Anchors escrita por Strela Ravenclaw


Capítulo 1
Capítulo Único — De Volta a Superfície da Vida.


Notas iniciais do capítulo

Olá.
A ideia dessa história surgiu do nada, e eu achei legal compartilha-lá com você que está lendo isso.
Desculpe se houver erros ortográficos e tenha uma boa leitura.

Obs: recomendo que leia escutando uma dessas duas músicas "Eric Arjes - Find My Way Back" ou "SYML - Where's My Love" se quiser é claro.



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Eu não sei se você já se sentiu como se todo o seu corpo estivesse paralisado, como se não pudesse mexer um músculo. Mesmo que seus pensamentos mandem. Mesmo que você tente com todas as forças. Eu me sinto assim, eu estou assim.

Me lembro a cada momento do clarão que vi. Eu estava dirigindo o carro e bati contra um caminhão. Estava chovendo muito, e eu corria feito louca, meu carro ia a toda velocidade.

Você deve se perguntar por que eu estava correndo? Se eu queria morrer ou algo do tipo. Mas não, eu não queria morrer, eu nunca nem quis está aqui nessa cama de hospital sem poder mexer meu corpo.

Eu havia acabado de sair do baile de formatura. Eu vi algo lá que não me deixou “feliz”. Meu namorado, ex, na verdade, beijando minha “melhor amiga”. Assim que eles me viram, tentaram se explicar, mas eu dei uns belos tapas nela e ele tentou vim atrás de mim quando eu fui em direção ao meu carro. E depois de uma leve discussão onde eu disse que queria que ele morresse, eu acabei batendo o carro.

Não sei se eles sentem algum tipo de culpa pelo meu estado. Mas vou ser sincera, gostaria que sentissem! Você pode pensar “mas Halsey foi uma fatalidade” ou “você tem que aprender a perdoar”. Acontece que eu estaria mentindo se dissesse o contrário, eu não faço o tipo “boa moça” e não perdoei nenhum dos dois, porque no final a culpa realmente foi deles.

Mas nisso tudo houver uma coisa boa. Matthew, meu melhor amigo. Nós somos amigos desde criança. Matt, como eu gosto de chamá-lo, sempre me protegeu, cuidou de mim e me amou. Eu demorei um pouco para perceber, na verdade eu demorei muito tempo. Foi necessário eu entrar em coma para perceber.

Me lembro como se estivesse acontecendo agora a primeira visita dele.

— Halsey – escutei gritos ao longe – Halsey – reconheci a voz inconfundível, que sempre me dava segurança – precisa acordar… você… Halsey… – escutei soluços e ao longe outras vozes.

— Matt, querido – era minha mãe. Ela parecia chorar – temos que ir…

— Mas ela precisa acordar – eu queria muito poder abrir os olhos. Olha-lo e dizer que eu estava bem. Eu queria fazer a dor dele passar – Halsey por favor…

— Querido… – escutei a voz doce de minha mãe mais uma vez.

—  Eu já estou indo – ele tentava se acalmar. Me lembro de toda vez que Matt ficava nervoso ele prendia a respiração e soltava-a devagar, mas isso nunca funcionava – Você precisa acordar… – senti o toque de sua mão na minha – eu amo você, Halsey. Você tem que voltar.

Só eu sei quanto as palavras dele me confortavam, mas doíam tanto ao mesmo tempo. Pois eu sabia que não acordaria, que não poderia fazer o que ele me pedia.

Todos os dias depois daquele acidente Matt ficava comigo. Vou contar um pouco de alguns dias.

(…)

— Estou me esforçando pra não enlouquecer – escutei as palavras dele, que vieram como um tapa – as coisas parecem tão sem graça aqui sem você – senti ele seus dedos encostarem de leve em minha bochecha – por que você não volta Halsey… volta pra mim…

Matt, como eu queria voltar, como eu queria abraçar você, olhar seu rosto, rir de suas piadas sem graça. Mas eu não sei como, eu me sinto mal por você.

(…)

— Eu me sinto culpado por você está assim, sabe? – escutei ele dizer em mais uma visita.

A culpa não é sua! Tive vontade de gritar em plenos pulmões, mas nada saía pela minha garganta.

