Divided escrita por Pat Black


Capítulo 33
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Notas iniciais do capítulo

Olá vocês meus doces que acompanham a fic. Segue mais um capítulo. Sei que estão saindo mais demorados, mas prometo melhorar na rapidez das postagens.
Esse é mais um capítulo intermediário, por isso mais curto.



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Linn passou os olhos ao redor e estes se encheram de lágrimas. Tudo estava perdido. Tinham lutado tanto pelo lugar, doaram o sangue, amigos, a inocência que ainda possuíam, para que um louco viesse e derrubasse suas defesas e destruísse tudo.

Lembrou-se de mais cedo, quando ele os pegara na floresta, despreparados, alheios ao perigo, esquecidos de que o bastardo ainda seguia vivo. Os levando para um grupo cheio de pessoas tão crédulas e dispostas a segui-lo como o pessoal de Woodbury um dia tinha sido. Um grupo menor, mas com grande poder de fogo, maus, em sua maioria. Os prendendo para usar como isca e não moeda de troca. Nenhum deles era bobo, apesar de Hershel ainda ter tentado o diálogo.

Como se um sádico, assassino e estuprador, pudesse ouvir a voz da razão. Mas enfim, ali estava o maldito aos seus pés, morrendo, do jeito que havia lhe prometido que estaria.

O seguiu por um instante, alheia a Rick pela primeira vez desde que o conhecera, dando-lhe as costas para seguir o bastardo do Governador, enquanto este se arrastava pela grama, gemendo, sangrando, perecendo lenta e dolorosamente.

“Sua desgraçada.” Ele gritou se jogando de costas e gemendo alto, e depois, sem forças para nada mais que tentar respirar.

Linn lembrou-se com muita nitidez de tê-lo as suas costas, do modo que se enfiou em seu corpo, tomando sua dignidade, lhe ferindo de uma das maneiras mais terríveis que um ser humano pode ferir outro. O cheiro que sentiu então ainda muito vívido.

“Eu disse que mataria você.” Soprou se agachando ao seu lado, com ele esticando a mão em sua direção, mas sem lhe alcançar.

O contemplou por longos segundos, depois levantou-se e o olhou mais um pouco, notando que um grande grupo de errantes se aproximava, sorrindo feliz e o deixando de pasto para as terríveis criaturas.

Virou-se satisfeita, deixando aquela horrível parte de sua história para trás. Nunca mais se lembraria dele, assim como Sam havia lhe dito para fazer. O que aquele homem fez não lhe definiria, nem lhe perseguiria.

Sobre aquilo, estava em paz.

Sou mais do que um momento em minha vida. Pensou e correu em direção à prisão, já tomada, recuando na metade do caminho, por que só agora percebia que os errantes estavam a pipocar de todas as direções.

Buscou os amigos, alguém e se viu sozinha. Havia uma garota a correr no pátio, mas ela era um dos inimigos, assim a deixou a sua sorte.

Tinha visto o ônibus sumir pelo caminho a leste, carregado de pessoas, mas não sabia quem poderia estar ali. Rezava para que Chase estivesse nele, pelo tanto que estava debilitado. Mas não acreditava que Sam tivesse fugido por aquele caminho. Não era algo dela. Sam não abandonaria Rick ou mesmo ela. A amiga estaria na linha de frente com Daryl, Carol e os demais, lutando para que os mais fracos escapassem.

Assustada, se sentindo sozinha, Linn correu na direção tomada pelo ônibus. Precisavam se reunir em algum lugar, e se recriminou, bem como a todos os outros, por não pensarem em um ponto de encontro para o caso de terem de abandonar o lugar por qualquer motivo.

Usou a espada de Michonne em um errante, ainda sem muita experiência, compreendendo o básico, mas incapaz de abandonar a lâmina, por que seria muito mais que uma arma, era uma lembrança da mulher que havia se tornado uma amiga.

