Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 15
15 – A praça




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Como não iriam ao parque de novo, depois da sorveteria os garotos foram andar pela cidade, até decidirem o que fariam em seguida. Tinham mais algumas horas até irem para o hotel jantar e dormir. Sairiam ao amanhecer para pegar o ônibus para a próxima cidade do roteiro de viagem que prepararam.

— Ei, o que acham da gente ir para a praça da cidade e fazer aquele negócio de Free Hugs? – Leonardo falou enquanto caminhavam sem destino algum. – As pessoas sempre precisam de um abraço. Podemos fazer a diferença no dia de alguém.

— Sim, é claro que podemos. – Denis disse com certo sarcasmo. – Podem ficar felizes por não serem tão estranhos quanto a gente.

— Mas vai ter um monte de gente querendo nos abraçar. – Pedro falou sério. – Porque vão sentir tanta pena da gente.

— Nada haver o que vocês falaram. É bem legal isso. Quando a escola promoveu Free Hugs eu participei e o pessoal na rua estava achando muito interessante.

— Aí está a diferença, Léo. Não eram três garotos apenas. Era um grupo de alunos, todos com camiseta e tal, promovendo boas ações.

— Tudo bem, então. Vocês tem razão. – Leonardo abaixou o tom de voz.

— Nós o que? Repete por favor, que não pra ouvir direito.

— Vocês tem razão.

— Nós temos razão? Pedro pega o celular ai pra gravar o Léo falando isso. É algo difícil de acontecer.

Andaram mais um pouco, até que chegaram na praça da cidade. O lugar era rodeado por lojas e mais lojas, e no centro da praça tinha um belo jardim e algumas árvores. Os garotos resolveram se sentar em um dos bancos da praça, observando o vai-e-vem das pessoas. Haviam pessoas andando apressadas, outras cansadas e felizes com sacolas nas mãos e outras que estavam apenas aproveitando um dia de sol. Perto de onde se sentaram estavam um homem mais velho e um menino com cerca de 8 anos. O homem ensinava o neto a brincar com bolinhas de gude.

— Mas vovô... eu não consigo! – O menino choramingava para o avô que mostrava a ele como brincar.

— Adam, não é difícil. Tenta de novo que você consegue. – Os três garotos olhavam com atenção para a cena.

— Eu quero ir embora vovô. – O menino cruzou os braços.

— Nós vamos embora. Mas não agora, Adam. Acabamos de chegar. – O avô começou a recolher as bolinhas de gude. – Se não quer tentar jogar, então vamos só sentar e observar as pessoas.

— Eu quero ir pra escola, brincar com meus amigos. Não quero ficar aqui sentado sem fazer nada.

— Você podia jogar comigo. E depois que aprender, pode ensinar para seus amiguinhos quando forem na sua casa. – O avô terminou de juntar as bolinhas e pegou o neto no colo, sentando-o no banco ao lado.

— Por que não podemos ficar em casa? Lá tem sol também.

— Porque ver outras pessoas é bom. E nem na sua casa, nem na minha, tem um quintal bom o suficiente para você tomar sol.

O menino observava com um olhar triste as outras crianças na praça. Enquanto o avô olhava para ele, com o mesmo olhar tristonho. Certamente o garotinho tinha alguma doença ou passou por alguma recentemente. Seu rosto era pálido, com fortes olheiras embaixo dos olhos e se corpo parecia ser muito frágil. Leonardo e Pedro estavam atentos ao jogo de celular, em que eles estavam competindo quem fazia mais pontos, enquanto Denis continuava a observar o avô e seu neto.

— Oi, tudo bem? Eu sou o Denis. E você? – Denis resolveu ir até onde o menino estava sentado e estendeu a mão pra ele, junto com um grande sorriso.

— Adam. – O menino falou e abaixou a cabeça. O avô cumprimentou Denis e o convidou a se sentar com eles.

— Vi que você estava brincando de bolinhas de gude. Tem muito tempo que não brinco disso. Será que você poderia jogar comigo? – Denis perguntou ao menino, que permanecia de cabeça baixa.

