Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 2
Caso e descaso


Notas iniciais do capítulo

Não imaginam o quanto estou feliz com os resultados que tive apenas com o primeiro capítulo. Muito obrigada mesmo pelos favoritos, comentários, elogios e críticas. Vou esperar com fervor o mesmo neste capítulo!
Meio curto, mas desencadeará um pouco mais da trama da história.
Sem mais delongas, boa leitura!!



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Nick era o tipo de animal que esquecia de ligar o despertador antes de dormir, por isso a coelha não perdera tempo e foi acordá-lo. Nick e Judy eram íntimos o suficiente para terem a cópia da chave do apartamento um do outro, para casos de emergência, e também quando Nick se entediava e queria alguém para irritar.

Judy ajustou seu colete de policial ao entrar no apartamento do amigo, e vendo-o bem na luz do dia, era realmente bagunçado. “Como pode ser tão desleixado?” entrou, sem mais delongas, no quarto da raposa encasulada aos cobertores, os quais ela puxou sem dó, despindo-o de sua quente fortaleza. Nick acordou no momento em que sentiu o primeiro pelo arrepiar e abriu os olhos, começando o dia com a visão de Judy batendo a pata esquerda do pé numa velocidade insana, coisa que ela sempre fazia quando reprimia alguém.

— Bom dia pra você também, cenourinha – disse num tom de ironia enquanto se espreguiçava, fechando os olhos mais uma vez. – Onde é o incêndio?

— Nas horas – ela o empurrou da cama, e ele caiu de costas no chão. – Se arruma, ou vamos nos atrasar.

— Relaxa, ainda são... – Nick olhou para o relógio e buscou algum argumento, mas quando vira que faltava vinte minutos para o trabalho, parou de tentar discutir e correu para o banheiro com seus trajes.

— Francamente, – ela voltou a reprimi-lo, fazendo questão de ficar ao lado da porta do banheiro – você nunca vai aprender a ligar essa droga de despertador?

— Digamos que eu prefira um despertador mais felpudo que invada a minha casa e arranque meus cobertores de mim, - abriu a porta e pôs a cabeça para fora apenas para mostrar a expressão sínica de seu rosto – e como bônus, ele faz barulhinho de patas batendo no chão na velocidade da luz.

— Ando impressionada com seu senso de humor ultimamente – ela olhou para o seu relógio de pulso. – Dezessete minutos – ele pôs a cabeça de volta no banheiro e fechou a porta.

Uns vinte segundos depois, Nick saiu do banheiro todo arrumado com seus trajes de policial, deu uma última olhada no espelho com um olhar orgulhoso, como se paquerasse a si mesmo. Judy achou graça.

— Sabe Nick, ultimamente tenho conhecidos muitas raposas – disse enquanto eles caminhavam com certa pressa até a cozinha, Nick não podia sair de casa sem tomar seu café.

— Achou um substituto para mim, é?

— Também – os dois riram enquanto ele deu seu primeiro gole de café. – Só estou falando que, sei lá, se você quiser eu te apresento alguém pra você desencanar do seu espelho.

— Prefiro meu espelho, ele nunca me decepciona.

— Aham, sei – ainda num olhar brincalhão, ela suspirou, cansada. – Nesse ritmo, acho que vamos morrer solteiros.

— Eu estou solteiro por opção – disse um tanto indiferente, mas ainda com o sorriso sínico que sempre tinha no rosto. – Além disso, posso arrumar outra raposa a hora que eu quiser.

Judy quase caiu no chão às gargalhadas.

— Oh, então quer dizer que o senhor é o terror entre as fêmeas? – Nick não era do tipo que se ofendia fácil, por isso entrou na brincadeira. – Não sabia que você tinha esse lado garanhão.

— Está bem guardado para as horas certas – deu mais um gole de seu café e lançou um olhar desafiador à coelha. – E você, senhorita Hopps?

Ela se sentiu um tanto intimidada, sem mesmo ter certeza do que ele estava falando.

— Eu o quê?

