Never Stop escrita por Ellen Freitas


Capítulo 9
“I will never stop losing my breath” (II)


Notas iniciais do capítulo

Olá, arqueiros e arqueiras!!
Como passaram o feriadão? A tia Ellen passou doente, cancelando viagens e se despedindo de uma amiga que vai embora, mas fazer o quê? Tenho azar de Felicity, às vezes... Mas o lado bom foi que escrevi uns cinco capítulos de Never Stop. Não estão na ordem, mas já é alguma coisa... Vocês não perdem por esperar!!

Aproveitando para agradecer e oferecer esse capítulo para a MissDream que favoritou a fic!! Obrigadaaaaa!!!

Boa leitura, e fiquem com o maior capítulo da fic até agora!! Bjs*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/681299/chapter/9

— Não me bata, não se mexa, não enlouqueça — Oliver cochichou ao meu ouvido, fazendo minhas terminações nervosas surtarem.

— O que você tá fazendo? — sussurrei de volta, meio sem ação.

— Quer dar uma lição em Tommy e Sara? Então quando eu parar de te abraçar, ria para mim e não faça a sua cara de confusa, que apesar de linda, não vai nos ajudar aqui. — Oi? Linda? Eu estava totalmente ciente de sua mão subindo por minhas costas por baixo da minha blusa, e quando ele deu espaço de apenas alguns centímetros, ela ainda permaneceu por lá. — Os dois babacas fizeram uma aposta.

— Sempre uma aposta — senti minha frustração crescer, e quando tentei o afastar, ele me puxou para perto de novo.

— Eu não vou cumprir, mas preciso da sua ajuda para isso. Vamos dar uma lição neles e ainda nos livramos dessa festa chata. Não olhe! — alertou quando percebeu que eu estava procurando os dois atrás dele.

— O que eles querem?

— Me desafiaram a ficar com qualquer uma aqui. Não estava a fim, então apostaram comigo que não teria coragem de chegar em você. — Oliver me olhava fundo nos olhos fazendo carinho em meu rosto, como se estivesse dizendo a coisa mais romântica do mundo. Ator filho da mãe!

— E você me meteu nessa? Era só dizer não!

— E perder a chance de vê-los pagar? De jeito nenhum! Vai ser simples, nós dois vamos lá para dentro, enrolamos um tempo, então quando os dois estiverem bem bêbados, executamos nossa vingança. — Oliver parecia um menino travesso com um plano, e claro que minha criança interior também me fez entrar nessa.

— Eles nunca vão acreditar que te dei moral nessas circunstâncias. — Opa! — Em nenhuma circunstância! Quer dizer, talvez em algumas... Principalmente com essa falta de tecido e você me agarrando desse jeito... Cala a boca, Felicity! — me ordenei, e ele riu.

— Apenas siga meus movimentos. E não surte.

Surtar, por quê?

A mão de Oliver que estava em minhas costas escorregou para a base da coluna e se eu achava que havia algum espaço entre nossos corpos, ele finalizou em uma pegada um tanto brusca, mas igualmente arrepiante. Sua outra mão afastou meus cabelos para o lado, e já senti seus lábios em meu pescoço. Me apoiei segurando firme em seu tronco desnudo para não cair ali mesmo com minhas pernas bambas.

Surtar, por isso? Imagina...

Eu não lembro nem como respira!

— Oliver... — Meu murmúrio não era nem um chamado, apenas a palavra que escapou da minha boca sem controle. Foco, Fel, você tem quase um namorado incrível e Oliver entrou no Livro dos Recordes com sua listinha de peguetes!

— É o bastante, vamos. — O sopro de suas palavras bateu em meu ouvido segundos depois de sua língua passear pela minha jugular e em seguida já estava sendo levada pela mão em direção à mansão Queen.

Quando a festa ficou para trás e já estávamos fora de vista, Oliver começou a rir tanto que saiam lágrimas de seus olhos. Eu até queria estar achando tanta graça da coisa toda, mas estava ainda meio paralisada de estar quase dando amassos e ter sido beijada e lambida no pescoço por Oliver Queen no meio de uma centena de pessoas.

— Você viu a cara deles?

— Não. A cara de Tommy e Sara foi o que eu menos lembrei enquanto você me chupava. Droga! Me lambia... Esquece. — Dei uma tapa na minha própria testa e já comecei a agendar mentalmente uma cirurgia para remoção da minha língua.

