piorar as coisas.

Entrei em casa, molhada superficialmente, e subi as escadas, ignorando o que Phill falava, algo sobre enxugar os pés quando entrar, mas tanto faz, com alguns passos molhados ou sem passos molhados, a casa continuaria a mesma merda de sempre.

Caminhei pelo corredor até vir uma fenda ao alto, num ato rápido, saltei até ela, e puxei uma pequena abertura a seu centro, logo uma escada caiu, dando passagem ao velho sotón... Ah anos não entrava ali, e o local há anos não era visitado, o pó nos objetos e paredes deixava claro isso. Caminhei lentamente, com passos curtos, e tateei pelas paredes até encontrar um fio amarrado ao teto, puxei-o levemente, e logo uma discreta luz, alaranjada, se acendeu, não iluminava muita coisa, mas deixava claro a visão sobre os objetos, o que já era bem útil.

Consegui ver ao canto do cômodo, um baú de madeira, velho e pesado, a curiosidade me fez ir até ele, com cuidado para não bater minha cabeça nos objetos fixados no teto. A cada passo, o chão de madeira velha rangia, fazendo mais e mais pó cair sobre minha cabeça, penetrando em minhas vias nasais, e fazendo uma tosse seca sair de minha boca.

Me aproximei mais do baú, e coloquei minhas mãos em suas concavidades laterais, havia um cadeado grosso e correntes a sua volta, seja lá o que fosse, estava muito bem protegido. Entretanto não havia tempo de arrombar cadeados, precisava achar aquilo que realmente me interessava.

Pesquisei o local com os olhos, até que vi uma prateleira ao lado esquerdo, discretamente e quase não visível, devido a luz fraca que deixava o canto escuro. Haviam livros, potes, caixas e até um pequeno esqueleto, pertencente a um pobre rato. Me aproximei, e com cuidado, peguei um livro de capa escarlate. No verso havia uma estrela de Davi, e dentro uma linguagem que eu não conhecia, acompanhada de imagens com animais e mulheres... Bizarro... E era ainda mais estranho o fato de que nada daquilo pertencer a Phill, o que quer dizer que era... Sim, da minha mãe.

Já ouvirá Phil dizer que minha mãe era uma bruxa, mas de jeito nenhum ousava acreditar que era verdade, uma mulher doce, de alma pura e coração valente, que jamais ousara fazer mal a qualquer criatura. Não, não era de minha mãe, outra pessoa qualquer, menos ela.

Num dos potes, havia uma etiqueta velha, com letras quase apagadas, peguei-o em minhas mãos, e consegui ler o que dizia, “conserva”, e só. Não entendi, e nem quis. Coloquei o pote de volta no lugar, e peguei outro, com a tampa a avermelhada. Não tinha etiqueta, nem nada escrito, era apenas um pó vermelho, meio brilhante. Seu cheiro me agradava, o coloquei na bolsa. Tirei alguns livros, e os coloquei também, levando-os para meu quarto.

Não havia achado o que realmente procurará, meu fundo de gastos. Um pequeno pote onde carregava minhas finanças desde que era uma criança, se Phill tivesse achado, com certeza teria gasto tudo com bebidas, maldito. Torcia para que não, precisava do dinheiro. Mas não estava ali, e alguém havia pegado.

Deixei os materiais em cima da cama, e desci as escadas novamente, parando em frente ao gordo deitado no sofá, assistindo TV e dando altos goles numa garrafa de cerveja.

_Phill, você foi ao sotón recentemente? – Ele não respondeu, ignorou-me como sempre.

_Responda-me, seu gordo imbecil. – Tirei a garrafa de sua mão, num ato rápido, ele se levantou.

_Fui, fui sim. – Seu olhar era desafiador. – Por quê?

_Pegou um maço de dinheiro que estava lá? 

_Ah, era seu?

_É meu. Onde está?

_Bem, tudo que é seu, é meu também. – Ele riu, me fazendo sentir seu bafo nojento de nicotina e álcool.

_Você gastou? – Me aproximei, com ódio em meu olhar, ele me fitou, e me olhou com desprezo.

_Você é igual sua mãe, não dá valor ao que tem. Eu pago tudo para você, você deveria retribuir todo mês.

_Você gastou ou não? – Já não deixava disfarçar a raiva.

_Gastei. Há tempos fui a um bordel, e curti com uma dessas vadias a noite toda. – Seus lábios se curvaram, ele estava se divertindo com a minha raiva.

_Filho da... – Não continuei, ele me empurrou contra a parede.

_Não termine isso, patinha. – Com a mão, ele imobilizou meus braços, e me olhou de cima a baixo. – Bem que você poderia pagar com esse corpinho, não é? – Num gesto rápido, ele apertou meus seios, gemi discretamente.

