Somebody That I Used To Know escrita por Aline


Capítulo 1
Alguém


Notas iniciais do capítulo

O capítulo é dividido em três momentos: o primeiro se passa no intervalo de tempo que eles ficaram separados na série, o segundo é o do casamento deles, e o terceiro é do aniversário de dois anos ♥ (e sim, eu sou obcecada por aeroportos).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/685523/chapter/1

—Por favor, Beck... O Auggie se machucou muito, e ela está doente. – O rapaz ouvia a voz chorosa da mãe de sua ex-namorada ao telefone. –Eu sei, vocês terminaram... –Pausou para ouvir o que ele lhe dizia. –Eu sei, sim... Mas você é a única pessoa que já conseguiu acalmá-la. Nem faço ideia... Sim, sim... Ainda por cima ela não quer tomar nenhum remédio! Ir ao hospital? Ela jogou uma tesoura no meu rosto quando eu sugeri isso! –A mulher passou mais uns três minutos implorando. -Mesmo? Muito obrigada, eu, eu... Muito obrigada! –Ela estava constrangida. Nem sabia mais a quem pedir ajuda e ouvir um “tudo bem, tô indo pra aí” do garoto lhe deixou muito mais calma.

Beck estava na Hollywood Arts, acabara de deixar o banheiro masculino e secava as mãos nos jeans para poupar o tempo que levaria retirar as duas folhas de papel. Começou a andar apressado para alcançar os amigos que iam mais a frente comentando algo aparentemente interessante, até que seu celular vibrou. Ele parou perto dos armários para atendê-lo. Era a mãe de Jade, o que o deixou intrigado, já que a ex-namorada havia mudado o número de celular e ele não esperava que a família dela o chamasse para qualquer coisa depois do término. A mulher estava com a voz embargada, e começou a narrar lentamente os fatos das últimas horas: Jade estava doente (e ele já sabia disso porque Cat avisara a todos o motivo pelo qual a amiga não fora ao colégio), o pai dela sumira de casa há mais de 24 horas, e Auggie, o irmãozinho de Jade, machucara o braço com o vidro de um copo que quebrou. O corte parecia fundo e a mãe precisava levá-lo ao hospital, mas não queria deixar a filha doente sozinha, e todo o resto da família a detestava demais. Então, a mais velha pediu solenemente ao ex-namorado de sua filha para cuidar dela. No mesmo segundo, Beck deu uma risadinha condescende, questionando se ela estava brincando, mas a mulher não parava de choramingar. Ele tentou explicar que Jade e ele haviam terminado, que Jade iria matá-lo se ele fosse até a sua casa, que ela estava odiando-o. Mas a mãe insistiu, “porque eu não conheço mais ninguém responsável que goste dela” (ela sabia que Cat era uma ótima amiga, mas muito ingênua), “porque eu não conheço ninguém mais responsável que ela já tenha gostado”, “porque você é o único que já conseguiu acalmá-la”, “porque eu sei que ela am... gosta de você como amigo”, “porque você é muito paciente com ela”. Depois de algum tempo, Beck acabou cedendo, ainda com o pé atrás. O que Jade acharia disso? Com certeza, ela não gostaria nada, nada...

—Beck! –Cat o chamou, ele nem havia percebido que havia caminhado para o Asphalt Coffee. –A Tori achou um novo restaurante de cranberry! –O moreno mirou a ruiva sem entender.

—Crustáceos! –Tori a corrigiu, virando-se para o amigo. – E eles ainda têm uma porção grátis de framboesas com camarão! –Beck riu.

—Hehe sabe o que ficaria ótimo com framboesa? –Rex perguntou, enquanto Robbie pegava o seu braço para fingir que ele estava gesticulando.

—Queijo? –Robbie perguntou e Rex o insultou. Cat gargalhou depois de contar uma piada sem sentido sobre queijo doce.

—E aí, tá dentro? –André perguntou para Beck, ignorando por um minuto a insanidade dos demais à mesa.

