Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 12
Adeus




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Lennya

Ouço a porta da frente abrir com um estrondo, e sei que Katerina vai direto confrontar Evanora. Aquela menina pode ser um doce, mas é impossível de parar quando coloca algo na cabeça. Sabendo disso, me adianto e uso um feitiço para paralisá-la.

— Lennya, me solte! — Ela rosna, contorcendo-se para tentar se livrar do meu feitiço. — Me solte! Ela vai me pagar! 

— Não. — Mantenho a calma, sabendo que discutir só vai exacerbá-la ainda mais. — Primeiro você precisa me escutar. 

— Não quero escutar. — Katerina rosna em resposta. — O que quero é arrancar a cabeça daquela ...

— Arrancar a cabeça de quem, irmãzinha? — Evanora pergunta do alto da escada.

— Eva, volte já lá para cima! — Ordeno, sentindo a luta de Katerina se intensificar. — Isso é entre sua irmã e eu!

— O que está acontecendo aqui? — Evanora, teimosa como sempre, desce as escadas em nossa direção. — Por que está fazendo isso? Solte-a, Lennya, você vai machucá-la!

— Não. — Respondo. — Você é quem vai se machucar se eu soltá-la. Agora me escute, Evanora, e saia daqui.

Mas a minha menina selvagem e teimosa simplesmente balança a cabeça, parecendo chocada com a mera possibilidade de eu ter falado a sério. 

— Isso é loucura. — Evanora protesta. — Katerina jamais me machucaria.

— É o que você pensa. — Katerina, que até então se limitara a ouvir em silêncio, de repente explode. — Sua cínica! Pode ter certeza de que vou matá-la!

Cruzo os braços, lançando a ela um olhar de censura. Isso a faz calar-se.

— Lennya. — Evanora insiste. — O que diabos está acontecendo aqui?

— O que está acontecendo ... — É Katerina quem responde, sua voz pingando veneno. — É que você é uma vadia cínica assassina. Não sei como pensei que tinha mudado, e me arrependo amargamente de ter confiado em você!

— Agora já chega! — Evanora grita em resposta, agora furiosa. — Lennya, por favor, solte-a para que eu possa ensinar uma lição a essa ... Fedelha.

— Não, Evanora. Nada de brigas. — Ordeno com toda a firmeza que consigo. — Apenas me deixe falar a sós com a sua irmã.

— Está bem. — Ela cede enfim, de má vontade. — Vou dar uma caminhada.

Evanora

Viro as costas rapidamente para que nenhuma das duas, especialmente Kat, possa ver meu rosto e saber o quanto estou magoada. As ofensas de minha irmã doeram mais do que qualquer outra coisa que eu pudesse imaginar.

Katerina

Raiva. Isso é tudo o que vejo e sinto. A raiva invade meus pensamentos e me deixa completamente cega, fazendo-me avançar sem parar para pensar.

Lennya é pega desprevenida por meu gesto e não consegue manter seu feitiço ao meu redor, mas ainda assim é rápida o bastante para tentar impedir meu ataque defendendo Evanora com o próprio corpo.

Caio por cima de minha mãe, derrubando-a, e sua cabeça faz um barulho horrível ao atingir o chão. Sei o que aquilo significa, mas não consigo reagir.

Evanora

Ouço um estrondo, uma pancada doentia e um grito agudo. Quando me viro novamente, Lennya está inconsciente no chão e um corte em sua testa sangra terrivelmente.

— Kat! — Encaro minha irmã, meu horror suplantando minha sede de sangue. — Kat, o que você fez?!

— O que era necessário. — Ela responde num tom monocórdio. — Agora somos apenas nós, irmã.

Kat avança para mim. Rápida como um raio, sua mão acerta minha bochecha esquerda com tanta força que faz minha cabeça virar. Ela se aproveita desse momento de surpresa para agarrar meu pescoço com ambas as mãos.

— Kat. — Consigo dizer. — Katerina, pare com isso!

Ela rosna para mim e posso ver suas presas se alongarem, prontas para o ataque.

— Você vai ter o que merece agora. — Sua voz é rouca e gutural. — Não devia ter matado aquelas pessoas, Evanora.

— Matado quem?! Do que você está falando?!

— Não finja que não sabe! — Katerina me sacode enquanto fala, suas unhas fincando-se dolorosamente em minha pele. — Você nunca muda, não é? Só finge, brinca com as pessoas e depois vai embora.

— Cale essa boca, Katerina!

Consigo acertar-lhe um chute que a faz voar e bater contra a parede oposta. Aproveito essa oportunidade para fugir.

Katerina

Ainda tonta pelo chute, recobro meus sentidos. Minha cabeça dói como se atingida por uma marreta, a casa está escura, reina o mais completo silêncio e o ar está com um cheiro denso de sangue.

