Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 27
Thalia diz o que não devia || 1.001 noites


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Capítulo mais cedo pra vocês porque sim!
Vocês viram que teve mais uma recomendação?!
Especialmente dedicado à DemonicMoon, essa coisinha linda que sempre me faz rir nos comentários e revelar meu lado preferido e nada normal!
Obrigada pelas palavras, sweet!



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Narração: Thalia Grace

 

— Isso está feio. — Will declarou o óbvio assim que subi a blusa e lhe mostrei os hematomas que cobriam boa parte da minha barriga.

— Sério? Nem consigo sentir! — Resmunguei, sentindo os dedos filho de Apolo tocando minha pele.

— Podia estar fraturada, — Ele brigou, apertando sobre a costela, fazendo minha visão se encher de pontinhos coloridos enquanto eu trincava os dentes. — você devia ter me procurado antes. Tem sorte de não estar quebrada!

Respirei fundo, tentando aliviar a dor. Felizmente a enfermaria estava vazia com o horário do jantar, me deixando sozinha com o filho de Apolo. Em outras situações eu jamais ficaria sozinha com um garoto, mas os ferimentos pelo meu corpo começaram a me preocupar há um ponto que deixei de me importar com os pudores da caçada e fui procurar ajuda.

— Meus ferimentos cicatrizam mais rápido como caçadora. — Repliquei, sentindo-me exposta enquanto era analisada. —  Não achei que fosse continuar doendo.

— Bom, não parece que deu certo dessa vez.

Apesar do sorriso calmo de Will,  seus olhos azuis tinham um brilho severo que me fazia ter vontade de pedir desculpas como um garotinha morrendo de vergonha. Isso explica porque até Nico acatava suas ordens.

— Parece, não é? — Murmurei mais para mim mesma.

Na manhã seguinte após a batalha com a hidra, acordei sentindo meu corpo dolorido e esgotado, uma fraqueza invulgar com minha imortalidade. Tentei me convencer que era culpa do abuso de poderes na noite anterior, mas, mesmo que a dor tenha sarado, meu organismo não havia voltado ao normal nos dias que se seguiram. Eu poderia culpar o estresse emocional com toda a história do casamento e a morte de Nico, mas a cena de minha tiara caindo sempre voltava a minha mente, fazendo surgir uma bolha de rancor e medo do meu peito.

Sua tiara jamais cairá, minha tenente.”, fora a promessa de Ártemis. Enquanto eu fosse uma caçadora, estava implícito.

— Isso é algo sobre heróis desprezarem tanto saúde? — Will questionou sarcástico, tirando-me dos meus pensamento. — Todos vocês parecem suicidas.

— Tá no guia. — Tentei sorrir, segurando melhor a blusa conforme o Solace a erguia para analisar melhor minhas costas. — Achei que Nico tivesse te contado isso.

— Ah, nem me fale de Nico e saúde! — Will resmungou, mas era evidente no tom seu carinho pelo garoto. — Deve ter algo de muito interessante no Mundo Inferior pra ele ficar tão ansioso pra morrer logo!

— Não sei você, mas não estou ansiosa pra conhecer meu tio! — Retruquei rindo, mas logo fiz uma careta quando Will passou os dedos sobre minhas costelas.

— Posso perguntar como foi que conseguiu isso?

— Aquela filha de Melinoe louca. — Resmunguei apertando os dentes. A garota havia sido pior do que eu imaginava: lutava como uma selvagem e havia me deixado com cicatrizes, incluindo a de suas garras no meu rosto. Não havia como não chamá-la de louca.

— Ayla ou Mirah?

— A loira. — Eu definitivamente não me importava com seu nome, sSó com a vingança que eu logo daria, pode ter certeza. Mesmo que a louca não estivesse em estado melhor: Sua pele branca mostrava bem mais os hematomas, além de não poder esconder o braço quebrado.

— Sério? — Will riu, me fazendo olhar por sobre o ombro. Ele se afastou de mim, caminhando calmamente até um armário branco perto da maca onde eu estava sentada.

— Por que o espanto?