—Ahn... –O moreno ponderou, passando a mão pelo cabelo. – Não vai dar, eu fiquei de consertar os... Sapatos... Do meu pai.- Pensou em qualquer bobagem. Tori o olhou entediada, sabia que ele estava mentindo porque mentia muito mal e todo mundo devia ter percebido, mas ele saiu antes de ouvir perguntas, se despedindo da turma.

Dirigiu rapidamente para a casa de Jade, lembrando que o irmão dela estava machucado.

—Graças a Deus, você veio! –A mãe dela disse, segurando o filho mais novo no colo, que tinha marcas de lágrimas no rosto e um pano ensanguentado no braço para estancar o ferimento. A mulher pegou a bolsa do sofá e as chaves de seu carro, correndo para a porta. –A Jade tá no quarto, ela tem que tomar, daqui a mais ou menos meia hora... O remédio que tá no balcão. –Apontou para a cozinha.

—Qual deles? –Beck perguntou, contando três tipos diferentes de medicamento.

—O azul.

—Okay, olha, pode ir tranquila! –Ele disse, não tendo a certeza disso. Deu um sorriso para Auggie, que retribuiu só pela metade.

—Obrigada! –Ela exclamou, conferindo algo na bolsa. –Se cuidem! – Falou mais alto, antes de fechar a porta, e Beck não entendeu exatamente o que a mãe de Jade quis dizer com aquilo.

O moreno olhou por alguns longos segundos para a escada que levava aos quartos e a um dos banheiros. Estava com medo. Estava irritado. Estava com fome. Estava cansado do dia na escola. Estava receoso. E com saudades. Foi até a cozinha e pegou o remédio azul e um copo d’água numa mão. Jogou a mochila no sofá e subiu até o quarto de Jade. Colou o ouvido na porta para se certificar de não atrapalhá-la. Nada. Se prestasse muita atenção, conseguia escutar o barulho do ar-condicionado. E só. Beck bateu na porta levemente, em seguida pondo a mão na maçaneta. Nenhuma resposta.

—Jade, a sua mãe pediu... –Começou a explicar antes mesmo de entrar, mas parou de falar notando que ela estava dormindo. Suspirou aliviado, entrando no quarto e fechando a porta. Colocou o copo e a cartela do remédio azul numa pequena escrivaninha que ficava entre a cama e a poltrona de couro preto. Preto, preto. Tudo preto. Os lençóis da cama. As paredes. As tampas dos potes de vidro de borboleta. Ele ajeitou um dos potes que estava quase caindo no chão. Preto, preto. As cortinas. O aparelho de som. O cabelo de Jade (claro, menos a parte das mechas verdes), que estava metade preso e metade solto pelo rosto branco ainda mais branco. Beck não pôde deixar de notar que o quarto estava frio demais, e que isso não ajudaria Jade a melhorar. Pensou em desligá-lo. Não, não... Ela acordaria e ficaria uma fera. Pensou em sentar na poltrona para esperar que ela acordasse a fim de lhe fazer tomar o remédio. Não, não... A poltrona poderia fazer um barulho, então ela acordaria e ficaria uma fera. Por isso, simplesmente sentou no chão ao lado da cama dela, tirando o celular do bolso e checando o The Slap. Seus amigos no novo restaurante de crustáceos. Ele quis rir de uma foto de Cat com uma estatueta de plástico de camarão na cabeça. Ele pensou se gostaria de ter ido ao novo restaurante de crustáceos com os seus amigos... Olhou para Jade. Ela respirava com dificuldade, seu peito subia e descia sonoramente, indicando um mal-estar respiratório. Olhou para a sua boca bem desenhada que há tempos ele não beijava. Olhou para os seus olhos fechados. Estava com medo de que ela os abrisse e começasse a brigar, quebrando o momento. Mas de alguma forma, Beck não queria estar em nenhum outro lugar. Ele começou a gostar de estar sentado no chão do quarto frio e preto, observando sua ex-namorada doente e adormecida, esperando para lhe dar o remédio azul. Não, não... Ele não queria ir para nenhum outro lugar.

15 minutos. 27 minutos. 40 minutos. Só observando a Jade dormir pesadamente. Até que ela começou a piscar. Afastou devagar uma mecha que caía no seu rosto. Apoiou os cotovelos no travesseiro e coçou os olhos, que estavam intensamente vermelhos.

