Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 25
Foi assim que quase morri algumas vezes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Narração: Nico di Angelo

 

— O que acha de tudo isso? — Perguntei quando enfim os demais deuses se retiraram.

Restava apenas eu e meu pai no jardim da minha madrasta, e era difícil me concentrar em qualquer um dos acontecimentos que atormentavam minha mente. Como se não bastasse ter sido morto e toda a manipulação do meu (nada) querido tio Zeus, ele havia se despedido com um aviso: Eu só tinha até o Solstício de Verão para tomar minha decisão quanto a me casar com Thalia; No caso até o próximo sábado.

— Seu futuro está mais confuso do que nunca. — Meu pai falou a coisa mais óbvia do mundo. — Nós deuses interferimos: as possibilidades diminuíram muito.

— Isso é bom ou ruim?

Ele não respondeu, mas era óbvio que a resposta era “Comece a chorar logo. Você está bem lascado”. Apenas suspirei e me inclinei sobre a barra que separava a sacada do jardim, tentando respirar fundo, o que trazia uma sensação de incômodo no meu peito.

— Vai me deixar voltar? — Perguntei tão baixo que não tinha certeza se apenas pensei nisto. O silêncio que obtive como resposta era incômodo e durou quase uma eternidade, até que uma névoa densa surgisse na minha frente e exibisse a imagem dos meus amigos no meu chalé.

Desta vez, estava apenas Jason e Will, ambos me limpavam com panos encharcados em sangue, as expressões abatidas e doloridas. Me forcei a não chorar novamente enquanto via-os desabotoar minha calça e tirarem com delicadeza, preparando-me para meu próprio funeral.

Se era vergonhoso ver meus amigos me despir? Bom, eu passei boa parte da viagem trazendo a Athena Parthenus sendo  “plantado” só de roupas íntimas pelo Treinador Hedger para não me dissolver em sombras, logo, eu prefiro que meus dois melhores amigos façam chacota por minha cueca de caveirinha — qual é?! É a minha boxa favorita da coleção! — do que ficar seminu em frente há um sátiro homicida e uma pretora, que, afinal de contas, era uma garota.

É por isso que semideuses sempre devem usar roupas de baixo limpas: você nunca sabe quando vão te matar.

— Não temos muito tempo para tomar decisões, não é? — Assustei-me ao ouvir a voz do meu pai, me tirando dos meus pensamentos sobre minhas cuequinhas. — Eles pretendem te cremar logo e é melhor usarmos a hora morta.

Assenti levemente, questionando-me que hora seria. Uma da madrugada? Duas? Pelo tom do meu pai, a hora morta, isto é, as três da manhã, se aproximava. Até os mortais tinham certo conhecimento disto: Era o momento que Melinoe deixava alguns fantasmas escaparem do mundo dos mortos para atormentar os vivos. A barreira entre os dois mundos se tornava frágil, seria mais fácil não só sair do Mundo Inferior, bem como me misturar as demais almas fugitivas.

A névoa que mostrava meus amigos se dissolvendo, deixando-me apenas com a imagem do jardim morto. Não sabia exatamente o que falar para meu pai, ambos sabíamos que estávamos quebrando, mais uma vez, uma das regras mais importantes e com as piores consequências, o próprio Senhor dos Mortos quebrava sua regra fundamental.

— Você quer isso? Quer voltar? — Meu pai perguntou baixo, também apoiando os braços na sacada. Lhe olhei de soslaio, percebendo que ele encarava o jardim com uma expressão séria. —  Pode ficar aqui, me ajudar a comandar o Submundo, ser o Príncipe dos Fantasmas como você se chama. Príncipe, não rei. — Acabei sorrindo de lado. Sempre soube que ia acabar levando uma bronca desde que me nomeei de tal forma, mas o que podia fazer? Minos jamais foi digno de tal título, eu sim. — Você teve uma morte digna, um funeral honrado… eu não lembro a última vez que isso aconteceu há um filho meu.

