48 Horas, ou não... escrita por Mariannatuts


Capítulo 3
Capítulo 3.


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo irei abordar um assunto muito polêmico, porém da forma que na minha opinião devia ser tratado. Espero que gostem!



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Meus pulmões começam a fraquejar, não acho ar suficiente, estou ficando fria.

— Alana! – Alguém grita.

Abro meus olhos, estou no ônibus, no mesmo banco que conversava com Lohana, algum tempo antes.

— O que aconteceu? – Perguntei, olhando ao redor, o ônibus agora vazio.

— Essa é a última parada, se tem que comprar comida, compre aqui – falou. – Inclusive se sinta especial, todo mundo acordou umas 2 paradas antes, e permaneceram quietos por sua causa. – Afirmou, Bia.

Sorri.

— Awn, que amor! – Falei em tom debochado, apesar de ter sido fofo mesmo.

— O que aconteceu? Você suou mais que o normal dormindo... – Comentou, apontando para meu cabelo.

Peguei uma mecha de minha franja, estava oleosa.

— Sonhei que estava atrás de um brilho, uma pedra, não sei. Mas quanto mais eu chegava perto, mais ela se afasta. E quanto mais ela se afasta, mais eu fico sem ar – dei uma pausa, estava ofegante. - Pareceu tão real! – Finalizei.

— Você está tendo esse sonho de novo? – Perguntou.

— Sim. Só que dessa vez é mais fácil acordar, porque uma hora ou outra, percebo que é um sonho – relatei.

Ela me encarou.

— Ah... vamos descer, aqui está muito calor – afirmou, já descendo as escadinhas.

Assim que descemos do trailer, vi uma loja de conveniências colorida e que transparecia ser harmoniosa. Na entrada havia uma cortina de contas coloridas, em cima um grande painel neon anunciava o nome do local, que estava movimentado, parte pelos adolescentes de minha escola e outra por um punhado de hippies. O ar já era carregado pelo cheiro salgado da maresia, o que me trazia a certeza de que já estávamos próximos ao nosso destino.

Olhei para Bia que estava indo em direção a uma bancada, onde uma garota cuidava da parte de alimentos. Ela tinha os cabelos presos em um coque apertado, os olhos castanhos brilhantes e a pele com um bronzeado incrível. Fui até lá e me sentei ao lado de Bia, quando o grupo de hippies começou a cantar, um deles tocava no violão uma melodia já conhecida por meus ouvidos, e quando o grupo começou a cantar, juntos, tinha certeza que conhecia a música e a vontade de me juntar a eles para a música preencheu meu interior. Permaneci com os olhos fixos no grupo que cantava a música “Deixa chover” do Chimarruts de forma suave e acolhedora.

Foi quando eles chegaram ao refrão e com um pequeno gesto nos convidaram a cantar com eles. Hesitei apenas por um momento, me levantei e comecei a cantar – a única – conseguindo um olhar surpreso de Bia, que se virou para me olhar ignorando a garota com quem ela conversava.

— Deixa chover, deixa... – cantei, sorrindo para o hippie que sorria para mim.

Fiz um gesto com as mãos, para que os alunos cantassem também.

Quando prossegui com a música, outros alunos aproveitaram minha iniciativa para se juntar, percebi que Eric me olhava com as sobrancelhas franzidas. Eu não podia ser considerada tímida, mas não era o tipo que cantava em público, mas essa música estava pedindo, não, suplicando para ser cantada!

De maneira divertida, continuamos cantando por um bom tempo – eu mais alto que o resto da turma - algumas músicas como essa, as outras pessoas se sentindo mais à vontade para cantar com o passar dos curtos minutos, que duraram menos do que eu queria, pois logo o Senhor Ferraz estava ali mandando todos nós – alunos – voltarmos para o trailer, isto é, se não quiséssemos ficar para trás. Por tanto acabei não comendo nada na loja, o que de certa forma não fez diferença, já que eu não estava com fome.

Já acomodada no trailer, ouço uma batida em minha janela e a abro.

— Oi – cumprimentei sorrindo.

O hippie que tocava o violão estava em minha janela, segurando algo com penas.

— Oi – ele sorriu. – Achei sua energia muito bacana, só precisa ser canalizada, hein?

Ele colocou a cabeça mais para dentro do trailer, e examinou o local rapidamente, me afastei um pouco, lhe dando espaço.

— Trouxe isso aqui para você – ele me entregou um filtro dos sonhos bege, com penas claras. – Vi você olhando ele na saída.

Ele sorriu.

— Obrigada! Se tem uma coisa....

— Que eu não admito, é gritar comigo! – Berrou/cantou, Gerald, lá da frente, me interrompendo.

Sem eu ter feito nada.

— Cala a porra da boca – berrei em resposta.

Enquanto eu berrava, o trailer começou a se mover, de volta ao nosso destino. Coloquei a cabeça na janela, onde antes o moço de humanas se apoiava.