— Se eu não tivesse te deixado ir com aquele idiota na festa. Se eu estivesse lá pra te proteger, tomar conta de você. Nada disso teria acontecido, eu não teria te perdido – senti algo molhado cair em minha mão. Matt estava chorando de novo – eu tinha que te proteger Halsey, eu falhei…

(…)

— Eu consegui a bolsa naquela faculdade que você disse que só os nerds como eu conseguem entrar – escutei o maravilhoso som da sua risada, tive vontade de rir junto a ele – foi um grande esforço, mas pensei em você. E pensei que quando você acordar ia fazer piadinhas sobre isso – e eu realmente ia fazer. Eu e Matt eramos muito diferentes, mas ao mesmo tempo muito iguais, não sei explicar. Era como se nós nos completássemos. Eu era tempestade e ele calmaria. Ele era razão e eu emoção. Eu era preto e ele era branco…

— Eu trouxe algo pra você… como eu te conheço melhor do que ninguém – o que era uma verdade incontestável. Ele me conhecia melhor do que ninguém. Sabia de todas as manias, dos meus gostos e desgostos. Matt sabia tudo sobre mim – eu trouxe esse porta-retrato com uma foto nossa, um poster do Arctic Monkeys, alguns livros… se você visse esse quarto ia acha-ló sem graça, sabia? Não é nem um pouco a sua cara e sem falar que ele é organizado, bem diferente do seu que é uma completa bagunça – ele soltou uma risada – eu queria que você estivesse aqui…

— Matt – era minha mãe. Se tinha alguém que ficava aqui tanto quanto ele, era ela – você trouxe coisas… – escutei sua voz embargada – ela iria gostar de ver… – tive a certeza que minha mãe já estava em prantos, mais uma vez.

— Sra Collins, ela vai voltar pra gente, a senhora vai ver…

Eu poderia jurar que Matt havia abraçado-a.

— Enquanto ela não pode ver, eu vou contando tudo pra ela… não se preocupe…

— E se ela não acordar, nunca mais? – a pergunta da minha mãe veio em mim como facas perfurando cara parte do meu corpo. Eu negava a mim mesmo tal pergunta, mas era verdade. Se eu nunca mais acordasse? Se eu não pudesse voltar?

— Eu sei que ela vai – Matt falou com convicção – se tem uma coisa que essa garota não faz é desistir… não é mesmo?

Como eu quis acordar naquele momento. A pior coisa era estar presa no meu próprio corpo.

As visitas de Matt foram ficando menos constantes. Ele não dormia mais aqui, mas vinha me ver todos os dias.

— Sabe a faculdade está me matando – só pelo seu tom de voz, eu sabia que ele estava cansado – mas está valendo a pena, estou aprendendo muito e se você estivesse aqui… – deu uma pausa. Escutei ele engolindo em seco – se você estivesse… me zoaria muito por estudar tanto e não aproveitar junto com você…

Deixa eu esclarecer algumas coisas aqui.

Eu havia planejado passar um ano viajando e fazendo curso. Já ele tentaria a bolsa na faculdade. Só depois de um ano eu iria ingressar em uma faculdade, e decidi o que faria.

Pelas minhas contas, havia se passado quase um ano.

— Eu não entendo por que isso foi acontecer com você  – Matt agarrou minha mão – eu só queria ter tido mais tempo com você… ter tempo de dizer o quanto eu te amo. Dizer que eu amo sua risada, amo os seus olhos, o seu jeito, amo a forma como seus cabelos ficam bagunçados – me esforcei ao máximo para me mexer, eu tentei com todas as minhas forças – céus Halsey, eu amo você! – eu não suportaria te perder, mas o estado que você está… você precisa reagir.

Eu queria dizer “estou tentando”. Queria mexer um dedo, piscar um olho, igual nesses filmes. Mas nada aconteceu. E eu continuei ali parada.

(…)

— Eu fiz um desenho seu… – mais alguns dias se passaram e ele continuava aqui comigo – quer dizer, eu fiz mais um desenho seu. Não está tão bonito igual aos que eu fazia quando você estava acordada, mas continua bonito. Porque um desenho que tenha você não tem como ficar feio não é?! Você sempre foi linda… ah Halsey, tem algo em você que te faz a pessoa mais linda que eu já vi. Não é só por causa dos seus cabelos, seu rosto angelical ou seus olhos verdes. Falando neles, que saudade eu estou de vê-los… – escutei um suspiro alto – você tem algo que te faz linda. Você é única Halsey Collins e é por isso que eu preciso que você acorde. Porque eu não vou conseguir achar outra pessoa nem um pouquinho parecida com você. Pode ser egoísmo, mas eu preciso de você aqui.

Os dia foram passando e eu continuava presa naquela escuridão. Eu precisava de uma luz. Me perguntei onde havia se metido a maldita “luz no fim do túneo” por que eu não via ela de jeito nenhum.