— Eu devia ter filmado, talvez eu peça as imagens para o pessoal da segurança. Vem, vou te mostrar a casa. — Sua mão que ainda estava presa à minha me conduziu para dentro da enorme construção.

— Tá. — Sim, Felicity Smoak estava trabalhando agora com monossilábicas. Oliver cumprimentou o segurança da porta com um aceno de cabeça e entramos.

Minha nossa senhora dos castelos! Que lugar é esse?

— Uau.

— Não é tão uau assim.

Não é tão uau assim? Meu prédio cabe todo naquele hall de entrada. E ainda é possível ver enormes salas de estar e jantar através das gigantes portas paralelas. E eu achando que a arquitetura da CQ tinha ostentação...

— Para você que cresceu aqui!

— Não é tão divertido quando você tem sete anos e passa dois meses sem ver seus pais, mesmo morando na mesma casa. — Meus olhos cresceram um par. Tadinho...

— Como você sobreviveu?

— Vou te mostrar como. — Ele me conduziu até o local que descobrir ser a cozinha. — Raisa, tá aí?

— Oliver? — Uma senhora de seus cinquenta e poucos anos e com um forte sotaque russo entrou no cômodo enxugando as mãos em um avental.

— Felicity, essa é Raisa. Ela praticamente criou a mim e Thea. — A mulher me sorriu simpática e apertando minha mão através do abraço de urso que Oliver lhe dava.

— Muito prazer, senhorita.

— Sou Felicity. — Sorri de volta retribuindo ao cumprimento. — Eu e Oliver somos bem próximos. Não próximos do jeito que a senhora está pensando, apenas trabalhamos próximos. Não exatamente, tem uma parede de vidro e aquela sala é enorme. A senhora já viu o tamanho dele? Estou falando do escritório, não de outras partes dele! Não que eu saiba, na verdade, mas todo mundo supõe...

— Vamos conhecer mais da casa. — Dei graças a Deus por Oliver me tirar dali antes que eu me envergonhasse mais.

— Essa é única, Ollie — a ouvir comentar antes de deixarmos a cozinha.

Gente, aquela casa deveria dar um trabalhão para limpar, coitada da Raisa. Oliver me apresentou a sala de estar, de jantar, de jogos, de cinema, escritório, biblioteca, jardim de inverno. E ainda nem tínhamos subido as escadas!

— Bom, aqui temos outra biblioteca, e outra sala de cinema — ele começou quando terminamos a escadaria dupla apontando para cada porta fechada. — No fim corredor é o quarto dos meus pais, então tem o da Thea, o maior quarto de hóspedes, também conhecido como lugar onde meu pai dorme. — Oliver riu sem achar realmente graça e seguiu no corredor. — Então dobrando a esquina temos mais cinco quartos de hóspedes, e... — O loiro fez suspense parando em frente à uma das portas. — O meu quarto.

— Uau! — novamente exclamei ao ver o cômodo por dentro. — E não diga nada de “não é tão uau assim”, que você ofende a mim e meu apartamento 15x15!

— Você quer entrar? — perguntou contendo um riso.

— Claro que... Espera! Quais suas intenções comigo e você sozinhos nesse quarto? — O olhei desconfiada lhe apontando um indicador e Oliver ergueu as mãos em rendição.

— Nem toco em você, se não quiser.

— Pois coloque uma camisa. — Cruzei os braços numa pose mandona.

— Sério?

— Sério. Estou quase me diagnosticando com déficit de atenção. Não que seu corpo másculo tenha algum efeito sobre mim, não seria a primeira vez que eu vejo... Voê se troca na sua sala e eu, bem... — Senti meu rosto esquentar. Merda! — Só coloca a droga da camisa, por favor — pedi soltando um riso nervoso e coçando um ponto imaginário na testa, evitando olhá-lo.

— Você que sabe, eu não estou incomodado.

— Mas se eu tirasse a blusa, você ficaria — tentei mostrar meu ponto.

— Nem um pouco, na verdade. — O bastardo me lançou o sorrisinho malicioso que eu não sabia de socava ou se beijava aquela cara. Socar! Socar!

— Pare com essas brincadeiras, Oliver! Você é meu chef... Nossa, você tem uma banheira?! — gritei entusiasmada, já indo em direção ao banheiro.

— Fique à vontade para experimentá-la. Com minha rotina corrida, a coitada está sem uso faz muito tempo.

