O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 6
John Smith e o Novo Poder


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, meus leitores lindos, espero que vocês gostem...



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Por sorte, descobriram que John Smith ainda estava vivo, mas infelizmente mudara-se para longe, e depois de meio dia de viagem, eles finalmente haviam chegado. Acharam-no em casa, 90 anos da mais pura amabilidade, ainda ágil e sem apresentar nenhum sinal de falta de saúde. Os cumprimentou com um forte aperto de mão e os convidou para entrar assim que descobriu de quem os dois rapazes eram netos.

— Quem diria. - Disse, a mão pousada no ombro de Dean, parecendo orgulhoso da visão dos netos de seu amigo – Netos de Henry! - Sorrio, indicando que eles se sentassem no sofá da pequena sala – Como o tempo passou. Mas receio que a você, eu não conheça. - Dirigiu-se para Eileen.

— Meu nome é Eileen. - Ela disse, a voz um pouco mais baixa do que gostaria.

— Ela é o motivo da nossa visita. - Sam começou, adotando um olhar mais grave – Nós precisamos fazer algumas perguntas a respeito de algo que o senhor encontrou há muito tempo.

— Foram tantas coisas que nós encontramos. Você vai precisar ser mais específico.

— Nós queremos saber sobre os Mitrahá. - Dean falou, observando enquanto as expressões de John Smith se transformavam.

Num primeiro momento ele pareceu surpreso pela menção daquele nome, jamais esperava que algum dia fosse ouvi-lo ser dito por alguém além de seus antigos companheiros. Mas então ele começou a parecer intrigado, e um pouco assustado.

— Eu posso perguntar onde vocês ouviram tal nome? - Inclinou-se levemente para a frente, o olhar arguto encarando cada um dos presentes ali,

— Eu… - Eileen começou inserta, vacilando quanto ao que deveria dizer aquele senhor – Esse livro. - Virou-se e tirou o livro de capa aveludada da mochila – Ele fala sobre os Mitrahá.

— Posso? - O homem estendeu a mão, mas Eileen hesitou – Qual o problema?

— Não vai adiantar muito olhar o livro. - Dean disse.

— E por que? - Finalmente John conseguiu vencer a hesitação da menina e pegou o livro, abrindo-o. Viram enquanto o cenho do homem se franzia – Eu não consigo entender, em que língua isso foi escrito?

— Nós não sabemos em que língua foi escrito. – foi a vez de Sam falar – Só sabemos que a única que consegue ler esse livro, é a Eileen. - O homem mais velho a encarou com especial ênfase naquele momento.

— E o livro fala sobre os Mitrahá?

— Sim, e ele literalmente fala as vezes. - Eileen olhou para o livro, se sentia impaciente enquanto outro alguém o segurava.

— Ele fala? - Smith arregalou os olhos castanhos e entregou o livro de volta para ela – Ele está falando agora?

— Sim. - Nesse momento todos olharam para ela. Eileen não havia falado sobre isso para os rapazes – Ele começou quando a gente estava quase chegando, e eu achei que não valia a pena comentar até a gente, de fato, chegar. - Falou em tom de desculpa ante as caras de preocupação dos irmãos – Continua sendo a mesma palavra, ela não soa como nada que eu já tenha ouvido antes, mas eu sei que ela significa “lembre-se” - Por favor, eu não sei mais o que pensar aqui, você pode nos dizer o que sabe sobre os Mitrahá?

John Smith abriu a boca diversas vezes sem de fato falar qualquer coisa, apenas olhou incerto para o livro, esperando que dele fosse surgir algum horror apocalíptico. Mas quando viu que a menina o abraçava inconscientemente, ele resolveu começar seu relato.

— Eu e mais quatro de meus amigos fomos convidados certa vez a participar de uma missão em Jerusalém. Nós tínhamos como objetivo recuperar alguns documentos antigos, supostamente mágicos, e trazê-los até nossa base e conservá-los lá até que nós pudéssemos traduzi-los ou encontrar alguém que conseguisse. Foi uma operação muito perigosa, mas nós fomos alertados sobre os perigos de tais documentos acabarem se perdendo em meio a guerra. Mas nós prevalecemos, os papéis estavam escondidos sob um sigilo em meio a uma área deserta. Dentre tudo que nós conseguimos salvar, havia esse livro em especial, ele parecia muito, muito antigo, mas a encadernação e tudo mais não parecia ter sido feita na mesma época. Nenhum de nós conhecia a língua na qual ele fora escrito, eram símbolos que jamais havíamos visto antes. Até que um dia encontramos esse rapaz, Rupert, escondido em meio aos livros em uma biblioteca no interior. Um rapaz que me lembra muito você, Eileen, se me permite dizer, tinham os mesmos olhos, espertos, vivos, como se pudessem ler a mente dos outros. Ele conseguia ler o livro e até mesmo o traduziu para nós. Como posso resumir aquelas dez páginas… - John suspirou, olhando agora exclusivamente para Eileen – Uma história que eu só posso descrever como maluca, a respeito de cinco seres e como eles eram perfeitos em conjunto, cada um representando alguma coisa diferente, que juntas deveriam trazer equilíbrio para o universo e o cosmos. Eu nunca ouvira falar de tal história, nenhuma mitologia nunca fez menção a eles.

