Annabeth

O uniforme do café não era feio, mas também não era confortável. Annabeth olhou seu reflexo no espelho do quarto. Uma camiseta branca e uma saia preta. Ela cansou de ficar se encarando, prendeu o cabelo para trás com um elástico, pegou a bolsa e saiu de casa.

Ela entrou no seu novo local de trabalho e suspirou. O lugar estava quase vazio, salvo por uma mesa ou outra, com alguém com um computador, comprando uma bebida de vez em quando para poder usar a internet. Durante a semana em que trabalhara ali tinha percebido que muita gente fazia isso. Annabeth tinha começado um dia depois da viagem com Percy e Alec. Athena tinha conseguido a vaga para ela, sabe-se lá como.

Annabeth cumprimentou Jade, a outra garota que trabalhava ali naquele horário, e foi guardar a bolsa nos fundos.

O trabalho de Annabeth ali era basicamente cuidar do caixa, ter certeza que os vidros estavam limpos e ajudar Jade a servir as mesas quando necessário. Ótimo, considerando o salário. Salário esse, que ela pretendia usar para pagar os primeiros meses de faculdade, depois daria um jeito, já que agora não podia contar com a "ajuda" de Percy. Ela ainda não conseguia entender por que aceitara fingir ser a namorada dele e sempre que se lembrava disso tinha vontade de se enfiar num buraco no chão e nunca mais sair dele. Falando em Percy, eles tinham marcado às quatro e já eram cinco e meia.

Todo dia, à essa hora, o lugar ficava lotado. Talvez fosse a decoração em tons pasteis, ou talvez a arquitetura aconchegante, mas as pessoas adoravam ficar ali, a comida era uma consequência.

Annabeth estava preparando uma playlist as primeiras vinte músicas da folha de sugestões para colocar para tocar.

—Vocês colocam qualquer coisa que escrevem nessa folha? - perguntou uma voz na frente dela. Percy estava sentado num banquinho de frente para ela, embaçando o balcão que ela acabara de limpar.

—Só as que eu quero. Por que você demorou tanto? - ela deu play e uma música da Lady Gaga saiu dos alto-falantes.

—Tava tomando banho.

—Você esqueceu né?

Percy sorriu e assentiu.

—Como está o Ethan?

—Não sei, ninguém atendeu quando minha mãe ligou. Mas o Jorge disse que ele teve uma lesão no olho e não vai poder enxergar daquele lado. Ah, e deve ter alta em uns três dias - falou Annabeth.

Quando se passa tanto tempo no hospital, você faz alguns amigos, como Jorge.

—Que droga. Se eu não tivesse chamado ele lá pra fora, isso não teria acontecido – Percy bateu no balcão.

—Ei, não é sua culpa. E ele foi um babaca a noite toda, fora que não deveria que tido a brilhante ideia de lutar com o assaltante. Estou feliz que ele esteja vivo - Annabeth disse.

Percy levantou uma sobrancelha mas não disse nada.

—Tem mais uma coisa - ela abaixou o tom de voz. - Fizeram um exame de sangue e Ethan estava completamente drogado.

—Essa é novidade - ele disse. - Mas chega de falar de coisa ruim, olha isso.

Percy pegou o celular e entregou para ela.

A página aberta era o site de um jornal, a manchete era "Empresários dão festa para comemorar parceria", embaixo havia uma foto de Percy e Annabeth. A matéria dizia o motivo da festa, mencionava o acidente na família e até a mãe de Annabeth.

—Acho que somos famosos - ela devolveu o celular dele. - Já volto.

Ela foi ajudar Jade com as mesas e minutos depois voltou. Recebeu o pagamento de um casal jovem e foi até Percy, que jogava alguma coisa no celular.

—Vou pegar uma coisa lá dentro, já volto - ela disse.

Ao voltar, Percy estava com uma cara chateada, devia ter perdido o jogo.

—Toma - a loira lhe entregou o pacote azul.

Percy a encarou sem entender.

—Comprei pra você de Natal, mas acabei esquecendo de pôr na mala. Então te fiz vir aqui para pegar - ela sorriu. - Abre.

O garoto a olhou desconfiado por um segundo, mas abriu o pacote. Quando tirou a tampa da caixa seus olhos se arregalaram.

—Eu não acredito - ele gritou.

Vários clientes se viraram para eles.

—Não grita - ela riu.

—Não acredito que você comprou uma Polaroid pra mim - Percy tirou a câmera da caixa com cuidado. - Como você sabia?

—Di Angelo - o sorriso dela aumentou. - Ele me disse que você parecia um cachorrinho babando na loja. E você é um ótimo fotógrafo, seu idiota - ela se virou para pegar moedas para dar o troco de uma senhora - E tenho certeza que não apagou aquela foto minha na piscina, mesmo eu tendo dito...

Annabeth foi surpreendida por um abraço. Percy tinha dado a volta no balcão e estava quase a esmagando.