Ponderei se devia ou não aceitar o convite. Estar na casa do meu chefe, mais precisamente no banheiro de sua suíte, era muito errado, mas qual é? Era uma banheira! Tenho paixão por banheiras desde que assistia Kyle XY*! Tudo bem, vamos chegar a um meio termo. Entrar no maravilhoso objeto vazio não teria problema, eu estaria com minhas roupas o tempo todo.

— Não vai encher? — Oliver encostou o ombro no batente da porta, já vestido, graças ao bom Deus.

— Passo.

— Ah, tanto faz. — Deu de ombros, já também entrando na banheira e sentando-se do lado oposto. Arregalei os olhos para a ação tão natural e sem autorização.

— Ei, quem disse que você poderia entrar também?

— Você não disse que eu não poderia! — ele justificou. Como é? — Além do mais, se você quer ficar por aqui, eu não vou sentar no chão ou no vaso sanitário.

— Que seja. — Me ajustei melhor, relaxando o pescoço na borda da banheira, esticando as pernas e fechando os olhos. O banheiro de Oliver não tinha cheiro de xampu ou sabonete, mas tinha cheiro de Oliver, e isso era muito perturbador para minha mente fraca. — Agora, como passaremos o tempo?

Cometi o erro de abrir os olhos, justo para encontrar o olhar azul cristalino de Oliver fixo em mim, e um sorrisinho safado desenhando-se no canto de seus lábios. Não precisava ser um gênio para saber o que a criatura estava pensando. E se Oliver sendo charmoso ao natural já era de tirar o fôlego, ele usando o charme a seu favor era de arrancar os pulmões inteiros.

— Não! Nem abra a boca para sugerir o que você tem em mente, ou entro com um processo contra você por assédio. Talvez Laurel me represente. — Ele riu.

— Eu não ia dizer nada — se defendeu.

— Conheço sua fama, Queen, não se faça de bobo. — Seu sorriso de ampliou e ele também relaxou na banheira, ficando em silêncio por um tempo. Os dedos dos seus pés brincavam com a barra do meu short quase inconscientemente e antes que os dedos de suas mãos tivessem a mesma ideia, resolvi puxar assunto. — Então, qual a história de aposta com Sara e Tommy?

— Dois babacas. Eles acham que tem uma coisa rolando aqui. — Apontou para nós dois. — Eles acham que não consigo ter “amigas” sem ferrar isso ficando com elas. — Nesse ponto eu já estava mais corada do que imaginei ser possível. Nossa “relação” nunca tinha sido abertamente discutida por nós dois.

— Então para provar o contrário, você decide “ficar” comigo? — Fiz aspas com os dedos para deixar bem claro a natureza apenas hipotética da minha frase.

— Eles queriam me empurrar umas garotas nada a ver, então disse que poderia muito bem ficar com você hoje sem estragar nossa parceria.

— Você está tão errado. — Foi a vez de Oliver me olhar surpreso. — Não pense que vamos ficar! — Me corrigir antes que ele pensasse besteira. — Você está errado em suas contas. Não são dois babacas, são três! Você me colocou nessa, agora muita gente viu você me agarrando na beira da piscina. Vai ser o assunto na empresa segunda feira.

— Relaxe, isso é um evento da Verdant, não da CQ. Além do que, as pessoas que Tommy convidou são figurões da mídia, ninguém aqui tá realmente ligando para o que eu faço ou não, estão preocupados demais com os próprios umbigos.

— Mesmo assim...

— Relaxe, Felicity. É tão difícil acreditar que posso querer passar um tempo conversando com você sobre assuntos que não incluem tabelas, gráficos, ciência e tecnologia? — Oliver sorriu como uma criança inocente e eu ri de volta.

— Sobre o que quer conversar? — questionei.

— Seu irmão pegando minha irmã pode ser um tópico para começar — ele sugeriu com uma careta.

— Barry não está “pegando” a Thea. Barry não pega ninguém, coitado. — Gargalhei. Tomara que não, crescentei mentalmente. Oliver, do jeito que era, o mataria com requintes de tortura e crueldade.

— Os pais de vocês devem ser os mais orgulhosos do mundo, dois gênios na família.

— Eles são, mas não somos irmãos biológicos. Quer dizer, até parece que somos gêmeos às vezes, mas eu conheci Barry quando já tinha quase dezoito anos, quando minha mãe casou com o pai dele. Nos tornamos melhores amigos desde então, mais irmãos que a maioria das pessoas por aí. Ele parece meio louco, tagarela, abobado, mas é minha rocha.

