The Pieces Don't Fit Anymore escrita por Feeh


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ^~^



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Enquanto encarava Dexter por entre as gotas de chuva, essas que escorriam por meu rosto e embaçavam minha vista, senti meu estômago se despencar com as palavras que acabara de ouvir. E não era capaz de ignorar o sentimento agridoce que fazia com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. O sentimento de saber que eu já esperava por aquilo. E saber que uma parte em mim estava aliviada.

Mas eu estava quebrada.

Dex fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, parecendo chegar à mesma conclusão que eu. Havíamos ido longe demais. Ultrapassado todos os limites. Estávamos ali apenas nos despedaçando.

Olhei em volta, vendo que alguns vizinhos haviam saído de suas casas, e nos observavam da segurança de suas varandas. Sabia que não usava nada além de uma camiseta velha de Dex com alguma frase cinematográfica pouco conhecida, que batia no meio das minhas cochas e não escondia muita coisa. Além de que, graças à chuva, estava agora colada no corpo. E eu sentia frio. Dexter, no entanto, não parecia se importar de estar usando apenas um samba-canção no meio do nosso jardim.

Eu não acho que te amo, Dexter. Eu não acho que alguém seja capaz de te amar.

Então somos dois ferrados aqui, Astrid. Porque, aparentemente, nem seus pais foram capazes de amar você.

As palavras que jogamos um no outro me deixavam zonza, girando e rodando em volta da minha própria mente. Batiam em minha cabeça de segundos em segundos. Me atormentavam – castigavam. E não havia nenhuma maneira de que pudéssemos retirá-las.

Eu sabia que tinha falado da boca para fora. Sabia que amava Dexter mais do que amava a mim mesma. Sabia que não era inteira sem ele. Por mais que eu tenha sido a garota que cresceu dizendo que éramos todos inteiros – aquela era minha realidade. Dexter, querendo eu ou não, era muito mais de mim do que eu jamais seria. Amava Dex. Quando ele me encontrou, eu era apenas uma peça quebrada, sem esperança de que pudesse ser inteira outra vez. Então Dexter encaixou seus pedaços quebrados nos meus.

Eu também sabia, entretanto, que aquilo não era mais o que éramos. Em algum momento, tudo o que dei de mim deixou de ser o suficiente. No meio do caminho, era pouco. Não sabia os motivos de não ser mais aceitável para Dexter, mas sabia que não era. Dei tudo o que eu tinha e o que era – entreguei minha vida em suas mãos. Mas, de novo, eu não era inteira. Eu não era tudo. Eu nunca fui. E nunca seria.

Ignorei o vazio, as vozes que gritavam desesperadas e os dedos que pareciam se fechar em meu coração e apertá-lo, e simplesmente saí andando. Fui para dentro de casa sem me importar de olhar Dexter nos olhos outra vez. Aquilo machucaria demais. Olhar em seus olhos castanhos mais profundos do que todo o oceano pacífico e vê-lo como se não o conhecesse mais. Como se já não tivéssemos sido inteiros juntos. Como se já não tivéssemos sido um só. Olhá-lo e ter a certeza de que nossos pedaços simplesmente não se encaixavam mais.

Deitei no meu lado da cama, ignorando o fato de estar encharcada da cabeça aos pés, e me encolhi, enquanto observava o lado vazio ao lado do meu. O lado de Dex.

E pedi. Pedi muito para que, se houvesse alguma força superior ou mesmo o destino, que fizesse Dexter simplesmente ir embora, sem dizer ou fazer mais nada. Se ele já não era mais capaz de me amar, eu queria que parássemos de fingir, que parássemos com o teatro e com a mágoa amarga dirigida ao outro. Se ele não pudesse me amar, não tinha mais motivos para tentar. Eu preferia ser metade. Era melhor renunciar. Era melhor que ele simplesmente desistisse de mim.

Estiquei um dos braços até o meio da cama, cansada e quebrada. Lutando para esconder as feridas e a saudade que eu já sentia dele do outro lado da cama, segurando minha mão e começando a contar sobre o DVD desconhecido e empoeirado que havia encontrado no trabalho. Ou sobre a música do Sex Pistols que toca na rádio todos os dias e sempre o faz pensar em mim. Já sentia saudade do perfume de eucalipto e do hálito de café. Do sorriso ao citar Bukoswski e suas filosofias de bar. Da gargalhada ao me ver fazendo careta para as palavras de baixo calão.

Suave como uma pluma, Dexter deitou do outro lado da cama, encolhido como eu. Nossos olhos presos uns nos outros, como era de costume.

— Sinto muito – pedi.

Sentia muito por não poder ser inteira para ele. Sentia muito por nos assistir quebrando, desmoronando, caindo aos pedaços e não fazer nada. Sentia muito por ter falado que não o amava, quando sabia que meu coração palpitava de amor por ele durante todos os segundos do dia. Sentia muito por prendê-lo a mim por tanto tempo. Sentia muito porque queria ser mais, porque também era insatisfeita comigo mesma, porque também não me achava o suficiente para ser eu às vezes. Sentia muito porque não queria que ele interpretasse errado – eu havia tentado, tentado, tentado. Sentia muito porque não conseguia mais tentar.

— Sinto muito – ele repetiu. E eu fechei os olhos.

E esperei. Esperei que ele dissesse que não poderia mais continuar ali, que não poderia mais continuar comigo. Esperei que o peso do seu lado da cama diminuísse até que fosse inexistente e ele não estivesse mais ao meu lado. Esperei sentir todos os nossos pedaços se separando e ser só metade outra vez.

Tudo o que senti, porém, foi sua mão na minha.

Abri meus olhos. Me afoguei nos seus.

E sabia que ele, assim como eu, realmente sentia muito.

Nossos pedaços não se encaixavam mais. E aquilo doía. Doía pensar em não ser inteira outra vez. Mas quando sua mãe apertou a minha, eu soube que não importava. Não importava que nós não fôssemos feitos para ficar juntos, não importava que os planetas não girassem ao nosso favor e que, às vezes, um era para o outro um fardo muito mais pesado do que éramos capazes de carregar. Não estávamos verdadeiramente dispostos a desistir.

Seríamos inteiros, mesmo que tivéssemos que ser metades.


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