—Obrigado, Anniezinha— ele beijou a bochecha dela.

—De nada. Agora me solta que eu tenho que trabalhar - ela sorriu.

—Tá bom, mas a gente vai tomar sorvete quando você acabar.

Percy voltou a se sentar no banquinho e ela voltou ao trabalho. Num momento ela parou e olhou para o lado. Percy estava todo sorridente, olhando pela lente da câmera. Annabeth lembrou do assunto que estava adiando. Ela não queria estragar aquele momento. Pelo menos por uma vez, ela decidiu seguir o coração ao invés do cérebro.

Annabeth pegou sua casquinha e agradeceu à atendente.

—Ei, Annie, olha aqui - Percy chamou.

Ela se virou e deu de cara com a nova câmera.

—Jackson! - ela franziu a testa e comeu um pouco do sorvete. - Eu com essa roupa ridícula e você tirando foto?

Ele pegou o papel rindo, esperou um pouco e mostrou a foto para ela.

—Você é linda de qualquer jeito - ele colocou o papel no bolso.

—Menos, né? - ela disse.

O celular da garota fez um barulho e ela o pegou da bolsa. Logo em seguida, o de Percy também tocou. Eles se entreolharam e abriram as mensagens.

A de Annabeth era de Lou e dizia "Reunião de emergência na minha casa. Agora".

—"Venham todos pra minha casa, não ligo se estão ocupados, só venham" - Percy leu em voz alta. - É do Jason. Vou ter que ir.

Ela mostrou o celular e ele assentiu.

—A primeira briga a gente nunca esquece - ele riu.

—Até amanhã, então - falou Annabeth.

Hazel

Frank estacionou o carro na frente da casa de Lou e fez menção de sair do carro para a abrir a porta para a namorada. Hazel segurou a mão dele, segurando um sorriso.

—Frank. Não precisa - ela riu e soltou a mão dele para abrir a porta do carro.

Ela estava com os pés pra fora quando o ouviu chamar seu nome.

—Espera.

Ela se virou e recebeu um beijo rápido. Hazel riu e puxou a bolsa para a calçada.

—Me liga quando acabarem que eu venho te pegar - ele disse.

—Provavelmente vou pegar carona com uma das meninas, mas obrigada - ela acenou em despedida e caminhou em direção à porta da frente.

A mão dela tocou a porta uma vez, na segunda foi puxada para dentro. Hazel não tinha se acostumando com as campainhas, quem dera com portas sugadores de pessoas.

Na verdade, ela fora puxada pela própria Louise, que tinha um olhar marejado nada típico dela. Hazel tinha sido a primeira a chegar. A tia de Louise não devia estar na cidade, a pia estava cheia de louça e várias cortinas estavam fechadas. Hazel abraçou a amiga sem perguntar nada. Ela tinha uma teoria de que um abraço podia melhorar tudo. Não resolver, mas melhorar.

—Quer me contar? - ela perguntou.

—Quando as meninas chegarem. Senta e ignora a destruição, tia Jude tá em San Francisco - disse Louise, confirmando as suspeitas da outra.

Hazel negou com a cabeça, como se não pudesse acreditar. Ela deixou a bolsa no sofá e deu a volta na sala de estar, puxando todas as cortinas, deixando o ambiente iluminado o suficiente para matar um clã de vampiros inteiro. Depois de ignorar os protestos da amiga, ela abriu as cortinas dos quartos também.

—As meninas vão demorar? - Hazel perguntou, alisando a barra da saia verde.

—Acho que sim, elas nunca chegam na hora quando a gente precisa.

Hazel assentiu, foi até a cozinha e começou a pôr a louça na lavadora.

—Ah, Bianca pediu para avisar que não pode vir porque nossa madrasta sequestrou ela, estão numa estufa.

—O que você está fazendo? - Louise perguntou.

—Passando o tempo.

Não era mentira, mas Hazel não contou que o motivo para querer passar o tempo era que estava morrendo de curiosidade para saber o motivo da reunião repentina, mas não iria forçar a amiga a falar se não quisesse.

Hazel perguntou que música ela queria ouvir e procurou na televisão, pela miniatura do vídeo, parecia ser um daqueles que Nico ouvia quando estava com raiva. A morena revirou os olhos e escolheu uma música feliz. Para a alegria dela, a campainha tocou.

Ela seguiu Louise até a porta. Annabeth, Reyna, Thalia, Nico, Jason e Percy estavam amontoados na varanda, se acotovelando para ficar na frente.

—Uou! - exclamou Hazel.

Por um motivo que Hazel só entenderia depois, Lou fechou a porta e saiu andando.

—Ahn... Eu acho que primeiro você deixa eles entrarem, depois fecha a porta, mesmo nos Estados Unidos.

—Não, não, não. O que ele tá fazendo aqui? - Lou sussurrou. - Não chamei ele!

