PDV - Freddie

Cheguei no Ridgeway ainda pensando na minha carta para o Brad. Sei muito bem que o meu amigo era uma pessoa calma, do bem, afinal, conheço-o a bastante tempo. Contudo, de verdade, não sei qual seria a reação dele ao ler aquela minha maldita carta.

— Desculpa... - murmurei após pisar, sem querer, no pé de alguém. Eu me encontrava tão distraído naquele corredor do colégio, que eu mal notei que havia "esmagado" o pé de alguém, e só vim a reparar minutos depois que a tal pessoa era a Carly. - Foi sem querer mesmo, Carls... Digo, Carly!

A morena fez uma careta feia para mim e não soube ao certo se era por conta da dor no pé ou por ódio pela minha pessoa. 

P.S.: Ainda estamos brigados; da mesma forma que ela não ia muito bem com a Sam.

— Eh... Doeu muito? - perguntei-lhe, analisando os pés da morena.

— Claro! - Ela disse já se afastando.

Dei de ombros e segui para a minha sala de aula de Matemática Avançada. Sentei-me, solitariamente, num canto próximo à porta.

A aula começou e eu mal notei se a Sam chegou na sala ou a passou pela porta - EU TERIA NOTADO! -, mas só tive total certeza de que ela não comparecera quando olhei, vagamente, ao redor da sala.

Queria ao menos me desculpar pelas minhas atitudes exageradas na noite anterior e nada mais que isso. Embora quisesse muito conversar, sorrir e fazer outras besteiras ao lado da Puckett.

 - Estão liberados - disse o Sr. Howard para a turma. Fiquei assustado quando ouvi essas palavras do professor, pois pensei que sua aula acabara de começar e, na verdade, ela havia terminado. Ou seja, não prestei atenção na aula. Era como se eu não estivesse ali. 

(***)

Com o fim das aulas, antencipei-me para "dar o fora" do colégio e voltar para o meu apartamento. Porém, quando eu estava prestes a seguir o meu caminho, avisto uma loira, com trajes vermelhos e montada numa bicicleta. 

— Sam!? - pensei. 

Logo associei a garota com a Sam, mas eu não tinha certeza daquilo. Não poderia ser a Puckett montada naquela bicicleta, pois ela fora roubada na noite anterior e, além disso, a garota estava de costas e bem distante de mim.

Pensei em ignorar e voltar para o meu percurso - Não iria fazer diferença saber se a garota era a Sam ou não...

Mas, mesmo assim, decidi ir até a garota e ver com os meus próprios olhos!

— SAM! - Toquei levemente nas costas da garota, que quase se desequilibrou do veículo, quando consegui me aproximar. 

A loira, assustada, virou o rosto para tentar ver quem era e pareceu tomar um grande susto.

— Argh! BENSON! - Ela murmurou, raivosa, ao me notar. 

— Hmmm... Vejo que recuperou a bicicleta. 

— Sim, como eu disse, não seria difícil de encontrar o idiota que pegou a minha bike! E não vá pensando que eu esqueci da nossa aposta. - Ela disse num tom de bravura e chateação. - Agora, qual o seu problema comigo, hein!?

— Calma... - ergui as mãos para o alto. - Eu vim apenas pedir desculpas, ok!? Pelo... - olhei profundamente nos olhos dela e notei sua seriedade. - Pela noite de ontem. 

Ela suspirou, revirando os olhos.

— Esquece isso! Já passou...

— Olha, posso te perguntar uma coisa!? - cortei a frase dela e antes que ela permitisse ou não que eu perguntasse, fiz o meu questionamento: - Por que faltou aula, hoje!? Vejo que veio ao colégio, mas não frequentou Matemática Avançada. 

— O Sr. Howard me dá sono... - Ela disse se justificando. 

— Todo mundo te dá sono, Sam! - murmurei exaustivamente e com desgosto. - Na minha concepção, você faltou para tentar me evitar, o que significa que você "não esqueceu" e que o que aconteceu ontem "não passou"...

Sam mexeu nos longos cabelos loiros, ignorando as minhas palavras. 

— Se é o que você quer saber mesmo... - Ela ergueu as sobrancelhas, convicta. - Você está certo, nerd! Olha, a minha vida era dez vezes melhor antes de te conhecer... Pelo menos eu tinha a presença da Carly e de outras pessoas estúpidas. 

Sorri, quase a aplaudindo. 

— Era nesse ponto onde eu queria chegar! - Apontei o dedo para o seu ombro esquerdo. - Queria ver quando que você iria se mostrar na sua forma verdadeira e agora estou a vendo! 

