Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 6
Um teste violento e a Caça a Bandeira não termina bem




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POV. MAX

O chalé de Ares mais parecia um bar de rock. Meninos e meninas estavam sempre discutindo e disputando quebra de braço e gritando ao som de um rock n roll ao fundo. Até aí eu poderia suportar, não fosse o problema era que eu sequer me encaixava ao grupo de campistas, que à todo tempo me empurravam para quebra de braço ou queriam que eu arranjasse briga com uma garota de Hefesto.

Estávamos assistindo à aula de esgrima, nosso professor era Percy Jackson, um filho de Poseidon que devia ter uns vinte e oito anos.

O conselheiro do chalé de Ares era Chaz Durant, ele se aproximou de mim.

— Então... Eu desafio você à cortar o cabelo daquela garota utilizado uma faca. – disse ele, indicando uma garota de olhos verdes e cabelos longos e negros.

— Não vou fazer isso. – eu disse.

— Está com medo da garota ou isso é remorso? – perguntou Chaz, debochado.

— Só não sou idiota o suficiente para fazer uma coisa dessas. Ela não fez nada pra mim. – eu disse.

— Exatamente. – afirmou Chaz – Parece que vou ter que te ensinar como funcionam as coisas aqui.

Ele puxou-me pela orelha e deu impulso para que eu me curvasse. Arrastou-me até os bosques e me atirou no chão.

— Primeiro: Ninguém do chalé 5 ousa desobedecer Ares. Segundo: Um filho de Ares não se esquiva de uma boa encrenca. Terceiro: Filhos de Ares batem sem dó e apanham sem reclamar.

Chaz me deu um soco no maxilar e um chute na barriga.

— Você não deve se intimidar diante de mim nem de ninguém. Pense no que sentiu quando nunca teve seu pai por perto, ou quando eu te arrastei como um animal até aqui. Filhos de Ares não sentem tristeza, sentem raiva. Se alguém te bate, você revida.

Chaz me chutou e me encurralou, seu punho atingiu meu peito com força.

— Gente que é tola merece o peso do céu nas costas, vivem como submissos, servindo à ricos que se consideram superiores na sociedade. É isso que você quer ser? É isso o que você é, um submisso desses nojentos?

Chaz me chutou novamente e cuspiu no chão.

— É isso o que você é... Um servo. Imprestável e tolo. – murmurou. – Estou perdendo tempo aqui.

Quando ele ia se virar de costas, me levantei e cerrei os punhos. Chaz me encarou, seu punho ia atingir meu rosto, mas eu o segurei. Chaz chutou minha barriga e eu soquei seu rosto, dei uma joelhada em sua barriga, pisei em seu pé e o chutei, ele caiu deitado, cheio de cortes no rosto.

— Bom, parece que consegui te irritar – disse ele, e deu uma risada pelo nariz. O ajudei à se levantar e voltamos imundos e acabados para as fronteiras do acampamento.

— O quê aconteceu com você? – perguntou Leah, quando estávamos no treino de esgrima.

Dei de ombros.

— Uma espécie de teste. Deve ser normal para a turma de Ares.

Leah arqueou as sobrancelhas e desferiu um golpe contra meu ombro, eu o bloqueei, prendendo sua faca na minha espada, ela pegou sua outra faca e tentou atingir meu peito, eu a bloqueei com o punho da espada e Leah a empurrou contra mim, derrubando-me no chão.

— Droga – resmunguei.

Leah sorriu, vitoriosa. Por um momento me senti desnorteado, sacudi a cabeça.

Leah estendeu a mão e me ajudou à me levantar.

— Sabe, eu ainda não consigo acreditar que Atena é minha mãe, eu me sinto tão... diferente dos outros.

— Sei como é... – murmurei, enquanto andávamos pelo acampamento. – Não consigo me ver como um daqueles garotos de Ares.

A noite já chegava em Long Island, o sol sumira completamente.

— Annabeth mesma me disse que não me assemelho aos outros, se bem que eu não precisava que ela dissesse isso para notar.

Olhei para Leah e não pude deixar de notar o quão ainda mais bonita ela ficava ao anoitecer. Os cabelos negros tinham uma matiz mais viva, inclusive as mechas roxas, os olhos azuis eram o reflexo do céu estrelado, sua pele parecia ter um brilho lunar e tinha um maior contraste com os lábios avermelhados. As filhas de Afrodite não alcançavam aquela beleza.

— Por que está me olhando assim? – perguntou Leah, franzindo a testa e com um traço vermelho nas maçãs do rosto. Era a primeira vez que eu via Leah corar.

— Hã, não é por nada, mas... Você nunca percebeu o quanto fica ainda mais bonita de noite? Sei lá, pode significar alguma coisa. – murmurei, sem pensar.