—Quem? Meu irmão ou meus primos?

—O Jason! Nós brigamos. Não quero falar com aquele idiota. Vai lá - Lou parou de gesticular loucamente e olhou para Hazel. - Vai lá e manda ele embora - ela correu e empurrou a amiga.

Hazel segurou a fechadura para não bater de cara na porta e a abriu.

—Oi, pessoal. Lou se sente muito lisonjeada por estarem aqui mas só estou autorizada a permitir a entrada de quem não tem nada entre as pernas - ela sorriu.

Reyna, Annabeth e Thalia abriram caminho e passaram, a primeira usando uniforme de ginástica.

—Muito bom ver vocês, gente, até amanhã - Hazel começou a fechar a porta mas foi impedida pela mão de Jason.

—Hazel, por favor, eu tenho que falar com a Lou. É urgente.

Os outros dois garotos só olhavam de Hazel para Jason.

—Ela não quer falar contigo. Tchau -ela empurrou a porta e a trancou.

—Feito.

Elas esperaram mais uns cinco minutos para ter certeza de que os garotos tinham ido embora. Thalia abaixou a "música chata", que foi como ela chamou, e elas foram para o quarto de Lou.

A primeira coisa que a anfitriã fez foi se jogar de cara na cama. Por mais curiosa que estivesse, Hazel brigou com Thalia quando ela deu um tapa em Lou para fazê-la falar logo. Mais dois minutos e ela lhes contou.

Lou tinha ido encontrar Jason no fim da aula, como toda quinta-feira, porque ele ia lhe dar uma carona para casa. Quando chegou no estacionamento, ouviu Jason dizer que estava se sentindo confuso entre ela e Piper. E que achava que talvez devesse terminar com ela e voltar com a ex. Isso antes de ver a atual namorada parada bem ali.

—E ainda tem coragem de aparecer aqui... - o celular dela começou a tocar. Ela olhou a tela e jogou o aparelho para as amigas. - Façam ele parar de ligar.

Lou parecia ter ido de chateada para muito brava desde que vira Jason.

Thalia segurou o celular e atendeu.

—Oi, irmãozinho. Agora eu sei o que você fez. Quando eu chegar em casa... você está tão morto. Enquanto isso, para de ligar pra Lou. - Houve uma pausa. - Ah, mas você não se atreva. Lembre-se que eu sei o que você fez no quarto do pai no verão, querido. Tá, tchau. Resolvido - ela jogou o celular de volta.

—O que ele fez no verão? - Reyna perguntou.

—Segredo nosso.

Percy

—E agora? - Jason perguntou e virou o shot de tequila.

Se não bastasse a ligação quando Percy estava no meio do caminho, dizendo para encontrá-lo na casa de Lou, agora estavam num bar.

—Agora você vai com calma, são sete horas - disse Nico.

—Mano, eu sou muito idiota - Jason resmungou. - Nem sei por que falei aquilo.

—Porque é idiota. Achei que você gostasse da Lou - Percy bebeu um gole da sua cerveja.

O cara do bar nem tinha pedido as identidades deles. Percy achava que era porque nem sendo menor de idade alguém começaria a encher a cara naquela hora.

—E eu gosto... É só que... Quando vi a Piper, lembrei de quando a gente saia e antes do que aconteceu... era muito bom.

—Cara, o que aconteceu foi que ela te traiu com o mesmo cara que foi babaca o suficiente pra se drogar e quase morrer - Nico disse.

—Di Angelo... - Percy começou mas desistiu. - Cara, se você sente saudade, olha uma foto, não sai por aí dizendo merda sem pensar.

—Nossa. Você é um péssimo conselheiro - Jason virou o quarto shot.

—Sou. Nico, você toma conta dele? Preciso ir.

—Ei! - Jason reclamou.

—Tá, mas precisa ir pra onde?

—Pra casa, né?

Percy se despediu e foi pegar o carro no estacionamento. Ele dirigiu até um supermercado e comprou vários tipos de comidas nada saudáveis e refrigerante. Mandou uma mensagem para Annabeth e colocou o endereço dela no GPS. Percy era meio perdido por natureza e não fazia ideia de como sair daquela parte da cidade.

Ele tocou a campainha da casa e esperou. Annabeth abriu, usando o que parecia uma mistura de pijama e roupas confortáveis de ficar em casa.

Percy a cumprimentou com um beijo rápido.

—O que acha de vermos um filme? - ele levantou a sacola.

Alguém limpou a garganta atrás de Annabeth. Percy se esticou para ver quem era e sentiu as bochechas corarem.

—Boa noite, sra. Chase.

Annabeth segurou o riso e o mandou entrar. Minutos depois, Athena tinha ido "se deitar", a desculpa de Annabeth para ela sair da sala, e os dois estavam sentados no sofá, assistindo Harry Potter, rodeados de pacotes de salgadinhos. Star Wars era o próximo.