Tentei forçar minha mente, lembrar-me de algum herói filho de Hades ou Plutão, mas minha mente não encontrava nenhum. Não acredito que seja porque não somos corajosos como os filhos de Zeus, ou honrados como os de Poseidon; Era apenas por causa da má fama do meu pai ou porque não nos importávamos realmente de receber méritos e glória, fazíamos o que era preciso ser feito. Como Bianca e Hazel: heroínas cujo o nome não foi reconhecido. Sinceramente? Eu não me importava com isso.

— Você quer isso? — Questionei quase em um sussurro, olhando-o apesar dele continuar virado para o jardim. —  Quer que eu fique?

— Às vezes tudo isso é… — Ele começou e se calou, mas sua expressão ao apertar os lábios e olhar para baixo lhe denunciava.

— Solitário. — Concordei, pensando em tanto tempo que fiquei sozinho. Para meu pai eram centenas de anos em que, metade do tempo, ele era o único ser vivo ali. — Eu conheço esse sentimento. Pai, eu… eu…

— Ainda não é sua hora. — Hades me cortou quando minha voz falhou. Ele se virou, por fim, me fitando nos olhos. — Eu entendo… Quer dizer, eu não faria diferente.

— Pai, eu vou voltar. — Suspirei, quase me acostumando com a sensação incômoda que aquilo me causava. — Só alguns anos e então assumirei meu lugar.

— Nico… Nada dura para sempre. Sabe disso não é? Nem nós deuses. Todos temos nossa hora.

— Eu sei. — Sussurrei, sem entender onde ele queria ir com aquilo.

— Assim como toda regra tem sua exceção;  Até a morte. Você acha que um casamento não?

— O que está tentando dizer? — Questionei, engolindo em seco.

Antes que ele pudesse me dizer, um servo se aproximou, cabisbaixo e temeroso, se é que um fantasma pode soar diferente perto do meu pai.

— Milorde, — A voz do morto soou áspera e sombria. — há uma visita.

Franzi a testa, observando meu pai ficar tenso e dispensar o servo. Em seguida, as portas duplas que davam para a sacada foram abertas e um rapaz entrou. Não foi só por tê-lo visto uma vez que o reconheci, mas porque os cabelos loiros e o bronzeado perfeito era uma das maiores heranças das crianças do chalé sete.

— Lorde Apolo. — Fiz uma mesura, conforme o protocolo, tentando entender porque a personificação do Sol estava no Submundo.

— Lorde Hades. — O deus cumprimentou meu pai (sem chamá-lo de titio), depois se virou para mim, um leve apertar dos olhos azuis mostrava o nervosismo, um tique compartilhado com Will. — Nico di Angelo. Precisamos conversar rapaz.

— Não temos muito tempo. — Meu pai advertiu com a expressão fechada, como sempre. — Preciso que você cure o corpo mortal de Nico para que a alma retorne.

Franzi a testa, pensando em como aquilo não foi necessário para trazer Hazel de volta. Talvez a espada de Hades tenha regras próprias, diferentes das Portas da Morte.

— Eu o farei. — Apolo assentiu, seu rosto invulgarmente sério. — Mas quero conversar com Nico antes. Não tomará muito tempo.

— Não demorem. — Meu pai ordenou novamente, antes de entrar pelas portas duplas e nos deixar sozinhos.

— Então, garoto, — Apolo começou, tentando soar animado, mas apenas se resumindo a nervoso e exasperado. — neste ponto você deve saber quem te matou, certo?

— Hã… Ártemis? — Chutei. Eu não tive realmente tempo de pensar nisso, mas acho que a deusa da caça teria motivos suficientes para me matar já que nunca queimei nem uma balinha para ela. Deuses costumam se ofender fácil.

— Não te contaram?! — O pai de Will perguntou sorridente e aliviado. — Ah, ótimo. Então vamos pular essa conversa! Pode ir chamar seu papai!

— Espera… — Murmurei, juntando as peças. — Foi você? Você quem me matou?! Por quê?!