Sam suspirou mais uma vez, olhando sempre para os lados nos momentos em que eu falava. E teve uma hora em que quase tentou sair da conversa/discussão:

— Eu ainda não acabei! - falei, segurando os dois freios de mãos da bicicleta. - Sam, quando você irá admitir para si mesma que você está apai...

Fui interrompido por uma buzina extremamente alta que acabou chamando a atenção de todos - que passavam pelo gramado do Ridgeway naquele instante.

A buzina vinha de um pequeno táxi amarelo. Questionei-me porquê um táxi iria parar próximo da porta do colégio e fazer barulho. 

Olhei rapidamente para a Sam e notei que ela também fez uma cara de quem não entendeu muito. 

Mas, toda via, tomamos o maior - GRANDIOSO - susto quando observamos o passageiro, que acabara de sair do táxi. 

— BRAD! - Sam e eu gritamos ao mesmo tempo.

Uma sorridente Sam largou a bicicleta de lado e correu em direção ao garoto, que se surpreendeu quando avistou a loira correndo em sua direção. 

Fui logo atrás dela. 

O pior de tudo era ver a cena do casal amoroso, que acabara de se reencontrar, fazendo coisas que quaisquer casais poderiam: abraçar, sorrir... Beijar.

Não sei como consegui suportar essas cenas e depois cumprimentar o meu amigo, com um forte aperto de mão e um sorriso singelo.

— Saudades de vocês! - Brad disse, carregando uma mochila nas costas, além de usar um chapéu verde com um desenho de canguru.  

— Desculpa perguntar, mas por que aconteceu para você voltar antes do previsto? - perguntei-lhe, curioso. 

Essa também poderia ser a dúvida da Puckett, embora ela não tivesse disposta a questioná-lo.

— Terei tempo o suficiente para explicar tudo o que vocês quiserem saber... - disse Brad, extremamente contente. - Ah, estou planejando dar uma festa de boas-vindas a mim mesmo neste final de semana... Então, não faltará tempo para isso!

— Oh, veio falar com o Diretor Franklin? - quis saber a Sam.

— Sim, sim - disse Brad, olhando diretamente para mim e sorrindo. - Preciso resolver os problemas da minha matrícula... Não irei demorar! 

— Bom - dei um passo a frente, chamando a atenção dos dois. - Eu vou indo... - Olhei pela última vez para a Sam, que rapidamente virou o rosto. - Muito bom te rever amigo.

— Mais tarde dou uma passada no seu apartamento! - avisou Brad quando eu já estava distante dos dois.

(***)

Voltei para o meu apartamento e senti a sensação de estar totalmente desnorteado. Assim que passei pela porta do 8D, recebo a grande notícia:

— O BRAD VOLTOU! - Ela esbanjou felicíssima. - Eu sei disso, pois ele ligou avisando que iria passar na sua escola...

— Eu já sei disso, mãe - avisei-lhe, sem animação e disposição. - Eu o vi por lá.

— Que carinha é essa, meu filho? - minha mãe se aproximou de mim e tentou alisar o meu rosto, mas me afastei no momento. - O que aconteceu? Não está feliz com a volta do seu melhor amigo!?

Era horrível ouvir a palavra: "melhor amigo".

— Não é isso, mãe... - falei, direcionando-me para o meu quarto. - Apenas... Estou cansado, ok?

Tranquei-me no quarto e comecei com as minhas sessões de pensamentos; quando cheguei na conclusão de que o Brad não recebeu/leu a minha carta sobre os meus últimos acontecimentos, levando em consideração que ele voltou antes do combinado (Um mês).

 - "Droga, terei que contar toda a verdade, pessoalmente".

O Brad deu uma breve passada no meu apartamento, conforme ele havia me avisado mais cedo, porém, não tive tempo suficiente para lhe contar os fatos e eu não iria lhe contar na presença da minha mãe. Ele aparentava bastante apressado, e só mesmo passou para me fazer um convite, que estava mais para uma "ordem":

— Quero que você passe dois dia inteiro comigo! Podemos jogar video game, assistir filmes, comer besteiras... - Ele me falava. - Isso se a Sra. Benson deixar...

Minha mãe, que estava limpando os móveis da sala de estar, parou o serviço para averiguar a proposta do Brad:

— Hmm... Okay, eu deixo! - Ela disse. - Mas! Terão que me prometer que não irão comer "beteiras" o dia todo, que não irão jogar video game constantemente e que irão passar as noites estudando.

Brad abafou a risada e quando foi responder a minha mãe, fez uma expressão de seriedade:

— Pode deixar, Senhora Benson! - Brad sorriu, enquanto bagunçava o meu cabelo. - Irei tomar conta desse garoto.