— Vai me contar quando pretende desencalhar? – ela geralmente ficaria tímida com esse tipo de pergunta, mas com um sorriso como o de Nick, nada se tornava realmente sério.

— Não faz isso, tá parecendo a minha mãe – respondeu, rindo um pouco. Lembrou-se da conversa que teve com a coelha mais velha na noite passada, e suspirou, sentindo como se ainda estivesse ouvindo-a falar o tempo todo em suas orelhas. – Eu não acho... que eu precise de alguém, no momento – sorriu para o amigo. – Eu estou feliz como estou.

Trocaram olhares mútuos, e ali perceberam que entendiam ao outro como ninguém. Era assim que funcionava a amizade entre eles, o simples silêncio dizia, mais do que tudo, o quanto eram parecidos.

Nick deu o último gole em seu café, colocando a caneca em cima da pia. Mas não tirou os olhos de Judy.

— Então estamos no mesmo barco – ele disse.

— É, - ela riu para si mesma – como eu disse, vamos morrer solteiros.

Após alguns segundos de silêncio, Judy teve a brilhante ideia de verificar as horas e deu um pulo que quase a fez bater a cabeça no teto.

— Oito minutos! Temos que correr!

—-X---

— Atrasados, Hopp e Wilde – xingou o chefe Bogo, que já estava fazendo as referências com os outros policiais. Tinha em suas mãos algumas pastas, o que indicava que era dia de entregar casos, o dia predileto para a dupla.

Bogo folheou cada pasta enquanto os policiais faziam silêncio em suas cadeiras, tinha no rosto um olhar cansado e sem um pingo de ânimo. O que não era muito diferente para os outros naquela delegacia.

Zootopia andava tão quieta, na paz, que muitos ali estavam esquecendo o que era um caso de verdade, como os desaparecidos do ano passado, por exemplo. Os casos haviam se reduzido, no mínimo, a assaltos em quitandas ou em lojas de conveniência. Faltava emoção, mas se bem que, para Judy, o simples fato de ser uma policial tornava tudo emocionante ao seu ponto de vista.

— Antes de mais nada, - o chefe voltou a falar, na expressão séria de sempre – gostaria de parabeniza-los por ontem a noite, conseguiram deter muito bem toda aquela gente.

Os demais policiais trocaram olhares entre si, todos orgulhosos de si mesmo. Judy, que andara num dilema constante quanto àquele assunto, tornou a ficar um tanto desconfortável.

— Mas, - a expressão do delegado ficou tão séria que ninguém ousou tirar os olhos dele – isso não muda o fato de que... não estavam de olho em todos os lugares?

Todos começaram a se entreolhar, curiosos. Judy sentira que precisava perguntar:

— Que quer dizer, chefe Bogo?

— Quero dizer que houve um assassinato ontem à noite – os olhos da coelha se arregalaram, dos outros policias, brilharam. – Em meio à rebelião, um casal de protestantes foi encontrado morto num beco, perto da rua principal, onde tudo começou.

Os policiais começaram a cochichar entre si, uns perderam o brilho dos olhos, outros, tornaram a ficar tão desconfortáveis quanto Judy. O chefe Bogo tirou uma pasta do meio da pilha e a pôs sobre a mesa.

— Faremos assim dessa vez, deixarei este caso em aberto – deslizou a pasta para mais perto dos policiais. – Quem quiser resolvê-lo, pegue a pasta.

Judy achou aquela atitude, no mínimo, estranha vinda do chefe Bogo. Ele sempre dava-se o trabalho de escolher os casos que cada dupla resolveria, por que fazer diferente com este caso em específico? Por que tinham a chance de escolher e não escolher resolver este caso?

A coelha olhou ao redor, e vira expressões repugnadas nos rostos de grande parte dos policiais naquela sala, como se pegar aquela pasta fosse uma ideia absurda. Ela olhou para Nick, e não vira uma expressão muito diferente, embora ele sempre procurasse manter as aparências.

— Decidam entre vocês – ouviu-se um dos policiais dizer. – Eu tô fora.

Muitos acabaram dizendo a mesma coisa, e Judy já estava começando a se indignar.