Qual é?! Eu nunca fiz nada pra Apolo! Até oferendas eu fiz — normalmente incluíam como pedido pra tirar sua filha, Alexia, do meu pé; Ou que Austin não ensaie “Careless Whisper” no saxofone todas as vezes que eu pisar no seu chalé; Ou que Kayla ficasse trêmula o suficiente para não disparar uma flecha sequer durante um mês depois que me amaldiçoou com suas rimas por uma semana; Ou que o sol suma toda vez que Will me obriga a (fazer fotossíntese) ficar mofando nos meus “banhos de sol”. Tá que ele nunca me escutou, mas não custa tentar, né: —, não sei porque me matar!

— Eu não disse que fui eu! — O deus da arquearia se defendeu. — Mas teoricamente, se eu fizesse seria completamente um acidente.

— Um acidente? — Retorqui, cruzando os braços irritado.

— É sabe? Eu estava mirando em... Hã... Uma formiga... Mas acho que confundi… Sabe?... Ela saiu do caminho, mas já era tarde, eu já tinha atirado… E aí a força centrípeta agiu… Sacomené?

— Como é?! — Questionei exasperado. — Você me confundiu com uma formiga?! Tudo bem que eu não sou alto, mas não precisa exagerar, né?!

— Nossa, que menino exagerado! — o Deus mais discreto do Olimpo continuou. —  Não é minha culpa esse seu péssimo modelito todo preto! Além do mais, já viu aquelas formigas do Acampamento Meio-Sangue? São mais gordas que você! O que, vamos combinar, não é difícil, né?! Precisa comer mais, Menino! Não escuta meu Raio de Sol?!

O olhei atônito por alguns segundos, em dúvida se era mais estranho o fato dele ter me matado ou suas palavras. Sério que os deuses tão ficando loucos de novo?! Ninguém merece!

— Espera! O que?

— Enfim, me desculpa por isso e bla-bla-blá. — Apolo revirou os olhos azuis. — Podemos seguir adiante e concordar que você não vai contar isso pro meu bebê?

— Você me mata e não quer eu conte para o Will?! — Gritei, diante do tamanho absurdo. — É isso mesmo?!

— Sim. — Tentei captar sarcasmo em suas palavras, mas ele estava sendo completamente honesto. — Exatamente. Até que você entende rápido, Menino das Sombras. Agora vamos!

— Não me chame de Menino das Sombras! — Reclamei.

— Descuuulpa… — Apolo ironizou, como se fosse uma criança. — Não sabia que só Will podia te chamar assim!

Pensei em retrucar que Will só fazia isso porque era irritante e nunca me escutava, mas era óbvio que aquilo não ia dar em lugar nenhum.

— Pode, pelo menos, me dizer porque me matou? Fale a verdade dessa vez e até prometo não contar pro Will.

— Jure pelo Rio Estige primeiro.

— Eu não vou… — Comecei, mas o deus me olhou irresoluto e foi minha vez de rolar os olhos. — Ok, eu juro pelo Rio Estige que, se você me contar a verdade do porque me matou, eu não conto para seu filho, Willian Solace, que você quem me matou. Tá bom?!

— Preferia com um pouco mais de poesia, talvez um haicai, mas tá bom. — Revirei os olhos, já me arrependendo do trato, mas o deus apenas suspirou antes de começar: — É claro que foi porque meu pai me mandou! Ele disse que se eu não fizesse ia me transformar em um mortal de novo! E dessa vez ia ser bem pior: Ia me transformar em um mortal feio!

Ergui a sobrancelha, um pouco incrédulo de como Apolo era fácil de comprar, mas o ego do deus não deixou que eu fizesse qualquer comentário: ele continuava a tagarelar sem parar.

