Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 19
19 – A jornada




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Os quatro lancharam em uma lanchonete ao lado da rodoviária, que tinha uma pizza incrivelmente saborosa. Passaram um tempo brincando de adedonha ou stop (como Sabrina dizia), algo que faziam há muito, muito tempo. Até que finalmente se cansaram e se acomodaram da melhor maneira possível nas cadeiras duras e fecharam os olhos para dormir. Sabrina não conseguiu dormir e logo se levantou e se afastou dos garotos em silêncio, para não acordá-los. Precisava pensar em tudo e queria chorar um pouco.

— Não conseguiu dormir? – Leonardo apareceu na frente de Sabrina, que chorava segurando uma foto dela com uma mulher nas mãos.

— Não. Mas não se preocupe, daqui a pouco vou pra lá. Só precisava... – Sabrina chorou mais, deixando cair a foto. Leonardo pegou e a observou.

— Você se parece muito com ela. É sua mãe, não é?

— É. Ela morreu ano passado.

— Sinto muito. – Leonardo não sabia o que falar ou fazer, então abraçou Sabrina, que deitou a cabeça em seu ombro e chorou por mais um tempo.

— Sabe, fico feliz de ter encontrado você. – Leonardo falou, quebrando o silêncio. – Essa viagem está sendo meio maluca e os últimos meses não foram os melhores. Imagino que para você também. E bem... colocamos um sorriso no rosto do meu irmão de novo e no seu também. Eu sei que a vida pode ser meio complicada às vezes, mas de alguma forma, no fim tudo se ajeita e fica bom de novo. E se precisar de uma ajuda, qualquer que seja, estou aqui.

— Obrigada, Léo. Acho que precisava ouvir isso. – Sabrina sorriu. – Desde que minha mãe morreu, tenho me sentido meio sozinha. Aconteceu tudo muito rápido. Minha mãe descobriu que tinha câncer e já estava avançado. Nem teve tempo de terminar o tratamento. Ela era uma mulher forte e corajosa. E ver ela morrendo a cada dia foi terrível. Ela era tudo que eu tinha. E eu era tudo que ela tinha. Tudo que ela fazia era por mim. O sonho dela era me ver crescer, me ver pegar meu diploma, me ver feliz de verdade. Mas agora... eu simplesmente não sei para onde ir, ou o que fazer.

— É difícil continuar vivendo quando as pessoas que mais amamos não estão mais com a gente. – Leonardo colocou a mão de Sabrina, que chorava muito, e apertou entre as suas. – Mas eu gosto de pensar que quando algo ruim nos acontece, algo bom e maior vem para nos dar forças para seguir em frente.

— Eu queria acreditar, mas parece que nunca vai melhorar.

— Eu te prometo que vai melhorar. Toda a dor vai embora e vai ficar apenas a saudade. E o bom da saudade é que ela não machuca. Ela conforta a gente e por mais que nos traga lágrimas, é o que nos ajuda a nos manter firmes. – Sabrina tentou sorrir. – Eu vou te ajudar. Estarei aqui por você.

Leonardo limpou uma lágrima que escorreu do rosto de Sabrina. Os dois se beijaram. Um beijo suave e doce, daqueles que fazem com que toda a tristeza e dor vá embora.

— Eu não posso, Léo. – Sabrina se levantou e pegou sua mochila. – Sinto muito, mas você já tem problemas demais sem que eu lhe traga mais. Vamos apenas continuar sendo dois amigos de infância, que se esbarram por aí. Eu preciso...

— ... encontrar seu pai.

— Como você sabe? Eu não falei que eu estou procurando meu pai.

— Juntei uma coisa aqui, outra ali. E eu não pretendo deixar você desistir. Eu e os meninos vamos com você até a casa dele.

— Eu sequer sei onde meu pai mora. Na verdade, nem sei se o nome que minha mãe me contou é o nome completo ou se é o nome verdadeiro dele. – Sabrina se sentou novamente. Leonardo segurou suas mãos e a olhava atentamente. – Eu só pensei que me faria bem isso. Eu sempre quis saber dele e nos últimos dias, minha mãe me contou tanto sobre ele. Imaginei que se eu o encontrasse, ele me abraçaria e faria tudo ficar bem. Que ele me faria sorrir de novo, como os pais fazem nos filmes quando os filhos acordam com medo no meio da noite. Mas a vida não é assim. É provável que eu nunca vou encontrá-lo. Entrei em contato com tantas pessoas e já fui em umas seis casas, quatro cidades e existem muitos mais com o mesmo nome. Agora, tenho que voltar para casa e dizer para meus avôs e tios que eu estava errada, pedir desculpas. E não sei se eles vão me aceitar de volta.

— Eles são sua família, vão te aceitar.

— Minha família nunca me aceitou. Não de verdade. Eles me suportam por causa da minha mãe. Eu sou o motivo da minha mãe ter terminado atrás de um balcão de loja, dobrando turno para ganhar mais. Eu sou o motivo da minha mãe não ter terminado a faculdade e não tido o futuro brilhante e de sucesso que ela teria. – Sabrina não tinha muitas lágrima mais para chorar. Apenas olhava para baixo. Um olhar triste e cheio de dor. – E para eles, procurar meu pai é ignorar tudo o que minha mãe fez e desistiu de fazer por mim.

— Ei, lembra que eu te prometi que tudo vai melhorar? Vamos pegar tudo que você tem sobre seu pai, procurar nas cidades aqui perto que você ainda não foi. Posso fazer um site, espalhar pela internet. E também na televisão, no rádio. Em todo lugar, não importa, mas vamos encontrar seu pai. Vamos terminar essa jornada que você começou.

— Mas...

— Sem mas. Não foi você que me disse mais cedo que nós somos super-heróis? Então, é isso que os heróis fazem.

— E se depois disso tudo não encontrarmos meu pai?

— Se depois disso tudo não encontrarmos seu pai, o que é meio difícil, porque você ouviu tudo o que falei que vamos fazer, certo? Mesmo assim terá valido a pena. Sabe por que? Porque o que importa é a jornada e não o fim dela. E antes fazer algo e falhar, do que não fazer. – Leonardo sorriu e olhou para Sabrina de uma forma que a fez se sentir segura e que tudo ficaria bem.


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