Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 26
26 – A tarde




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No dia seguinte, Leonardo, Sabrina, Pedro e seus pais, viajaram para a cidade onde Sabrina morava. Por mais que os avôs e tios da garota não gostassem do pai dela, e não se importassem muito se a garota ficaria com ele ou não, eles eram a família dela e do jeito deles a amavam. Marcos também queria pedir desculpas por tudo, mesmo que fosse apenas para jogarem na cara dele o estrago que causou na vida de Sandra; ao menos teriam alguém para culpar ao invés de Sabrina.

Como no carro cabiam apenas cinco pessoas, Denis ficou em casa. Passou boa parte da manhã dormindo e depois respondendo às perguntas da mãe sobre a viagem e o que eles tinham feito. Depois do almoço, Denis foi para a casa de Victor, que com a perna engessada não conseguia ir a muitos lugares e acabaram não vendo ele no dia anterior devido todas as emoções da chegada deles.

— E aí, cara? – Denis cumprimentou Victor, que estava esparramado no sofá. – Como vai a perna?

— Vai engessada. E falando nisso, assina aí. Deve ter um pincel ai do lado da televisão. – O pincel estava bem do lado da televisão, então Denis conseguiu achá-lo facilmente. A perna engessada já continha algumas assinaturas, em geral dos garotos que jogavam no time da escola e outros colegas.

— O pessoal do time veio aqui? – Apesar de viverem brigando, os garotos do time de futebol da escola, do qual Denis fez parte, eram grandes amigos, e inclusive visitavam Denis quando ele estava de bom humor.

— Eles assinaram aí, né? O que significa que vieram. – Victor falou em tom sarcástico, uma vez que para os colegas assinarem seu gesso precisariam ter ido até lá. Mas logo percebeu que talvez Denis não tinha conseguido ler os nomes, ainda mais porque as letras dos colegas não estavam muito entendíveis. Denis apenas cerrou os dentes, se controlando para não explodir. – É... desculpa. Sabe, eu cansei de ter que ficar deitado o dia inteiro. A princípio parece legal não fazer nada, mas cansa. Eu queria sair e jogar futebol com o pessoal, ou sei lá, andar de bicicleta por aí.

— É, cansa. Mas daqui a pouco sua perna fica boa e você pode voltar a fazer tudo isso. Eu não. – Denis queria ficar mais, contudo a conversa com Victor o estava deixando irritado e ele não queria isso, não agora que estava indo tão bem. – Acabei de lembrar que esqueci de fazer uma coisa e tem que ser antes do Léo voltar.

— Mas sua mãe acabou de ir para o cabelereiro e vai demorar. E além disso, você ficou de trazer as fotos e vídeos que fizeram da viagem. – Vitória chegou na sala quando Denis já estava em pé para sair. – E seja lá o que tem que fazer, o Léo vai demorar ainda.

— Hum... certo. – Denis não conseguiu ir embora. Não com Vitória ali. Era tão bom ouvir a voz dela. – Eu trouxe só o pen drive, então será que podia me arrumar um computador?

— A gente vê na televisão. Me dá aí que eu arrumo. – Vitória pegou o pen drive e conectou na televisão. Logo, os três já estavam rindo dos vídeos e fotos, principalmente dos comentários que tinham nos vídeos e dos comentários que Denis fazia sobre as fotos, depois que os outros dois davam uma explicada do que estava acontecendo.

— Já pode ir juntando o dinheiro. Nas próximas férias eu vou com vocês. – Victor falou empolgado. – Nem acredito que fui quebrar a perna antes disso.

— E da próxima vez garotas também vão. Agora tenho a Sabrina para me dar força. – Vitória sorriu.

— Não sei se o pai do Pedro vai deixar a gente ir. – Denis falou sério.

— Por que? – Vitória e Victor perguntaram em coro.

— Porque vai que a gente volta com outro filho dele.

— Podia ser outra garota igual a Sabrina. Ela parece ser bem legal. – Vitória falou.

— Ou então um garoto todo doidão, cheio de piercing e tatuagem. O pai do Pedro ia ficar vermelho feito um pimentão.

Ficaram mais um tempo inventado possíveis filhos para Marcos, e a cada vez que falavam, saia alguém mais bizarro que o anterior. No meio da tarde, os três foram para a cozinha fazer panquecas. Victor saiu se arrastando e resmungando nas muletas e se jogou em uma cadeira, enquanto Vitória jogava as coisas na vasilha e Denis mexia a massa.

— Denis, já conseguiu jogar panqueca pra cima, igual nos filmes? – Victor perguntou, observando a irmã ao lado do fogão.

— Minha mãe nunca me deixou tentar.

— Eu consigo, quer ver?

— Victor, você vai fazer bagunça. E depois vai sobrar pra mim limpar. – Vitória reclamou.

— Mas eu consigo. E o Denis nunca tentou fazer isso, e ele quer. Não é, Denis? – Victor olhou suplicante para o amigo, implorando que ele dissesse que sim.