— Tá que isso é impossível porque, vamos combinar, sou eu né?! É impossível que eu fique feio, mas vai que ele me dá uma monstruosa espinha! Ou pior: tira meu tanquinho! Eu, o grandioso Apolo, matador da poderosa Píton, um adolescente gordo e espinhento! Não dá, querido! Só falta um nome tão ruim quanto! Imagina se é um nome de nerd tipo Barry! Ou pior, Lester! Já imaginou um deus chamado Lester Pappadoulos?! Seria uma tragédia! Desculpa, mas prefiro te matar um milhão de vezes antes de perder meu sorriso perfeito!

— Espera… — Murmurei, atordoado com o tanto de informações. — Então Zeus te mandou me matar?

— Uhum. Você acha realmente que ele ia deixar vocês dizerem “não”? Ele vai matar metade dos seus amigos até você dizer sim.

— Uau! Que sogro legal meu pai está me oferecendo! — Reclamei, me esquecendo que eu me dirigia ao deus que me matou. Mas, Apolo não parecia nada incomodado sobre como me referi ao seu pai, na verdade ele parecia até animado para completar as reclamações.

— Não é? Eu sou um sogro bem mais legal! Tem universos alternativos que você concorda plenamente comigo!

— Como é?! — Questionei, me sobressaltando com o assunto.

— Na verdade, você até diria “o melhor sogro do mundo”.

— Do que você está falando?!  — Interroguei, assustado com a possibilidade.

— Ah, vamos, Menino das Sombras! Posso estar com minhas profecias temporariamente fora de área, mas continuo vendo algumas possibilidades de futuro nos meus sonhos!

— Estou falando sobre você ser meu sogro! — Gritei, sentindo um leve tremor na mão.

— Ah, querido! — Apolo abriu um sorriso malicioso que deveria ser proibido para menores de dezoito anos, antes de continuar na mais completa ironia: — não vem agir como se nunca tivesse tido nem uma leve atração por nenhum dos meus filhos que eu não nasci ontem!

— O que? N-não! Eu e Will somos apenas amigos e...

— Eu jamais disso qual deles seria.

Ele piscou e se afastou, assobiando ao entrar no Palácio. Demorei um pouco para processar as informações, antes de correr atrás dele completamente vermelho e tentando protestar que eu e Will não tínhamos nada a ver, mas o deus me ignorava completamente.

— Prontos? — Meu pai questionou ao me ver e seu olhar gélido dizia claramente para que eu calasse a boca.

— Claro. — Apolo sorriu tranquilo. — Nico, como um bom garoto, me perdoou pelo pequeno descuido ao matá-lo.

— Hey, eu não disse nada disso! — Reclamei. — Só disse que não ia contar para o Will!

— Você vai manter esse rancor? — Apolo se virou para mim, o mesmo sorriso de Will quando estava aprontando algo que ia acabar mal pro meu lado. Geralmente ele o usava quando eu me recusava a comer vegetais e pouco depois eu cometia canibalismo. — De um deus tão poderoso quanto eu?

— Talvez, se me deixar uma volta no seu carro… — Ponderei, me lembrando do lindo Maserati com qual sonhava desde os dez anos. — podemos conversar.

— Vamos, não há mais tempo para brincadeiras. — Meu pai reclamou, antes que eu pudesse terminar de barganhar. Acho que ele estava emburrado porque não tinha um conversível vermelho. Que triste! Imagina meu pai dando uma volta com cabelos ao vento e várias fantasminhas em volta ao som de rock and roll!

— Lembre-se que não pode falar nada pro meu Raio de Sol! — Apolo acenou um tchau, me fazendo revirar os olhos.

— Eu não vou contar, mas não é por você: Eu não quero machucar Will.

— Claro que não! — Apolo sorriu, mas murmurou um “ownt” e bateu os indicadores um contra o outro ao se dissolver em névoa. Eu hein!

— Venha. — A voz fria do meu pai rompeu meus pensamentos e assenti antes de o seguir pelo castelo, reconhecendo os corredores até o cômodo que ele mantinha a sua espada. — Tem certeza disso?

Suspirei, tentado a dizer que não, eu não tinha certeza de nada. Mas era bom não irritar mais os deuses.

— Eu quero voltar para os meus amigos. — Sussurrei, um pouco hipnotizado pelo poder que emanava da arma.