— Eu queria que Thea pensasse isso de mim. Menos a parte do louco, tagarela e abobado.

— Quem disse que ela não acha isso?

— Ela mesma. Você não viu de relance nossa relação?

— Vocês precisam de tempo juntos, Oliver — aconselhei. — Você nunca tirou tempo para passar com ela, os seus pais também não. Vocês deveriam ficar juntos nesses momentos, mas pelo que entendi, você ficava aprontando das suas para um lado e ela para outro. Nem as merdas vocês faziam juntos, não tem como ela ter criado o mínimo de apego por um irmão assim, que competia com ela em quem aparecia mais nos tabloides e envergonhava mais a família. — O loiro pareceu refletir por alguns momentos no que eu disse.

— Você é tão inteligente — Oliver comentou por fim.

— Bem-vindo à Terapia no Banheiro**! — Abri os braços em um gesto animado.

— Você seria uma boa terapeuta. Se conseguisse deixar o paciente falar, claro.

— Está insinuando que falo demais? — brinquei.

— Mas isso é uma coisa que sempre me frustrou, sabe? Você e Barry não são ricos, não tem mansão, uma conta bancária milionária, nem os pais biológicos juntos, mas estão sempre tão felizes. É incomum ver gente assim no meu mundo.

— É o velho clichê de que dinheiro não traz felicidade.

— Na época do colégio, quando eu ainda namorava Laurel, conheci uma menina, tinha um estilo meio gótico, maquiagem forte, piercing no nariz, era estranho. — Arregalei os olhos. Oh meu Deus! É isso mesmo que estou ouvindo, produção? Então ele lembra de mim, mas não lembra ao mesmo tempo? Não falei nada, realmente ansiosa pelo que ele tinha a dizer. — Laurel detestava ela, mas no fundo eu sabia que era inveja. A tal garota, ela era bolsista e vinha de escola pública, mas ganhava quase tudo que competia com Laurel, e ela ficava muito puta com isso. O que mais me chamou a atenção, é que quando não estava sendo atormentada ou humilhada por minha namorada, ela parecia a pessoa mais genuinamente feliz daquele lugar.

— E você era só um namorado passivo filho da mãe?

— Ahn? — Oliver não entendeu minha reação um tanto quanto exagerada. Controle-se, Fel!

— Deixa pra lá. Mas, e aí?

— Eu tenho inveja de sentir isso, de ter coisas pequenas, como comer sorvete escondido, receber um não, falar com um amigo que queira conversar e não mídia por estar comigo. Os advogados me livraram dos processos judiciais, eu tinha dinheiro para comprar o que quisesse, não tinha limites. O primeiro desafio da minha vida foi quando assumi a presidência da empresa. — Vê-lo abrir sua vida para mim era encantador e não tive como segurar o sorriso singelo que brotou em meus lábios. — Eu só precisei realmente crescer aos 27 anos! Não posso deixar que isso aconteça com Thea.

— Você é um irmão incrível — atestei.

— Não sei se concordo, mas obrigado. — Quando ele tomou minhas mãos entre as suas, e a beijou, não soube bem como reagir. Não parecia sequer que ele tinha consciência como somente aquele pequeno gesto me afetava, e o fez apenas como agradecimento.

O que diabos está rolando aqui, Deus? Espera, eu acabei de usar o nome de Deus e do diabo na mesma frase? Por isso que as coisas não dão certo para você, Felicity!

— Não precisa agradecer, já te disse, somos...

— Você quer ver um filme para passar o tempo? — Oliver me cortou. — Essa banheira está ótima, mas essa casa é grande demais para ficarmos apenas dentro do banheiro, não acha?

— Não acho. — Me estiquei na banheira deixando-me dominar pela preguiça.

— Nada disso! — Ele ficou em pé, me levantando sem meu consentimento. — Quer ir para qual das duas salas de cinema? A de baixo é maior, cabe até trinta pessoas, mas a de cima é menor e mais aconchegante.

— Eu acho realmente ofensivo você ter duas salas de cinema enquanto eu só tenho uma TV de 32 polegadas. — O segui para fora de seu banheiro com uma dorzinha no coração por deixar a banheira. Será que ele me daria ela, se eu pedisse com jeitinho? Mas para colocar onde, Fel, na sala?! Deixe de bancar a pobre!

