PDV - Freddie

Dia seguinte, novamente na aula de Matemática Avançada, reparei que a sala estava mais calma, mais transparente, e, como sempre, a Sam chegou atrasada e procurou uma banca vazia para se sentar - Ela acabou se sentando numa cadeira atrás de mim.

— Que bom que você chegou, Sam - disse o Sr. Howard, olhando diretamente para mim. Eu tinha certeza de que o professor iria dizer o que eu estava pensando. - Eu quero me desculpar pelo mal-entendido...

— Que mal-entendido!? - Ela perguntou, brava como sempre. 

— A respeito da sua nota, garota - Ele respondeu no mesmo tom. - O Freddie me contou que você participou do trabalho e que... Certamente se esqueceu de por o seu nome no trabalho. 

Virei a minha cabeça para a Sam, esperando uma reação simpática ou que ela pudesse dizer algo, mas ela não fez absolutamente nada. Apenas me encarou com um olhar desafiador.

Ótimo, ajudei a Sam em algo importante e mesmo assim, ela não me procurou para me agradecer quando a aula do Sr. Howard acabou. Então decidi deixar essa história para lá, pois "agradecer" e "se desculpar" não era muito o forte dos Pucketts.

Na mesma manhã, encontrei a Carly em um dos corredores e ela quase me abraçou de tão alegre que estava.

— A Sam acabou de me contar o que houve! - Ela gritou contente. - Freddie, você salvou a vida da minha amiga! 

"Então ela não perdeu tempo e contou tudo para a melhor amiga!?" 

— Ah, não foi nada... - falei timidamente. 

— Não seja humilde, Freddie - ela não conseguia conter a alegria. - Foi muito bonito o que você fez pela Sam.

Somente depois que a Carly se afastou, que eu pude pensar na minha "nobre" atitude.

(***)

A semana dos trabalhos extras passou e novamente me encontrei na sala de Matemática Avançada. Fui um dos primeiros alunos a chegar na sala, o que foi uma grande vantagem, pois tive tempo para arrumar meus materiais e terminar os exercícios da semana passada.

— Questão número doze... - Li em voz alta. O meu corpo estava todo curvado, mas não liguei. Estava mais preocupado em terminar aquelas questões do que encostar as minhas costas na cadeira. - Determinar a distância entre...

— Oi... - Uma voz agitada, porém, cansada, tira a minha atenção. 'Aquele "oi" foi para mim!?', questionei-me.

Tirei os olhos do caderno e reparei numa loira, que se sentou ao meu lado - numa banca a minha esquerda. 

— Oi - Cumprimentei-a de volta. 

"Sam!? Me cumprimentando!?" - perguntei-me, abismado. - "O que deu nessa maluca?"

Enfim, ignorei este último acontecimento estranho e voltei a resolver as minhas questões. No entanto, volto a ser interrompido pela mesma loira:

— Quer um chocolate? - Ela chegou a me assustar com essa pergunta pra lá de inusitada. Em sua banca havia um pote com várias barras de chocolate. 

"Sam!? Me oferendo comida!?" - questionei-me, ainda abismado. - "Esses chocolates só podem estar envenenados!"

— Quer ou não, hein? - Sam voltou a me questionar. 

— Tá bom... Eu quero só um... - Ousei pegar um tablete de chocolate.

Peguei o tabele mas não o comi, pois ainda estava com medo do que poderia conter naquele chocolate. 

Sam e eu trocamos olhares por tempo, até o momento em que ela desviou o olhar para o meu chocolate. 

— O que foi? - Ela caiu na gargalhada.

— Sei lá... - Analisei a minha barra de chocolate. 

— Olha, Freddie - Ela deu uma pausa na gargalhada. - Eu não coloquei nada além dos ingredientes necessário... Prova um!

Estreitei os olhos para ela, enquanto colocava um pedaço da barra na boca e mastigava.

— Hmm - Engoli um pedaço e estava ótimo. 

— Viu só!? - Sam não cansava de se mostrar vitoriosa. - Foi o Brad que me ensinou a fazer.

— Percebi... - O meu tom foi meio irônico. 

— Ah, você está duvidando da minha capacidade? - Ela cruzou os braços para mim.

Revirei os olhos e voltei a responder as questões.

— Eu não disse nada e também não duvido que você consiga fazer algo de útil - murmurei para ela, enquanto dava uma última mordida no tablete e respondia o que se pedia.

Ousei pegar mais um tablete na banca da Sam e - por incrível que isso pareça - ela não me impediu.

— Está muito bom, né? - Ela fez uma expressão engraçada quando eu peguei o meu quinto chocolate. 

— Aham... - Olhei para ela, que estava distraída demais com os últimos chocolates, e comecei a fazer uma pequena reflexão: será que esse "momento amigável" com a Sam era algo legal ou ela está apenas se aproveitando de mim para passar de ano? 

— BOM DIA! - O berro do Sr. Howard me faz acordar do transe. Rapidamente volto as minhas atenções para o professor-de-meia-idade. - Primeiramente - Ele olha para Sam e eu. - Não é permitido comer em sala de aula.

Sam bufou, guardando o pote na mochila. Mas, mesmo assim, ela retirou alguns tabletes quando o professor não estava olhando.

(***)

Sam continuou me tratando bem - na medida do possível - nos dias seguintes. A sua banca ao meu lado passou a ser "fixa" nas aulas de Matemática Avançada. Porém, eu ainda estava com um 'pé atrás' sobre essa aproximação dela, então, sem hesitar, lhe questionei: 

— Sam - chamei a atenção dela, que estava prestes a cair no sono. - Por que você começou a falar comigo? 

Ela fez uma expressão de dúvida para mim.

— Quero dizer... - tentei reformular a pergunta: - Por que você só começou a falar comigo depois daquele trabalho extra? Depois de uma semana!?

Talvez nem ela soubesse de verdade. 

— Ah... Sei lá... - Ela olhou para os lados. - Carly vive falando de você e... Talvez seja pelo fato de você ter me ajudado naquela porcaria de trabalho... Ah, e também porque você é o único idiota dessa sala que eu tenho conhecimento.  

Ignorei a parte do "único idiota" e foquei apenas na parte em que ela disse: "Carly vive falando de você".

— Espera... Carly fala de mim constantemente?! - quase surtei nesse momento. 

Sam ficou em silêncio. 

— O quê é que tem? - Ela me perguntou, sem importância. 

— Ah... - também tentei demonstrar que 'não era nada de importante'. - Nada...

Sam bufou.

— Fala! - Sam quase me bateu para que eu a contasse. - Parece-me que há algo a mais...

— Ok... - criei coragem para dizer aquilo. - Eu sou... Eu sou afim da Carly.

Sam deu risadas e zombou dos meus sentimentos, chegando a dizer, bem alto, para a turma toda: "VOCÊ GOSTA DA CARLY!?"

— Sabia que não poderia confiar em você! - Levantei-me da cadeira e me preparei para sair, mas a Sam me obrigou a sentar novamente. 

— Fica tranquilo, nerd - Ela continuou sorrindo. - Eu vou te ajudar nessa.

Arregalei os olhos para a Puckett.

— Como assim me ajudar? - Senti meu coração acelerar. - Por que você faria isso?

— Dois motivos - Ela me respondeu, entediada. - O primeiro, é que a minha amiga anda muito solitária. E, segundo, você me safou de um trabalho chatão, então não vejo problema em dar uma forcinha...