Com um gesto, meu pai desintegrou a redoma que a mantinha protegida. Observei atentamente enquanto ele segurava a espada firmemente pelo cabo, a lâmina negra brilhando como ônix.

— Esteja alerta, não sei até onde Zeus é capaz de ir. — Ordenou e assenti, me afastando um pouco do meu pai.

— Meu quarto vai continuar para quando eu voltar? — Interroguei, engolindo em seco, mas tentando sorrir.

— Talvez com uma série ou outra nova. — Meu pai repuxou os lábios, o que significava um sorriso.

— Obrigado. — Sussurrei e então mordi meus lábios, olhando com nervosismo para a espada.

— Boa sorte, Filho.

Suspirei e, antes que eu perdesse a coragem, me aproximei — com cuidado para não ser empalado pela espada — e o envolvi com meus braços.

Pronto, eu vou ser incinerado. Tenho certeza que nenhum meio-sangue tentou isso e foi bem-sucedido, agora terei minha alma incinerada por que abracei meu pai — Culpe os momentos sentimentais e tensos, o chá de Perséfone, ou meus amigos, Jason e Will, me mandando ser mais amoroso por tal ato e pela minha segunda morte —. Mas, contrariando meus pensamentos, meu pai retribuiu o abraço. Durou um segundo e depois foi completamente constrangedor, mas eu me sentia bem e havia um repuxar nos lábios de Hades que indicava um sorriso. Bom, eu espero que seja um sorriso.

— Ajoelhe-se.

Respirei fundo e obedeci. Meu pai tomou a espada nas mãos e a abaixou, como reis faziam com cavaleiros. Provavelmente era necessário que eu apenas tocasse a lâmina, mas, às vezes, um pouco de drama e “teatrismo” faz bem.

— Até logo, meu filho.

Assenti com a cabeça tentando sorrir em meio ao nervosismo. A ponta negra tocou minha cabeça e senti uma dor excruciante na alma.

 

(...)

Até o dia do Solstício de Verão era o tempo que eu tinha para dizer sim e fazer Thalia consentir com essa loucura antes que Zeus desse sua última cartada. Já havia gasto dois dias dormindo, o que significava que já era quarta e eu tinha exatos três dias e meio, se levar em consideração que já estava chegando a hora do almoço;

Por isso eu não podia perder tempo levando bronca dos meus amigos, precisava encontrar Thalia e implorar que ela me ajudasse, mesmo que isso significasse ela perder sua família. Sinto muito por sua casinha, Thalia Grace, mas eu também preciso salvar a minha. E, se necessário, quero que faça parte dela.

Podemos agora, voltar para o momento que paramos anteriormente? Afinal, imagino que estejam tão ansiosos quanto eu para saber a resposta de Thalia para minha pergunta:

— Thalia Grace, você quer se casar comigo?

Sim, é agora que eu morro pela segunda vez.

Contudo, a garota apenas estreitou os olhos azuis ressaltados pela maquiagem escura e cruzou os braços, comprimindo os lábios ao me olhar de cima abaixo.

— Não. — Falou simplesmente, dando de ombros.

Abri e fechei a boca algumas vezes, um pouco surpreso por como foi direta e por não ter me matado.

— Ok… eu devia esperar por isso. — Falei por fim, ainda me sentindo tonto graças a viagem nas sombras. — Mas eu preciso que você aceite.

— Nico, você está bem? — Thalia perguntou, descruzando os braços e se aproximando de mim, o semblante preocupado. — Quer que eu chame o Will?

— Eu estou bem. — Resmunguei, me perguntando como eu convenceria ela a fazer aquela loucura. — Só preciso que você diga sim.

— Olha, querido… — Ela falou calmamente, ainda se aproximando de mim e colocando a mão sobre minha testa. Senti os familiares choques na área, conforme ela verificava minha temperatura. — Você acabou de morrer, sei que ainda deve estar confuso e você bateu feio a cabeça duas vezes, no mínimo, talvez fosse bom chamar Will...