—Beck? – Sua voz era um misto de indignação, surpresa, dor de garganta e rouquidão. Ela pôs uma das mãos no pescoço, pigarreando.

—O seu irmão se machucou e a sua mãe me pediu pra vir aqui... Cuidar de você. –Ele realmente estava constrangido por estar ali sentado no chão do quarto dela. Guardou o celular no bolso e se levantou para pegar o remédio da escrivaninha.

—Por que ela te chamou?

—Não sei... –Ele evitava olhá-la, enquanto pressionava o comprimido contra o alumínio.

—Não... Preciso de ajuda. Pode ir embora. –Ela afundou a cabeça no travesseiro, tossindo.

—Okay, Jade... Toma o remédio. –Beck simplesmente a ignorou, tocando em suas costas. Ela estava com uma calça comprida de moletom e uma blusa regata que raramente servia-lhe de pijama. Estremeceu no momento em que os dedos gelados tocaram em suas costas aquecidas pelo cobertor. FIREFREEZE. Lembrou de um gel dental que nem de longe teria o mesmo efeito daquele momento.

—Não toca em mim, eu não preciso de você! –Mentira. Mentirosa! Você é tão mentirosa! Jade pensou consigo mesma, e se negava a mirá-lo.

—Hey, você tá com febre? –Perguntou ao sentir a pele muito quente de seu pescoço. Ela estremeceu novamente. –O que você tem?

—Nada! Vai embora!

—Dá pra parar com isso, Jade?! Eu tô tentando cuidar de você! –Beck gritou, puxando-a pelos braços.

—Não... –Ela falou, a voz arrastada e manhosa. Quando ele conseguiu finalmente fazê-la sentar, ela virou a cabeça para trás. Estava quase chorando.

—Tá bom, tá... Jade, desculpa. – Falou, mesmo sabendo que não estava errado e que Jade não estava assim só por ele estar ali. Ela finalmente tomou o remédio azul. Beck levou o copo para a cozinha e voltou até o quarto, encontrando-a com o controle da TV, procurando certamente um bom filme de terror. Dessa vez Beck não sabia o que fazer. Havia olhado no folhetinho pregado na geladeira que o próximo remédio era dali a duas horas. Ele se sentou na poltrona quando Jade parou em algum canal. Ela escondeu metade do rosto com o cobertor, respirando ainda com mais pesar.

—Por que você tá aqui? –Jade questionou depois de quase uma hora de filme, seus olhos se fechando.

Beck poderia responder muitas coisas. Podia mentir dizendo que sua mãe precisava de ajuda. Podia falar que se importava com ela apesar de não estarem mais namorando. Ou podia simplesmente dizer que... Bem, antes que ele dissesse qualquer coisa, Jade já estava dormindo novamente. E só despertou quando sua mãe chegou e Beck já havia ido embora. Eles não falaram sobre isso. E ela nunca soube que na verdade seu ex-namorado desligou a TV. Para olhá-la melhor.