Parou ao lado de um veículo e seus olhos se encheram de lágrimas. Isso pela preocupação com os amigos sumidos, mas, em especial, pelo que tivera de fazer a Hershel e a Michonne depois que se libertara das cordas e se apossara da espada. Incapaz de deixá-los para trás a se transformar em errantes, quando não poderiam lhes dar um enterro decente.

Enxugou o rosto com as costas da mão e caminhou mais um pouco, parando justo ao fim da cerca, respirando fundo, para avistar à distância, logo à frente, um chapéu sumir entre as árvores.

“Carl.” Sussurrou feliz.

Aquele chapéu de xerife era inconfundível. Se o garoto seguia vivo, Rick e Sam deveriam estar com ele, talvez os demais também.

Imaginou esperançosa, seguindo na direção em que o avistara.

Teve que passar por um trio de errantes. Acertando o primeiro com a espada a atravessar seu crânio podre. O empurrando com o pé para esticar e libertar a lâmina, se afastando e colocando a coisa na bainha às suas costas e sacando a faca que pegara durante a luta contra um dos invasores.

Não tinha intimidade com a katana, usá-la só iria lhe atrasar.

Assim avançou no errante e o acertou por baixo do queixo, arrancou a lâmina e se aproximou da mulher descarnada que vinha atrás, dando-lhe o mesmo destino.

Voltou a correr, seguindo a direção exata onde Carl entrara na floresta, parando e pensando em olhar para trás, mas algo em sua cabeça disse que não o fizesse. Uma tristeza angustiante lhe tomando, a situação imprecisa de todos calando fundo, a imagem de Chase e Sam, Rick e Sofia, bailando em sua mente, dando-lhe determinação.

Olhou em torno e percebeu que não imaginava que direção Carl ou os demais poderiam ter seguido. Desejou ter abraçado o exemplo de Sam e Chase e aprendido com Daryl algo sobre rastrear. Tinha seu treinamento do exército, mas fora muito mais uma piloto que combatente, por esse motivo aprendera apenas o básico de táticas de guerrilha, luta corpo a corpo, que servia para lidar com errantes, no manuseio de armas de fogo, mas não era muito boa agora, para rastrear os amigos.

Mesmo assim seguiu olhando em torno, aflita, por que estava quase a escurecer, avistando algumas manchas de sangue fresco em algumas folhas de um arbusto próximo e resolvendo seguir naquela direção.

Sabia que havia algumas casas a leste, seguindo por uma estrada secundária, pelo mapa que Daryl sempre estava a atualizar, mas não tinham realmente visitado o lugar por falta de tempo, além de ser um local pequeno, onde pouco encontrariam, o que não valia o esforço.

Talvez eles estivessem indo naquela direção, talvez não, mas aquilo era tudo o que Linn possuía no momento.

Quando escureceu se abrigou em um carro abandonado, acordada até que as estrelas pontilhassem o céu. A visão recordando de sua vida anterior, naquela em que poucos tiveram os privilégios que viveu.

Por que já estivera lá em cima, entre as estrelas, olhando para a Terra desse mesmo jeito, observando as luzes do mundo, um sonho que logo se desfez quando viu, pouco a pouco, essas luzes serem apagadas e a humanidade perecer em escuridão.

Aquilo lhe parecia realmente outra vida.

Mas aquela antiga Linn ainda estava viva na prisão, ainda acreditando que sonhos se realizavam, que podiam ter paz e um futuro. Seguia um tanto balançada agora. Mas ainda confiante. Sendo o único que a mantinha viva e seguindo em frente, a esperança de encontrar os amigos, rever Sam, Chase... Rick.

***

Dois passos, mais dois passos, mas dois passos.

Rick contava em sua cabeça, escorando-se em Carl no começo e agora sozinho, tentando seguir em frente, mas não estava sendo algo fácil.