— Thalia, é sério! — Continuei irritado, enquanto ela continuava a aferir minha temperatura. — Só temos até sábado para aceitar!

Segurei seu pulso levemente, afastando do meu rosto e fitei sua face. A maquiagem estava mais forte que o comum, mas ainda conseguia ver manchas um pouco mais escuras abaixo dos olhos denunciando a insônia e três cortes profundos na lateral do seu rosto, que ainda cicatrizavam. Ela apertava os lábios finos, mas, um pouco tardio, percebi que não era de apreensão, era para conter o riso.

— Vamos, Nico, estamos tão perto dos chalés, Will deve estar te procurando.

— Você está me imitando! — Reclamei quando me lembrei de que foi exatamente daquela forma que agi quando ela me contou do casamento. Poxa! Eu realmente tinha ficado preocupado que ela estivesse insana (e agora eu estou insano)!

— Não é legal quando te chamam de louco, né? — A Grace questionou ainda sorrindo vingativa ao cruzar os braços e se recostar em uma das árvores. — E você ameaçou me beijar, isso é realmente uma loucura. Vai saber o que os deuses fizeram com você, vai que te deram uma poção do amor.

— Nem as flechas do próprio cupido podem fazer eu me apaixonar por você, Thalia. — Revirei os olhos, enquanto ela apenas dava de ombro. Expliquei brevemente sobre os deuses do amor não poderem interferir na vida dela, mas o olhar de tédio de Thalia não mudou.

— Sei dos acordos de Ártemis e Afrodite, você não me disse nada de novo. Mas, tudo bem, agora me conte o que eles fizeram com você pra mudar de ideia tão rápido.

— Além deles me matarem? — Ergui a sobrancelha, irritado por ela só me avisar disso agora.

— Eu não te conheço muito bem, Nico. — Comentou, ainda com o ar despreocupado. Só havia dois sinais que a denunciava: o ângulo do queixo mais elevado que o comum e os dentes travados sempre que fechava a boca; Era o mesmo tique que compartilhava com o irmão. Thalia sabia tão bem quanto eu que estávamos sendo observados. — Mas é o suficiente pra saber que isso não basta pra te intimidar. Diga o que aconteceu.

— Eu encontrei seu pai no Mundo Inferior. — Suspirei, também me recostando em uma árvore à sua frente. Minha visão continuava turva e não estava a fim de cair. — Ele disse que eu poderia voltar se eu me casasse com você e fossemos imortais.

— E você aceitou? — Questionou, olhando para as unhas, como se procurasse alguma sujeira. Neguei com a cabeça, mesmo sabendo que ela não veria. — Como voltou?

— Isso não importa, não agora. Mas minha resposta foi não para seu pai.

— Então por que está me pedindo em casamento? — Ela ergueu a cabeça, olhando nos meus olhos. Era difícil identificar suas emoções, mas havia algo inquietante no seu olhar, algo receoso, calculista, mas também repleto de energia, como se armazenasse cada emoção que ela reprimia.

— Eu não me importo de morrer, Thalia. — Falei, por fim, desencostando do tronco e indo em sua direção, ficando há pouco mais de dois passos. — Mas eu não acho que me matar tenha sido a última jogada dos deuses. Eles me deram até sábado para te fazer aceitar.

Tentei detectar suas emoções, mas Thalia era uma boa atriz, até mesmo os tiques estavam mais sutis, enquanto me olhava com o semblante demonstrando pouca atenção nas minhas palavras, como se seus pensamentos fossem mais importantes. Aquilo estava começando a me incomodar.

— Eu sei que o que estou te pedindo é muito, que isso significaria abandonar a caçada. E eu sei que elas são sua família, que você não quer abandonar elas. — Respirei fundo, observando a boca rígida denunciando o nervosismo crescente, bem como os ombros tensos, em alerta. Aquele continuava sendo um assunto delicado, eu estava pedindo demais, contudo, tinha que continuar. — Mas eu também tenho minha família e é isso que estou tentando proteger.