— Mirah não é desse tipo. Ela é mais de ficar nas sombras resmungando e criando planos diabólicos pra irmã executar. Meio "todo mundo me odeia", tipo o Nico sabe? Mas costuma ser bem doce, apesar de muito estranha.

— Tão doce que devo estar com hipoglicemia. — Retruquei. Se aquela garota era doce para Will, até Clarisse lhe daria diabetes. — Ela já tentou me matar duas vezes em menos de uma semana.

— Você provocou ela? — Will questionou, colocando-se na minha frente. Em suas mãos havia uma latinha de alumínio, com um conteúdo suspeito amarelo.

— Não! — Respondi, levantando melhor minha blusa e a apertando sobre os meus seios para Will espalhasse o que parecia ser uma pomada por meu tórax. — Não realmente! A primeira vez foi antes do caça a bandeira, ela e a irmã fizeram uma emboscada pra gente. Depois foi no jogo, elas estavam tentando matar Nico e esse trabalho era o meu.

Expliquei, constrangida com a proximidade, mas o garoto mantinha os olhos azuis em seus dedos espalhando o medicamento por minha barriga.

— Esse "a gente" que emboscaram seria...?  

— Eu e Nico.

Will  parou o que estava fazendo e ergueu o rosto, apertando a mão na boca numa tentativa inútil de interromper as gargalhadas.

— O que tem de tão engraçado?

— Não é óbvio? — O filho de Apolo riu, os olhos lacrimejando. — Mirah não é fã de pipopinha. Não quando ela não é a pinha.

— O que...? — Franzi a testa, mas Will não respondeu. Ele respirou fundo e deu a volta na maca, para poder espalhar a pomada pelos hematomas nas minhas costas. Apertei os lábios processando suas palavras, até que conseguisse juntar com o comportamento da garota e chegasse ao veredito mais óbvio: — Ciúmes!

— Pois é, minha querida, Nico é um milho muito requisitado! Consegue até corações trevosos! Imagina quando Mirah descobrir do casamento...

Soltei um grito quando o curandeiro passou a pomada sobre minhas costelas, fazendo-me perder o ar com a intensidade da dor.

— Desculpe! Já estou terminando!

— Tem ideia de quanto tempo vou voltar ao normal? — Perguntei um pouco trêmula e respirando com dificuldade, sentindo como se houvesse um milhão de agulhas sendo enfiadas por minha pele.

— Com descanso e néctar, não acho que vai demorar muito. E o sol sempre ajuda: vinte minutos por dia e provavelmente vai poder chutar umas bundas no caça a bandeira na sexta.

— Depois dos jogos que me meti desde que cheguei? — Resmunguei. Primeiro Nico fez o acampamento todo dormir, depois morreu. O que mais faltava? Cronos retornar e roubar a bandeira azul?! — Não, obrigada.

— Por falar nisso... Obrigado por ajudar Nico. — Will disse. Eu não podia ver seu rosto enquanto ele passava a pomada por minhas costas, mas seu tom era acolhedor.— Eu sei que vocês nem sempre se deram bem, ele me contou como as coisas são complicadas entre vocês.

— Ele te contou? — Questionei não muito surpresa. Nico havia me dito que contaria sobre o casamento para um amigo, obviamente Will, só não achei que fosse tão rápido.

— Uhum… — O filho de Apolo murmurou afirmando.

— Então você entende porque isso não melhorou. — Suspirei, pensando em lhe contar sobre minhas deduções quanto a caçada. — É uma loucura, não? Eu e Nico, juntos...

— Espera, o que?! — Will quase gritou, parando o que estava fazendo e dando a volta na maca pra ser por a minha frente. — Vocês estão juntos?!

— Ele não te contou..?. — Comecei, gaguejando.

WIll sabia, não é? Quer dizer, Nico disse que  ia contar para um amigo! E Will havia citado o casamento e “pipopinha”.... A cena no parque voltou a minha cabeça de uma vez. Will havia brincado sobre um casamento entre Nico e eu! Se ele havia se referido à isto, só podia significar que o filho de Apolo não sabia de nada e eu falei demais!

