Três Desejos escrita por Kayra Callidora


Capítulo 11
Capítulo Dez - Poseidon




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Capítulo Dez - Poseidon

Uma tempestade que mais parecia uma cachoeira encharcava Poseidon enquanto ele andava em passos arrastados pela Brixton Road. Claro que a chuva era consequência de sua queda drástica de humor, não podia ser diferente. O que raios estava pensando quando beijara Atena? Ele conhecia sua tendência a ser impulsivo, mas nunca pensou que fosse se deixar levar daquela forma.

Bom, Poseidon já havia se deixado levar de formas piores por Atena. Desde que conhecia a deusa sabedoria, ela havia despertado aquele desejo estranho e incontrolável nele, ao qual ele tentara suprimir durante todos aqueles séculos. Só ele sabia o quanto ele havia tentado alcançar algo minimamente próximo de Atena de todas as maneiras, mas nada supria sua necessidade pela própria deusa da sabedoria. Já havia ido à extremos movido por aquela loucura para substituir seu desejo irrefreável por ela (Medusa havia sido o ponto alto de sua perseguição ao que fosse mais próximo de Atena: a mesma postura aristocrática, os mesmos cachos loiros, os mesmos olhos azuis - e ainda por cima, sacerdotisa dela); até se casou com Anfitrite, que era o perfeito oposto da deusa, na falha esperança de que fosse o que ele precisava, mas nenhuma loucura se comparava à de ter beijado Atena em pessoa. Poseidon estava certo de que tinha conseguido superar todos os níveis de impulsividade que alguém jamais havia atingido em toda a História.

Não era como se ele não soubesse que cederia àquele impulso uma hora ou outra; já não sabia como havia resistido por tanto tempo àqueles olhos azuis como o céu límpido de uma manhã ensolarada, ao loiro suave do cabelo que se desenrolava em cachos até a cintura e à graça como se movia, mesmo sendo uma deusa de muitas guerras, mas não imaginou que seria tão cedo. Todo aquele rebuliço de emoções dentro de si era uma área não explorada dele, e Poseidon não sabia como lidar com aquilo.

Quando percebeu que caminhava há pelo menos meia hora sem rumo algum, Poseidon parou e bufou. Não queria voltar para a ilha. Atena o evitaria o tempo todo, voltaria a agir como se ele não existisse - ou pior, como se existisse apenas para incomodar - e o clima ficaria estranho e pesado na casa. Mas sentia um mal estar no peito, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer, e geralmente sua intuição não falhava. Então, contrariando todos os princípios que já desenvolvera em sua imortalidade, se transportou para a ilha.

Infelizmente, sua intuição estava certa mais uma vez. Aquele era um dos poucos casos em que ele queria não ter razão. Assim que teve o primeiro vislumbre da ilha, foi tomado por silvos e pelo som familiar de metal se chocando. A tempestade na ilha Dauphine era ainda mais forte do que em Londres, se é que era possível: a maré estava tão alta que quase atingia o primeiro degrau da varanda da casa, e a chuva descia do céu ininterruptamente, como se um imenso balde de água fosse jogado na direção da Terra. Talvez Atena ainda não tivesse aprendido a não deixar suas emoções afetarem o clima, mas quem era Poseidon para julgá-la nesse aspecto?

Na frente da varanda, ainda usando o vestido vermelho que Poseidon lhe dera há poucas horas atrás, Atena segurava uma espada luminosa e um escudo que Poseidon conhecia bem - o Aegis, que tinha o rosto de sua ex-amante, Medusa, estampado na frente, para espantar os inimigos -,e lutava contra uma porção de titãs que avançavam para perto dela.

Ah, como Poseidon fora estúpido. Mas é claro que isso aconteceria. Mesmo com seus conhecimentos não muito amplos em Geografia, sabia que tempestades daquele tipo não aconteciam naquela região fria. Seria fácil para os titãs deduzir que algo estava errado ali. Deveria ter previsto que aquilo aconteceria logo que Atena saiu do salão.

Merda. Mil vezes merda.

De alguma forma, Atena desviou a atenção da luta com um monstro particularmente feio - uma mistura de dinossauro com rinoceronte e jacaré, mas com pelo menos duas vezes a altura de um desses, e possuindo seis braços - e seu olhar cruzou com o de Poseidon. Mil sentimentos passaram por seus olhos em um milésimo de segundo, e isso foi visível mesmo de longe: raiva, tristeza, confusão, desespero... Mas nesse meio tempo, um monstro diferente conseguiu uma brecha para atacar Atena pelas costas, arranhando a região com garras afiadas. Ela não gritou, embora parecesse ter doído, mas apertou os olhos com força.