— Esse tal de Rupert, onde era a biblioteca na qual ele trabalhava? - Eileen perguntou.

— Essa biblioteca fechou há muito tempo, e o pobre Rupert morreu uma semana depois que falamos com ele.

— Vocês ainda tem esse livro que ele traduziu?

— Se vocês procurarem bem, eu acho que ainda deve estar na nossa base, mas nem percam seu tempo olhando na biblioteca comum, ele deve estar com os artigos valiosos no cofre. - Disse.

Todos entraram, então, em um silêncio desconfortável, evitando os olhos uns dos outros. Dean e Sam se sentiam frustrados por terem viajado com tantas expectativas apenas para ouvirem o que já sabiam. Eileen não sabia muito bem em que pensar, apenas fixou os olhos em seu livro, esperando que alguma nova resposta saísse dali.

John Smith nada mais tinha a responder, apenas a perguntar, e ele não foi econômico em sua curiosidade, quis saber todos os detalhes a respeito do livro falante e sobre Eileen, no fim da conversa ele parecia preocupado, mas satisfeito com as respostas, e então dirigiu a ela um longo olhar de pena, que a deixou desconfortável, e aflita por ir embora. E os irmãos estavam prontos a fazê-lo, assim que voltassem para casa na manhã seguinte, procurariam por aquele tal documento e quem sabe, Eileen não pudesse lê-lo?

Agradeceram o tempo e as informações, saíram, deixando a silhueta de um senhor que tinha em mente que não contara tudo o que sabia. Por alguma razão, seu senso de autoproteção não o deixara revelar tudo o que haviam encontrado no livro aquela época, como se ainda não fosse o momento para tal revelação, esperava que eles próprios descobrissem, assim que achassem aquele livro.

— Vamos encontrar algum lugar pra dormir hoje, e amanhã nós voltamos. - Dean sentenciou, enquanto ligava o carro, e assim eles se foram, pensativos e ainda digerindo a conversa que tiveram.

Encontraram um motel de aparência mais descente para acomodar Eileen, e da discussão sobre se eles deveriam pegar um quarto só para ela ou um com três camas, ficou decidido que não faria sentido um quarto a mais. Assim que entraram no pequeno aposento a menina se jogou na cama com o livro, e começou a ler novamente a única parte que podia ler, feliz pelo livro ter parado de falar. Os rapazes a olhavam interessados, Eileen era de fato uma criatura estranha, durante a noite, até a hora de jantar, ela ficou estática em sua cama, ignorando quando os irmãos disseram que tomariam banho, e os ignorando mais ainda quando saiam, não houve uma desviada de olhar, mesmo que Dean tenha esquecido suas roupas do lado de fora, e tivesse sido obrigada a sair de toalha pelo quarto, o que no fundo o ofendeu um pouco. Eileen nem mesmo proferiu uma palavra, e quando eles resolveram que queriam sair para comer alguma coisa, tiveram que praticamente arrancar o livro das mãos dela para conseguir sua atenção.

— Eu não to com fome, vocês podem ir. - Disse, os olhos pareciam exaustos, vermelhos e com veias aparentes.

Dean começou a negar com a cabeça – Não, não, você tá indo com a gente, se quiser levar esse livro, tudo bem, mas você vai comer alguma coisa e depois vai dormir um pouco. - Disse com todo o “tom de pai” que conseguiu reunir, e viu quando Eileen apertou os olhos e virou a cabeça, ato que o lembrou de forma mortificante de Cas, a menina tinha um protesto pronto para sair, mas este desinflou, e ela apenas concordou soltando um longo suspiro enquanto acenava um sim derrotado.

Ela de fato levou o livro, mas quase não a deixaram entrar no bar/lanchonete para o qual haviam ido, teve que tirar documentos atrás de documentos mostrando que era maior de idade. Todos a olhavam de forma estranha dentro do bar, talvez por ela parecer uma criança, talvez pelo grande livro que ela segurava. Enquanto Dean foi pedir alguma coisa para comer, ela e Sam permaneceram sentados, Eileen logo entrou novamente naquele torpor de leitura, e como isso já estava começando a preocupar Sam, ele tentou conversar com ela.

