Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 17
17 – A garota




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Um pequeno detalhe com o qual os garotos não contavam era a chuva. Quando chegaram na rodoviária da outra cidade, estava caindo uma chuva daquelas bem fortes e, era impossível os três saírem de lá sem ficarem encharcados. O pior era que a rodoviária estava lotada e conseguiram apenas uma cadeira para se sentar, a qual logo foi cedida para um senhor de idade que estava por perto procurando um lugar para se sentar. Então, os garotos acharam um cantinho no chão e se sentaram.

— Esse negócio de ficar aqui sentado esperando a chuva passar já cansou. Minha cabeça está começando a doer. – Denis não parecia nenhum pouco satisfeito. Aliás, ninguém ali na rodoviária parecia muito satisfeito.

— Parece que o mundo acabando. Um monte de criança chorando e outras correndo feito loucas por ai, com os pais gritando atrás. Isso sem contar as pessoas que entram encharcadas e estão espirrando, passando germes pra todo mundo aqui. E como não pode faltar em uma rodoviária, tem uns que acharam que tinham que carregar todas as malas do mundo e outros que estão com tanto sono que dormem em qualquer canto. – Pedro fez uma pausa dramática na fala. – Bom... é isso o que temos pra hoje.

— O que a gente ia fazer aqui? Já nem lembro mais.

— A gente ia no zoológico. – Leonardo falou desanimado. – Mas agora acho que não vamos mais, porque com essa chuva, impossível andar lá.

— Frescura cara, podemos muito bem sentar na grama molhada pra fazer piquenique. Isso não mata. – Denis riu.

Ficaram mais um tempo conversando sobre coisas que dariam errado de se fazer num zoológico após uma chuva forte. Enquanto isso a chuva ainda continuava com toda a força. Pedro já tinha saído umas quatro vezes, sempre arrumando alguma coisa para ir comprar, como água, pirulito, chiclete, salgadinho, chocolate.

— Sabe Léo, acho que você devia ir lá e falar com a garota. Cara, você olhando pra ela desde que chegamos aqui.

— Sério isso? Léo, você está de olho em uma garota? – Denis e Pedro riram, deixando Leonardo vermelho.

— Vai lá Léo, dar uns beijinhos na garota. – Leonardo ficava mais vermelho, não se sabe se era de raiva ou de vergonha.

— Pedro, prepara o celular ai pra tirar foto. Primeira namoradinha do meu irmão tem que ficar registrado.

— Vão arrumar algo pra fazer. Que saco! – Leonardo se levantou e saiu andando para algum lugar qualquer. Só queria ficar longe dos outros dois por um tempo. Sim, ele estava olhando para a garota, mas tudo o que ele fazia era olhar para as garotas. Ele nunca tinha coragem de se aproximar. E além disso ele tinha quase certeza de que conhecia aquela garota.

Cerca de cinco minutos depois, Leonardo foi ao encontro de Denis e Pedro, mas os dois não estavam no lugar onde os havia deixado. Deu uma olhada rápida ao redor e os avistou onde ele menos esperava que estivessem. Aliás, conhecendo os dois, Leonardo deveria prever que quando ele saísse de perto, eles iriam justamente conversar com a garota. Irritado ficou parado em um lugar onde pudessem vê-lo e ficou batendo o pé.

— Ei, Léo! Vem aqui! – Pedro acenou para ele, mas Leonardo permaneceu onde estava.

— Léo, é a Sabrina que foi sua colega.

O rosto de Leonardo ficou vermelho de novo. É claro que era a Sabrina. Ele tinha certeza que era ela, mas achou estranho encontrá-la ali. Eles foram colegas durante um ano, quando ele tinha 10 anos. O pai tinha recebido uma promoção no trabalho e precisava trabalhar um tempo na sede da empresa, que era em outra cidade. Sabrina era tão estudiosa quanto Leonardo e os dois estudaram muito juntos naquele ano.

— Creio que vocês dois já se conhecem. E conhecem o Denis também. E eu acabei de me apresentar. Então é isso. Podemos colocar o papo em dia. – Pedro falou sorridente, olhando para Leonardo.