Guerreiros não gritam de dor, Poseidon se lembrava de tê-la ouvido dizer uma vez, logo após a Guerra de Tróia, enquanto Apolo curava seus inúmeros ferimentos com mágica. Nunca.

Quando Atena se virou, só precisou de um golpe seu para partir o monstro ao meio, fazendo-o se dissolver em pó, assim como aquele na sua frente. Isso foi suficiente para que Poseidon despertasse do transe em que se encontrava. Ele conjurou seu Tridente, se aproveitando da força que a proximidade do mar lhe concedia, e partiu para o ataque. Seu plano, por ora, era se aproximar de Atena e mandar que ela corresse, assim ele podia acabar com todos aqueles monstros de uma vez, usando o mar para afogá-los ou mandar diretamente para o Tártaro. Ele só se esqueceu de contar com o fato de que Atena sempre tinha um plano. Quando uma criatura brilhante e de aparência quase demoníaca se aproximou, e ela pareceu perceber que sua espada não penetraria na couraça que envolvia seu corpo, a deusa ergueu a mão direita de modo quase teatral - tinha que ser filha de Zeus — e rodopiou somente o dedo indicador. Foi com enorme surpresa que Poseidon assistiu um mini furacão rodopiar em volta da besta e arrancar sua pele centímetro por centímetro, tal era a velocidade do vento. Mesmo estando ele mesmo no meio de uma luta, Poseidon conseguiu sorrir.

Okay, Atena o assustava às vezes; as chances de ela arrancar a pele dele ao ficar irritada assim como arrancara a do monstro eram enormes, agora que havia parado para pensar. Mas que fora impressionante, isso era inegável. E o show não parava por aí. Atena ergueu o Aegis acima da cabeça, e um relâmpago cortou o céu antes de atingir o metal e ser jogado na direção dos monstros. Numa tacada só, o raio eliminou pelo menos duas dúzias de inimigos. Ou o escudo tinha o poder de convocar raios, ou o maldito do seu irmão servia de alguma ajuda, afinal; ambas as opções eram bem prováveis.

Atena virou a cabeça para trás, na direção da entrada da casa, e de repente ficou congelada. No segundo seguinte, estava adentrando o lugar de novo, e aquela foi a deixa para Poseidon executar seu plano. Invocou uma onda que considerou grande o suficiente, mas que não atingisse a casa, e antes que os monstros pudessem se dar conta, já estavam sendo afogados e levados para o fundo do mar, onde tudo o que Poseidon precisou fazer foi abrir um buraco diretamente para o Tártaro, assim como fizera com Tifão da última vez. Aquela se mostrou uma técnica bastante útil.

Assim que se viu livre, Poseidon largou o Tridente, que trataria de desaparecer sozinho depois, e correu para dentro da casa. Ao contrário do que esperava, tudo o que encontrou foi Atena caída no chão, a face pálida e os lábios roxos, parecendo a ponto de desmaiar. Ele correu até ela e passou o braço debaixo de sua cabeça.

— Atena? Você está bem?

— Mas é claro que não, Poseidon - Atena resmungou. - Parece que eu estou bem?

Poseidon revirou os olhos. Ao menos ela ainda estava em sã consciência.

— O que aconteceu?

— Tinha um titã aqui dentro - Atena disse, e sua cabeça pendia fracamente para o lado, os olhos se fechando. - Eu não me lembro aonde, mas sei que já o vi. E ele fez alguma coisa que... não sei, mas ele tirou a minha força.

Algum instinto protetor escondido em algum lugar se acendeu em Poseidon, uma súbita vontade - não, uma necessidade — de cuidar de Atena. Algo que fez com que ele a abraçasse com mais força e apertasse a cabeça dela junto ao seu peito, como se isso pudesse resolver a situação.

— Você não desmaiar, vai? - Poseidon perguntou.

— Mas é claro que não!

E em seguida desmaiou.