— Que faculdade você faz? - Viu quando os olhos dela deixaram, contrariados, as páginas do livro.

— Matemática. - Disse apenas, pronta para voltar a leitura.

— E por que você foi convidada a olhar livros de escrita antiga?

— Matéria especial, eu gosto de livros e de história, então…

Sam apenas sorriu, mas logo se viu sério de novo, quando a menina voltou a ignorá-lo.

Enquanto jantavam ela conseguiu deixar o livro de lado, comeu, tomou refrigerante e ouviu Dean falar chocado pelo fato dela não gostar de cerveja. Mais tarde, quando o lugar já não estava mais tão cheio, os irmãos se entretiveram com uma partida de sinuca, próximos a mesa em que estavam com Eileen, para garantir conseguiriam observá-la o tempo todo.

No meio da partida, Dean lançou um olhar ligeiro em direção a mesa, e encontrou o rosto de Eileen distorcido em uma expressão de pavor, ela então tirou os olhos do livro e o encarou, os olhos ainda mais arregalados que o normal. Largando o taco Dean foi até ela apressado, Sam que não havia percebido nada, seguiu o irmão.

— O que aconteceu? - Perguntou, finalmente notando a cara de espanto da menina.

— Mais uma página… - Ela disse de forma desconexa – Eu… Eu consigo ler mais uma página.

Voltaram para o motel o mais rápido que conseguiram. Ouviam a respiração pesada da menina na parte de trás do carro, e não sabiam o que dizer que pudesse acalmá-la. Assim que chegaram, ela entrou esbarrando nos móveis velhos e sentou-se na beira da cama.

— O que essa página diz? - Perguntou Dean.

— É uma magia. - Ela disse apenas, mas eles a olharam, esperando por mais – Magia introdutória, é o que está escrito. Eu vou… Eu vou ler O.K.? - Os irmãos concordaram - “Venho para lembrar-te daquilo que te fizeram esquecer, mas também venho alertar-te do que não podes fazer, sou teu e teu somente, para que jamais possa esquecer, e destas magias aqui presentes, uma a uma vou esclarecer, mas leia minhas palavras e ouça minha voz, finalmente me encontrastes e chega a hora de saber, realize a primeira magia e muitas que estão por vir, mas não as use em demasia pois seu corpo ainda não está pronto, chegara o momento em que você vai se lembrar, e chega a hora de dar o primeiro passo” - Ao fim, ela olhou de irmão para irmão – E então tem uma palavra.

— Que palavra? - Sam perguntou.

— Eu acredito que se pronuncia “Ignihs” - Disse, e no momento, sem que ela percebesse, suas mãos que então agarravam o livro começaram a brilhar em um fogo verde, quando os irmãos notaram, mal puderam expressar palavra, apenas assistiram de olhos arregalados quando Eileen, alheia ao que acontecia em seu corpo, tirou a mão do livro e a encostou em sua cama.

Tal foi a surpresa geral, quando o lençol em que ela encostara começou a se desfazer pedaço por pedaço, sendo invadido e dominado pelo mesmo fogo verde que estava na mão dela segundos antes. Eileen deu um pulo para fora da cama e ela e os irmãos se afastaram, observando fibra por fibra dos lençóis apodrecer e virar um fino pó. Do lençol o fogo passou a consumir o colchão, que apodreceu rapidamente rasgando-se e enrolando, e então passou para a madeira que inchou e começou a se desfazer em farpas envergando em direção ao chão. No fim até mesmo o chão de carpete acabou um pouco apodrecido, mas o feitiço falhou antes que pudesse fazer mais estragos. No local em que antes estivera a cama, havia apenas um espaço de tapete desfeito.

— Mas que merda… - Eileen gritou, a voz uma oitava acima do normal, antes de perder as forças nas pernas e cair de joelhos no chão, sentindo como se sua cabeça estivesse sendo pressionada.

Os irmãos foram ao encontro dela, Dean tentando ajudá-la a se levantar, mas assim que viu que a garota não conseguiria manter as pernas firmes, a segurou no colo, Sam apenas encarava o espaço vazio no tapete, chocado. A suspeita inicial se provou, agora não restava mais dúvidas, Eileen era um Mitrahá. 


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Notas finais do capítulo

E que comecem os problemas... Muahahaha
Se gostaram do capítulo me deixem saber, façam uma escritora feliz :D



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