— Por mim, - começou o policial Tyronne, um tigre nada modesto que sempre falava num tom autoritário – esses híbridos deveriam resolver seus problemas sozinhos.

Para os desinformados, “híbrido” é a forma a qual muitos se referem, ofensivamente, a animais que se envolvem amorosamente com seres de espécie diferente. Por isso pode ter certeza que o policial Tyronne não fora nada simpático com seu comentário, e o que mais horrorizou a coelha fora o fato de muitos terem balançado a cabeça, concordando com o colega.

Como poderiam negar um caso por envolver aquele assunto? Os consideravam inferiores por quererem casar com espécies distintas? Por que rebaixá-los daquela forma? E chefe Bogo deixara os policiais escolherem pegar a pasta ou não por saber que muitos não iriam querer o caso? Ou também não considerava a situação tão importante por tratar-se de “híbridos”? O que havia de tão errado em pensar e sentir diferente, afinal?

Mil perguntas voaram sobre os pensamentos de Judy naquele momento, teve esperança de encontrar alguma expressão no rosto dos policiais que considerasse a ideia de pegar aquela pasta, mas, pelo que pode ver, ela não seria pega. O chefe Bogo suspirou, pegou a pasta, e estava prestes a colocar sobre a pilha novamente.

Uma pata foi levantada.

— Nós gostaríamos de resolver o caso, chefe Bogo.

Era Judy, totalmente levada por seus impulsos, agira sem pensar duas vezes. Todos os policiais olharam para a coelha com expressões estranhas, umas pareciam de puro desgosto, mas nada se comparava à desesperada de Nick.

— O quê?? – ele segurou um grito nos sussurros, mas Judy o ignorara completamente.

A coelha pulou da cadeira que dividia com seu parceiro, caminhou até a mesa do delegado, e segurou sua pasta. O expressão de Bogo era a mais indiferente possível.

— Dispensados, Hopp e Wilde – a coelha e a raposa saíram de fininho da sala, eram sempre dispensados para resolver seus casos. – Bom fim de semana.

—-X---

— Você ficou maluca, por acaso? – Nick continuou a resmungar, como se estivesse a ponto de implorar para trocar sua pasta. – Tem ideia do que isso pode fazer os outros pensarem?

— Eu pouco ligo pro que os outros pensam, Nick – Judy manteve a maior parte da sua atenção para as fichas que tinham na pasta. Várias informações, para a sua sorte. – Se eu ligasse, ainda seria guarda de transito.

— Tá, mas eu ligo. Eu— a segurou pelos ombros e fez olhá-lo nos olhos, querendo mostra-la com todas as letras sua pura indignação. – Nós somos uma dupla, esqueceu? Um pelo outro? Fala sério, o que pensou ao pegar essa pasta?!

— Pensei... – fez um olhar distante. Nem ela sabia, ao certo, porque decidira apostar suas fichas naquele caso. Parecia querer provar algo, só não sabia o que, e para quem. – que... não é certo julgarmos uma situação séria como essa só por envolverem aquela gente.

Nick não soube mais o que responder, ao certo. Sua vontade mesmo era enfiar sua cabeça num buraco e nunca mais sair, Judy, por sua vez, se interessara mais do que havia imaginado naquele caso.

Tudo era muito suspeito, o assassino pode ter sido até mesmo alguém daquele meio do protesto, e a pista mais relevante que tinham era o último lugar onde o casal, um hipopótamo e um urso, estiveram.

— Conhece o bar Hibring? – ela perguntou, fazendo Nick sair de seu transe de resmungos.

— Já ouvi falar – disse enquanto coçava o queixo. – Provavelmente um bar que essa gente frequenta.

Judy grudou os olhos na fecha e suspirou, sentindo-se mais determinada que nunca.

— Vamos lá hoje a noite.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Espero que tenham gostado.
Espero ter tempo de postar os capítulos bem rapidinho como fiz com este, já que são capítulos curtos, vai ser mais fácil agir assim.
Pois bem, vou-me indo pois tenho que organizar meus afazeres.
Kissus ♥