(…)

Senti o toque dos dedos dele em minha bochecha e depois em meus lábios. Nunca pensei que mesmo em coma eu poderia querer beijar alguém. Mas agora era tão diferente…

— Eu demorei tanto tempo para assumir pra mim mesmo que eu gostava de você… quer dizer eu gosto de você. Mas não como amigo… você sabe da outra forma – ele riu pra si mesmo, como se o que ele acabará de dizer fosse uma piada sem graça – e naquele dia do baile, eu estava determinado a contar pra você. Mas eu perdi a coragem… fico pensando que se eu tivesse falado, você poderia estar bem. Talvez nós não estivéssemos juntos, mas você poderia estar aqui, bem… e mesmo que eu tivesse que ver você com outro, você ainda estaria aqui comigo – seus dedos percorreram meus lábios mais uma vez – ou nós poderíamos sim estar juntos. Planejando nosso futuro, nos divertindo. Eu sei que você não me ama da mesma forma que eu, mas eu acreditava que meu amor iria valer para nós dois…

Como Matt poderia guardar isso tudo pra ele? Por que não me contará antes?

Mas em uma coisa ele tinha razão. Eu não o amava da mesma forma, naquele tempo. Mas agora? Tudo que eu queria era acordar para vê-lo, pra poder dizer que eu o amo tão intensamente quanto ele ama a mim. Tudo o que eu queria agora era te-lo, ama-lo incondicionalmente.

Com o passar dos dias, ou meses. As visitas de Matt foram ficando cada vez menos frequentes. Pelo o que ele tinha me dito nas últimas visitas, seu tempo estava ficando cada vez mais curto. Ele estava fazendo estágio em um hospital. Que não era o que eu estava internada, pelo o que pude entender. E sim a faculdade que ele estava cursando era de medicina.

Em um dia que eu julgaria como “comum”, aconteceu algo que quase me fez desistir.

Escutei muitas vozes ao meu redor. Algo estava acontecendo com o meu corpo. O ar dos meus pumões pareciam está sumindo. Eu buscava com todas as forças o maldito ar que não vinha, o desespero tomava conta de mim. A minha garganta se fechava e senti uma forte dor na minha cabeça.

Dizem que quando nós estamos prestes a morrer, passa um filme rápido sobre a nossa vida inteira.

Eu vi minha infância, adolescência. Vi as pessoas que passaram por minha vida, as que eu amo. Meus amigos, família e a última imagem foi a do Matt.

Me agarrei a imagem dele sorrindo. Era tudo o que eu via. Ele, feliz.

Senti algo sendo precionado contra o meu peito, era como se fosse um leve choque. Senti mais uma vez, e de novo, e de novo, e foi ficando mais forte o choque. Na última vez o ar voltou para os meus pulmões.

— Eu quero ver a minha filha – escutei gritos, e eu já havia reconhecido aquela voz – me deixe vê-la.

— Sra Collins, acalme-se – pediu um homem que tinha a voz grave. Eu o reconheci como o médico. Pois sempre escutava sua voz – ela vai ficar bem… mas primeiro a senhora precisa se acalmar.

— Doutor eu quero ver a minha filha! E eu quero agora! – minha mãe parecia furiosa.

— Tudo bem – o médico se deu por vencido – me dê alguns minutos, ok?

Não escutei respostas. Esperei por longos minutos até ouvir a voz dela novamente.

— Querida, nunca mais faça isso comigo – ouvi soluços. Ela estava chorando, aquilo me matava. Eu queria acordar, eu queria… mas não conseguia – minha filha você precisa voltar… – senti seus lábios depositando um beijo na minha testa.

Escutei um estrondo, como de uma porta se abrindo e logo depois vozes.

— Ela está bem? – era ele. Sua voz era inconfundível.

— Você não pode ficar aqui, rapaz! – uma mulher falou em um tom de alerta.

— Tudo bem enfermeira – era voz da minha mãe – deixe-o.

— Só uma pessoa pode ficar com ela – a enfermeira advertiu.

— Eu saio – respondeu minha mãe – cuide dela…

— Sempre – Matt respondeu.

Escutei passos e depois um barulho de porta se fechando.

— Você me assustou… – sua voz saiu em tom baixo – achei que tinha perdido você de vez… você nem imagina como eu fiquei. Halsey se eu te perder eu me perco. Você não pode mais fazer isso…

Escutei um som, como algum tipo de toque e logo depois a voz dele.

— Alô – celular, obvio – sim… eu estou ocupado… o que?… eu já estou indo – escutei um suspiro alto – eu tenho que ir… Eu te amo, Halsey – logo em seguindo Matt beijou minha bochecha.

Algo escorreu pelos meus olhos e molhou minha bochecha. Eu estava chorando, eu nunca havia ficado tão feliz por chorar. Meu corpo estava reagindo?

— Meu Deus! Doutor, Doutor!!! – era a voz da minha mãe.

— Sim? Aconteceu algo com ela?

— Isso é uma lagrima, não é? Ela chorou, doutor! – o tom de felicidade na voz da minha mãe me fez ter uma esperança enorme.