                                                          ***

Lugar improvável pra casar, não? Rodinhas de malas passando pelo piso liso, um lindo garoto com cabelo black correndo para abraçar dois senhores velhinhos, acenos e beijos molhados de saudade. E um casamento. O quê?! Casamento no aeroporto?!! Impossível! Improvável, sim. Mas não impossível. Fora bem ali, na cobertura do aeroporto, o ar abafado, onde geralmente as pessoas se amontoam pra observar a partida e chegada dos aviões, os funcionários arrastando as escadas móveis pra lá e pra cá... Bem ali, num banco largo e sem divisões no qual provavelmente caberiam oito pessoas sentadas, que eles se esticaram, um de cada extremidade, de frente um para o outro, com as costas nas paredes de seu lado correspondente, os pés se tocando. Jade tinha em suas mãos um pote de uvas roxas, mas tão roxas que eram quase pretas. Beck levara para dizer que esse era o “buffet” do casamento. O casal ia comendo as uvas, e jogavam as sementes de volta ao pote, formando uma pequena ladeira com elas. Ela estava com um novo vestido preto muito bonito. Não era longo, mas as suas pernas estavam cobertas por uma meia calça preta rendada, além das botas de combate tão apreciadas. Não era um visual de casamento, era? Ah, quem se importa! Não existe “visual”, existe amor para casar. E isso aí eles tinham de sobra. Todo mundo olhava confuso para ela e o seu namorado de jaqueta e jeans escuros. Espera, namorado não. Marido. Agora eles eram marido e mulher oficialmente, porque aquela mini-cerimônia-que-mais-parece-loucura valia muito mais do que os papéis que assinaram no cartório duas semanas atrás. No evento formal, eles chamaram os amigos e mais algumas pessoinhas, foi tão público que Jade achou bobo e sem valor, então eles foram a um show de rock na semana seguinte (depois de cinco dias numa receptiva Noruega como lua-de-mel), onde o vocalista meio apaixonado cantou uma música romântica especial para os casais, e depois jogou a sua bandana, falando que os namorados que a segurassem teriam de se casar, assim como ele faria dali a quatro meses. Os espectadores enlouqueceram e a bandana passou de mãos em mãos desesperadas até que caiu acidentalmente no chão, e Beck e Jade a pegaram. Eles não fizeram alarde pra não chamar a atenção dos fãs que buscavam tê-la a qualquer custo. Beck a guardou sorrateiramente na mochila, sorrindo para Jade. Quem iria acreditar que um casal de adolescentes que mora numa R.V. e acabou de terminar o ensino médio, além de frequentarem um show de rock para moleques, já estaria casado?

Alguns dias mais tarde, lá estavam os jovens discutindo pela milésima vez, só pra variar. Mas no final, Jade disse que só não queria a merda do casamento todo igual, como todo mundo faz... E como todos acabam. Então Beck pediu que eles fossem passear juntos. Antigamente sempre que brigavam acabavam ficando cada um em um cantinho, sem se falar, mas de alguma forma começaram a adquirir uma mania estranha de se sentarem bem próximos, ou caminharem, ou darem uma volta de carro, para se reconciliarem. Quando isso pareceu dar certo, já que o ego dos dois poderia ser vencido melhor se estivessem juntos, se pudessem chorar juntos, e gritar e empurrar... Parecia realmente dar certo, era uma nova e boa fórmula.

Enquanto rodavam no carro pelas ruas hollywoodianas, parando uma vez para reabastecer e ver a Jade cuspir o café nojento do posto de gasolina, Beck percebeu o aeroporto. Dirigiu até o estacionamento e respirou suavemente, observando o céu muito claro.

—Qual o plano? –Jade questionou, arqueando as sobrancelhas e sabendo muito bem que ele não havia parado ali aleatoriamente. Do porta-luvas o viu retirar um potinho verde. -Uva? –Perguntou, sentindo o cheiro da fruta passar pela tampa semiaberta. Ele assentiu.

—Então... Casamento? Aqui?

—Aqui? No aeroporto?!

—É. Você quer?

—Ninguém. Nunca. Fez. Isso. –Ela falou pausadamente, com o tom forte parecendo brava, mas logo emitiu um sorriso. –Eu quero.

Beck e Jade voltaram pra casa. Colocaram a melhor combinação de roupas que nunca seria vista como trajes de matrimônio, pegaram o potinho de uvas e saíram novamente para o aeroporto. Confiscaram o lugar até encontrar a parte menos movimentada. Era mais de três da tarde, o sol que chegava até a janela era bloqueado e apenas sua luz conseguia algumas frestas de sucesso, alaranjando o casal estranho que estava se casando no aeroporto. O casal estranho que tirou as alianças só pra colocá-las de volta em seu simbólico e mais importante casamento. Depois que as uvas acabaram, eles só se olharam inexpressivamente, e qualquer pessoa que passasse poderia dizer que Beck e Jade estavam entediados na companhia um do outro ou que eram apenas conhecidos não próximos, mas só eles sabiam porque não falavam.