— Aqui. — Oliver abriu a porta para uma sala no andar superior, decidindo por mim. — Fica à vontade, vou pegar alguma com a Raisa pra gente comer.

Ok, agora eu estava humilhada.

A “pequena e aconchegante” sala de cinema era do tamanho do meu apartamento. Parece que cada cômodo ali era do tamanho do meu humilde lar. Havia uma tela que tomava quase uma parede toda, dois sofás cama, várias almofadas no chão e muitas prateleiras preenchidas com filmes e séries que tenho certeza que ninguém ali parava para assistir. Que desperdício!

Arregalei os olhos quando, em uma das estantes, visualizei os boxes com as 26 temporadas, dez séries, três especiais, mais o filme, fora os bonecos em miniatura de todos os doze Dr. Who! Aquela era a coleção mais linda que eu já tinha visto na minha vida.

— Você está chorando, Felicity? — Nem me dei conta que Oliver já tinha voltado até ele parar do meu lado, com uma bandeja de sanduíches, uma garrafa de vinho e duas taças.

— Tão perfeito — comentei emocionada voltando os olhos para a estante, apenas aproximando meus dedos dos bonecos, temendo tocá-los. Oliver gargalhou e não entendi bem o porquê. Talvez ele apenas estivesse rindo das minhas lágrimas, mas ele não entendia o que aquilo significava para um verdadeiro fã.

— Pode levar a coleção pra você, se quiser.

— O quê? — Gritei.

— Meu pai arrematou tudo em um leilão, só porque um dos inimigos dele queria. Ele não se importa realmente, pode levar.

— Não, Oliver, isso vale uma fortuna! Eu não posso.

— Você que sabe. Mas se mudar de ideia, pode vir buscar a hora que quiser. — Era quase ultrajante como ele não entendia como aquilo era valioso.

Nos sentamos para comer e tentar escolher um filme, mas estava mais difícil do que imaginei. Eu e Oliver éramos as pessoas mais diferentes uma da outra, e quando eu queria ver algo de ficção científica, ele só queria ver carros em alta velocidade ou explodindo. Ou carros explodindo em alta velocidade.

Acabei cedendo aos desejos dele, mas me importando mesmo com a comida, que estava uma delícia. Mandei mensagem para Barry dizendo que ele poderia levar o carro quando precisasse ir, e que eu ficaria por mais algum tempo aqui, torcendo internamente para ele não tivesse visto ou ouvido comentários sobre a cena piscina.

— Como você sabe que Sara e Tommy ficarão por aqui? — perguntei a Oliver tempos depois, a garrafa já pela metade.

— Conheço meus amigos folgados. Quando a festa encerrar, eles já vão procurar um quarto para se jogarem até amanhã.

— Juntos?

— Não! Se ali nunca rolou nada até agora, não vai ser hoje. Ou talvez seja... — Oliver tinha um sorrisinho de quem estava aprontando.

— Vai dizer seu planinho agora?

— Simples. Quando eles desmaiarem por aí, vou colocá-los na mesma cama, algemados. E você vai me ajudar.

— Oliver! Que criancice!

— Eles disseram que bastava eu dar meu “sorriso Oliver” que você já cairia nos meus encantos, sem nem piscar. — Ele usou seu tom de crítica aos amigos para provocar em mim raiva. Eles achavam que eu era uma pessoa tão fácil e sem controle assim? Ok, talvez fosse, mas e daí? Não quero ninguém fazendo apostas com meu nome, não estou mais no ensino médio! Hora da vingança!

— Onde estão as algemas?

— Assim que se fala, parceira. Mas ainda é cedo.

— Que horas mais ou menos suas festas terminam?

— Minhas festas duram todo um fim de semana, Felicity, talvez até mais. — Ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Mas talvez essa aqui acabe lá pelas quatro ou cinco da manhã.

— Ainda não são nem dez! — Deu de ombros. — Tanto faz, me passa essa garrafa aqui.

— Toda sua, mas vai com... — Não sei que veia alcoólica foi ativada em mim, mas entornei o vinho bebendo grandes goles de um só fôlego. — ...calma. — Oliver me olhava um pouco surpreso e assustado ao mesmo tempo. — Essa Felicity eu não conhecia.

— Você começou a me embebedar, você aguente! E se prepare para segurar meu cabelo quando eu vomitar.

Meu chefinho apenas riu e voltou a atenção ao filme.