Cansado. Esgotado. Ainda tentando parecer forte. Caminhando. Parando apenas por um momento, rasgando a manga da camisa e fazendo um curativo tosco no ferimento da perna.

“Não olhe para trás.” Disse a Carl em dado momento lá atrás, por que não queria olhar para tudo o que perdera, incapaz de seguir em frente se apenas desse uma olhada naquela direção.

Dois passos, mais dois passos.

Voltaram a andar poucos minutos depois, com Carl revoltado de alguma maneira, seguindo a sua frente, quando o deixou sozinho.

Entendia.

O lar que construíram tinha ficado para trás, seus amigos estavam perdidos ou espalhados, Judith estava morta. Sam estava morta. Tudo estava acabado. E seu filho o culpava. Mas Rick também o culpava. O culpava pela última lembrança de Sam levar dele ter sido de sofrimento e desilusão.

Assim, que fosse à frente, que seguisse zangado, caminhando afastados alguns metros, como se milhas os separassem, não se importava muito.

Tentava manter a mente no foco de caminhar, em sobreviver, em conseguir comida e abrigo, uma passo de cada vez.

Mas seguia difícil.

Pensava em Judith: no seu sorriso infantil, no quanto era calma e doce, um sopro de esperança para cada um dos que se achegavam a prisão e a conheciam.

Sua linda filha que não pudera proteger.

Pensou nos demais. Daryl, Carol e Sofia, Chase e Linn, Tyrese, Sacha, as irmãs Greene, Glenn... No pobre do Hershel, na coitada da Michonne. Talvez pudesse tê-los ajudado mais se fosse alguém mais duro, um pouco mais insensível. Talvez Sam estivesse viva se fosse menos dado a conversar e mais propenso a agir.

Estava tomado de muitos talvez, pensou contando os passos.

Quisera manter a humanidade em um mundo onde isso não valia de nada e ali estava sua recompensa. Sua filha estava morta. A mulher que amava estava morta. Seus amigos mortos ou perdidos.

E essa sensação de culpa o dominava, lhe modificando. Por que percebia que algo estava mudando em seu interior.

Começou há muito tempo com Shane. Mas só a visão daquela cadeirinha ensanguentada e do corpo de Sam esmagado começaram a finalizar essa transformação.

Nunca mais ia confiar completamente. Nunca mais deixaria que ninguém machucasse os seus. Faria de tudo para manter sua família segura. Mataria, cruelmente se fosse necessário. Mas ninguém jamais lhe arrancaria o que amava sem que lutasse com todas as armas primeiro e até o final.

“Precisamos parar pai.” Carl falou ofegante.

“Não.” Respondeu com a voz pastosa, seu rosto completamente inchando, dolorido, respirando com dificuldade, mas tudo isso era algo bom, pois lhe mostrava que estava vivo, e iria continuar assim. “Precisamos de um abrigo, precisamos de suprimentos.” Continuou.

Mesmo se arrastando caminhava, seguindo Carl na direção, em que sabia, haveria algum tipo de abrigo. O garoto um pouco mais revoltado, mas com Rick ligando a mínima para isso. Só o queria manter vivo. Que ele lhe olhasse feio, que o culpasse por tudo, apenas o manteria vivo.

Dois passos, vamos seu bastardo, mais dois passos. O novo Rick gritava em sua cabeça. Ou era a voz de Sam? Não sabia bem. Parecia que estava a delirar de alguma forma, ainda que consciente o bastante para seguir em frente.

Encontraram um bar de estrada, comida, um errante, com seu filho demonstrando mais e mais desprezo por suas ordens.

Não se importou. Contanto que ele estivesse bem, Carl poderia reclamar em cântaros, que não se importaria.

Estava cansado, mas seguiram em frente. Encontraram uma casa e alguma comida a mais, água enfim, mas não tinha apetite, só queria deitar, dormir, dormir e acordar desse pesadelo.