A primeira coisa que vejo assim que minha visão clareia é Lennya caída perto da escada. Corro até ela, apoiando sua cabeça em meu colo.

— Lennya, não. Acorde, por favor. — Imploro como uma garotinha assustada. — Lennya! Não, não, não!

Desmancho em lágrimas, sentindo como se parte de mim tivesse morrido com ela. Assassina. A palavra ecoa em minha mente. Sou uma assassina. Minha mãe está morta, e a culpa é toda minha.

Selene

Acordo de repente com o barulho de algo batendo em minha janela. Corro até lá e, sob a luz do luar, vejo Evanora empoleirada num galho da árvore próxima. Ela me vê e faz sinal para que eu abra a janela, ao qual obedeço sem pestanejar.

— O que está fazendo aqui?! — Pergunto, surpresa. — Eva, você estava chorando?

Ela nega com um gesto de cabeça, mas não acredito nem por um segundo. Pode ser a maior besteira que já fiz, mas mesmo assim dou um passo para trás, num convite silencioso.

Evanora

— Deve estar frio aí fora. — Selene diz ao notar minha hesitação. — Venha, entre. Vamos conversar aqui dentro.

— Uau. — Exclamo. — Convidando uma vampira do mal para entrar? Ou você é muito corajosa, ou completamente maluca.

— Pare com isso, Evanora. — Minha amiga bufa impacientemente. — Você não é má, e nós duas sabemos disso.

Isso era exatamente o que eu precisava ouvir, e num segundo estou dentro do quarto. Selene acende uma lâmpada noturna suave em forma de estrela sobre uma cômoda, e sei que agora ela pode ver o estado em que estou.

— Katerina. — Explico antes que ela possa perguntar. — Ela chegou em casa furiosa, me acusando de ter matado alguém. Lennya tentou fazê-la ouvir, mas Kat ... Ah, meu Deus, Selene, ela a matou! Minha mãe está morta!

— Ah, Eva! — Selene me puxa para si e me abraça com força. — Eu sinto muito, muito mesmo.

— Obrigada. — Não consigo evitar que as lágrimas caiam novamente. — Mas ... Eu não entendo. Por que a Kat ...?

A morena se afasta, seu rosto sombrio e seus olhos verdes me fitando com tristeza.

— Você não viu o noticiário do meio dia?

— Não, hoje não. O que aconteceu?

Ela pega seu celular e, depois de cerca de um minuto, vira-o novamente para mim. Leio rapidamente a notícia na tela e sinto minha boca se escancarar, tamanha é minha surpresa.

— Ah, meu Deus! — Exclamo, meio engasgada de asco e pavor perante a violência cometida. — Selene, juro que eu não ...

— Calma, Eva. — Mais uma vez estou em seus braços, aninhada da mesma forma que Lennya costumava fazer quando eu era criança. — Eu sei que não foi você.

— Sabe?! — Repito, surpresa.

— É claro. — Ela sorri, acariciando meu cabelo num gesto maternal. — Conheço você, Eva, e você é boa. Jamais teria coragem de matar dois inocentes.

Seu celular toca antes que eu possa responder. Ela atende e coloca imediatamente no viva-voz.

— Selene, diga a verdade. — Minha irmã fala à queima-roupa. — Eu sei que ela foi te procurar.

Katerina agora está mais calma, e a frieza robótica em sua voz é ainda pior do que a raiva de antes.

— Não sei do que você está falando, Kat. — Por um momento, me impressiono. Essa garota é uma mentirosa tão boa que quase acredito nela. — E então, falou com a sua irmã?

— Falei, sim, mas a covarde fugiu. Lamento muito não ter conseguido acabar com ela. Juro, se Lennya não tivesse me impedido ...

— Ela fez o certo. — Selene afirma com firmeza. — Se machucar Evanora, vai lamentar depois. Ela é inocente, tenho certeza.

— Argh, Selene! — O grito de raiva é tão súbito que nós duas pulamos de susto. — Pensei que você, de todas as pessoas, ficaria do meu lado. Pensei que entenderia!

— Se ficar do seu lado significa ser conivente com o que é errado, ainda bem que não estou. — Selene rosna em resposta antes de desligar na cara de minha irmã.

Ficamos em silêncio por um momento, durante o qual fico sentada com a cabeça no ombro de minha amiga.

— Obrigada por ficar do meu lado, Selene.

Ela acaricia minhas costas em resposta. Sua gentileza me dá mais vontade de chorar do que toda a hostilidade de minha irmã. Selene então se levanta, vai até a cômoda, pega algo em seu porta-joias e volta a sentar-se do meu lado.

— Preciso ir, Selene. — Declaro. — Já demorei demais aqui. Minha irmã virá logo, ela não é boba.

— Tudo bem, mas quero que leve isso com você. Um presente de despedida.