— Vamos, Adam. O garoto aqui quer brincar com você.

— E acho que jogar com três pessoas é melhor do que só com duas.

— Eu não quero! Não consigo jogar isso. – O menino falou irritado.

— Desculpa. Ele tem passado por muito esse último ano, indo de hospital em hospital. Agora ele está em recuperação, mas é difícil. – O homem justificava, meio sem jeito, a falta de educação do neto.

— Eu entendo. – Denis sorriu e sentou novamente ao lado do menino. – Sabe, eu enxergo cada dia menos, e se você não jogar comigo, acho que nunca mais poderemos jogar de novo. E seu avô parece ser um bom professor. Quero relembrar como se joga isso.

— Você tem câncer também? – O menino levantou a cabeça e olhou com curiosidade para os olhos de Denis.

— Não. Tenho uma doença nos olhos.

— Mas se tomar os remédios e fazer o tratamento você pode ficar bom, não pode?

— Não tem remédio e nem tratamento pra fazer. Só posso torcer para demorar muito a ficar cego por completo. – O menino olhou com tristeza para Denis, que tentava parecer conformado. O avô do menino se levantou e ouvia a conversa dos dois à uma pequena distância. – Mas no seu caso tem tratamento, não tem?

— Sim. Eu fiz um monte de coisas. Os médicos falaram que já estou bom. Só que tenho que me recuperar agora. Mas eu cansei disso. Queria voltar logo pra escola e brincar com meus amigos. Só que eu acho que nem isso vai ser legal, porque eu não consigo ficar em pé muito tempo, meus ossos estão fracos ainda. Acho que nem vou poder jogar futebol ou só correr igual as outras crianças.

— Eu gostava de jogar futebol. Era o melhor goleiro da escola. – Denis limpou uma lágrima que surgiu quando se lembrou que não podia mais jogar futebol. – Mas sabe de uma coisa? Se a gente não consegue fazer algo ou se as coisas não acontecem da forma que a gente quer, não precisamos ficar nos lamentando. Temos tanto o que fazer e aprender, que sempre podemos achar outra coisa para fazer e que nos deixa feliz. E agora, vamos brincar com as bolinhas de gude. Vou chamar meus amigos ali, que estão vidrados no celular e vamos todos jogar.

O menino sorriu e chamou o avô, pedindo que ele o colocasse no chão de novo e organizasse as bolinhas para poderem jogar. Ficaram um bom tempo jogando. O menino estava menos pálido e com um grande sorriso no rosto. Aliás, os três garotos e o avô também estavam com grandes sorrisos no rosto. E apesar de serem de idades diferentes, os cinco pareciam ser crianças de 8 anos, brincando como se nada mais importasse.

— Acho melhor já ir andando. O Adam precisa descansar. Obrigado por hoje, garotos. Há tempos não via meu neto tão feliz. – O homem sentou Adam no banco novamente.

— Nós é que agradecemos, senhor. Eu nunca tinha jogado bolinhas de gude antes e fui uma experiência legal. – Leonardo sorriu.

— Ei, antes de irem, temos que tirar mais uma foto. – Pedro já estava ao lado de Adam, com o celular em posição para a foto. – Adam, depois lembra seu vô de entrar na internet para você ver a foto e conversar com a gente. E tenta convencer seus pais a deixaram você entrar para a vida social online.

— Isso vai ser difícil. Mas o vovô pode e ai a gente conversa.

— Se cuida pirralho. E não desanima, que logo você estará bom. – Denis bagunçou o cabelo do menino.

Antes de voltarem para o hotel, os três pararam em uma lanchonete, onde comemoram pizza. Chegaram no hotel e ligaram para seus pais e conversaram pela internet com alguns amigos, incluindo Victor. Leonardo estava feliz por ver que em dois dias de viagem, Denis já parecia melhor, dando até conselhos para o garotinho da praça. Será que ele continuaria assim quando voltassem para casa? Ou será que ele só queria deixar o irmão e o amigo felizes em retribuição ao que eles faziam para ajudá-lo?


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