— Obrigada! De que árvore que você nasceu? – Gritei/citei, para ele, que acenava.

— Ô mulher! – Cantou em resposta, com a mesma música.

Sorri, acomodando-me em meu acento novamente.

— Há quanto tempo não te via cantar? – Perguntou Gerald, que se juntou a Bia e eu.

Pensei no assunto.

— Hã, não sei – admiti.

— Faz muito tempo! Devia cantar mais, você sabe que canta bem.

— Eu canto mais do que você imagina, Gerald. Não preciso ter plateia para cantar – afirmei.

Lohana que estava no banco da frente, supostamente ouvindo música, virou-se para trás.

— Realmente, devia cantar mais para nós – ela concordou, tirando o fone dos ouvidos.

— Talvez – respondi.

Coloquei o presente que ganhei em minha mala, que estava no compartimento de malas de mão, pois é exatamente do mesmo tamanho. Continuei a apreciar a bipolaridade da minha playlist. 

— Chegamos – o professor avisou.

Abri a cortininha da janela, enquanto esperava os demais saírem. Pela vista da minha janela, pude notar que estávamos em uma calçada, e do outro lado, devia ser a praia. Peguei o que era de mais importante ali – o celular e o fone de ouvido – e desci.

— Essa não é a praia em que ficaremos, para chegar nela, terão que passar por um solo um tanto quanto rochoso, coisinha boba. De qualquer forma, iremos andando – anunciou o professor.

— Mas e o trailer? – Perguntou Gerald.

O senhor Ferraz olhou ao seu redor, a procura da voz que perguntara.

— Ele irá percorrer um destino maior, para poder estacionar na praia certa – falou. - Inclusive, esse será o primeiro desafio de vocês. Irei avaliar a dificuldade que cada um possuirá para passar pelas pedras.

O.K. Por sorte, os acentos são bem confortáveis.

Boa parte do trajeto foi bem de boa, uma hora ou outra, alguém tropeçava e todos se viravam para olhar, mas faz parte.

— Então, animado? – Perguntei para Gerald, que estava um pouco a minha frente.

— Para que? – Perguntou medindo a distância entre duas pedras.

— Ué, para ver as gurias de biquíni! – Brinquei.

Ele virou para me olhar e depois continuou se aventurando entre as rochas.

— Você nem usa biquíni – comentou.

— Claro que uso – o informei.

— Eu não chamaria aquilo de biquíni... são como uma blusa e um mini short – debochou.

O encarei fingindo pasmar.

— Se fode. E eu não estava falando de mim.

— Sozinho não rola, se você...

— Lohana! – Gritei, o interrompendo.

— Cala a porra da boca! – Mandou.

Desde que nos conhecemos usamos “cala a porra da boca”, para demonstrar insatisfação.

— Quais meninas são essas que você anda pegando, cujo o short é do tamanho do meu biquíni? – Perguntei, debochando.

— Umas aí – falou. – Já olhou para o meu corpo? Com esse corpo consigo qualquer menina.

— Então acho que tem um erro na minha certidão de nascimento. E não, nunca reparei no seu corpo – admiti.

— Deveria.

Pelas posições de sua bochecha, podia afirmar que ele estava sorrindo.

— Vou chegar com o cabelo verde em casa! Não é fácil ser loiro – falou.

Eu ri.

— Isso foi bem gay.

— Gay é você nunca ter reparado no meu corpo – comentou, baixinho.

— Ah, eu adoraria ter um melhor amigo homossexual – comentei ainda pensando no assunto. – Vamos, se assume! – Incentivei, animada.

Ele me olhou, e continuou andando.

— Você é homofóbico? – Perguntei, séria.

— Não... sou homem. É meio ofensivo para um homem, sabe... de verdade, ser chamado de gay.

O encarei incrédula.

Ele continuou andando.

— Volta aqui! – Mandei. – Que porcaria é essa de homem de verdade? Acha que só porque é heterossexual é mais homem que um homossexual? – Perguntei, elevando a voz.

— Ué, sim, porque um...

— Não, ou... cala a porra boca! E dessa vez não estou dizendo no sentido só de insatisfação, cala a boca mesmo! - O interrompi.

— Pensa assim...

— Pensa assim nada! Pensa você! Sabe o tanto que eu odeio preconceito e machismo, e me vem com uma dessa? Espero que entenda o quão ridículo é seu conceito. Se acha o macho alfa, mas é só um moleque.

Corri.

Gerald me conhece desde a sétima série, por isso conhece cada mania minha. Ele sabe muito bem que não corro para não ouvir a resposta ou por birra. Corro porque me distraí, liberta e relaxa.


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Notas finais do capítulo

Eai, o que acharam? Não esqueçam de comentar!
Diga não a homofobia! Não deixe passar.



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