— Sim – respondeu o médico – depois de tanto tempo estamos tendo resultados…

Algum tempo se passou desde o ocorrido. Matt me visitou com frequência, mas agora ele não vinha mais todos os dias.

Desde a lágrima eu não tive mais nenhuma outra reação. Eu estava tentando muito, mas as esperanças estavam indo embora.

— Querida, o Matt vai vim te visitar hoje – escutei a voz da minha mãe – e ele vai trazer uma surpresa.

Fiquei imaginando que tipo de surpresa seria. Mas ainda assim eu não iria poder ver… enfim.

— Matt – o tom de voz alegre de minha mãe me fez querer sorrir – entrem, vocês…

Vocês? Ele estava com alguém?

— Halsey? – senti o toque da sua mão na minha – sou eu… sei que não estou vindo te ver com frequência, mas ando muito ocupado… – ele fez uma leve pausa – trouxe uma pessoa pra te conhecer… Tracy…

— Oi, Halsey – escutei uma voz feminina, era fina e ao mesmo tempo delicada – o Matt falou muito de você…

Quem era essa tal “Tracy”? E porque ela o chamava dessa forma? Como se fosse intima dele?

— Tracy é… – ele parecia procurar palavras – uma amiga.

A conversa deles continuou e eu estava ali. Escutando tudo sem poder dizer nada. Eu continuava presa a mim mesma. E eu estava sendo substituída. Não me chame de egoísta, eu sei que sou. Entendo que o Matt tem que viver a vida dele… Mas dói, por que eu sei que a tal garota não era apenas uma amiga.

Mais um tempo se passou e as visitas dele, foram diminuindo ainda mais. Ele aparecia uma ou duas vezes, nada mais que isso.

— Já se passou tanto tempo… Halsey… você precisa reagir, de alguma forma – a voz de suplica dele cortava meu coração – tudo o que eu queria era que você estivesse aqui, pra me dizer se estou fazendo a coisa certa. Eu ainda preciso de você, depois desse tempo, eu preciso… – tentei reagir, piscar um olho, mover os dedos, qualquer coisa – eu tenho que ir…

Escutei ele indo embora.

Fiquei durante dias tentando mexer um dedo eu não iria desistir. Me esforcei tentando. Eu fazia o máximo de esforço para o meu corpo obedecer a minha mente.

— Querida, eu estava vendo umas revistas e vi um vestido que você iria adorar – minha mãe falava em mais uma das nossas conversas sem respostas – sabe ele é da cor…

Senti meu dedo deslisar levemente pelo lençol. Minha mãe que falava de repente se calou.

— HALSEY! QUERIDA VOCÊ MEXEU O DEDO? – escutei seus gritos em meio a soluços – MEU AMOR, SE VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO, FAÇA DE NOVO…

E eu o fiz, de novo.

— Eu não posso acreditar, querida, você está reagindo – sua voz se misturava com os soluços do choro – você está voltando pra mim… vou chamar o médico.

Demorou um tempo até eu escutar vozes de novo.

— Halsey, é o médico – a voz grave que eu houvia com frequência – se você me ouve, mexa o dedo, ok?

E mais uma vez eu consegui.

— Isso é ótimo! – falou o médico – mesmo depois de três anos ela ainda está reagindo.

Três anos? Eu sabia que havia se passado um bom tempo. Mas três anos? Matt esteve comigo durante todo esse tempo? Ele acreditou em mim…

— Matt você não vai acreditar – minha mãe parecia falar ao telefone – você também tem novidades?… não, fale você primeiro… por que o que eu vou te contar você vai ter que se segurar pra não cair… o que? Você vai se casar? – meu coração parou nesse momento. Era como se eu tivesse sofrido aquele acidente de novo – felicidades querido… vou te contar sim… a Halsey, ela mexeu um dedo, sei que não parece muita coisa, mas ela está reagindo… pra cá? ok… nós vemos aqui… tchau.

“Você vai se casar?” a frase ecoava por minha mente. Eu não culpava ele, Matt precisava ser feliz, ele merecia e eu não poderia dar isso a ele. Eu estava presa no meu próprio corpo. Ele me esperou por três anos e eu não reagi… Matt sempre me amou e eu não percebi. No final eu merecia perde-ló…

— Querida, você está chorando… – senti os polegares da minha mãe secar minhas lágrimas – espero que seja de alegria por você está voltando para nós… –  o meu rosto ficava cada vez mais molhado. As lagrimas simplesmente saiam. Todo aquele choro reprimido.

— Sra Collins – aquela voz que sempre me reconfortou e me deu segurança, eu pude ouvi-lá mais uma vez – o que a senhora disse? É verdade, ela…

— Sim, querido – minha mãe confirmou – olhe, ela está chorando…

— Halsey.. – Matt apanhou minha mão.