_Hinata! – Uma voz interrompeu aquela cena, vinha do lado de fora. Phill me largou imediatamente, e voltou a se sentar no sofá, como se nada tivesse acontecido, eu também fingi, e corri para atender a porta, passando a mão em minha roupa amassada.

_Quem é? – Abri a porta, e me foquei a pessoa a frente... Sasuke. Ainda estava chovendo, e os pingos caiam sobre nossas cabeças, nos deixando pouco a pouco encharcados.

_Hina... Eu...

_Não me chame de Hina, pra você é Hinata. Quer que eu soletre? – Andei até a calçada, ficando ao seu lado, ele me olhou sem jeito.

_Já terminei com a Sakura, e marquei as reservas... Você não vai a polícia, vai? Se meu pai ficar sabendo de alguma coisa... Ele me mata, é sério... Você não o conhece. – Havia medo em seus olhos.

_Depende. – Respondi apática. Cruzando os braços e o olhando desafiadoramente.

_De quê?

_Sasuke, Sasuke, Sasuke... Tudo tem sua hora... – Sorri, ele corou.

_Tudo bem...

_Agora venha, vamos andar um pouco. – Saí a sua frente, ele me seguiu.

_Para onde está indo?

_Vamos ao banco. – Ri discretamente.

_Para quê?

_Você vai sacar R$300,00 para mim, preciso dessa grana. – Olhei para ele, que a cada minuto parecia mais confuso. Como era bom abusar de tanta ingenuidade.                                                                                         

_Tá... Tudo bem... – Seguimos por um beco estreito, até chegar a uma avenida movimentada, onde a todo momento passavam carros e motos. Havia um banco na esquina, e é para lá que nós fomos. Sasuke sacou o dinheiro, e me entregou se hesitar, ainda com medo de entregar-lo para a polícia. Claro que não haviam provas do estupro, não se ele estivesse protegido. Alem do mais, não me lembro de como havia chego em casa, então não sabia se haveriam testemunhas.

_E então, para onde quer ir agora?

_Para casa, mas antes quero que me empreste seu celular. – Dei um sorriso amigavelmente falso, e ele não hesitou em me entregar o aparelho.

_Me devolve quando?

_Quando eu bem entender, agora pode ir para casa. – Virei me de costas e dei alguns passos pela calçada, triunfante, foi quando ouvi sua voz novamente, aturdida.

_Hinata, cuidado! – Sasuke saltou sobre mim, impedindo que um carro em alta velocidade me acertasse. Caímos os dois sobre a calçada, felizmente ilesos, por conta de poucos centímetros. O olhei sem afrontas ou medo, seu rosto estava com um corte, e seus olhos demonstravam o pavor de poucos segundos atrás. Nos levantamos, e foi então que vi que nem todos conseguimos desviar. O carro acertará uma mulher, que agora estava caída ao meio da rua, manchando a de sangue fresco, ao seu lado, havia uma garotinha ajoelhada, chorando e a abraçando. Olhei a cena primeiramente com frieza, mais depois que vi o sofrimento estampado na cara da garotinha, me lembrei de algo no fundo de minha alma, algo que pensei ter esquecido, mas que agora estava a tona...

[...]

“_Ela não vai voltar, tio Phill?” – A garota vestida de preto perguntou ao homem a seu lado. Sua expressão era de tristeza, e algumas lagrimas despercebidas desciam por sua face, se misturando as finas gotas de chuvas que começavam a cair do imenso céu azul. Se encontravam no cemitério, em frente a uma tumba recém colocada, sem matos ou fungos crescendo a sua volta.

_”Não, Hina. Ela não vai”. – O homem a olhou ressentido, suas lagrimas não paravam de escorrer. Ele a pegou pela mão, e a levou para casa...

[...]

_Hinata? – Sasuke me chamava, me fitei em seus olhos, demonstrando tristeza. – Você está bem?

_Sim... O que aconteceu com a mulher?

_Foi levada para o hospital, não está morta, mas quebrou muitos ossos. Quer que eu te deixe na sua casa?

_Não... Quero que me leve até a sua casa... – O olhei, aturdida, e pela primeira vez, deixei transparecer a tristeza em minha alma oca. Sasuke então concordou com a cabeça, e continuou caminhando pela avenida, comigo a seu lado. Precisava descansar um pouco, e não queria ver a cara gorda de Phill me assediando mais uma vez. A chuva ainda não parava, dissolvendo o sangue no meio da rua, e molhando nos por completo. Apenas chuva, pura e ingênua...


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Notas finais do capítulo

Obrigado a toodas que leram. *-*

Reviews fazem o capítulo vir mais rápido. õ



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