A Felicity normal falava bastante. A Felicity semi-bêbada era uma desgraça para a raça humana, falando como uma matraca descontrolada. Dei a Oliver uma lista minuciosa de cada cara que eu já beijei ou fiz sexo durante toda minha vida, detalhando inclusive como havia sido.

Por sorte meu cérebro era esperto e tinha vida própria, então escolheu esconder de Oliver nosso passado no colégio, mas tenho certeza que eu me envergonharia menos dessa revelação do que de todas as confissões que estava fazendo. Foda-se. Quando minhas pálpebras começaram a pesar, me agarrei em uma almofada e dormi ali mesmo.

~

— Felicity. Felicity? — Todo mundo não odeia quando é acordado de madrugada para ir para uma escola de gente chata e que já passou em todas as matérias?

— Não, mãe...

— Felicity! — Abri meus olhos no susto. Aquele definitivamente não era o grito da minha mãe.

— Oliver, o que está fazendo na minha casa? Que horas são?

Você está na minha casa, são quase cinco da manhã, agora levanta que está na hora. Tommy e Sara já desmaiaram.

Ah, é! Tem a coisa do planinho infantil, sala de cinema e banheira. Oh, Deus, teve aquele momento na banheira! E a tagarelice na sala de cinema! Felicity, sorria, concorde e finja que bebeu demais! E da próxima vez, não beba nada que esse doido gatíssimo lhe oferecer.

— Tem certeza que quer fazer isso, Oliver? Deixa eles... — propus já me levantando do meio do amontoado de travesseiros que estava. Tinha uma manta me cobrindo também, mas ninguém sabe como aquilo foi parar ali.

— E deixar eles me estressarem e te estressarem sem nenhuma consequência?

— Eu estou de boa. — Forcei um sorriso.

— Mas eu não, então vamos fazer isso. — Oliver me puxou pela mão para o mesmo corredor que ficava seu quarto. — Tommy está nesse quarto, e agora está sozinho. — Apenas a pronúncia da palavra “agora” me fez torcer o nariz para o que quer que tenha acontecido naquele quarto antes de Oliver me acordar. — Vou buscar Sara, ela está com Laurel em outro quarto. Vigie essa porta.

Oh, merda! Laurel!

Tommy gostava dela e isso poderia arruinar tudo entre eles. Acabei nem prestando atenção nesse pequeno detalhe enquanto fantasiava essa vingancinha com Oliver. Me surpreendi quando o loiro saiu de um dos quartos com uma Sara desacordada em seu colo e Laurel logo atrás dele.

— Como você... O que ela... Eu desisto! — Levantei as mãos rendidas, realmente tentando parar de pensar em como funcionava a mente de Oliver Queen e Laurel Lance.

— Também quero ver eles dois desesperados por achar que me traíram, não posso? Pelo menos dessa vez vai ser mentira ― ela acusou, fixando o olhar em Oliver.

— Você nunca vai esquecer isso? — ele cochichou olhando-a por cima do ombro, ao que recebeu em resposta apenas uma negativa com a cabeça, mas eu a via segurando um sorriso. Ótimo, todo mundo se divertindo, menos eu!

— Certo. Laurel, você está com as algemas? Felicity, me ajude a arrumar os dois na cama.

Olhar para aquela cena, nós, três adultos fazendo uma brincadeira besta com outros dois adultos, me assustou um pouco. Não éramos mais adolescentes e o pior, eu parecia estar me tornando como a turminha de Laurel no colégio. Recuei dois passos para o corredor.

— Vai ficar só parada aí, nerd? — Fiz uma careta.

— Acho que vou ficar só vigiando mesmo. Sara é pequena, mas tem um jeitinho meio assassino quando mexe com aqueles copos de coquetéis. — Dei uma desculpa qualquer. Eu sequer tinha visto Sara fazendo drinques.

— Você que sabe. Ollie, você está fazendo errado!

Encostei-me na parede do corredor ao lado da porta, até que minutos depois, os dois saíram, tento ao máximo não rir alto.

— Relaxem, vou fazer um escândalo amanhã, Tommy me paga. Mas não me acordem antes do pôr do sol. Tchau. — Quando ela entrou no quarto de onde tinha saído, Oliver olhou para mim.

— Fique à vontade para voltar a dormir no meu quarto, se quiser. Ainda dá tempo.

— E você?