— Vou deixar vocês sozinhos – escutei os passos dela se distanciar.

— Quando sua mãe me contou… Halsey eu quase não acreditei… - a voz dele estava embargada – eu sabia que você voltaria pra mim… pra nós, quero dizer – um suspiro escapou por seus lábios – se você entende o que eu estou falando, me dê um sinal…

Mexi um dedo e ele sentiu porque nossas mãos estavam juntas.

— Céus Halsey! Eu não consigo acreditar. Estou tão feliz… você… você vai voltar não vai?

Movimentei mais uma vez meu dedo, indicando que sim. E ele pareceu entender.

— Você vai voltar… – ele falou mais para ele do que pra mim – eu preciso te contar algo… é, você deve se lembrar quando eu trouxe a Tracy aqui… enfim, eu e ela… nós, é bem. Eu vou me casar Halsey…

As lágrimas que tinham ido embora, recomeçaram a descer pelo meu rosto.

— Você está triste? Halsey… – ao invés de movimentar um dedo, eu apertei a mão de Matt – você… você mexeu a mão… Sra Collins, ela mexeu a mão.

— Minha filha… – minha mãe chorava – Matt, a sua noiva está a sua procura na recepção.

— Pode dizer a ela que já vou? – perguntou a minha mãe. Logo depois escutei passos – Halsey, eu quero que você saiba… eu amo você, isso nunca vai mudar. Você é meu primeiro amor, e eu não sei se sou capaz de amar alguém como eu amo você… mas eu tenho que me casar com a Tracy… eu não posso desistir, não agora, eu não posso deixa-lá no altar… – Matt pousou minha mão, que até então ele segurava, na maca – eu sei que você me escuta, eu sempre soube… mas agora tenho certeza… volta Halsey, você precisa voltar, entendeu? – senti algo sendo tirando do meu rosto. Como uma mascara. Deduzi que fosse algo que usavam pra me ajudar a respirar – antes do que vai acontecer amanhã…eu preciso fazer algo… sei que é loucura, mas… –  senti os lábios dele tocando levemente os meus. Senti uma onda invadir todo o meu corpo. Comecei a senti as famosas borboletas no estomago. Ele separou os lábios do meu e logo depois colocou a “mascara” de volta ao meu rosto – eu te amo, Halsey Collins – escutei seus passos e a porta sendo fechada, ele havia ido embora. Eu havio o perdido.

Durante horas eu senti meu corpo de uma forma estranha. Parecia que as tais borboletas no estomago estavam passeando por todos os lugares. Era como se meu corpo quisesse acordar, era como se eu quisesse mais do que nunca acordar. E eu precisava.

No meio de toda a escuridão que eu vi durante três anos, agora eu conseguia ver um foco de luz.

Halsey – escutei gritos ao longe – Halsey – reconheci a voz inconfundível, que sempre me dava segurança – precisa acordar… você… Halsey… – escutei soluços e ao longe outras vozes.” Escutei de novo a primeira vez que Matt me chamava. Logo depois do acidente.

— Halsey— era voz dele – Halsey— a voz ia ficando mais forte – HALSEY!— o gritou ecoou por toda a minha mente, até chegar a cada extensão do meu corpo. Eu vi a luz se aproximar, ela estava ficando mais forte, então aconteceu… Eu abri os olhos.

Assim que abri os olhos a primeira coisa que vi foi uma forte luz. Eu olhava para o teto branco e para a lampada mais branca ainda.

A primeira coisa que eu fiz, foi fechar os olhos mais uma vez. Eu havia ficado três anos sem ver qualquer foco de luz. E abri os olhos de supetão tinha quase me cegado.

Abri meus olhos mais uma vez, agora devagar.

Meu peito subia e descia, o aparelho que antes me ajudava a respirar, agora estava me incomodando.

Fiz um grande esforço para consegui mover meu braço devagar e retirar aquilo do meu rosto.

— Mãe – minha voz saiu em um sussurro inaudível. Minha garganta estava tão seca que até doía. As lágrimas começavam a descer por meu rosto.

A porta foi aberta e minha mãe me olhou com incredulidade. Ela estava com um copo de café na mão que caiu no chão. Suas mãos cobriram a boca e ela começou a chorar.

— Mãe… – movi os lábios.

— Halsey…você – ela soluçava.

Minha mãe veio até mim correndo e me abraçou, com todo o cuidado possível. Ficamos abraçadas por minutos.

Ela afagava meus cabelos e não dizia nada, apenas chorava.

— Você acordou… – foi a primeira coisa que ela disse assim que desfizemos o longo abraço.

Eu olhei para a garrafa d'água que estava depositada em cima da mesinha perto da minha maca.