— Acha que o próximo golpe deles será envolvendo alguém. — Ela afirmou por fim, a voz gélida. Engoli em seco, assentindo.

— Eu estou com medo, Thalia.

— Tem ideia de quem possa ser?

— Hazel, eu acho. Seu pai falou umas coisas que… — Sussurrei, pensando em como Zeus havia dito tanto sobre ignorar mortos que voltavam à vida. Bastava uma palavra dele e minha irmã teria que retornar aos reinos de nosso pai e não tenho certeza que não seria punida, mesmo depois de salvar o mundo. — Ele é o Rei dos Deuses, ele faz as próprias leis.

— Isso é um blefe. — Thalia retrucou, desencostando-se da árvore, a fachada despreocupada ruindo. — Se fizessem algo com ela você nunca aceitaria.

— E se não for? — Perguntei, minha voz soando rouca ao pensar na possibilidade. Eu não podia deixar nada acontecer à minha irmã. — Se eu continuar rejeitando e ele tirar um a um? E eu não falo só de matar, Thalia, mas ele pode tirar toda a existência: Jogar no Cócito, no Lete, ou até no Tártaro. Eles podem tirar um a um dos meus amigos... Hazel, Will, Reyna...

— Jason. — Ela finalizou, engolindo em seco e fechando os olhos.

— Sei que é injusto esse pedido, mas... — Deixei o silêncio pesar, enquanto a filha de Zeus respirava fundo tentando se controlar. Quando abriu os olhos, havia o brilho da raiva e do entendimento. Sabia que ela era esperta, sabia que entenderia onde eu queria chegar. — Me ajude a salvar minha família. Case-se comigo, Thalia.

A Grace respirou fundo e me envolveu com seus braços em um abraço, a qual retribui apertando sua cintura. As correntes elétricas se tornaram presentes, formigando onde nossas peles se tocavam. Thalia encaixou a cabeça na curva do meu pescoço, onde eu podia sentir seu hálito me causando arrepios e ouvir sua voz bem baixa:

— Você tem um plano não é?

— Meu chalé hoje, no final da fogueira. — Sussurrei perto do seu ouvido, esperando que os cabelos negros escondessem o movimento dos meus lábios.

Ela me deu um último aperto antes de se afastar suavemente. Havia o brilho de lágrimas em seus olhos, mas eu podia jurar que era falso, bem como seu tom trêmulo:

— Eu... preciso pensar, Nico. — Fingiu conter um soluço e assenti, tentando soar o mais triste possível também. — E... conversar com Annabeth sobre isso.

— Temos até sábado. — Sussurrei. Por mim, teria finalizado aquela discussão logo ali, mas o lugar mais seguro seria no meu chalé, onde só meu pai poderia ouvir meu plano. Levar Thalia para lá agora seria alarmar os deuses. — Posso contar para um amigo também?

— Por mim, não há problema nenhum.

Havia informações que eu precisava confirmar e descobrir mais, para ter certeza que tudo daria certo e, se havia pessoas capazes de me ajudar com isso e ainda manter em segredo, estas seriam Annabeth, a qual Thalia já ia conversar, e esse amigo meu.

Romano, estrategista e sabia muito sobre ganhos e perdas, sobre o valor dos sacrifícios e quando valia a pena barganhar: Jason Grace iria me ajudar com esse plano suicida.

 

 


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Notas finais do capítulo

"Oi Jason, seu pai me mandou me matar pra mim virar seu cunhado. Quer biscoito?"
Mais uma vez estou postado correndo, quase não terminei o capítulo há tempo.
Estou terminando de responder os reviews e espero já estar em dia na próxima postagem, no caso, daqui há duas semanas (espero).
Esclarecedor ou ainda mais confuso o capítulo?
Vocês querem o game poser de volta?
Adoraria saber mais de vocês, voltar a conversar. Que tal me contarem quem é seu pai olimpiano?
Acho que é só isso, até mais!