— Ah... é claro.

— Mas primeiro eu vou, para mostrar como se faz.

E assim desperdiçaram massa suficiente para três ou quatro panquecas. Só pararam, porque Vitória tomou a vasilha com massa e a colher dos garotos. Tinha massa esparramada por todo o fogão, parede e chão ao redor.

— Viu? Eu falei que fariam bagunça. Agora façam o favor de me ajudar a limpar, que os dois não estão assim tão imprestáveis. – Vitória falou irritada.

— Vamos comer primeiro. Depois a gente limpa. Não gosto de panqueca fria e o Denis também não. Não é, Denis? – Victor reclamou.

— É. Não gosto.

Vitória separou as panquecas em três pratos e colocou cobertura nelas. Depois, foram para a sala lanchar, já que a cozinha estava muito bagunçada. Enrolaram muito comendo e depois enrolaram mais conversando e brincando. Só perceberam o tempo passando quando Victor deu um grito de dor. Ele tinha esquecido de tomar o analgésico e sua perna ainda doía um pouco.

— Vou lá limpar a bagunça, senão quando minha mãe chegar vai ser um sermão daqueles. – Vitória se levantou, fazendo careta para o irmão, que resmungava exageradamente no sofá.

— Da próxima vez eu ajudo. Porque agora eu não tenho condições de me levantar daqui. – Victor falou.

— Como é fingido. Me aguarde quando tirar esse gesso.

Vitória foi para a cozinha, deixando os garotos no sofá. Logo, Denis se deu conta que deveria ajudar e foi atrás de Vitória. Tiveram que esfregar um pouco onde a massa tinha caído. Se tivessem limpado logo em seguida à bagunça, certamente teria sido mais fácil. Quando terminaram de limpar, Victor estava dormindo no sofá, em resposta ao remédio que tinha tomado minutos antes.

— Acho que já vou ligar pra minha mãe. – Denis falou. – Obrigado pelas panquecas e desculpa a bagunça.

— Não precisa ligar pra ela. Posso te acompanhar até lá. Tenho que ir na casa de uma amiga entregar um livro.

— Pode ser.

Para não acordar o irmão, Vitória deixou um bilhete. Foi no seu quarto e pegou o primeiro livro que viu pela frente e saiu com Denis.

— Como estão seus olhos? – Vitória não fazia rodeos para perguntar. Ela que convivera a vida inteira com o que para os outros era visto como um problema, sabia que mascarar as dúvidas ou ignorar o problema do outro era muito pior. O melhor era aceitar os fatos e aprender a conviver com eles de alguma forma.

— Não estão bem. – Denis respondeu em um tom de voz seco. Não queria falar sobre sua doença.

— Entendo. Minhas pernas também não estão muito bem esses dias. Mas diz o médico que é porque estou crescendo e por isso estão doendo mais que o normal. Vai saber.

— Elas sempre doem? – Denis estava confuso.

— Sim. Todos os dias. – Vitória deu de ombros.

— E como você aguenta viver com isso todos os dias? Não pode tomar remédio para melhorar a dor, fazer alguma coisa?

— Não resolve muito. E não tem problema, já me acostumei com isso. Tem dias que dói mais, outros menos e às vezes eu nem percebo.

— Eu não sabia. Nunca ouvi você reclamando. – Denis parecia querer se desculpar por não saber que a garota sentia dor.

— É porque eu não reclamo. Não para que os outros possam ouvir. – Vitória sorriu. – Prefiro que me olhem estranho por andar torto, do que me olhem com pena por sentir dor. Porque no primeiro caso, vão apenas ignorar essa característica minha e pronto. No outro caso, vão me tratar diferente das outras pessoas, cheios de cuidado e tudo mais.

— Entendi. – Denis não entendia realmente, mas queria encerrar o assunto.

— Não acho que entenda. – Vitória trocou o sorriso por uma expressão séria no rosto. – Porque às vezes parece gostar de se sentir a vítima ao invés de se sentir o herói.

      Denis não soube o que responder. Terminaram de chegar na casa dele em silêncio.

— Assim que o Léo e o Pedro voltarem, vamos na sua casa, para vocês conhecerem a Sabrina. – Denis falou já na porta de casa.

— Tudo bem. Mas se quiser ir amanhã também, não tem problema. – Vitória sorriu.

— Só se formos fazer mais panquecas. – Denis sorriu também. Ele queria que aquela tarde terminasse feliz, como havia sido durante. Podia ser a última tarde assim com Vitória.

— Podemos fazer. Mas sem bagunça. – Vitória deu um rápido abraço em Denis.

— Ah... e não se esqueça de tentar se sentir o herói. Vai ver que é bem melhor. – Vitória falou depois de dar alguns passos, mas ainda perto o suficiente para que Denis pudesse ouvir. Ele ficou na porta de casa olhando ela ir embora.


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