Primeiro achei que ela fosse me bater e me fazer sair rolando campo abaixo. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, até que simplesmente bufou.

— Não costumo me observar à cada período do dia. E o que isso significaria? Se eu sou filha de Atena, a noite não tem nenhuma relação com a minha existência.

— É, mas você mesma disse que não se parece com os filhos de Atena. Talvez Atena não seja sua mãe.

— E quem seria? Zeus e Hades poderiam ter algo com isso, mas meu pai não é um deus, é historiador.

— É, então tem algo errado. Ei, olha o Tony ali.

Tony estava vindo na nossa direção.

— E aí, estão gostando do acampamento? – perguntou ele.

— É incrível. – disse Leah.

— Sim. A maioria dos campistas aqui tem a combinação de TDAH e dislexia. Vou mostrar uma coisa para vocês.

Tony nos levou até a Casa Grande. Quatro lances acima, a escada terminava embaixo de um alçapão verde.

Tony puxou o cordão. A porta se abriu e uma escada de madeira caiu ruidosamente no lugar. O ar morno que vinha de cima cheirava a mofo, made podre e mais alguma coisa... Répteis. O cheiro de serpentes.

Tony subiu, prendi a respiração e subi, ouvindo Leah atrás.

O sótão estava atulhado de sucata de heróis gregos: suportes de armaduras cobertos de teias de aranha; escudos outrora brilhantes cheios de adesivos dizendo ÍTACA, ILHA DE CIRCE e TERRA DAS AMAZONAS. Sobre uma mesa comprida estavam amontoados potes de vidro cheios de coisas em conserva – garras peludas decepadas, enormes olhos amarelos e diversas outras partes de monstros.

— A cornucópia do Minotauro – disse Leah, indicando um pote com um chifre de touro dentro.

— Os sátiros mais velhos dizem que Percy Jackson, filho de Poseidon e herói do Olimpo, arrancou utilizando as mãos, derrotou o primeiro monstro sem utilizar armas e antes de chegar ao acampamento. Tive o privilégio de ter a história confirmada pelo próprio guardião, Grover Underwood.

— Guardião? – perguntei.

— É, guardião. Sátiros são protetores. Grover foi encarregado de proteger Percy Jackson. Eu fui encarregado de proteger vocês dois, Tyler os filhos gêmeos de Poseidon. Também dizem que Percy teve atendimento domiciliar, Quíron disfarçou-se de professor e o ensinou na escola de Percy.

— Uau. – disse Leah.

— Conseguem ler? – perguntou Tony, indicando uma inscrição em grego antigo na parede Μαντείο των Δελφών”.

— Manteío ton Delfón – sussurrou Leah.

— Oráculo de Delfos – eu e Leah murmuramos em uníssono.

— Exato, é para isso que serve a dislexia, para ler inscrições em grego antigo. Já o TDAH os ajuda bastante em lutas.

— Mas o que tem "Oráculo de Delfos"? – perguntei.

— A antiga portadora do oráculo sofria uma maldição lançada por Hades, era como uma múmia, ela ficava aqui. A maldição acabou e nossa atual portadora é Rachel Elizabeth Dare, mas ela só vem aqui nas férias, pois está na faculdade. – respondeu Tony.

Peguei um livro de uma estante, o idioma era em grego antigo, pude entender o título escrito em tinta dourada: "Como treinar um dragão".

Abri no sumário, o livro tinha quarenta e cinco capítulos, alguns como: "Como chocar um ovo de dragão irlandês", "Como evitar que seu dragão cuspa fogo nas horas erradas", "Alimentando dragões" e "Anexo: Espécies de Dragões".

Ouvimos uma sineta tocar.

— Hora do jantar – disse Tony.

Depois do jantar, os campistas se reuniram próximos aos bosques. A equipe vermelha, Ares, uniu-se à Nêmesis, Hécate, Hermes, Deméter, Dionísio e Íris. Atena ficou com Hefesto, Apolo, Poseidon, Zeus, Afrodite, Hipnos e Jano. Depois de um longo discurso de estratégia vindo de Chaz, nos colocamos em nossos lugares, eu ficaria na defesa, protegendo a bandeira vermelha.

No início eu estava sozinho, enquanto o restante da defesa se escondia nas árvores.

Dylan foi o primeiro que veio no ataque, mas Jennifer, uma garota de Hermes, o interceptou, logo o restante da defesa já estava ocupado, até que Summer, de Apolo, correu em minha direção.