                                                       ***

A mala foi jogada em qualquer canto do quarto. Beck foi até a geladeira e achou um suco de fruta natural. O cheiro não era muito bom, mas ele não queria brigar novamente com Jade, que estava tomando banho enquanto cantava e por isso não ouvira o barulho da porta sendo aberta e não sabia que ele já chegara. Há três meses eles começaram a discutir por tudo, era a conhecida fase do casamento pré-divórcio. Qualquer ponto do dia era razão o suficiente para ficarem aborrecidos. Ciúmes, falta de tempo um com o outro, o preço do apartamento alugado oito meses atrás que só vinha aumentando, as tarefas domésticas divididas. Tudo, tudo. O período ruim começou quando uma senhora idosa no mercado disse que eles não pareciam um casal ao vê-los discordando da escolha do macarrão, ela falou que era uma cigana e que podia enxergar nos olhos deles que não estavam felizes nessa relação. Jade seria a primeira a xingá-la e depois ignorá-la, mas o fato dela saber que os dois eram casados a deixou confusa. Naquele momento, Beck e Jade afastaram-se da mulher e ao mesmo tempo afastaram-se um do outro. Ambos sabiam que isso não tinha nada a ver com a cigana, principalmente porque depois de algumas horas esqueceram sua existência. O casal sabia que o problema era entre eles mesmos.

Beck levou o copo de suco para a sala, e abriu uma pasta cheia de roteiros que havia decorado. Além disso, ele ainda encontrou um cartão de um produtor e várias fotos. Sim, fotos. Ele havia aprendido a apreciar a arte fotográfica e comprou uma câmera profissional, fazendo um curso pago online, onde recebia macetes para as melhores capturas. Entre as suas favoritas, estava a de um campo de futebol próximo a um convento, a de dois irmãos que vira no parque e muitas das tradicionais imagens da natureza e do cotidiano. A foto de um reencontro com os amigos da HA, uma árvore de sete metros onde um esquilo fizera pose, e todas onde Jade, de alguma maneira, estava incluída. Às vezes ela simplesmente estava por perto, e noutras Beck a preparara para o X. Ele riu ao conferir uma dela no cinema, obviamente fora da sala de sessões, mirando um sombrio cartaz de novo filme de terror enquanto cobria um sorriso com as duas mãos fechadas.

O chuveiro foi desligado e Jade parou de cantar. Beck ouviu o barulho do boxe sendo aberto e contando a demora que ela tinha em sair do banheiro, provavelmente estava colocando a roupa lá mesmo, como fazia em algumas ocasiões. Beck guardou as fotos e quando ela abriu a porta, saiu secando os cabelos, enquanto sibilava uma outra música. Parou de caminhar até o quarto ao ver o marido sentado no sofá, com um copo do suco forte de morango que ela havia feito dias atrás.

—Beck! –Ela quase correu para abraçá-lo, mas se conteve ao lembrar que eles brigaram da última vez que se viram. – Você não vinha...? Ah é, o fuso horário.

—Queria que eu viesse mais tarde?

—Não. Eu achei que você vinha mais tarde. –Explicou, esforçando-se para não gritar com ele. Eles estavam no aniversário de dois anos de casamento e não precisavam de mais nada para piorar a situação. Jade colocou a toalha novamente no banheiro e foi até o quarto pentear os cabelos molhados. Beck a seguiu a fim de desarrumar sua mala.

—Então, você tá melhor?- Questionou, de costas para ela. O motivo da pergunta era que há algumas semanas, enquanto Beck estava na cozinha desamarrando a sacola de pães, Jade acordou e o chamou gritando. Quando ele chegou até o quarto, a viu com a boca sangrando. Sem nem trocar de roupa, a pegou no colo e a levou até o hospital, onde descobriram que ela estava com intoxicação por excesso de cafeína. Beck quase a matou de tanto sermão.

—Aham. E você? –Foi a vez dela lembrar que no mês retrasado largou a direção da continuação (a sequência de um ótimo enredo sobre apocalipse extraterrestre) de seu melhor filme, na Austrália, para voltar até L.A assim que soube que Beck foi diagnosticado com apendicite. Jade recebeu várias críticas negativas de fãs adolescentes revoltados por ela ter deixado a direção do filme, mas esqueceu disso assim que viu o marido quase morrendo. A operação para retirada do apêndice aconteceu e deu tudo certo. Apesar dos dois já terem se recuperado, não podiam deixar de se preocupar.