— Eu vou dar uma olhada em volta da piscina, ver se ninguém caiu de bêbado pelo jardim, essas coisas de anfitrião responsável, sabe? — O loiro fingiu arrogância e eu ri.

— Posso ir com você, senhor anfitrião responsável? Já está quase amanhecendo, acho que já dormi o suficiente.

— Claro. Mas pega um casaco, essa sua roupa está muito... — Senti meu rosto corar quando o olhar dele desceu para minhas pernas nuas pelo short. — Está frio lá fora. — Franzi o cenho quando ele me jogou a própria jaqueta, que ele tinha dobrada no braço.

— Tá bom.

Caminhamos em silêncio no escuro da madrugada que antecede o nascer do sol, checando todos os lugares do lado de fora da casa e tudo parecia um deserto. Tirando, claro, o fato que desertos não tem gramas mais bem cuidadas que meu cabelo.

— Você está bem? Tá estranhamente calada.

— Ahn?

— Você, calada, estranho. — Oliver usou palavras chaves enquanto chutava alguns copos vazios de cerveja para longe, os tirando da borda da piscina.

— Estou me sentindo culpada. Pronto, falei — disparei logo de uma vez, fazendo com que ele risse de mim. De novo.

— Por quê?

— Tommy gosta da Laurel.

— Eu sei.

— E isso vai ferrar ainda mais com a relação já bem ferrada deles.

— Eu sei.

— Se sabe, por que fez, então?

— Tommy é meu melhor amigo, mas precisa se posicionar quando o assunto é minha ex. Ele acha que eu me incomodo com isso, mas não. Estou apenas dando um empurrãozinho.

— Revivendo o pior momento da relação Lauriver? — Ele riu mais alto dessa vez. — É sério, pare de rir de mim, ou me demito.

— Você é engraçada, não posso fazer nada. Deixe de ser e eu paro de rir.

— Babaca — acusei.

— Qual é, Felicity, a noite não foi divertida?

— Um pouco...

— Pois é! Admita que gostou de passar um tempo comigo sem me chamar de senhor Queen, ou me tratar como seu chefe e podemos voltar lá para dentro.

O sorriso de Oliver era algo que eu não conseguia colocar em palavras. Quando não era forçado por negócios, sarcástico ou fingido, provavelmente era a visão mais linda do planeta. Suspirei fundo andando de costas para longe dele, tentando não demonstrar o quanto aquilo mexia comigo. Ray também tem um sorriso bonito, foca nisso, Fel!

— Ok, talvez não seja tão...

— Cuidado! — O grito de Oliver interrompeu minha frase e quando notei, o chão sob meus pés não existia mais, apenas água e mais água.

Quando dizia que Oliver tirava meu fôlego, nunca achei que fosse para sempre!

Quando meus pés tocaram o fundo da piscina, dei um impulso para cima e logo senti meus braços sendo puxados para fora da água pelas mãos de Oliver. O que ainda falta para você aprontar hoje, Felicity?!

— Você está bem? — Ele tirava os fios do meu cabelo do meu rosto, me olhando preocupado e sentado ao meu lado no chão frio.

— Hm ahn — murmurei.

— Isso foi um sim ou um não? Felicity, você está bem?

— Foi um “me desculpe por cair na sua piscina de madrugada”. Como eu posso ser tão desastrada? — Cobri meu rosto com a mão, envergonhada.

— Vem, você precisa entrar e se aquecer. — Confirmei com a cabeça e aceitei a mão que ele ofereceu para ajudar a levantar, quando vi atrás dele, na grama ao redor da piscina, o terror da minha vida, meu pior pesadelo.

— Um sapo! — gritei antes de me jogar no pescoço de Oliver, saindo do primeiro jeito que consegui do chão. Eu tinha pavor de sapos.

Mas o pior ainda estava por vir.

Oliver se desequilibrou com uma louca pulando nele, e ao me segurar pela cintura, deu um passo atrás, sua perna tropeçando em uma das esteiras que ficava por ali e nós dois rolando para cima dela, as costas dele batendo no assento, depois dando uma volta de 360 graus, caindo os dois no chão, eu por cima dele, minhas roupas molhadas encharcando o coitado.

— Desculpa, desculpa, desculpa! Eu não quis... Foi mal.

Não sei qual reação esperava dele, mas Oliver se superou nas gargalhadas. Ele ria tanto e tão alto, como nunca tinha visto alguém rir na vida, que não resisti e comecei a rir junto. Se ele que foi atraído para minha rede de azar estava de bem com isso, eu que não iria discutir e ganhar minha demissão.