— É... bom te ver de novo, Sabrina. – Leonardo raspou a garganta. – Desculpa esses dois. Eles são meio malucos assim mesmo.

— Ah, tudo bem. Precisava rir um pouco. – Sabrina passava a mão no cabelo.

— Viu só? Somos demais! – Denis e Pedro bateram as mãos em um HI-5.

— Bom te ver de novo também. Eram bons tempos aqueles da escola. – Sabrina ajeitou os óculos e sorriu. – Até que você não mudou muito Léo, mas o Denis parece bem diferente daquele molequinho que eu me lembro.

— Alguém na família tem que ser bonito, não acha? E como meu irmão não deu conta do recado, eu fiquei essa belezura aqui.

— Engraçadinho você continua. – Sabrina olhou para Pedro. – E o Pedro, imagino que deve ser o amigo que você tanto falava, estou certa?

— Certíssima. – Pedro falou. – Aquele ano foi duro de aguentar, seu o Denis por perto. Nós dois conversávamos por telefone quase todo dia.

— Nem me lembra disso. Vocês dois mesmo longe um do outro, davam um jeito de aprontar.

Os quatro conversaram por alguns minutos. A chuva lá fora já tinha passado e aos poucos a rodoviária começava a se esvaziar, com pessoas andando apressadas por todos os lados.

— Olha, preciso ir ali comprar minha passagem, parece que o sistema voltou. E meu ônibus sai daqui a pouco. – A garota cumprimentou todos e pegou sua mochila.

— A gente espera aqui. Não vamos em lugar nenhum. – Leonardo falou apressado.

— Não preocupa Léo, pegamos telefone e e-mail dela. – Denis cochichou no ouvido de Leonardo logo que a garota se virou.

Perto de onde estavam, uma mulher falava ao telefone. Parece que no fim da tarde seria o aniversário do filho dela e o pessoal que ela contratou para animar a festa com fantasias de super-herói não conseguiu chegar devido a árvores que caíram na estrada e não chegariam a tempo da festa. Dessa ligação, a mulher fez outra e depois outra, mas parece que não estava dando muito certo. A mulher parecia realmente desesperada, repetindo a todo tempo “decepcionei meu filho de novo”, “sou uma mãe horrível”. Sentido pena da mulher, os garotos conversaram entre si e decidiram ajudá-la, afinal de contas, seus planos para o resto do dia tinham ido água abaixo.

— Senhora, desculpa, mas não pudemos deixar de ouvir sua conversa. Olha, se a senhora quiser, não vamos fazer nada o resto do dia. Nós íamos no zoológico, mas... Podemos ir lá animar a festa do seu filho se quiser. – Leonardo foi conversar com a mulher. Ele foi o escolhido porque era o mais velhos dos três e tinha cara de mais responsável.

— Hã?.. É sério? – A mulher se assustou, mas sorriu.

— Temos até fantasias de heróis na mochila e tudo. – Pedro falou.

Quando foram decidir o que não podiam esquecer para a viagem, ele falou para levarem fantasias. Sempre leve fantasias com você quando sair para uma aventura. Ah, e também não se esqueça de levar uma toalha.

A mulher concordou que os garotos, mas não antes de conversar por telefone com a mãe deles e ver as autorizações que tinham para viajar. Como a festa aconteceria em cerca de três horas, a mulher deixou o endereço do local da festa e dinheiro para os garotos pagarem o táxi.

— Aquela lá não é a Sabrina? – Pedro falou apontado para um lugar longe de onde estavam.

— Sei não. Pra mim parece um vulto de uma pessoa como qualquer outra. – Denis brincou. Leonardo apertou os olhos para ver se era a garota.

— Parece que é. E parece que ela está chorando.

— Como você sabe que ela chorando? Tem super visão agora?

— Você sabe que não tem superpoderes de verdade, né?

— Ha-ha-ha. Muito engraçadinhos vocês dois. – Leonardo falou e fez careta para os outros dois garotos.

— Acho que você devia ir lá conversar com ela. Sabe, ver o que aconteceu. Vou ficar bem aqui com o Pedro. Aliás, vamos ficar um pouco mais perto de onde ela está, para talvez ouvir alguma coisa.