— Ah, deuses! — Exclamei nervosa. — O que Nico te contou?!

— De vocês não se darem bem por você ser uma caçadora!

— Ah, deuses! — Repeti, já descendo da maca e arrumando minha blusa. — Will esqueça tudo o que eu disse!

— Não mesmo! — Will parou na minha frente, as mãos na cintura e pálido. — A senhorita pode ficar sentada aí e me contar todos os detalhes dessa história agora! Ordens médicas!

— Nico vai me matar!

— Como assim você, a Tenente de Ártemis, está em um relacionamento com o Nico?! E eu, como seu melhor amigo, não estou sabendo disso?!

— Pois é: você é o melhor amigo do Nico! — Retruquei, vendo o garoto na minha frente morder o lábio inferior. — Eu tenho cara de Nico? Não! Não tenho! Então pergunte a ele o que está acontecendo!

— Thalia Grace!

— Nem vem usar esse tom comigo querido! — Gritei, desviando do filho de Apolo e quase correndo para a porta da enfermaria. — Já está decidido: pergunte ao seu amigo! Eu vou procurar uma cova pra Jason me jogar quando Nico me matar!

 

Narração: Nico di Angelo



— Por favor! Chega de me bater por hoje! — Pedi assim que uma sombra me cobriu. Meus braços já estavam doloridos e, mesmo que alguns me oferecessem abraços depois de me socar, não aliviava. — Eu juro que nunca mais morro e volto!

— Acalme-se, meu herói. — Uma voz doce e infantil soou atrás de mim, me fazendo olhar alarmado para a menina que se sentava ao meu lado. — Eu não tenho uma senha.

Assim que reconheci os olhos cor de fogo, tropecei para pôr-me de pé e lhe fazer uma mesura.

— Senhora Héstia. — Tentei sorrir ao me curvar, sentindo meu coração acelerado. Apesar de a deusa ser uma das minhas favoritas, todos os meus encontros recentes com divindades só me renderam problemas.

— Sente-se, Nico. — A deusa ofereceu em um tom calmo. — Tenho uma história a te contar.

— Uma história? — Perguntei, tentando soar o mais educado possível. Insultar no máximo cinco deuses em uma semana era um limite que até Percy obedecia.

— Eu sei como você adora histórias. — Seus olhos piscaram lentamente, como se compartilhasse comigo um segredo. — Sua paixão por elas está impregnado em você, algo que é tão raro nos tempos atuais.

— Talvez porque eu tenha nascido em outro século.

— Sua alma atemporal nada tem a ver com isto. — Sorriu de maneira nostálgica, afastando os cabelos castanhos do rosto. — Sua paixão pelas histórias é algo que presenciei poucas vezes, mesmo nos tempos antigos. Hesíodo, Homero, Ésquilo… Eles tinham essa paixão. Você devia manter isso em mente.

Franzi a testa diante de tal comparação. Os três eram grandes referências em dramaturgia e poesia, os maiores legados da Grécia, responsáveis por manter viva a história dos olimpianos, responsáveis por toda a herança e permanência do Olimpo no mundo ocidental.

— O que quer dizer com isso, Senhora?

— Que você gosta de histórias e eu quero lhe contar uma. Posso?

— É uma honra. — Sorri ainda preocupado, abraçando meus joelhos.

Era hora do jantar e eu havia me refugiado para a floresta, um pouco abafado por tanta preocupação dos meus amigos. A brisa soprava suave e, junto a presença de Héstia, isto me era acolhedor. Ouvir uma história antiga da deusa seria algo bom para acalmar minha mente. Ou me deixar mais em pânico, dependendo do teor.

— Alianças com casamentos são feitas há anos, Nico. — A deusa começou, seu olhar na árvore à nossa frente, como se estivesse mergulhada em lembranças. — Mesmo antes que eu nascesse, casamentos envolvendo juramentos sagrados e magia eram o pilar das alianças, algo feito pelos primordiais. Nós, olimpianos, aprendemos com eles e os mortais aprenderam conosco.

Fiz uma careta, já imaginando que a história seria para acabar ainda mais com meu ânimo. A deusa olhou para mim e riu, divertindo-se com meu desespero.