***

Se tinha algo que Poseidon realmente não queria fazer era o que fazia naquele exato momento. Não queria que a situação chegasse ao ponto de ter que levar Atena ao seu palácio, de ter que abrigá-la em suas dependências, mas aquele tipo de coisa exigia medidas desesperadas. Logo que a deusa desmaiara - e ele fez questão de gravar bem esse momento em sua memória, para jogar na cara dela até o fim dos tempos -, ele a transportara até um dos quartos de seu palácio e chamara pela melhor equipe médica que havia em todo o reino. Por sorte, não era nada muito grave. O corte nas costas da deusa era feio, se estendia desde o trapézio quase até o quadril, mas deuses se curavam rápido. O ferimento foi limpo e coberto por ataduras, que deveriam ser trocadas de tempos em tempos, mas nada complicado.

Depois disso, Poseidon fez questão de ficar no quarto até que Atena acordasse, o que não demorou muito a acontecer. Nem desmaiar como alguém normal ela o fazia. A deusa parecia confusa ao abrir os olhos, mas logo que mirou Poseidon, saltou no lugar e se sentou. Foi uma péssima ideia. Ela levou as mãos à cabeça em seguida, resmungando todos os palavrões que conhecia. Talvez ela nunca tivesse desmaiado na vida. Parecia algo típico de Atena.

— Shhh, devagar, amor - Poseidon a empurrou delicadamente de volta para o travesseiro. - Você acabou de acordar.

— Onde eu estou? - foi a primeira pergunta que fez, ainda zonza.

— No meu palácio - Poseidon respondeu, cruzando os braços em preocupação. - Você estava me dizendo que viu alguém dentro da casa e desmaiou.

— Eu... desmaiei? - Atena franziu o cenho, como se a ideia de um desmaio fosse absurda. - Isso não pode ter acontecido. Eu nunca desmaio.

— Bom, você desmaiou - Poseidon disse, a sombra de um sorriso debochado em seu rosto.

Atena fechou a cara para ele.

— Não me olhe assim! - ela exclamou.

— Assim como? - a essa altura Poseidon sequer tentava esconder seu sorriso.

— Você sabe como! - Atena atirou o próprio travesseiro nele, mas ele se desviou para o lado antes que fosse atingido, e nem a tentativa de agressão de Atena tirou o sorriso de seu rosto. - Se contar isso para alguém, eu vou fazer da sua vida um inferno.

Embora soubesse que ela não falava sério - pelo menos ele esperava que não -, Poseidon não era louco de duvidar de uma ameaça de Atena. Odiaria ter a deusa da sabedoria contra ele, até porque sabia que não viveria muito para brigar com ela. Atena era boa demais em eliminar seus inimigos. Ainda assim, puramente por pirraça, o deus manteve seu sorriso aberto e deu de ombros ante o que ela havia dito.

— Está se sentindo melhor? - ele perguntou.

— Minhas costas ardem, mas estou bem - Atena deu de ombros e em seguida bufou. - Argh, Zeus vai ficar tão bravo comigo.

Poseidon franziu o cenho, confuso.

— Por quê?

— Quando eu aparecer no Olimpo sem ter concluído a missão - Atena completou, se recostando na cama. - Ele com certeza vai me dar o maior sermão.

— Atena, do que você está falando?

A deusa o encarou, impaciente.

— Francamente, Poseidon, é mesmo tão difícil entender o que eu estou falando? - a deusa respirou fundo e recomeçou a falar. - A casa na ilha foi destruída; vou ter que voltar ao Olimpo para termin...

— Não, eu entendi isso - Poseidon a interrompeu. - Mas por que você vai voltar para o Olimpo? Isso dificultaria tudo. Eu teria que ficar lá por alguns dias, e nós dois sabemos como seu pai odeia que eu fique lá.

As sobrancelhas de Atena se uniram.

— Talvez, mas o que mais podemos fazer?

Poseidon encolheu os ombros.

— Você pode ficar aqui.

— Oh - Atena fez, surpresa. Aquela possibilidade havia cruzado sua cabeça, mas a deusa rapidamente a descartou, imaginando que Poseidon jamais admitiria que ela ficasse hospedada no palácio dele, ainda mais por tanto tempo. - Você... Você faria isso?

O deus descruzou os braços, um pouco mais relaxado.

— É claro, Atena. Assim podemos terminar a missão muito mais rápido, e você se livra de qualquer sermão chato que Zeus possa te dar.

Atena abriu um sorriso pequeno em retorno.

— Obrigada - ela disse, muito baixo.

— Não há de quê - Poseidon sorriu em resposta.