Mas tinha que admitir que a situação era bem cômica.

Minha gargalhada estranha ecoava em conjunto com a dele e eu já sentia lágrimas descerem dos meus olhos e minha barriga doer. Fazia muito tempo que eu não sorria tanto, a última vez tinha sido quando Barry caiu de bicicleta na frente da casa dos nossos pais, quando eu disse claramente que ele não conseguiria pedalar sem se machucar.

Descansei minha testa no colchão mais sexy do mundo enquanto tomava fôlego. Espera aí. Eu estava deitada em cima de Oliver? Oh, Deus!

— Oliv... — interrompi mais um pedido de desculpas no meio.

O maldito não mais ria, mas ao contrário dos últimos segundos, ele tinha ficado sério e concentrado me olhando fixamente. Desejei que seus olhos azuis estivessem nos meus, mas não... Oliver encarava a minha boca! Sua mão alcançou minha bochecha, fazendo um carinho ali.

E agora, o que fazer?

Quer dizer, eu sabia o que ele estava prestes a fazer, ou pelo menos cogitando fazer, mas eu tinha que tomar uma decisão, afinal, metade dos lábios futuramente envolvidos naquele movimento seriam meus.

Eu poderia beijá-lo ali, matar a curiosidade que me acompanhou por anos, mas teria que enfrentar a vergonha na segunda feira, ou pior, ele ignoraria que fez aquilo como já era seu costume. Eu já tinha encontrado mais de uma garota rondando o prédio da CQ em busca de mais um encontro. Sem falar que possivelmente ferraria minha relação com Ray, que ainda não tinha nem começado direito.

Ou então eu o beijaria e dane-se o resto.

Vamos lá, Sociedade Anônima das Paixões Secretas por Oliver Queen, me deem uma luz!

Quando Oliver inclinou o corpo um pouco para cima, seu rosto aproximando-se do meu, reuni toda a coragem que eu não tinha e apoiei minhas mãos em seu peito, me levantando.

— Desculpe, senhor Queen, eu preciso ir.

— Felicity, espera. Eu te levo. — Ele também se levantou, e pude ver notas de culpa e arrependimento em seu rosto. Maravilha!

— Pego um taxi.

— Sem dinheiro e toda encharcada? Me deixa pelo menos te emprestar algo seco para vestir. — Oliver e sua lógica estúpida!

— Tudo bem, mas aí eu vou embora.

— Felicity, me desculpe...

— Tudo bem, vamos esquecer isso. O sapo até já foi embora, ficou só o príncipe. — O que eu estou falando? — Só você... ficou só você e eu. Calada!

E pela primeira vez na história ele não riu da minha tagarelice.

.

.

* Kyle XY: série estadunidense de ficção científica que contava a história de um adolescente geneticamente modificado que tinha o intelecto super desenvolvido e foi adotado por uma família americana. Kyle costumava dormir em uma banheira, pois de acordo com ele, era o único lugar que lhe trazia mais paz.

** Referência à Bathroom Therapy, vídeos postados por Emilly Bett Rickards (intérprete de Felicity na série), onde dá conselhos em sua banheira enquanto brinca com itens do banheiro. Recentemente Emily lançou um projeto de caridade onde vende camisas da “Bathroom Therapy” para ajudar The American Autoimmune Related Diseases Association, que se dedica à pesquisa e erradicação de doenças autoimunes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eita, eita, dessa vez foi quaaaaaaase!!
Como assim, Oliver, você ia mesmo beijar sua secretária, assim, na cara de pau?
Quiridinho, você está se revelando, só observo...

Mas então?? O que acharam? Teve Felicity atrapalhada, mansão Queen, pegadinhas idiotas, terapia do banheiro e quase pegações públicas e escondidas do nosso casal. Capítulo agitado, hein?

Deixem seus comentários com o que acharam e com o que supõem que vem a seguir... Só digo duas coisas: as coisas começam a esquentar *cof cof* no próximo e Oliver tá pertinho de descobrir que Felicity era sua "morena" no colegial. A reação dele a isso... HAHAHAHAHAHAHAHAHA Digo nada!!
Recomendem, favoritem e indiquem a fic para os amigos!!!
Isso deixa a Ellen feliz para escrever e capítulos saem mais rápido!!
Até os reviews... Bjs*