— Deve está com sede – minha mãe entendeu na hora – beba, devagar – ela colocou a aguá no copo e levou até meus lábios. A sensação de beber um pouquinho de água nunca fora tão boa em toda a minha vida.

— Mãe… eu voltei – falei baixinho.

— Sim, querida… você está aqui, você voltou. Halsey… meu amor, nunca mais faça isso comigo – balancei a cabeça confirmando – eu preciso chamar o médico, tudo bem?

— Ta bom… – sorri.

— Que saudades eu estava de ver você sorrindo, querida – ela falou antes de sair do quarto.

As lagrimas de emoção molhavam totalmente o meu rosto.

Me esforcei para virar um pouco o pescoço. Olhei o quarto ao redor. Havia muitas fotos minhas, com a minha mãe, com o Matt, sozinha… olhando para aqueles retratos parecia que eu havia vivido tudo aquilo em outra vida… Reparei também em um poster do Arctic Monkeys, me lembro quando Matt trouxe ele pra cá e disse que se eu visse esse quarto iria acha-lo sem graça. E ele tinha razão, mesmo com todas as coisas que haviam aqui, o quarto ainda era totalmente sem graça.

Olhei para uma grande poltrona, havia uma bolsa em cima dela. Também tinha uma mesa ao lado, em cima estavam alguns livros e revistas. Só então fui perceber que minha mãe havia largado tudo pra cuidar de mim…

— Halsey… – era a voz do médico. Olhei para direção da porta e o vi entrando junto com a minha mãe – Demorou, mas você acordou… - ele veio até mim e escutou meu coração, com o estetoscópio – você está bem?

—  Estou – respondi, era estranho ouvir o som da minha voz.

— Eu preciso fazer uma bateria de exames em você – ele falou – vou pedir para a enfermeira preparar tudo e já volto para te buscar… – e saiu porta a fora.

— Mãe – ela se aproximou de mim – cade o Matt?

— Filha… hoje é o dia do casamento dele…

— O QUE? Eu preciso… mãe, eu tenho que ve-lo…

— Halsey se acalma – pediu ela – primeiro você vai fazer os exames, e depois eu ligo pro Matt… não quero atrapalhar a cerimonia…

— NÃO! Eu tenho que vê-lo agora! Mãe foi ele, foi por ele mãe…

— Ele o que?

— Ele me trouxe de volta… Matt me fez voltar, eu não sei como… – ela me olhava confusa – eu tenho que ver ele, tem que ser hoje, mãe…

— Filha você precisa fazer os exames…

— Eu o amo – ela me olhou com um olhar triste – eu não quero acabar com o casamento dele… Matt merece ser feliz. Mas eu preciso contar, ele tem que saber…

— Eu sei que isso é loucura, mas depois que você fizer os exames eu te levo.

— Obrigado, Mãe – sorri para ela.

Passei o dia fazendo uma bateria de exames. Os médicos não conseguiam entender como eu acordei do estado de coma depois de três anos. Mas eu sabia o motivo. Eu acordei pelo Matt, ele me trouxe de volta, ele me deu esperança. Matt me vez viver.

— Mãe podemos ir? – falei quando nós estávamos a caminho do quarto. Ela empurrava minha cadeira de rodas. Eu ainda não estava totalmente “boa”. Segundo o médico eu teria que ter um pouco de paciência, por que meus músculos ainda estavam “adormecidos”. Eu fiquei durante todo esse tempo sem fazer movimentos bruscos. Então da para entender né?!

— Filha…

— Você disse que me levaria.

— Eu sei, mas você ainda não está totalmente recuperada – entramos no quarto e eu permaneci na cadeira – quer que eu chame o médico para te deitar?

— Não – respondi.

Minha atenção rapidamente se voltou para algumas fotografias em que eu estava com o Matt.

— Halsey…

— Como vai a srta Collins? – o médico adentrou no quarto.

— Poderia estar melhor se eu estivesse indo para casa…

— O mal humor habitual dela está voltando, então ela vai bem doutor – minha mãe riu sem graça para o médico.

— Você ainda não vai poder voltar para casa, vai ter que ficar em observação…

— Por que? – voltei minha atenção para o médico.

— Halsey você acabou de acordar de um coma de três anos… e eu nem sei como você conseguiu fazer isso, então você precisa ficar aqui. E também você não está totalmente recuperada…

— Doutor o senhor já amou alguém? Amou tanto que chegava a doer? 

— Halsey… ai doutor desculpa, ela só está meio confusa…

— Não estou! Eu sei o que estou falando. O senhor já amou alguém?

— Sim – o médico respondeu sem graça.