Um curto instante de silêncio se instalou entre eles antes que Poseidon  começasse a falar timidamente:

— Hey - o deus estava tão nervoso que mal conseguia articular as palavras, um efeito que só a deusa da sabedoria e ninguém mais conseguia causar nele. - Me desculpe.

Atena se endireitou em seu lugar, curiosa.

— Por quê?

— Por aquele beijo - Poseidon baixou os olhos, incapaz de encarar o olhar tão franco de Atena em seu rosto. - Eu não sei o que aconteceu, eu não pretendia...

— Oh - as bochechas de Atena se avermelharam de uma forma que Poseidon se pegou achando adorável quando ela entendeu do que ele falava. - Tudo bem, eu acho. A culpa não foi só sua.

— Estamos bem, então?

— Estamos bem.

Poseidon sorriu, mas não estava nem um pouco mais tranquilo. Não fora totalmente honesto ao dizer que não pretendia beijá-la. Fizera aquilo com plena consciência de suas intenções, e sabia que a deusa também. Mas pelo bem maior, teria que sustentar mais aquela mentira. Ele andou até a porta para sair, mas se conteve um pouco antes.

— Eu vou estar no quarto bem aqui à frente - ele disse. - Se precisar de qualquer coisa, me chame, okay?

Atena concordou e ele saiu do quarto. Era bom percorrer os corredores movimentados do castelo novamente, ver os criados circulando, conversar com alguns conhecidos, e principalmente ter uma casa grande de novo. Poseidon caminhou em silêncio pelo labirinto que era seu lar até chegar em um tipo de sala de estar aonde ia quando queria ficar em paz. Planejava relaxar um pouco antes de ir se deitar (não se demoraria muito ali, afinal, Atena jamais o acharia naquela sala) mas ninguém parecia querer o mesmo, e mal ele pisara os pés no lugar, uma náiade morena que já estava lá e cujo nome Poseidon sequer se lembrava se aproximou com um sorriso malicioso no rosto e, sem dizer nada, passou os dois braços ao redor do pescoço do deus. Ele já havia até se desacostumado com um carinho tão súbito depois dos dias com Atena.

— Bem vindo de volta, majestade - a menina disse em uma voz fina. - Eu vim assim que ouvi que o senhor estava aqui de novo. Senti sua falta.

Poseidon queria poder dizer o mesmo, mas não mentia ao dizer que nem mesmo lembrava o nome da menina. Ainda assim, sentiu que uma náiade seria a distração que ele precisava naquele momento para esquecer a deusa hospedada alguns andares acima. Só os deuses sabiam como ele precisava que ela saísse de sua cabeça por algum tempo.

A náiade não hesitou por um segundo sequer e se aproximou do rosto de Poseidon para beijá-lo - e ainda que o deus desse o seu melhor para prestar atenção ao que acontecia naquele exato momento, não conseguiu se impedir de comparar aquele beijo com o beijo de Atena algumas horas atrás. Não havia nada demais, mas tinha sido completamente diferente. O beijo daquela náiade não tinha o calor do corpo depois de uma dança, não tinha a timidez dos dedos de Atena em seu cabelo; não tinha o corpo pequeno se retesando em seu abraço, e depois de tudo... Bem, não tinha Atena.

Poseidon tentou ignorar todas as sensações que o incomodavam conforme retribuía os gestos da menina, acompanhando seus movimentos sem cerimônia alguma, mas algo dentro de si o incomodava profundamente. Algo tão forte que foi o suficiente para fazer com que ele a empurrasse e dissesse:

— Não.

O sorriso da menina vacilou, o cenho franzido.

— Não?

Poseidon não sabia porque estava fazendo aquilo. Precisava se distrair, e sabia muito bem disso. Se não o fizesse, passaria a noite inteira pensando em Atena. Mas algo que martelava fortemente em sua cabeça o fazia se sentir mal só de pensar em passar a noite com uma náiade enquanto Atena estava a um quarto de distância. Não fazia sentido, ele sabia, mas era o que o incomodava. Além disso, Atena podia precisar de alguma coisa durante a noite, talvez um analgésico para dor ou dos cuidados de um médico, e ele não queria estar ocupado desse jeito.

Pelos sete mares, o que estava pensando? Estava mesmo dispensando uma mulher por Atena? Talvez o caso fosse sério.

— Mudei de ideia. Saia da minha frente - ele ordenou, a frieza em sua voz surpreendendo até a ele mesmo. - E não me perturbe mais.