Selene me estende um colar. Posso ver que o pingente é uma pérola, brilhando suavemente na luz fraca. Com um sorriso, minha amiga se ajoelha atrás de mim e me ajuda a colocar a joia.

— Obrigada.

Antes que eu possa me virar para ir embora, ela me abraça. Por um segundo fico surpresa demais para reagir, mas depois retribuo seu abraço. Não sei quanto tempo ficamos ali.

— Se cuida, Selene.

Ela me olha por um segundo, sua expressão pura tristeza.

— Você não vai voltar, não é? — Minha amiga pergunta enfim.

— Não está nos planos.

— Então, não se esqueça de mim.

— Como se isso fosse possível.

Selene

Com um aperto no coração, vejo-a sair pela janela e desaparecer na noite. Olho para a lua cheia, tão parecida com a pérola do colar que dei a Evanora. De algum modo, sei que ela disse a verdade, sobre nunca mais voltar. Nunca é fácil dizer adeus.

Katerina

Inclino-me na janela para sentir a brisa. Saio dali depois de alguns minutos e ando silenciosamente pelo corredor até o quarto de Evanora, batendo de leve na porta.

— Evanora, você está aí? Quero conversar com você. Posso entrar?

Nenhuma resposta. Experimento a maçaneta e encontro-a aberta. Espio para dentro do quarto. Evanora não está. Pelo cheiro, sei que foi embora há algum tempo. Fecho a porta e deito-me em sua cama. As lágrimas logo vem, acompanhadas pela culpa.

— Me desculpe. — Consigo dizer, entre soluços.

É claro que ela não pode me ouvir. Provavelmente, nunca voltará.

Evanora

Corro sem parar até os limites da cidade e então paro um momento. Sem pensar, olho para trás. Winterfall, pequena e sonolenta, parece retribuir meu olhar.

Por um momento, a vontade de voltar é maior do que tudo, mas suplanto-a com o orgulho ferido e a mágoa. Automaticamente, minha mão se move para segurar a pérola do colar que Selene me deu. À luz da lua cheia, posso ver a frase gravada atrás do pequeno friso que liga a pérola à corrente. Essa pequena frase me traz lágrimas aos olhos novamente:

Lar é onde o coração está

Tudo bem, decido. Se quero mesmo ir embora, preciso voltar e pegar algumas coisas.

Minutos depois

Entro silenciosamente em meu quarto pela janela aberta. A primeira coisa que vejo é Katerina, adormecida em minha cama. Pela trilha de lágrimas em seu rosto, não é difícil deduzir que chorou até dormir.

Olho a hora no relógio digital da cômoda. Duas da manhã. Fiquei fora mais tempo do que imaginei.

Pego minha bolsa grande de viagem e começo a reunir tudo o que quero levar. Ouço Katerina revirando-se na cama e imagino que está tendo um daqueles pesadelos.

— Você voltou. — A voz suave e sonolenta me assusta. — Achei que não iria mais voltar.

Viro-me para ela, que agora está de pé atrás de mim. Surpresa, pergunto-me como ela conseguiu ser tão silenciosa.

— E eu achei que você estivesse dormindo.

— Estava. Acordei quando ouvi você. — Ela volta a sentar-se em minha cama, sem tirar os olhos de mim. — Vai voltar dessa vez?

— Talvez. — Respondo. — Só preciso de algum tempo.

Minha irmã se põe de pé e começa a me ajudar a arrumar a bolsa. Em vinte minutos, tenho tudo pronto e já coloquei uma roupa mais confortável.

Katerina

  — Sabe que pode voltar quando quiser, não é?

Estou praticamente implorando, mas não me importo mais com o orgulho. Lennya está morta e a culpa é minha. Nada mais importa depois disso.

— Talvez eu venha ver seu casamento.

Isso me surpreende o bastante para dissipar a tristeza por um momento.

— Como se isso fosse humanamente possível. Somente um Hércules para casar com Selene e sair vivo.

— Que tipo de vampira é você, com medo de casar com uma mortal? — Eu rio, mas apenas brevemente. — Vou sentir saudades, irmãzinha.

Ela coloca a mão no meu ombro, como despedida. Eu seguro sua mão e puxo-a para um abraço. Ela retribui com quase tanta força quanto eu. Por um momento, um orgulho infantil me invade. Sou mais forte do que minha irmã mais velha. Ela me solta e senta-se despreocupadamente no peitoril da janela, com uma perna balançando no ar.

— Nos vemos por aí, Eva.

Ela sorri, um sorriso forçado e com tristeza demais para me tranquilizar. Ela não quer ir tanto quanto eu não quero que ela vá.

— Se cuida, Kat.

Essa frase permanece no ar mesmo depois que ela se vai, como as últimas notas de um piano. Coloco a mão sobre meu coração há muito parado. A saudade já começou a doer, como se uma mão invisível me dilacerasse de dentro para fora.


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