— Não se preocupe, não estou aqui para dizer o que você deve fazer, não irei jogar com você, muito menos de forma suja, como meus irmãos. Apesar de achar você e Thalia adoráveis. — Ela piscou, me fazendo ficar vermelho. — A história que quero contar é sobre mim, sobre meu casamento.

— A senhora… foi casada? — Questionei franzindo a testa. Não me julgue: não é todo dia que uma menina de oito anos te diz que foi casada!

— Ah! Você não foi o único a cair nas garras de Zeus! — Héstia suspirou. — Infelizmente meu irmão decidiu me usar de moeda de barganha. Ele sequer havia se casa do com Hera, mas já conhecia sua natureza irresoluta; Quanto à Deméter, eu não tinha certeza da natureza da relação deles, aposto como Zeus odiaria dividi-la e tenho certeza que deve ter seus motivos para nunca persuadi-la. Além do mais… Eu sempre fiz tudo por minha família. Você sabe: Alguns de nós tem como missão se sacrificar.

Abaixei os olhos e apertei os lábios. Das poucas vezes que conversei com Héstia, tinha impressão que ela sabia demais, seja do meu passado, presente ou futuro. Desta vez, não parecia diferente: ela sabia que era esta minha missão.

— Mas temos que saber quando ceder, Nico. — A deusa advertiu suavemente, os olhos vermelhos estreitos. — Meu casamento foi com um titã aliado durante a Titanomaquia, ele nos ajudou a destruir Cronos. Era a forma que Zeus encontrou de permanecer a aliança, de garantir que ele não se virasse contra nós, o que acabou acontecendo na última guerra com meu pai. Meu noivo era o TItã da premonição e da inteligência, astuto como nenhum outro, apoio vital em uma guerra.

— Prometheu. — Reconheci pelas características. A deusa assentiu levemente. — Faz sentido ele ter conseguido roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos mortais, ele era casado com você.

— Não apresse a história, meu menino. — Héstia repreendeu, chamando-me do mesmo modo que suas irmãs. Mas seu tom não era de chacota, pelo contrário, ela suave e até fraternal. — Veja bem: eu até gostava da companhia de Prometheu. Ele era sábio e apaixonado por uma boa história: são as características das minhas pessoas favoritas! Não era tão difícil dizer “sim”, mas eu não queria me casar, queria permanecer casta.

— A senhora explicou isto á Zeus? — Interroguei ansioso.

— Ainda que eu tenha dito, não havia como fazer Zeus mudar de ideia, nunca houve. De qualquer forma, os termos já estavam definidos, não tive escolha a não ser dizer sim. — A expressão da deusa tornou-se sombria e, mesmo que ainda se apresentasse como criança, seu tom trazia a dureza dos milênios vividos. — Na noite de núpcias eu fui trancada com meu esposo no quarto. Casamentos sempre só são válidos se consumados: Esta é a regra geral e imutável. Prometheu não se opunha à isto, pelo contrário, seria bastante agraciado com o casamento, afinal, eu ainda era uma olimpiana. Eram tempos difíceis para as mulheres, mesmo deusas, se eu disse “não”, provavelmente não seria ouvida, era “a falsa resistência feminina”, diriam.

Engoli em seco, sentindo meu peito se apertar. A voz de Héstia era tão dolorosa que era como se eu estivesse presenciando seu medo: seu receio diante do marido, o medo de ser violada.

— Entretanto, eu tenho um lado estratégico.  — A deusa sorriu, orgulhosa de si e trazendo meus pensamentos de volta para sua narração. — Sabia do defeito de meu marido, da sua ânsia por conhecimento, e tirei proveito disso: Antes de nos deitarmos eu comecei a contar-lhe uma história. Acredito que já tenha percebido que eu também sou uma apaixonada por narrativas, meu menino, então não deve se surpreender que eu soube acrescentar mais e mais detalhes, prolongando-a, usando a curiosidade do meu esposo até que sol nascesse, encerrando as chances dele pôr as mãos em mim.  