Acordar com Sam lhe olhando daquele jeito cálido, sorridente, dizendo que lhe amava. Acordar para abraçar sua filha e cheirar seus cabelos. Acordar para ver Daryl a fumar um de seus preciosos cigarros enquanto ajeitava suas flechas. Acordar para ver Glenn e Maggie apaixonados, fazendo planos para o futuro, como ele mesmo estivera a fazer duas noites atrás com Sam em seus braços.

Mas apenas dormiu para ter novos pesadelos. Um em que ouvia seu filho lhe culpar de tudo, pela morte de todos e de Lori. Em sofrimento, por que ele dizia que não precisava de sua ajuda e preferia que estivesse morto.

Um pesadelo e apenas isso, pensava tentando despertar, sem o conseguir.

Dormiu porque precisava, para acordar no chão, com o filho ao seu lado, seu corpo um tanto melhor, mas com seu coração completamente quebrado. Com o pouco que restava bem resguardado, gelado e disposto a nunca mais confiar e baixar a guarda.

Linn o encontrou assim, sentado a comer alguma coisa ao lado do filho, mas com o olhar perdido.

Bateu na janela para chamar a atenção deles e Rick lhe olhou sem reconhecê-la por um momento.

Entrou com o coração na mão, feliz de alguma maneira, mesmo depois de tudo que aconteceu na prisão.

Olhou ao redor esperançosa.

“Onde estão os outros?” Perguntou se aproximando da entrada da cozinha. “Cadê a Sam?” Foi o primeiro nome que perguntou.

De certa forma sempre seria em que pensaria primeiro.

Carl lhe olhou estranho. Os olhos duros, ainda que levemente assustados.

“Merda, vocês se separaram também?” A ruiva perguntou, começando a estranhar o silêncio de pai e filho.

Olhou fixo para Rick, notando sua cabeça baixa, a maneira como evitava lhe encarar desde que chegou, como se fosse difícil tê-la ali.

“Onde ela está!” Perguntou com um fio de voz ao perceber que ele tremia levemente.

Ele não respondeu, apenas ergueu o rosto, a face destruida de todas as maneiras possíveis, os olhos alagados, transbordando de tristeza, incapaz de falar o que acontecera, mas não precisava.

“Não.” Linn soltou muito baixo. “Está mentindo. Está enganado.”

“Eu a vi.” Ele deixou escapar com a voz fria agora, como se tivesse conseguido controlar a emoção. “Eu a vi.”

Rick balançou a cabeça e olhou para baixo, para as mãos vazias.

Linn se virou, os olhos inquietos, olhando para fora sem nada ver. Sem acreditar, sem querer acreditar. Saindo apressada, se inclinando sobre os degraus da escada e vomitando, sentando e vomitando mais um pouco, o corpo sacudido pelos espasmos, pelos soluços.

Sam se fora. Sam estava morta. Chase se fora. Chase também estava morto. Todos estavam mortos. Ela estava viva. Mas ela não quisera estar viva. Ela queria morrer. Sam e Chase não a deixaram morrer. E agora ela havia partido e lhe deixado sozinha.

Pensou em tudo o que viveram na estrada. No quanto se protegeram enquanto seguiam sozinhas. Deveriam ter continuado assim. Uma cuidando da outra. Talvez com Chase a lhe ajudar e ninguém mais.

Não Rick. Não esse homem que as tinha separado, quando nada mais pudera. Não esse homem que não conseguira proteger sua amiga. Não esse maldito que continuava vivo, quando ela não estava.

Sabia que estava a ser incoerente, mas não se importava. Ele estava vivo e ela não. Nunca pensou que isso poderia lhe doer tanto. Não sabia que em seu coração desejaria que seguisse o contrário.

Queria ter chegado ali, para encontrar Chase e Sam, não Rick e seu filho. Por mais que o amasse, amava os amigos muito mais.

E descobrir isso, dessa maneira, era o mais triste.


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