— E se você escutasse durante anos as declarações da pessoa que você ama e não pudesse falar absolutamente nada? E se depois de três anos em coma você acordasse e descobrisse que hoje é o casamento da pessoa que você ama? O que faria?

— Eu iria atrás dela… – ele respondeu.

— Então. Eu só peço a sua ajuda, prometo que voltarei e ficarei o tempo que for preciso. Mas me ajude…

— Eu e sua mãe vamos juntos. Não podemos demorar…

— Muito obrigado, não sei como agradecer…

— Eu vou ligar para a mãe do Matt, pra saber se ele ainda está em casa ou se já foi para a igreja… – minha mãe comunicou.

— Você precisa voltar pra cá, entendido Halsey?

— Sim, eu voltarei…

— Pronto – minha mãe havia voltado – ele ainda está em casa… vamos o casamento é daqui a uma hora.

O médico foi empurrando minha cadeira. Nós descemos pelo elevador e tentamos o máximo o possível passar despercebidos.

O doutor me pegou no colo para me colocar no carro. Ele entrou e se sentou ao lado da minha mãe, que dirigia.

Especialmente hoje havia um transito infernal. Tentei me distrai olhando a cidade, quanto tempo que eu não a via…

Abaixei o vidro da janela e senti o vento batendo contra o meu rosto. Que saudades eu senti das pequenas coisas da vida.

— Chegamos – minha mãe estacionou o carro, olhei pela janela e vi a casa da família do Matt. Obvio que quando ele se cassasse não moraria mais aqui…

O médico retirou a cadeira de rodas do porta-malas e a colocou na calçada. Logo depois abriu a porta do carro pra mim. Me pegou no colo e me colocou na cadeira.

Minha mãe empurrou a minha cadeira até a porta, tocou a campainha, a porta foi aberta pela mãe do Matt.

— Meu Deus! – ela levou as mão até a boca. Sua cara de supresa não escondia a expressão de felicidade ao me ver – você acordou… Halsey querida.

— Olá Sra Clarkson – ela veio logo me abraçando, com cuidado – eu preciso ver o Matt… – ela desfez o abraço e me olhou, com certa tristeza…

— Mãe pode me ajudar com a gravata… – Matt vinha descendo as escadas e congelou quando me viu.

Notei que ele estava com uma expressão de mais velho… mais sério… Matt havia se transformado em um homem muito lindo.

Ele já estava pronto para o casamento, só faltava o nó na gravata.

— Halsey… – nós nos olhamos tão intensamente, que eu poderia jurar que o resto desapareceu. Era como se estivesse somente eu e ele. Era apenas Matt e Halsey naquele momento…

— Eu voltei… – foram as minhas primeiras palavras para ele. As lágrimas desciam por todo o meu rosto.

Matt correu até mim, parou na minha frente e se abaixou para ficar frente a frente com o meu rosto.

— Você… você…. – ele soluçava, algumas lágrimas desciam por seu rosto.

— Sim – sorri pra ele – eu voltei – levei minha mão até sua bochecha e limpei com meus polegares algumas lágrimas que caiam.

Ele pousou sua mão em cima da minha, que ainda estava em seu rosto.

— Eu não acredito… Halsey você voltou… – o seu lindo sorriso apareceu e me fez sorrir junto a ele.

— Senti falta do seu sorriso, Matt… – ele não aguentou e me abraçou. Ficamos assim por minutos, chorando abraçados. Desfizemos o abraço, mas parecia que queríamos ficar assim pra sempre

— Acho que vocês precisam conversar – escutei a mãe dele falar – aceita um chá? – ela perguntou para a minha mãe. O médico havia ficado no carro.

— Sim… – minha mãe empurrou minha cadeira até a sala. Matt se sentou no sofá e minha mãe deixou minha cadeira de frente para ele.

— Nós estaremos na cozinha – a mãe dele disse.

Nós ficamos ali, nos olhando. Até eu começar a rir.

— Do que está rindo, posso saber? - ele perguntou me encarando e rindo também.

— Eu não sei – algumas lagrimas voltaram a descer pelo meu rosto enquanto eu sorria para ele – como eu senti a sua falta, Matt…

— Eu também senti a sua – ele tocou delicadamente em meu rosto – céus Halsey, eu pensei que enlouqueceria… foi tão difícil sem você aqui – ele olhava dentro dos meus olhos enquanto fazia carinho na minha bochecha – você tem que prometer que nunca mais vai fazer isso, por que eu não vou aguentar uma segunda vez…

— Eu prometo – respondi rápido – eu nunca mais vou deixar você.

Um de seus dedos foi até os meus lábios. Fechei os olhos ao senti o seu toque…

— Halsey… - abri os olhos e vi seu rosto próximo ao meu.