Dei um pequeno sorriso diante da esperteza da deusa, apesar de parte da minha mente me alertar que aquela história me era familiar.

— Naturalmente Zeus quis saber se o casamento havia sido consumado. — Héstia continuou, o que me fez gostar ainda menos do meu tio que eu já não gostava. — Ele encoleirou-se ao saber que não. Me encheu de discursos, a quais escutei com paciência e me fazendo de desentendida, mas meu irmão tem menos influência sobre mim do que acredita. Eu precisava ganhar tempo até descobrir alguém que pudesse me ajudar, então, quando chegou à noite e meu esposo quis descobrir o resto da história, disse-lhe que tinha que explicar outro conto, para que ele entendesse o final. Assim, comecei mais uma narrativa que durou a noite inteira. Por mais uma vez escapei.

— Espera! — Murmurei inquieto. — Eu já ouvi essa história! Mas… eu não sabia que foi com a senhora!

— Já ouviu que “todas as histórias são verdadeiras”? Cada história encontra seu modo de se manter viva, mudando através do tempo. A minha não fugiu à regra. — Héstia suspirou, abraçando seus joelhos enquanto contava a história. — Noite após noite eu fiz a mesma coisa: histórias infindáveis que causaram a curiosidade do meu esposo. Naturalmente ele percebeu meu plano, mas seu defeito mortal era mais forte. Depois de seiscentas noites, descobri um aliado: Apolo. Sempre o acharam arrogante demais para prestar atenção em histórias alheias, o que se tornou uma vantagem: ele escutava histórias de todos os povos e o tempo todo no Olimpo em busca de inspiração para suas poesias. Foi assim que descobriu como dar fim ao meu casamento.

— Por que ele te contou? — Perguntei, pensando em como isso iria trazer a fúria de Zeus para Apolo, algo que o deus mais temia.

— Eu acredito que tenha sido por causa de Ártemis. Se Zeus tinha feito comigo, não demoraria a fazer com as filhas e Ártemis era uma das poucas que ainda se mantinha casta. Não se deixe enganar: Se existe uma pessoa por quem Apolo causaria uma guerra contra o próprio pai, essa pessoa é Ártemis. Ele faria tudo por ela.

— E como foi?  — Me remexi inquieto, querendo saber a solução da história e dos meus problemas. — Como se desfaz um casamento entre deuses?

— Como eu disse, meu menino: Um casamento só é válido se consumado. E meu casamento tinha uma data limite para que isso acontecesse.

— Mil e uma noites! — Exclamei, lembrando-me do título da história similar. A deusa deu um pequena risada, assentindo.

— Na verdade, mil noites. — Héstia explicou. — Prometheu tinha mil noites para consumar o casamento ou ele se tornaria inválido. A noite em que completou mil e uma, terminei a história no momento do nascente e lhe expliquei que não poderia levar aquilo adiante. Prometheu era honrado e soube se curvar diante meu truque, ele aceitou de bom grado que eu me desfizesse do casamento. No entanto, Zeus não foi tão complacente, tinha medo que a aliança fosse quebrada e Prometheu se virasse contra nós. Como uma forma de selar a nova aliança, eu dei parte do meu poder ao meu ex-esposo.

— O fogo. — Murmurei, encaixando as histórias. — E ele deu aos humanos.

— Eu e Prometheu tínhamos um bom convívio, respeitávamos a inteligência um do outro. Foi por isso que ele me deixou livre. Mas, quando Zeus questionou sua fidelidade, o orgulho lhe subiu a cabeça. Você sabe: o ego masculino sempre foi a coisa mais frágil desde os primórdios do tempo.

Héstia piscou, deixando claro que brincava e não acreditava verdadeiramente naquilo.

— Foi a forma de se vingar de Zeus. — Sugeri e a deusa assentiu.

— Acredito que você já saiba o final da história. Zeus aprendeu a lição e permitiu que eu fizesse meus votos de castidade, Ártemis e Atena seguiram meu exemplo, mas parte do meu poder havia sido dado à Prometheu, então Zeus usou como desculpa para dar meu lugar entre os olimpianos para seu filho, Dionísio. E o conselho votou que essa história se mantivesse oculta, não deveria ser narrada aos mortais. Mas, todas as histórias encontram sua forma de serem contadas.

