PDV - Freddie

Brad largou a mochila de viagem das costas e a pousou calmante no chão. Como quem não queria nada, inspirou e expirou o ar puro, enquanto se sentava ao nosso lado. 

O estranho é que ele não parecia se incomodar com o nosso olhar de reprovação e silêncio - constrangedor. 

— Como nos achou aqui? - eu o questionei extremamente irritado. 

— Muito fácil - Ele revirou os olhos. - Eu lhe conheço, Freddie. Sei muito bem que você sempre teve vontade de vir para essa trilha quando éramos pequenos. E até lembro quando a sua mãe o proibiu de falar desse local...

Ele riu, na esperança de eu rir também, mas não fiz, assim como a Sam.

— Como disse, não foi difícil achar vocês - explicou Brad. - Assim que eu soube do sumiço dos dois, comecei a movimentar os meus pauzinhos. Rastreie o celular da Sam, procurei algumas pistas, frequentei alguns locais... E aqui estou eu.

Ou seja, ele tinha todos os recursos para nos encontrar. 

— Ótimo. Você nos encontrou - ironizou a Sam sem a menor vontade. - Agora pode ir.

— Esse local é público - argumentou ele. - Não pode me impedir de ficar... E eu estou aqui por um motivo.

— Não queremos saber - disse Sam já se levantando e pegando a sua mochila vermelha no chão. - Anda, Freddie. Vamos pra outro canto.

— Esperem... - Brad também se levantou quando eu ia fazer o mesmo. - Ouçam o que eu tenho a oferecer. 

Sam bufou e me puxou para outro canto.

(***)

Para onde quer que fôssemos o Brad ia junto. Parecia um encosto ou algo do tipo. Infelizmente tivemos que suportar a presença do meu ex-amigo.

Sam e eu ficamos sentados num toco, observando o Brad montar uma barraca. Ele ainda teve a capacidade de comer uma coxa de frango frito na nossa frente. 

— Eu posso prendê-lo numa árvore enquanto você rouba aquela coxa da boca dele - sussurrou a Sam para mim.

— Melhor não... Não podemos aceitar nada do Brad - sussurrei de volta.

A loira virou-se para mim.

— Estou curiosa - ela disse e eu assenti. - O que será que ele quer conosco? 

— Comigo eu não sei, mas com você... - eu me expressei chateado.

Sam estava prestes a sussurrar algo, porém, preferiu ficar calada quando percebeu a aproximação do Brad, que terminara de armar a barraca perfeitamente. 

— Então? - Brad falou para nós. - Vão dormir aqui fora ou dentro da minha barraca? Lembrem-se que o tempo está nublado.

— Ah, cai fora, Brad! - Já estava cansado de trocar palavras com ele.

Ele ergueu as duas mãos, rendendo-se.

— Tudo bem - Ele disse com as mãos para o alto. - Quando quiserem... Fiquem a vontade. A barraca tem espaço para cinco pessoas. - Ele deu as costas para nós e entrou. 

Sam e eu trocamos olhares.

— Boa noite - eu expressei para a loira, minutos depois. E assim que me deitei no chão senti umas gotículas de água. "Era só o que me faltava", pensei. 

Virei o meu corpo para a Puckett, também deitada ao chão. Ela me falou:

— Vamos ter que ir para a barraca do Brad.

Eu fiz que não com a cabeça, mas acabei mudando de ideia quando a chuva engrossou. 

— Eu avisei! - vociferou Brad quando entramos em sua espaçosa, equipada e iluminada barraca de acampamento. 

Sam, irritada, rapidamente tirou uma toalha limpa para se secar, enquanto eu encarava o meu "ex grande amigo", que lia um livro sobre Guerra nas Estrelas.

— Iremos ficar aqui até a chuva passar - avisei-lhe mais que depressa. 

Ele deixou o livro de lado e nos olhou com bastante atenção. 

— Acho que esse tempo será o suficiente para contar a minha proposta...

— Olha, já falamos que não queremos ouvir! - expressou uma Puckett impaciente. - Agora, se não for muito incomodo, poderia calar a boca e nos deixar em paz.

Brad ergueu as sobrancelhas para ela.

— Ok! - Ele voltou a pegar o seu livro geek, porém, nada o impediu de não nos deixar em "paz". - Mas... Eu pensei que você tinha se esquecido de mim.

A loira suspirou abertamente.

— Infelizmente não posso lhe esquecer - desabafou. - Afinal, tivemos um passado juntos.

A conversa entre Sam e Brad me incomodava num nível extremamente alto. Preferiria ouvir o 'silêncio' constrangedor ou o eco da chuva do que AQUILO.

— Eu realmente não te entendo, Sam - começou o Brad. - Primeiro você aceita o meu pedido de noivado, depois foge com um dos meus amigos...

— Ex-AMIGO! - O corrigi.

— Tanto faz... - Ele prosseguiu: - Mesmo estando com ele, percebo que continua usando o anel de noivado que lhe dei naquele jantar especial. 

Ela rapidamente olha para as duas mãos e nota que, de fato, o anel estava lá em um de seus dedos. 

E eu, aborrecido com a conversa dos dois, decido me retirar da barraca. Pouco me importei se estivesse chovendo ou não, pois tudo que eu mais queria era aliviar a minha raiva bem longe daquela barraca.

— Freddie! - ouço a Sam vir atrás de mim. - Não seja um idiota! Me escute!

Ignorei e continuei correndo para bem longe, mas ela conseguiu me alcançar e ainda me faz parar, com toda a sua brutalidade. 

— Enlouqueceu!? - Sam me segurou firmemente para que eu não voltasse a correr. - Freddie, não seja estúpido! Ele só quer acabar com a nossa relação. 

— Por que ainda estava com a aliança no dedo? - Questionei-a irritado. - Não venha me dizer que ainda tinha esperança de se casar com...

— Não diga uma idiotice dessas! - Ela me interrompeu, extremamente aborrecida. - Caramba, nerd! Se esqueceu que aceitei fugir com você naquela noite!? Se eu quisesse algo com ele, eu teria ficado.

Insisti na pergunta que fiz:

— Você ainda não me respondeu...

— E nem vou! - Ela suspirou e disse: - Pense o que quiser, tudo bem?

Sam me largou e deu meia volta.

— Para onde vai!?

— Vou voltar para a barraca e esperar essa chuva passar - ela disse, conforme ia se afastando. - E se eu fosse você faria o mesmo.

Mas não fiz. 

Estressado, escorei-me numa árvore qualquer, observando a Sam sumir cada vez mais da minha vista. Era certo que eu precisava de um tempo para pensar um pouco e dispersar toda a minha raiva. 

Minutos depois, o resultado foi estúpido: fiquei um tempão pensando no que a Sam falara para mim, tentando chegar numa conclusão, que era extremamente óbvia. 

— DROGA! - murmurei. 

Percebi que a Sam estava mais do que certa e que eu não deveria dar ouvido as falácias do Brad. 

— SEU BURRO! - Discuti com a Sam à toa. Nem conseguia expressar o quanto estava arrependido comigo. Então decidi voltar para a barraca e quando voltasse, iria permitir que a Sam desse uma surra em mim.

(***)

A chuva tinha dado uma trégua quando eu chegara na barraca do Brad, e no momento em que a adentrei, não encontrei a loira.

— Cadê a Sam? - perguntei, olhando desesperadamente ao meu redor.

Brad, que estava deitado, lendo o seu livro, também ficou preocupado. 

— Pensei que ela estivesse com você - respondeu ele. - Vocês estavam demorando...

— Vou procurá-la! 

— Espera! - Brad se levantou num pulo. - Eu vou com você...