— Eu amo você, Matt – olhei diretamente nos olhos dele – eu amo você por que… Matt você não me abandonou, eu me lembro de todos os dias que você esteve lá…

— Você se lembra? – fiz que sim com a cabeça – você me escutou?

— Cada palavra – as lágrimas voltaram ao me lembrar dos momentos – seu queria te responder, te dar um sinal, qualquer coisa. Mas eu não conseguia. Matt, eu escutei você… cada coisa que me disse…

— Então você sabe que eu… – eu o interrompi.

— Que você me amou… eu sei, Matt – olhei para baixo. Não queria olhar nos olhos dele e vê que todo o amor havia ido embora – você me trouxe de volta. Depois do beijo, eu, eu voltei… eu voltei por você, voltei por que o amor que eu sinto por você foi mais forte do que a prisão que eu estava. Matt você foi o meu foco de luz. Quando eu perdi todas as esperanças… você me trouxe de volta.

— Halsey, eu…

— Matt, meu amor é, e sempre vai pertencer a você – levantei meu olhar para poder ver ele mais uma vez – você me puxou de volta, você é minha ancora…

Ele me abraçou mais uma vez. Eu afaguei seus cabelos e enrolei alguns fios em meus dedos.

— Mesmo que eu ame você. Eu não tenho o direito de te pedir pra ficar comigo – falei ainda quando estávamos abraçados – você ficou ao meu lado por três anos… tem o direito de ser feliz – desfiz o abraço. Peguei em sua gravata e comecei a fazer o nó – eu preciso que você me prometa que vai ser feliz…

— Eu.. eu… Halsey – ele chorava.

— Me prometa, eu quero que me prometa.

— Eu prometo…

— Filha temos que voltar para o hospital… – minha mãe adentrou a sala.

— E a gente precisa ir para o seu casamento, filho… – a mãe dele falou.

— Mãe… pode empurrar a minha cadeira?

— Sim… – minha mãe veio até mim.

Antes de ir peguei em uma das mãos de Matt.

— Amo você – movi os lábios.

Minha mãe empurrou minha cadeira e nossas mãos se soltaram.

Não demorou até eu já está no hospital outra vez.

Acabei adormecendo em meio a algumas lagrimas.

Escutei vozes parecidas com as que eu houvi na primeira vez que Matt me visitou. Logo depois escutei um estrondo de uma porta sendo aberta.

Acordei com o susto e me sentei automaticamente na cama.

— Matt – ele estava na minha frente. Não usava mais a gravata e nem o paletó. Mas ainda estava com a roupa do casamento.

— Rapaz, você não pode ficar aqui – reconheci a voz da enfermeira.

— Não, não. Deixe ele. Deixe-o. – pedi

— Tudo bem enfermeira, deixe ele ficar – minha mãe apareceu na porta.

— O que faz aqui? – perguntei. Ele veio até mim pegou em meu rosto e selou nossos lábios.

— Eu não poderia me casar… por que a minha felicidade, está aqui – ele disse após nos separarmos – eu amo você Halsey. E quando eu prometi ser feliz eu só conseguia pensar em ser feliz ao seu lado.

Eu aproximei mais meu rosto do seu. Matt roçou seus lábios nos meus e logo depois iniciou um beijo. Era tão intenso, havia tanta necessidade naquele beijo, era como se nós precisássemos dele para viver… eu entrelacei minhas mãos em seus cabelos, enquanto ele pousava levemente sua mão na minha cintura. O beijo se intensificou mais quando ele pediu passagem com a língua. Entre mordidas e chupadas nós ficamos assim, apenas nos beijando e matando uma vontade enorme de sentir o beijo um do outro.

Nos separamos por falta de ar.

— Eu amo você, Matt.

— Eu amo você, Halsey.

Não posso dizer se eu e ele ficaríamos juntos para sempre, mas naquele momento eu tive a certeza de que o nosso amor serie eterno. Ele me salvou, me trouxe de volta. Matt era minha âncora. Ele me deu segurança, me protegeu, me amou.

Eu o amaria para sempre. Por que Matthew era, é, e sempre será o amor da minha vida. Na verdade ele era mais do que isso. Ele era metade de mim.

Por que sem Matt não existe Halsey e sem Halsey não existe Matt. Nós eramos metades um do outro, e se um de nós morresse o outro viveria pela metade.

Matt, você é minha âncora que me trás de volta a superfície da vida. O seu amor me salvou.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado... comentem o que acharam! haha
Vou deixar o link da minha outra fanfic aqui:https://fanfiction.com.br/historia/662204/IloveCharlie/
https://fanfiction.com.br/historia/731749/Unsolved/
Obs: Só lembrando que essa fanfic é pura ficção. Ninguém acorda de um coma feito a Bela Adormecida.

Beijos ♥.



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