— A senhora não está quebrando a lei ao me contar? — Questionei, com medo de ser fuzilado e morrer de novo.

— Cuidei para que esse seja o nosso segredo. — Héstia piscou cúmplice. — Eu gosto de conversar com semideuses e você é o único que me procurou em tantos anos. Não é da conta dos meus irmãos o que conversamos, esse lugar está selado da visão dos deuses por um tempo.

— Obrigado, Lady Héstia. — Sorri, planos se formando na minha cabeça.

— Tome cuidado, meu menino. — A deusa sussurrou preocupada, mas com um sorriso acolhedor. — O ego de Zeus não diminuiu e você não será o único a se sacrificar nessa batalha.

A deusa tocou levemente meu ombro por alguns segundos, como se me desse apoio e, no momento seguinte, se dissolvia em chamas alaranjadas. Quando o fogo se apagou, a grama estava intocada, exceto por um pequeno cartão familiar e uma caixinha preta. Suspirei ao pegar o cartão, já sabendo do que se tratava ao levá-lo ao alcance dos meus olhos. Não precisava ler o nome escrito: o desenho em vermelho, marrom e dourado que formava a bela deusa do fogo identificava com precisão a carta de Héstia.  

Era a segunda vez no dia que mitomagia retornava à minha vida. Já estava imaginando um baralho todo ao pegar a caixa preta e a abrir, mas o que encontrei foi um celular. Com cuidado, liguei o visor, encontrando um aplicativo de mensagens que piscava.

Havia uma pequena lista de contatos que incluía meu pai e Zeus — obviamente eu jamais mandaria mensagem para ele! —, além de Héstia e “Amor”, com a foto de Thalia ao lado. Não pude evitar rolar os olhos.

Respirando fundo, abri a conversa com meu pai, digitando o texto o mais rápido que a dislexia permitia:

Pai,

Se eu fazer Thalia dizer sim, como vai ser o casamento?

Apertei os lábios ao enviar, pensando na confusão que estava me metendo. O plano já estava se formando na minha cabeça, mas era suicida em um estilo Percy Jackson.

O celular vibrou fazendo meu coração acelerar, esperando a resposta do meu pai. Contudo, não era dele que haviam novas mensagens, e sim de “Amor”. Franzindo a testa, li as palavras escritas por Thalia, não conseguindo acreditar no que ali estava escrito:

Oi Niquinho ♥

Lembra quando você me deu pipo sendo todo amorzinho?

Tenta lembrar de como eu tava fofa quando tentar me matar!

Talvez eu tenha falado demais e Will ache que somos um casal

Docinhos, amorzinho, pipopinha e tal

Nada demais

Você tem um arco pra me doar?

Beijinhos

Thalia ♥“

 

Não, aquilo não poderia ser verdade!

 

O QUE VOCÊ FEZ?”

 

Digitei rapidamente, já me levantando para correr em direção à filha de Zeus.

Cancelem o casamento (que nem foi marcado): Eu vou matar Thalia Grace!

 


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Notas finais do capítulo

O que será que o menino sol vai fazer agora?!
Quero agradecer a Risurn que me veio com a ideia de encaixar um conto de fadas em PJ&O e, enquanto conversávamos sobre "Mil e uma noites" veio essa ideia e encaixou direitinho! Aliás, vocês já deram uma olhada em Perseu? É a fanfiction dela reescrevendo A Pequena Sereia com PJ! Não sei se é spoiler, mas vou revelar: Vai ter Thalico! Venham ler: https://fanfiction.com.br/historia/728539/Perseu
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Mudei as notas do capítulo anterior: Esqueci de avisar que a ideia das senhas e algumas frases foram escritas pela Dama do Poente. Ela sempre me dá as melhores ideias!
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Game Poser flopou... Não sei se voltarei a fazer...
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Fiquem atentos à página:
https://www.facebook.com/eumeunoivoeseucrush

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Obrigada novamente à DemoniMoon: você mais uma vez alegrou minha semana!