—Claro, querida... – Ele falou e Jade largou a escova na penteadeira, ao ver o reflexo no espelho: Beck estava atrás dela, respirando ofegante em seu pescoço enquanto agarrava sua cintura e a chamava de querida novamente. Ela se virou e encontrou seus olhos. Ele sorriu e ela pulou em seus braços, murmurando algo como que uma pergunta se tudo estava bem. Por algum eixo não conhecido, estava tudo bem. Agora eles sabiam que não iriam se separar, pelo orgulho vencido ou pela cigana em algum lugar do mundo ter finalmente percebido que eles são sim felizes juntos. Seja como for, estava tudo bem. Jade desabotoou apressadamente a camiseta dele, enquanto sentia que estava sendo deitada na cama. Beck segurou em seu rosto, observando-a profundamente, desceu as mãos até os seios dela, massageando-os, passando logo mais adiante para retirar-lhe os shorts. Ela moveu o quadril propositalmente, fazendo sua intimidade encostar-se ao membro dele. Ambos gemeram, e pensaram conjuntamente que... Oh sim, agora estava tudo muito bem.

19h53min. Los Angeles. Apenas um prédio de uma enorme cadeia de hipermercado. Antes de entrarem no local refrigerado por ar-condicionado em temperatura amena, eles sentiram o frio cortante da noite, único horário em que a cidade se dispunha a esfriar. O casal chegou de mãos dadas, e Beck indicou para Jade uma jovenzinha de mechas coloridas no cabelo. Jade riu ao lembrar-se da não longe época em que ela fazia isso, perguntando para ele se conseguia ver alguma tatuagem na garota. Ele enxergou um desenho de urso panda no braço esquerdo, e mostrou para a esposa. Jade murmurou algo sobre a menina ser uma principiante, levantando as mangas de seu sobretudo preto e indicando a primeira (uma estrela) e a última (um círculo de tesouras) tatuagens que fizera. Beck falou que ninguém ficava tão atraente com tatuagens quanto ela.

Beck e Jade arrastavam cada um com uma mão o carrinho de metal barulhento, havia poucas pessoas no mercado, por isso sempre preferiam ir à noite. Apesar do registro de número de assaltos ser maior, a tranquilidade devido aos poucos clientes era incrivelmente agradável.

—Amor, já tem muito açúcar aqui, não acha? –Ela opinou, distraidamente observando as prateleiras de cereais com prêmios. Pegou uma caixa para que quando Cat fosse dormir em sua casa não choramingasse pelo “café da manhã triste e incompleto”.

—É pra misturar com essas toneladas de café... –Beck falou.

—Sem chance, você e eu bebemos igual! –Ela se reprimiu mentalmente por ter dito “sem chance”, lembrando que essa era uma expressão típica de sua amiga ruiva.

—Não mesmo, hein? –A viu revirar os olhos e passou o braço sobre seus ombros.

—Acho que eles ali tão observando a gente, dá uma conferida. –Jade disse meio irritada por estar sendo alvo do olhar da jovem das mechas coloridas e de um rapaz que provavelmente era o seu namorado.

—É... É sim. Devem ficar se perguntando “será que vamos ser tão bonitos assim daqui a uns anos?”. - Falou e ela riu sarcasticamente, notando os olhares inseguros dos adolescentes. Provavelmente se questionavam se estariam juntos futuramente. Jade piscou sorrateiramente para eles, virando-se para beijar Beck. Enquanto ele colava mais seus corpos, ignorando o que estariam pensando os clientes do hipermercado ao notarem o show de pegação no meio do nada, Jade confirmou pelo canto do olho que os jovens estavam sorrindo. Quando soltou a boca de Beck, ela notou que o casalzinho espectador não estava mais ali. –O que tá olhando, meu bem? – Ele perguntou, afastando suavemente o cabelo dela para trás.

—Nada. –Sussurrou, beijando sua bochecha e o vendo sorrir. –Achei que conhecia eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu tô aqui morrendo de sono depois de um dia inteiro no colégio, então: De nada! E feliz dois anos de casamento Bade pra quem é Bade Shipper e até pra quem não é ♥