— Eu não sei se devo ir. Ela sabia que a gente estava aqui e não quis vir. Deve querer ficar sozinha.

— Vai lá! – Denis e Pedro deram um empurrão nas costas de Leonardo, que quase caiu.

Leonardo foi andando ao encontro de Sabrina um pouco nervoso, olhando para trás o tempo todo. Denis e Pedro vinham logo atrás e pararam um pouco antes dele. Léo se encheu de coragem e se sentou ao lado de Sabrina.

— Então... estava andando... é... Por que você está chorando? Hã, quero dizer, está tudo bem? – Sabrina não falou nada, mas seu choro aumentou. Leonardo ficou confuso, sem saber o que fazer. – É, olha, desculpa. Eu não devia ter vindo. Quero dizer, você deve querer ficar sozinho. Eu vou pra lá. Hum... até mais... eu acho.

— Espera, Léo. – Sabrina puxou seu braço. – É só que...

Leonardo apertou a mão de Sabrina e recuou o braço em seguida.

— Obrigada. – Sabrina chorou por uns alguns minutos ao lado de Leonardo, que continuava sem saber o que estava acontecendo.

— Seu ônibus não sai agora? – Leonardo perguntou. Sabrina enxugava as lágrimas e parecia mais calma.

— O ônibus sai. Mas eu não vou. – A garota segurava para não desabar de novo.

— Hum... entendo. Estava cheio? Porque se precisar mesmo ir pra casa agora, podemos dar um jeito.

— Não é isso. É que não deu pra comprar. – Sabrina abaixou a cabeça e desviou o olhar.

— Se for por causa de dinheiro, posso te emprestar. Tenho seu contato, você tem o meu. Você paga quando puder. Mas eu te dou. Eu tenho...

— Não ia resolver, Léo. – Ela deu um sorriso triste. – Hã... e as passagens acabaram. Obrigada mesmo assim. Acho que vou voltar pra casa.

— Ah... – Leonardo ficou sem entender, porque pelo jeito a garota não morava naquela cidade e nem na outra para onde ela ia. Mas ele preferiu não perguntar. – E para voltar para casa tem ônibus que sai agora?

— Tem um que sai em duas horas. Já comprei passagem pra ele. – Sabrina não parecia feliz e Leonardo não sabia muito o que dizer. – Não preocupa, está bem? Vai lá ficar com seus amigos. Vou ficar bem.

— É sério, eu posso ajudar. Eu sei que a gente não se vê tem um tempão, mas éramos bons amigos naquela época. E se tem uma coisa que aprendi com a doença do meu irmão, é que ajudar os outros faz bem para quem é ajudado, mas faz muito mais para quem ajuda.

— Obrigada. – Sabrina sorriu. – Se eu precisar de ajuda, eu prometo que peço.

— Certo. – Leonardo se levantou. – Bom, então mantemos contato pela internet?

— Sim, é claro. É sempre bom manter os amigos por perto. – Ela sorriu, tentando parecer feliz.

Pedro e Denis viram que a conversa dos outros dois estava se encerrando. Denis sabia que o irmão gostava de Sabrina. Sabia que ele tinha encontrado ela na internet, mas nunca teve coragem de adicioná-la. Ele tinha que fazer mais alguma coisa. Então, foi lá e fez.

— Sabrina, se for ficar por aqui hoje, eu e os garotos vamos nos vestir de super-heróis para animar uma festa infantil. Se quiser, podemos arrumar uma fantasia pra você e ai você pode nos acompanhar. Já que o zoológico não vai dar, resolvemos ajudar uma mulher que estava por aqui na rodoviária.

— E precisamos de uma garota. Porque meninas também gostam de super-heróis e também podem ser heroínas. – Pedro entrou na conversa, ajudando Denis a convencer Sabrina.

— Vai ser divertido. E acho que é disso que você está precisando.

— Vocês são malucos. – Sabrina riu. – Quer saber? Eu vou. Preciso me divertir um pouco e em casa não me esperam de volta tão cedo.


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