Duelamos por alguns minutos, até que vi alguém pulando de um tronco de árvore e pousando graciosamente atrás de mim. Chutei Summer para Jasmine, de Deméter e corri atrás da garota que ia na direção da bandeira vermelha, do outro lado do rio. Percebi que a água do rio abria passagem para a garota, era Dylan quem fazia aquilo, com certeza. A garota corria como um borrão, tornando quase impossível alcançá-lá.

Quando ela estava à, aproximadamente, apenas um metro de distância da bandeira, algo se chocou contra mim. Era um monstro com corpo de um imenso leão, com rosto humano, olhos vermelhos e uma cauda rija que lançava espinhos mortais em todas as direções.

Um dos espinhos cravou-se abaixo de minha costela direita, o monstro arranhou meu peito e continuou lançando espinhos, alguns pegaram em Dylan, Summer e outros.

A garota da equipe azul, que só depois percebi ser Leah, lançou-se contra o monstro, tirando-o de cima de mim.

— Manticore — gemeu Leah.

Assim que os olhos do manticore se focalizaram em Leah, ele perdeu total interesse em mim e lambeu os beiços. Ele lançou alguns espinhos, dois acertaram o tornozelo de Leah, e tentou levá-la, puxando-a pelo pé, mas Leah tirou as facas que estavam penduradas em suas costas e jogou uma contra a barriga do leão, conseguiu acertar, pegou de volta, puxou-me pelo braço, nós corremos, mais para dentro da floresta, já que mais dois manticores interceptavam a volta.

Leah me puxava, e corria tão rápido que talvez poderíamos despistar o bicho. Leah se meteu atrás de uma árvore, e eu em outra próxima.

Controlamos nossas respirações, tentando não fazer nenhum barulho, até que o manticore apareceu, andando devagar e farejando o ar, ele foi exatamente onde estava Leah, quando achei que ele iria derrubar a árvore, golpeei suas costas com minha espada.

— Leah — chamei.

— Estou aqui — sussurrou no meu ouvido.

— Como... — comecei, mas decidi ficar quieto.

Leah tinha uma adaga em mãos, ela rasgou a palma da própria mão e pressionou o tronco da árvore ao lado, arfando baixo. Recuamos em silêncio para a árvore do outro lado. O manticore derrubou a árvore e rugiu muito alto quando não encontrou nada, lançando espinhos para todos os lados, aproveitamos sua distração para correr de volta ao acampamento, mas já estávamos tão longe que eu podia imaginar que estávamos perdidos.

A corrida só fez com que o espinho abaixo de minha costela penetrasse mais, e os rasgos em meu peito ardessem, arfei.

Ficamos retesados, parados no lugar, por um tempo, mas não havia sinal do manticore, me joguei no chão, apoiando as costas em uma árvore. Leah sentou-se ao meu lado e suspirou pesadamente.

Ela levantou a barra da calça e franziu o nariz ao ver os espinhos no tornozelo, ela conseguira correr mesmo naquelas condições.

Ela tirou os espinhos e os jogou num canto, respirando fundo.

— Vai ter que tirar isso aí o mais breve possível. — disse ela. — Deixe-me ver.

Levantei a camisa, iria ser difícil tirar, já que havia entrado mais quando corremos.

Leah pegou sua adaga e olhou em meus olhos.

— Vou tentar não te machucar, se estiver doendo muito me avise — murmurou.

— Tudo bem... — suspirei — Pode prosseguir.

Com auxílio da luz do luar para poder enxergar, Leah posicionou a adaga na borda da ferida, pressionando para que o espinho saísse. Fechei os olhos com força quando a adaga aprofundou o corte, até que Leah puxou o espinho para fora.

Abri os olhos e suspirei.

— Obrigado — disse.

— Não foi por nada. — sussurrou ela, abrindo um pequeno sorriso. Ela abraçou os joelhos. — Vamos ter que esperar até amanhã para voltar, não sabemos o caminho de volta e é perigoso à esta hora.

— Tudo bem — murmurei. — Quer que eu fique de guarda primeiro?

— Pode deixar que eu fico, nunca fui de dormir enquanto é noite mesmo — disse ela, com um sorriso de canto.

— Vou te fazer companhia, não estou com sono e nem acho que conseguiria dormir no meio de sabe-se-lá-onde. — eu disse.

— Ok.

Deitei minha cabeça em seu ombro. Os olhos azuis de Leah permaneciam atentos à sua volta, ficamos em silêncio, concentrados na tarefa.

Ouvimos um pio alto e uma coruja cinzenta pousou à nossa frente, com um amuleto no bico.

— Ajax. – murmurou Leah, surpresa, ela pegou o amuleto de serpente. – É o amuleto que a Srta. Hannover pegou.

— Mas por que a coruja te trouxe isto justamente agora? – perguntei.

— Não faço ideia.


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Notas finais do capítulo

Agora as coisas começam a esquentar ;P



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