Era uma ordem direta demais para ser desobedecida. Parecendo indignada, a náiade se retirou do aposento, deixando Poseidon sozinho com seus pensamentos e sua estupidez. A essa altura, ele já não conseguiria mais nem assistir, por isso refez todo o caminho até o quarto de Atena, para checar uma última vez se ela estava bem, e deu três batidas quase inaudíveis na porta antes de abri-la sem permissão, na falta de uma resposta.

O deus se deparou com Atena deitada de lado na cama, encolhida como se sentisse frio. A cena preocupou Poseidon, e ele, sem hesitar, caminhou até o pé da cama, apanhou um edredom que estava dobrado ali e o estendeu sobre Atena. A deusa se agarrou involuntariamente ao tecido e murmurou algumas palavras ininteligíveis antes de suspirar e voltar a um sono profundo. Poseidon teve que resistir ao impulso de beijar sua testa e acariciar os seus cabelos diante da visão da deusa adormecida. Atena parecia tão delicada enquanto dormia, tão facilmente quebrável quanto uma boneca de porcelana, embora Poseidon soubesse que ela estava longe disso. Uma serenidade ímpar embalava seu rosto (com certeza o único momento em que seu semblante era tranquilo), e provavelmente não existia nada mais belo do que aquilo: cílios longos e curvilíneos tocando o alto de sua bochecha, o tom rosado das maçãs de seu rosto, os lábios cheios e atrativos. A lembrança saudosa daqueles lábios tocando os seus foi demais para Poseidon, e ele saiu do quarto antes que acabasse acordando Atena e implorando para que ela o beijasse de novo.

Poseidon atravessou o corredor e entrou no cômodo imediatamente à frente, que era seu quarto, um cômodo de cor azul-clara simples, com uma cama de casal no meio e uma varanda de onde podia ver o reino inteiro. Mas não se demorou muito ali: seu primeiro destino foi um banho gelado, do qual ele precisava muito no momento. Era incrível o inferno que Atena conseguia fazer em sua cabeça sem esforço algum. Um beijo, um único beijo, e nem seu corpo nem sua mente conseguiam se livrar da memória dela. A água fria acalmou os ânimos de seu corpo, mas nada poderia acalmar o turbilhão de pensamentos que rondavam sua cabeça, pensamentos que ele jamais deveria ter sobre Atena. O deus havia sido capaz de refrear sua imaginação por alguns meses, enquanto não via ela, mas agora cenas inexistentes pareciam se desenrolar em sua cabeça uma por uma como um pergaminho: Atena derretida em seus braços, o corpo suado e completamente entregue ao dele; seu nome saindo da boca dela daquele modo delicioso que só ela conseguia falar. Tudo não passava de uma loucura inventada por seu subconsciente, mas Poseidon estava terrivelmente entregue à qualquer pedaço de Atena que conseguisse produzir. Ele ficou debaixo da água fria por mais tempo do que jamais havia ficado, até que estivesse em mínimas condições de ir se deitar, e depois disso, só deu por si quando já estava vestido, em sua cama, encarando o teto como se o mármore fosse lhe dar todas as respostas de que precisava. E então se lembrou de uma última coisa que precisava fazer.

Poseidon pegou um dracma que estava caído em seu criado-mudo e jogou no ar (que no caso era água), e imediatamente o general Dolfim apareceu ali, por uma mensagem de Íris. Estava de armadura completa, mesmo tão tarde da noite, e caminhava pelo Centro de Treinamento, aparentemente fazendo uma inspeção.

— General - Poseidon chamou sua atenção.

O tritão se virou para ele, se curvando em uma reverência meio exagerada.

— Majestade - ele respondeu em sua voz fina. - O que deseja?

— Quero que coloque um guarda de prontidão na porta de um dos quartos do meu corredor.

— Em qual dos quartos, senhor?

— Na suíte da rainha. Quero que o soldado fique atento à qualquer barulho incomum dentro do quarto. Se a hóspede precisar de qualquer coisa, mande ele me chamar imediatamente.

— Sim, senhor. Mais alguma coisa?

— É só - Poseidon bocejou. - Boa noite.

— Boa noite, senhor.

A imagem de Dolfim desapareceu, e Poseidon voltou a olhar para o alto, sem realmente prestar atenção. A um corredor de distância, Atena dormia tranquilamente, mas sua imagem não deixaria Poseidon dormir tão cedo.


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